Resistência


Os portões se abrem, aquele imenso caminhão entra. Um caminhão com estampa camuflada de exército, era tedioso como quase tudo ali era verde e cinza. 

Tenente: Fechem os portões!

Os sons das enormes placas de ferro se fechavam. O caminhão parou logo mais adiante. O motorista desceu dizendo que na distribuidora ninguém está entendo porque o exército tem comprado tanta comida. 

Motorista: Bom dia, senhor tenente! Os roceiros da distribuidora estão desconfiados mesmo. Todos os donos de roças e fazendas que vendem ali estão perguntando se o exército está abrindo uma loja de horti-fruti na cidade.

Tenente: Você não respondeu nada, né?

Motorista: Eu não, senhor. Não ia dizer que era para abastecer as lojinhas daqui. Por sinal, maior comunismo isso aqui! Esse povo ganha comida de graça!

Tenente: Deixe de dizer besteira, imbecil! Vou acabar contratando um motorista militar para fazer seu serviço! Os mutantes encarregados das lojinhas nos dão metade do dinheiro da revenda da comida aqui dentro! Todo mundo compra aqui!

Motorista: Ah tá... A única diferença é que esse Harlem ainda não produz os próprios alimentos.

Tenente: Ainda não. Nem o bairro é grande o suficiente para que se produza tudo. Não podemos criar gado aqui, sua anta! No máximo hortas e granjas de galinhas e patos podem funcionar. E já estamos providenciando isso. 

Sub-tenente: Soldados do segundo pelotão, carregar caixas!

E começa o mutirão de carregamento de couve - flor, alface, cenoura, ovos, caixas com galinhas vivas e barulhentas, rabanete, rúcula, cebola, beterraba, queijo ...Eram duas lojinhas pequenas, escuras e pobrinhas, com suas estantes de madeira. Uma vendia as galinhas, os ovos, os queijos, o sal e o açúcar. A outra, do outro lado da rua, vendia todas as outras coisas. Foi feita uma pesquisa entre os "moradores" do Harlem, para saber quem teria interesse em dirigir o negócio. Duas duplas de donos aceitaram. Assim, como alguns mutantes com curso de enfermagem já ocupavam os corredores do hospital, mas médico mesmo eram só três; um sujeito todo peludo que era neuro, uma moça com uma pele escamosa esverdeada que era pediatra, e um outro homem azulado que era cardiologista. O problema desses médicos e enfermeiros é que eles pouco tinham exercido a profissão na vida, já que suas aparências os impediram de conseguir emprego. As escolas já tinham alguns alunos seqüestrados, e professoras assustadas que tentavam acalmar as crianças que depois das aulas iam para um abrigo de freiras mutantes!!!! Quando na verdade queriam ir para casa! Foram colocadas em todo o bairro exatamente 4 bancas de jornais, as quatro já tinham seus respectivos donos. Um antigo cinema do Harlem estava sendo reformado e em breve seria reaberto. Mas era só adentrar um pouco mais as ruas do bairro, que se veria o nada completo! Aquelas casas velhas, algumas são só a fachada, a parte de dentro já caiu! Outras ainda tem chão e segundo andar, mas em estado deplorável, várias marcas de incêndios! Porém, muitos mutantes que foram alocados para aqueles prédios de cinco andares, preferem habitar algumas dessas casas abandonadas mais no fundo do bairro, onde a presença dos militares é menor. Em compensação, tudo o que se vê é completa desolação, ruas fantasmas, casas fantasmas, sujeiras muito vivas e eco das vozes indo e vindo na parte traseira do muro que circundava todo o bairro! Mas esse vazio diminuiria, mais mutantes chegariam. Esse bairro não seria composto só de mutantes desfigurados, verdes, azuis, peludos e gosmentos! Os outros mutantes, que aparentavam normalidade, iriam um dia ocupar essas casas soturnas. Esse era o sonho do governo. Mas isso ainda levaria muito tempo, assim como mutantes visivelmente desfigurados, mas com grandes poderes, também não entravam por esses portões. Mutantes poderosos só entrariam no dia que o exército soubesse controlá-los muito bem. 

