Pergunta :
Quero informações
sobre o panorama atual da crise energética no país e no mundo, se possível com
fotos. Quero saber quais estudos alternativos estão sendo realizados para a
substituição da energia elétrica.
Resposta :
Março de 2001
A questão posta é muito
abrangente e a resposta um pouco extensa para se tornar compreensível, servindo
também como introdução aos processos de produção de energia elétrica.
A
substituição da energia nuclear
Suécia : um
caso paradigmático
Situação mundial
Maiores
produtores de energia primária 1996
Maiores
consumidores de energia primária 1996
Produção de energia 1997
Reservas de
petróleo e gás natural 1997
Países
mais dependentes da energia nuclear 1997
Maiores
produtores de petróleo do Mundo 1985
A grande diferença entre a
nossa civilização e as anteriores é a capacidade de transformar e utilizar
energia de forma sistemática. Tudo começou com a máquina a vapor, que transforma
energia química em mecânica e que esteve na Poço de extração de petróleo
A chamada crise energética
resulta naturalmente da utilização crescente de matérias-primas cuja
transformação permite obter energia. No princípio ninguém se preocupou com o
fato de que os combustíveis fósseis, primeiro o carvão e
demanda de energia, resultou
o alargamento da utilização dos combustíveis fósseis ao gás natural, hoje bastante
utilizado.
Instalação
industrial
Para a produzir utilizam-se
todos os processos conhecidos. A maioria deles resulta de três formas básicas
de transformação de energia : a partir de energia mecânica (usinas
hidrelétricas), da energia química (usinas termelétricas) e da energia radiante
(usinas fotovoltaicas).
Usina elétrica fotovoltaica
As usinas hidrelétricas são
um excelente processo de produzir energia elétrica a partir da energia cinética
das massas de água em rios e das marés, já que é totalmente não poluente e
completamente renovável. É uma fonte importante largamente utilizada em todo o
mundo e de que a barragem de Itaipu, no Brasil, é um bom exemplo. Os únicos
problemas são os custos das instalações e a limitação à existência de condições
naturais.
Em
primeiro plano saída das linhas de alta tensão
Barragem hidrelétrica
Interior
: Sala dos alternadores
Usina hidrelétrica
Energia maremotriz
O aproveitamento da energia
das marés (energia maremotriz) foi iniciado em La Rance, na França, em 1966. A
usina tem uma potência de 240 MW, produzindo energia nos dois sentidos da
corrente. Existem poucos lugares no Mundo onde seja rentável a instalação
destas usinas, havendo poucas mais usinas construídas, além desta. Por outro
lado, desistiu-se da construção de uma segunda usina em França, por se
considerar mais rentável a solução nuclear. Prevê-se que não será construída
nenhuma usina deste tipo no Mundo nos próximos 10 anos.
Uma outra solução
hidrelétrica é a que aproveita a energia das ondas. Foi inaugurada em Outubro
de 2000 a usina Limpet na Escócia, com uma potência de 500 kW (capacidade para
alimentar 400 habitações). Pode ser um recomeço promissor. Já antes havia sido
tentado outro tipo de solução, mas foi abandonada por não ser rentável.
Campo
eólico de produção de energia elétrica
As usinas termelétricas transformam
a energia do vapor ou gás sob pressão em energia elétrica.
Nas usinas clássicas são
usados os combustíveis fósseis e nas nucleares usam-se combustíveis
radioativos. Estes tipos de usinas são atualmente os que maior
quantidade de energia produzem, pelo fato de ser possível produzir energia em
qualquer local e em qualquer quantidade, ao contrário dos casos anteriores que
estão limitados geograficamente e no volume de produção. É natural que, apesar
disto, são escolhidos os locais mais vantajosos, como sejam os que estão na
proximidade de cursos de água e os que têm facilidade de acesso de matérias
primas, por via terrestre ou marítima.
Os problemas das usinas termelétricas
residem principalmente na obtenção das matérias-primas, normalmente não
renováveis, e no fato de serem poluentes. No caso da energia nuclear acresce
ainda o problema da eliminação dos resíduos radioativos, muito perigosos
durante largos períodos de tempo.
