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EDGAR LOPES DA SILVA
O que aconteceu? Até agora ninguém
respondeu!
Responda uma coisa: se um indivíduo
chegar em sua casa e chutar o cachorro, espalhar latinhas de cerveja pela casa,
reclamar do churrasco e dizer certos impropérios a sua esposa, o que você faz?
Com certeza terá duas reações: a de raiva chutando e socando tal indivíduo,
colocando-o porta afora, cortando de vez qualquer laço de amizade que possa
existir. A outra, mais racional, nem sequer põe a mão nele, apenas chama a
polícia e diz que não conhece o tal baderneiro/arruaceiro e que quer vê-lo longe
dali, daí são com as autoridades.
Não posso afirmar que tal analogia seja a mais correta, nem tão pouco
convincente. Afinal, há sempre diversas opiniões para um mesmo assunto. Porém,
posso explicar tal introdução. Por que passados 39 meses de governo Lula, o
próprio, mais alguns mandatários insistem em fazer-se de coitados, quando não de
baluartes da moral e da ética, acusando que todo escândalo novo é obra da
oposição que quer provocar desestabilidade no governo Federal?
Eu confesso, votei em Lula. Milhões de brasileiros também o fizeram. Assistimos
ao longo de 22 anos a bancada petista sendo oposição, cobrando ética e
transparência nas relações políticas (internas e externas). Foram firmes, até a
chegada de Lula ao poder. Nesse período conseguiram convencer-nos (os eleitores)
de que valia a pena fazer uma “substituição” na forma de governar. Não ao
continuísmo (anti-PSDB), sim ao novo, ao que exigia ética acima de tudo.
Por mais que meus amigos petistas (xiitas, devo ressaltar) usem das mais finas
ou bravas retóricas nada me convence ao que concerne o PT nesses quatro anos de
governo. Foram falhos. Foram inocentes. Foram inábeis. Foram incautos. Foram
sujos. Foram abobados. Foram uma decepção!
Todos os dias ao ver os noticiários me pego pensando na analogia acima e me
pergunto: por que Lula não faz o mesmo? Há dois possíveis modos de resolver
isso:
1) Mafioso: é só pensar em O
Poderoso Chefão e se lembrar de como Michael Corleone retirou de seu caminho
aqueles que ousaram atrapalhá-lo. Se bem que, já posso ouvir alguém citar o
Celso Daniel e/ou Toninho do PT, como possíveis Fredo Corleone nessa história.
Seja o que for quero dizer que, basta às vezes um pouco de “força” para pôr um
fim nisso.
2) Diplomata:
É só chamar os oposicionistas e ser direto ‘meus amigos queremos terminar bem
este governo. Vocês já conseguiram jogar ... no ventilador. Deixe-nos ao menos
terminar algumas “propostas” que colocamos em campanha’. Peça trégua. É o mínimo
nessa altura do campeonato.
Não! O governo Lula além de
envergar a bandeira da moral, se coloca acima de tudo, como se nada estivesse
acontecendo. Ora, só ele não percebeu que o indesejável bêbado, já chutou o
cachorro, jogou latinhas pela sala e cozinha, chamou a filha de gostosa, a
mulher de baranga e reclamou do churrasco. O “intruso” só esteve lá porque
permitiram. E chegou a todos esses descalabros porque ninguém com força ou
elegância pediu que se retirasse. Ou seja, não há justificativa para o PT. Por
mais mentirosos que os partidos de oposição sejam, ninguém permite que sujem sua
própria casa e desmoralizem seus parentes sem mexer um músculo.
Como já disse e acredito piamente que isso vale (e muito) para o Partido dos
Trabalhadores, ou você usa a força e põe a pontapés o indesejável cidadão e diz
a plenos pulmões “nunca mais volte aqui!”; ou usa da educação/diplomacia e o
expulsa sem o uso da força e de suas próprias mãos. O que é inadmissível é
acreditar que tudo não passa de mentira, boato e etc.
O “dono da casa” é que tem de se dar ao respeito e exigi-lo de forma veemente.
Repetir o mesmo discurso: “Mentira. Ninguém pode dizer isso. Ninguém mais do que
eu...” É consentir que tudo que dizem é verdade, não ter coragem de conversar
com os seus e com os de fora, e voltar para casa esbravejando com mulher e
filhos ‘Que vergonha vocês me causam!’.
Assuma de uma vez por todas então que tudo é verdade e lave a roupa como achar
melhor – mantendo a ética que sempre fora seu estandarte. Porque ninguém apanha
tanto e fica calado. Ninguém sofre tanto e não grita.
Portanto, o governo do PT, por muito tarde que seja, precisa assumir seu papel
e, por seus correligionários de tantos anos e eleitores que elevaram o
metalúrgico a presidente, deve cumprir seu papel com decência e sair do Planalto
com o mínimo (que é o que lhe resta) de dignidade. A vergonha, assim como este
governo, acabou faz tempo - a tal ponto de a casa estar bem desarrumada.
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Edgar Lopes da Silva é jornalista e colaborador deste Mandando Pra
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QUINTA-FEIRA
30/03/2006
Edgar Lopes da
Silva é jornalista
e colaborador
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