Lá vinha o velho acinzentado de cabelos brancos, com um ou outro fio verde remanescente de sua juventude. Em seu rosto, faltava o nariz! Vinha acompanhado de seu sócio, um rapaz de cabelo branco e cor de pele amarelada. Era mercúrio, que vinha sendo obrigado pelo velho a comer uma enorme quantidade de cenouras para ganhar aquela cor de pele. O velho dizia baixinho para ele, enquanto passavam pelos cães pastores alemão que rosnavam mesmo na coleira com seus donos soldados:

Velho: Não disse, menino? Aquele cabelo preto era para entrar aqui. Para permanecer, é bom que você fique com seu original. Se todos aqui são estranhos, e você é bonito, esse cabelo branco com pele amarela te coloca bem estranho também! Ninguém vai reparar. 

Sub-tenente: Até que enfim chegou, velho Deodoro! Ajuda a carregar essas caixas de cenoura, que a loja é tua! Já tem fila dessas aberrações para comprar as coisas!

Velho: Perdi a hora, desculpe.

Sub-tenente: Continue assim, e daremos o direito de dirigir a loja para outro estranho, que não você! Arranje um nariz  antes de ficar perdendo a hora, insubordinado!


O dia amanheceu calmo na mansão. A grávida foi a primeira a acordar, abriu a janela e sentiu o vento mudar. Mudava bem depressa, ela sabia porque. As árvores do jardim balançavam, a piscina lá em baixo tinha as águas crespas e mexidas. Junto com o vento, se aproximava um pássaro no céu. Se aproximava, aproximava, e de pequeno pontinho longe, já parecia bem perto e pousava no jardim. Era nada mais, nada menos do que um anjo alto e bonito, de asas enormes! A primeira coisa que fez quando pousou foi olhar para janela dela e perguntar "já acordada"? 

Jean: O professor me disse ontem quem estava para chegar depois de tanto tempo!

Ela senta na janela e com sua telecinésia, desce seu corpo até o gramado e corre para abraçar o amigo de longa data! Ele a envolve não só com seus braços, mas também com suas asas enormes! Jean grita lá de dentro "que é isso? Mamãe e seus pintinhos? Onde está a luz?" Warren ri e abre as asas, soltando Jean. 

Ela se afasta um pouco dele e segura seus braços analisando o todo. Queria ver como estava o amigo, e Warren sorri apontando para a barriga dela.

Anjo: O professor me contou! Mais um dos motivos para eu ter voltado, "mamãe"!

Jean: É recente, ainda não tenho a menor barriga. ... Onde está a namorada russa?

Anjo: Durou um pouco mais de um ano, Jean. Já terminamos.

Jean: Ah... Desculpa, eu não sabia. 

Anjo: Tudo bem. 

Jean: As malas?

Anjo: Voei no meu jato particular, pousei no Newark; e de lá voei com minhas próprias asas até aqui em Manchester. As malas virão com uns empregados.

Jean: Warren Worthinton III, continua milionário!

Anjo: E você continua linda, cadê seu marido?

Jean: Dormindo! - fala sorrindo.

Os dois ficam em silêncio e acabam se abraçando de novo. Nossa! Dois anos sem se verem! Warren tinha que se inteirar de tudo o que aconteceu. Os dois sentam no gramado, do lado da piscina. 

Jean: O que viu voando por aí?

Anjo: Vi o incrível pedaço de Nova York que esses loucos muraram, o antigo Harlem inteiro! É muito grande, Jean. Realmente, o professor estava certo ao me chamar pedindo ajuda. Todos os x-men devem estar juntos contra essa insanidade.

Jean: Até porque, aquela tragédia infeliz já aconteceu faz bastante tempo, Warren. 

Anjo: Eu sei...

Jean: Foi uma coisa estúpida e inesperada, mas aconteceu e nós entendemos que você tenha ficado extremamente abalado.

Anjo: É... mas eu tenho que pedir muitas desculpas a todos dessa casa. A morte dela não foi culpa de ninguém, nem mesmo do professor. Eu lembro que antes de partir, totalmente bêbado, disse ao Scott e a Bishop que dessem um "obrigado por nada" ao professor em meu nome. Estava transtornado... Psilocke era tudo pra mim. 

Jean: Mas vamos falar de coisas boas! Deixemos essa história de mortes e gueto mutante no Harlem para outra hora! ... Acabei de chegar de férias do Brasil, estava em Angra dos Reis!

Anjo: Que bom! Fui lá várias vezes, vocês tinham que ter ido também a Fernando de Noronha, a Natal, aos lençóis maranhenses... Puxa, vocês tinham que ter ido ao Chile! Lá é muito bom, um friozinho gostoso na montanha...

Jean: Warren, nem todo mundo é milionário como você e teve anos de tempo livre não...

Anjo: É, eu sei. Mas foi bom?