Energia geotérmica
Uma excepção nas usinas
termelétrica clássicas, que utiliza energia renovável e gratuita, é o caso das
usinas geotérmicas que utilizam energia térmica existente nas entranhas da
terra em regiões vulcânicas, como acontece em Itália e nos Açores (Portugal). O
processo de funcionamento é análogo ao das restantes usinas clássicas com
algumas adatações às condições particulares de obtenção do vapor sob pressão.
Naturalmente que os locais onde é possível este tipo de aproveitamento estão
limitados apenas a algumas regiões.
As grandes quantidades de
energia obtidas a partir da transformação da matéria em energia foram deduzidas
teoricamente por Einstein e aplicadas na prática de uma formacontrolada por Fermi, numa primeira
pilha atómica experimental. A maior
"facilidade" de produzir energia de uma forma não controlada e a
existência de uma guerra em curso, levou à sua primeira utilização em bombas,
com consequências devastadoras. A sua utilização pacífica na produção
controlada de energia levou mais algum tempo e afigurou-se como uma esperança
para a humanidade, pelo fato de resolver os problemas energéticos de uma forma
mais económica. No entanto dois problemas se põem em relação a esta forma de
energia. Um deles já foi referido, o da eliminação dos resíduos e o outro tem a
ver com o fato de que a energia nuclear atualmente obtida, por cisão nuclear,
utilizar combustíveis também não renováveis.
Fusão nuclear
Outra esperança , sempre
adiada, reside na energia nuclear obtida por fusão nuclear, já experimentada
também em bombas (de hidregénio). Há decénios que vem sendo estudada a
utilização desta forma de produção de energia elétrica, mas dificuldades, até
agora inultrapassáveis, têm impedido a sua aplicação. Estas dificuldades têm a
ver com a necessidade de atingir 50 milhões de ºC num plasma e, próximo deste,
ser necessária uma temperatura próxima de -270ºC para os ímanes
supercondutores. Uma grande vantagem da fusão nuclear será a utilização de um
combustível inesgotável, barato e não poluente, o hidregénio, na forma dos seus
isótopos deutério e trítio abundantes nos oceanos. Esta forma de energia
resolveria, pensa-se, o problema energético. Um grama da mistura deutério /
trítio pode produzir tanta energia como 60 gramas de urânio, combustível das
usinas nucleares por cisão. Há vários programas de pesquisas projetados para os
próximos decénios nos EUA e na Europa, pelo menos para 2010 e 2020. Pensa-se
que estas usinas não existirão antes de 2050.
A substituição da energia nuclear
Apesar das suas vantagens,
os riscos da energia obtida pela cisão nuclear têm levado à tentativa da sua
substituição, mesmo antes do terrível desastre de Chernobyl em 1986. Os
problemas da energia nuclear residem também nas enormes somas necessárias para
o seu financiamento, atualmente difícil, no tempo de cerca de 8 anos para a
construção, nos perigos dos detritos radioativos resultantes da sua laboração
(problema que continua sem solução satisfatória), nas despesas inerentes à sua
desmontagem após o terme do seu tempo de vida útil de cerca de 30 anos. Além
disso, a matéria-prima é não renovável.
As vantagens resultam de o
preço da energia ser muito competitivo e de não contribuir para o efeito de
estufa, como acontece com as usinas térmicas clássicas. O custo do kWh em
França é de 20 a 21 cêntimos para o nuclear e de 19 a 28 cêntimos para o gás,
sendo o preço do kWh do nuclear menos dependente de flutuações do custo do
combustível do que no caso do gás.
O futuro do nuclear é
incerto. Na Europa apenas é previsível a instalação de novas usinas em França e
na Finlândia. A Finlândia possui já 4 usinas nucleares de tipo soviético e
outras fontes de energia como o gás russo. A opção nuclear tem a ver com o
elevado consumo necessário à sua importante indústria de produção de papel.
Para a sua laboração precisa de estabilidade dos preços e o nuclear é mais seguro
que o gás, neste aspeto.
Suécia : um caso paradigmático
Os suecos votaram em
referendo de 1980 a paragem da produção de energia nuclear no País até 2010,
mas em 2001 só 1 dos 12 reatores parou. A energia nuclear representa metade de toda
a energia produzida na Suécia. Para satisfazer as necessidades de energia seria
preciso diminuir o consumo e aumentar a produção por uso de outras energias.
