ÉTER




Índice

Introdução

O éter luminífero

O éter elétrico

Primeiros estudos e teorias

Fogo elétrico e teoria dos eflúvios

A teoria de Franklin

Ampère e o éter

Faraday e o éter

Maxwell e o éter

O éter após Maxwell

Einstein e o éter

Conclusão

 

Introdução

O éter a que se refere este texto não tem a ver com nenhum produto químico, mas sim com aquilo que é etéreo.

O conceito de éter surgiu com a visão mecanicista do mundo. Se o efeito de um determinado fenómeno é percetível num local distante do local que lhe deu origem, deve existir um meio que serve de transporte a algo que interliga a causa com o efeito. Um exemplo é o caso da aproximação dum íman duma agulha magnética sem a tocar. A agulha move-se sem ter havido contato físico. Como é possível ? Uma hipótese é haver algo invisível entre o íman e a agulha, através do qual a força do íman se propaga até à agulha. Este tipo de situações de ações à distância deu grandes "dores de cabeça" aos físicos quando tentaram explicá-las, pondo em risco a coerência de teorias criadas para explicar fenómenos, como, por exemplo, no caso da luz. Tem sido difícil a resolução destes problemas e soluções que parecem definitivas correm, por vezes, o risco de talvez não o serem.

Nunca foi possível explicar como seria constituído o éter, abandonando-se a ideia da sua existência e substituindo-o pelos conceitos de campo e de energia. Mas, quando Einstein fala na deformação de espaço (por exemplo, quando explica o que é a gravidade), as dúvidas ressurgem, pois se há deformação do espaço é porque lá existe algo.

Tudo isto deriva da dificuldade que temos para interpretar o mundo que nos rodeia. Aceitamos facilmente certas explicações sobre fenómenos que estamos habituados a ver, mas o mundo é demasiado complexo para a nossa mente, como o comprovam as dificuldades dos cientistas em o compreender, defrontando-se com explicações a que chegam pelo raciocínio e pela matemática e que os confundem, pela sua aparente irracionalidade. À medida que melhor vão conhecendo os fenómenos, mais dificuldades vão surgindo, mas parece que o estudo da realidade sempre foi assim. Sempre caminhando de dificuldade em dificuldade.

 

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O éter luminífero

 

Fresnel (1788-1827) desenvolveu uma teoria ondulatória para explicar os fenómenos luminosos. Para interpretar o fenómeno da polarização da luz chegou à conclusão que as vibrações que produzem as ondas, segundo a sua teoria, teriam que ser transversais à direção de propagação e não longitudinais (no sentido de propagação das ondas). Para conceber um processo de propagação deste tipo imaginou que as ondas seriam produzidas de uma forma análoga à que uma esfera mergulhada numa geleia, girando alternadamente num e noutro sentido, produziria, transmitindo a vibração às moléculas de geleia circundantes, transversalmente, enquanto este daria origem na geleia a ondas afastando-se da esfera.

vibrações

 

 









Este raciocínio obrigou-o a admitir a existência de um meio universal, presente em todo o lado, correspondente à geleia, que serviria de suporte à transmissão das ondas. Chamou éter a este meio. A necessidade de admitir a sua existência trouxe-lhe grandes problemas pois se, por um lado, o éter era necessário para explicar a polarização, por outro lado, a sua existência obrigaria à influência sobre os corpos existentes, nomeadamente os planetas. Ora os astrónomos não referiam qualquer anomalia nas suas trajetórias que pudesse ser devida a este meio. Por isso, o éter deveria existir mas, ao mesmo tempo ser imóvel e atravessar todos os corpos sem contudo os afetar de algum modo, o que é difícil de admitir, já que o meio se deveria comportar como um fluido suscetível de vibrar elasticamente para transmitir as vibrações transversais e, ao mesmo tempo, como um sólido imóvel que transmitisse a luz em linha reta sem a desviar da sua trajetória, pois isso traria outro problema, porque era admitida pelos astrónomos a propagação retilínea da luz na explicação dos fenómenos astronómicos observados.