Jean: Foi ótimo! Wolverine deu aquelas sumidas dele, as crianças foram a Califórnia e ao Havaí.

Anjo: Jubileu, Bobby e Sam?

Jean: Exatamente!

Anjo: Ainda os chamando de crianças, só você mesmo... 

Jean: Vampira e Gambit se casaram! Pensamos que você viesse ao casamento, eles ficaram sentidos.

Anjo: Eu sei, recebi o convite e mandei um presente tempos depois. Ainda não era hora de voltar, Jean... Acho que eles entenderam. Finalmente se casaram, ne? Agora não é só  você e Scott de aliança nessa casa.

Jean: Mas... ... evita comentar... mas eles não são bem um casal.

Anjo: É, eu imagino que não. 

Jean: Mas apesar disso me pareceram bem felizes na viagem! Eles foram conosco ao Brasil. Alguma coisa me diz que aqueles dois estão escondendo alguma coisa.

Anjo: E o Gambit? Continua o mesmo, ou casado ele tomou rumo?

Jean: O mesmo! 

Anjo: Ai... 

Jean: Eu sinto pela Vampira que é muito minha amiga. E sinto pelo Gambit, que até tenta mudar, mas não consegue. Eles sofrem...

Anjo: A situação dos dois não facilita muito uma mudança no Gambit, não é mesmo? Algum grande problema?

Jean: Como você sabe, Vampira foi seqüestrada usando um colar inibidor de poderes. Nós fomos a julgamento contra os infelizes criminosos. E apareceu no julgamento uma mulher... uma mulher mais íntima do Gambit que falou várias coisas desagradáveis. Bom... esse foi um caso que nós viemos saber. Posso imaginar quantos outros nós não sabemos...

Anjo: A saúde do professor?

Jean: Muito boa. 

Anjo: Os estudos do Fera?

Jean: Vão bem, eu imagino.

Anjo: Essa barriga?

Jean: Vai bem e vai logo crescer, obrigada por perguntar. 

Anjo: Menino ou menina?

Jean: Rachel.

Anjo: Padrinho e madrinha?

Jean: Não sei nem se vou batizar...

Anjo: E se for...?

Jean: Vampira e Gambit? Tempestade e Wolverine? Não, o Scott não aceitaria Wolverine...

Anjo: Ah! Eu esperava um convite, afinal eu sou um anjo!

Os dois riem, ela faz um carinho em Warren.

Jean: Eu sei que é, não tenho nada definido ainda, Warren. Quem sabe eu não escolho todos vocês de padrinhos e madrinhas?

Os dois voltam a ficar em silêncio. Warren arranca algumas gramas do chão, Jean o observa.

Anjo: E a Psilocke onde está?

Jean: ... ...Na colina.... ... Não se assuste quando chegar lá, existe uma outra cruz. É o filho de Vampira que morreu ao nascer.

Warren faz uma cara de quem tenta lembrar...

Anjo: Ah, sim! Quando eu parti, parece que ela já estava grávida mas ninguém sabia, não é?

Jean: É... a danadinha escondeu por meses!

Anjo: Que pena...

Jean: Agora que estou grávida posso imaginar o que não deve ter sido...

Warren sobe a colina, os x-men saem de fininho da mansão com um bolo, uma faixa de bem vindo e bolas de aniversário! Iam gritar "bem vindo!!!!", mas Jean os pediu silêncio e mostrou com a mão que ele tinha subido a colina. 


Depois de organizadas as comidas nas estantes de madeira da lojinha, as pessoas da fila foram entrando e comprando. O velho ficava no caixa, Mercúrio, como era rápido, atendia as pessoas. Não só atendia, como começava seu plano! Veio uma mulher de cabelo liso loiro e olhos brancos. Como os de Tempestade quando está exercendo seu incrível poder. Por isso, Mercúrio não tinha nervoso de olhar para aquele ser de olho morto, sem vida, assustador. Já os soldados viravam a cara quando ela passava. Ela pediu brócolis, Mercúrio prontamente atendeu seu pedido e segurou sua mão.

Mercúrio: Está aqui o brócolis.

Mulher: Obrigada.

Mercúrio: Qual seu nome? Por favor... não me diga seu nome de verdade, diga outro nome qualquer.

A mulher o surpreendeu quando disse "Vanda", o nome da ex mulher de Mercúrio, morta no combate contra Massacre ha um pouco mais de dois anos. 

Mercúrio: Vanda? ... É... eu disse um nome falso, moça.