Verificando não ter alternativas à situação existente, aquele objetivo inicial
foi interrompido.
Em 1998 a Alemanha decidiu
abandonar a opção nuclear. Sendo um país com uma indústria importante e, por
isso, com grandes necessidades de energia, será interessante observar a
evolução da concretização desta decisão nos próximos anos, que implica o
encerramento de usinas consideradas com boa tecnologia e em plena laboração. A
sua substituição por outras fontes irá decerto provocar alterações nos preços
da energia que se refletirão na competitividade da indústria alemã.
Biocarburantes são os
carburantes obtidos a partir duma matéria-prima vegetal. Dois motivos levaram
ao seu desenvolvimento : a alta dos preços do petróleo, verificada
primeiramente em 1973 e a poluição gerada pelos gases de escape resultantes da
utilização dos carburantes clássicos. O Brasil desempenhou um papel pioneiro
neste domínio quando o governo lançou em 1975 o programa "Proalcool",
com a utilização de combustíveis contendo 22% de etanol obtido da cana de
açúcar. Em França produz-se etanol a partir de trigo. Existem duas vias de
pesquisa na área dos biocarburantes. Uma delas refere-se ao etanol e ao ETBE
(EtilTertioButilEter) e a outra aos óleos vegetais e seus derivados. Em certas
regiões agrícolas dos EUA é utilizado o "gasohol", carburante com 10
% de etanol. A sua grande vantagem é poder ser usado nos motores convencionais
sem qualquer modificação destes. Existem alguns problemas com esta solução,
nomeadamente em presença de água, daí a via do ETBE, obtido da mistura de
etanol com isobuteno, que tem muitas vantagens técnicas, económicas e
anti-poluição. Por isso, a produção mundial em 2000 aproxima-se já das 3
milhões de toneladas por ano.
Também é possível utilizar
misturas com etanol, para o que é preciso adatar os motores. Há no Brasil 4,5
milhões de veículos assim equipados, verificando-se resultados ecológicos
positivos. Há, no entanto, quem seja de opinião que, embora emitindo menos
gases prejudiciais como os óxidos de carbono, o uso generalizado de
biocarburantes pode produzir outros efeitos perigosos, nomeadamente os
relacionados com a reação brônquica.
Uma das vertentes do problema energético é a gestão racional da utilização da energia, ou seja, a satisfação das necessidades com o mínimo consumo. A resolução deste desiderato abrange diversas áreas, sendo importante a definição de políticas convergentes.
Sendo que os grandes
consumos se verificam na indústria, é aqui que novas soluções são mais
prementes.
É o caso da indústria
siderúrgica, um motor da economia, grande sorvedora de energia, quer sob a
forma de combustíveis fósseis quer sob a forma de energia elétrica.
Desde o primeiro choque petrolífero
de 1973 o consumo de energia desta indústria baixou praticamente para metade
devido aos progressos técnicos verificados e à alteração dos procedimentos de
fabrico.
Também na indústria do vidro
se tem baixado o consumo específico de energia (consumo energético por cada
tonelada de vidro produzida) e as emissões de anidrido carbónico, com o
melhoramento dos fornos e a reciclagem do vidro.
Casa solar
Os consumos domésticos também
não são negligenciáveis (em França são cerca de 30 % da eletricidade
consumida). Novas técnicas de construção garantindo melhores isolamentos, novos
materiais, novos processos de aquecimento e de gestão de energia, têm permitido
diminuir os consumos.
Outros grandes consumidores
de energia e poluentes do ambiente são os veículos automóveis. Os melhoramentos
no conforto e a eficiência energética são contraditórios. Estudos estão a ser
feitos para melhorar as caraterísticas dos veículos nestes domínios, visando
otimizar a combustão, reduzir a massa dos veículos e melhorar o seu
funcionamento mecânico.
Veículo elétrico
Substituição da energia elétrica
No que refere à substituição
da energia elétrica por outras formas de energia, não se me afigura desejável
pelas razões já apontadas e enquanto não se conhecer outro processo melhor.
Sempre que a energia elétrica é preterida por outras formas de energia, isso
tem a ver normalmente com custos ou capacidades de armazenamento (caso dos
carros elétricos) e não com as vantagens normais de utilização. Se for possível
tornar mais económica a sua produção, estou certo que a energia elétrica fará
notar ainda mais as suas vantagens.
Na minha opinião, a crise
energética é um conceito de civilização, de tanto que nos habituámos aos
confortos da utilização de energia. Penso que o Homem irá arranjando soluções
para este problema, encontrando formas de rentabilizar a utilização da energia
e novas formas de produção. Se, por absurdo, não o conseguir, o pior que nos
pode acontecer é passarmos a viver numa sociedade menos consumidora de energia,
como já aconteceu, sem os confortos de hoje, mas talvez com melhor qualidade de
vida. Seja como for, daqui a milhões de anos a energia do Sol esgotar-se-á e a
vida na Terra, tal como a conhecemos, não será mais possível, não se pondo o
problema energético que hoje tanto nos aflige ... Mas ainda falta muito tempo
...
Maiores produtores de
energia primária - 1996
(Energia primária : petróleo ; gás natural ; carvão ; hidrelétrica ; nuclear ; geotérmica ; solar ; biocarburantes)
unidade : quadriliões de BTU (British Thermal Units)
Estados Unidos da América Rússia China Arábia Saudita Canadá Reino Unido Irão Índia Noruega Venezuela |
72,32 39,68 37,41 20,39 17,29 11,49 9,60 9,33 9,28 8,84 |
Maiores consumidores
de energia primária - 1996
(Energia primária : petróleo ; gás natural ; carvão ; hidrelétrica ; nuclear ; geotérmica ; solar ; biocarburantes)
unidade : quadriliões de BTU
Estados Unidos da América China Rússia Japão Alemanha Canadá Índia Reino Unido França Itália |
93,87 37,04 25,98 21,37 14,44 12,20 11,55 10,05 9,87 7,63 |
Produção de energia - Distribuição por formas de
energia - 1997
Quadriliões de BTU
Produção total - 72,32
Combustíveis fósseis |
|
58,75 |
|
carvão |
23,17 |
|
gás natural (seco) |
19,47 |
|
petróleo |
13,57 |
|
gás natural (líquido) |
2,54 |
Energia nuclear |
|
6,69 |
Energias renováveis |
|
6,93 |
|
hidreléletrica |
3,72 |
|
geotérmica |
0,37 |
|
biocarburantes |
2,72 |
|
solar |
0,08 |
|
eólica |
0,04 |
|
Petróleo |
Gás natural |
biliões de barris |
triliões de pés cúbicos |
|
Mundo |
1000 |
5000 |
Brasil |
6 |
6 |
EUA |
22 |
166 |
Médio Oriente |
650 |
1660 |
Ex URSS |
100 |
1950 |
|
Percentagem da energia total produzida |
Lituânia |
81,5 |
França |
78,2 |
Bélgica |
60,1 |
Ucrânia |
46,8 |
Suécia |
46,2 |
Bulgária |
45,4 |
República Eslovaca |
44 |
Suíça |
40,6 |
Eslovénia |
39,9 |
Hungria |
39,9 |
Resumo da potência nuclear - 1997
|
Nº reatores |
Potência MW |
em construção |
Energia produzida |
||
Total |
Potência MW |
TWh |
Percentagem da energia total |
|||
Mundo |
437 |
351 795 |
36 |
26 813 |
2 276,49 |
|
Brasil |
1 |
626 |
1 |
1 245 |
316 |
1,09 |
Maiores produtores de petróleo do Mundo
Posição |
País |
Produção |
Reservas |
1000 barris diários |
milhões de barris |
||
1º |
URSS |
11981 |
61 |
2º |
EUA |
10577 |
35,4 |
3º |
Arábia Saudita |
3211 |
168,9 |
19º |
Brasil |
563 |
1,7 |
Petróleo : 31 751 556 m3
Gás natural : 969 349 m3
|
|
GWh |
|
Energia elétrica |
|
181 017 |
(a) |
|
hidrelétrica |
172 052 |
|
|
termelétrica |
8 965 |
|
(a) não inclui a produção de Itaipu
Potência da usina hidrelétrica de Itaipu (a maior
potência hidrelétrica do Mundo) : 12600 W