Ela sorriu, não estava entendendo a brincadeira. Achava que o moço bonito tentava paquerá-la. Nem mesmo sorrindo seu olhos ganhavam alguma vida. 

Vanda: Vanda é o nome que eu inventei, moço. Agora você quer meu nome de verdade?

Mercúrio: Não, Vanda já está bom... O meu é Ernesto. 

Vanda: O verdadeiro ou o falso?

Mercúrio: Isso fica a cabo da sua imaginação. ... Quando foi que você chegou aqui no Harlem, Vanda?

Vanda: Logo na primeira leva de seqüestrados, no período da histeria mutante. E você?

Mercúrio: Ah! Eu fui o tonto! Vim quando os agentes sociais me ofereceram uma oportunidade de um apartamento a um ótimo preço, num bairro moderno feito especialmente para atender as necessidades de alguém especial como eu, e que ainda me trariam de carro para uma visita descompromissada. Desde que entrei, não pude mais sair.

Vanda: É... eu tenho alguns vizinhos que também caíram nessa. Outros mais estão vindo pelo mesmo motivo. Parece que lá fora existe uma propaganda bonita na TV e no rádio que induz as pessoas a caírem nesse conto do vigário!

Mercúrio: Ao menos o apartamento foi de graça!

Vanda solta uma gargalhada!

Vanda: É, foi de graça! O meu também! Só que eu já o divido com uma outra mulher!

Aquela mulher de olhos brancos gargalhando mais parecia alguma coisa vinda do filme postergais! Mas ela era divertida e mercúrio estava gostando da conversa. 

Mercúrio: Mas por que isso, se esse bairro ainda tem tantas áreas completamente vazias?

Vanda: Ah... É porque só tem casa abandonada... Os apartamentos desses prédios feitos "especialmente" para nós já estão acabando. E eles não querem colocar os novos chegados nessas casas caídas! Parece que eles realmente pensam em nosso bem e querem o melhor pra nós! Só vão colocar os mutantes nas outras áreas quando estiverem mais habitáveis!

Mercúrio: Nossa, estou até comovido com a atenção que nos está sendo dada! Enquanto isso, quem sabe você não acaba morando com mais algumas outras pessoas?

Vanda: Pois é... E você, já esta tendo que dividir seu apartamento gratuito, Ernesto?

Mercúrio: Não eu... não gostei desses guardas para cima e para baixo com esses cavalos, com esses cachorros e com essas armas... então procurei ir mais para longe...

Vanda: Sei, tem algumas pessoas fazendo isso, indo para as casas abandonadas mais ao fundo.

Mercúrio: Bom, nem é tão ao fundo assim! Entra duas ruas que você já vai começar a ver a desolação. 

Os dois ficam em silêncio, a mulher faz menção de que tem que ir. Mercúrio estava com ela mais ao fundo da lojinha e olhava para fora, vendo se tinha alguém na rua olhando para o fundo da loja. Ele levanta um vento na frente de Vanda e faz um movimento brusco aparecendo com uma galinha na mão!!!

Vanda: Mas que diabos foi isso????

Mercúrio: Eu atravessei a rua e peguei essa galinha na lojinha da frente.

Vanda: Atravessou nada que eu não vi. Por acaso você é o The Flash?

Mercúrio: Eu não posso repetir, é arriscado... As pessoas não vêem direito, mas seu eu repetir podem acabar vendo.

Mercúrio não quer saber... Volta na loja do outro lado da rua e reaparece com um queijo na mão!

Vanda: Eu vi! Você, você, você!

Mercúrio tampa a boca de Vanda com a mão. Pede que ela faça silêncio.

Vanda: O que foi isso?

Mercúrio: Uma mutação que me deu um dom de fazer algo especial.

Vanda: Nossa!

Mercúrio: Você faz algo especial, Vanda?

Vanda: Não... acho que não.

Mercúrio: Pois é, acho que ninguém aqui faz. Mas eu tenho um plano, descobrir as especialidades de cada um. Vanda, se todos aqui pudessem fazer algo especial, nós poderíamos nos rebelar contra esses cachorros, cavalos e armas e muros! Você acha que com alguém que corre assim, existe alguma possibilidade de ser acertado por uma bala de revólver?

Vanda: Não...

Mercúrio: Eu proponho a você que se junte ao meu grupo totalmente secreto de aprendizagem e controle de poderes, Vanda.

Vanda: Quem é seu grupo?

Mercúrio: Por enquanto, eu, você e o velho do caixa aqui da loja.

Vanda sorri com a enormidade do grupo e balança a cabeça consentindo.

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