 

Fresnel imaginou este éter luminífero (ou portador de luz) constituído por "fibras" com moléculas normalmente em posições de equilíbrio. As vibrações destas moléculas deveriam ocorrer longitudinalmente nestas fibras oscilatoriamente, ora para um, ora para outro lado. Estas vibrações eram então comunicadas às moléculas das fibras vizinhas e assim sucessivamente. Seria este o processo de propagação das ondas.

 

Após a morte de Fresnel, o matemático Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) estudou o comportamento do éter desenvolvendo várias teorias sobre o assunto, mas pouco convincentes.

Outros físicos se debruçaram sobre o assunto, sem conseguirem uma explicação satisfatória para a constituição e caraterísticas do éter.

 

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O éter elétrico

 

Primeiros estudos e teorias

 

A observação dos fenómenos elétricos fascinou e intrigou os primeiros experimentadores. O poder de certos corpos fricionados atraírem objetos à distância, sem contato físico, é deveras fantástico, já que normalmente é necessário pegar nos corpos para os movimentar.

 

É verdade que havia fenómenos já observados em que também se manifestam ações à distância. Um deles é o caso da atração gravítica, em que os corpos são atraídos (pelo menos antes da explicação dada pela teoria de Einstein) para a Terra. No entanto, o comum dos mortais não acha isso nada de extraordinário porque sempre viveu com essa realidade e não se preocupa com as suas causas e aqueles que querem compreender os fenómenos têm a teoria de Newton (1642-1727) que, pelo menos, explica como os corpos com massa se influenciam mutuamente.

 

Outro caso conhecido de ação à distância é o dos fenómenos magnéticos, que apenas se manifestam em certas substâncias e cujas causas permaneciam um mistério.

 

Um caso diferente é o dos fenómenos elétricos (leia-se "eletrostáticos" quando nos referimos às primeira experiências). De fato, estes podem ser provocados em corpos de diversos materiais (embora não em todos), podem ser comunicados a outros corpos à distância ou por contato. Além disso, produzem manifestações aparentemente contraditórias já que, por vezes, os corpos são atraídos, outras vezes são repelidos e isso depende também dos materiais. Para complicar, há substâncias que não se conseguem eletrizar (os condutores elétricos), mas os fenómenos elétricos podem comunicar-se através delas. Por outro lado é possível eletrizar o vidro, mas não é possível transmitir a eletricidade através dele para eletrizar outro corpo. E é possível comunicar a eletrização a um papel dentro de um recipiente de vidro, através das suas paredes, por influência de um corpo eletrizado no exterior do recipiente.

É preciso não esquecer que nesses primeiros tempos (desde o século XVI)  e até bastante depois, não era conhecida a estrutura da matéria como hoje a concebemos, com cargas elétricas no interior dos átomos.

 

Fogo elétrico e teoria dos eflúvios

 

Foi desenvolvida em 1745 uma teoria baseada na existência de uma matéria elétrica ou fogo elétrico. Quando agitada (pela frição) esta matéria era responsável pelas ações de atração e repulsão, conforme ela entrasse ou saísse do corpo.

 

O padre Nollet, em França, criou uma teoria dos eflúvios que entravam ou saíam dos corpos, explicando assim os fenómenos verificados.

 

A atestar estas teorias, segundo os seus defensores, era possível detetar um cheiro caraterístico junto das máquinas eletrostáticas em movimento, assim como a presença dum "vento elétrico" que fazia eriçar os cabelos.

 

No entanto, como explicar a passagem dos eflúvios através do vidro para agitar o papel dentro do recipiente (por aproximação de um objeto eletrizado no exterior do recipiente de vidro) e, ao mesmo tempo, não atravessar o vidro para comunicar a eletrização duma extremidade deste a um corpo em contato com a outra extremidade ?

 

A teoria de Franklin

 

O americano Benjamin Franklin (1706-1790) imaginou uma teoria segundo a qual o "fogo elétrico" é um componente natural dos corpos, como a massa. Segundo ele, se um corpo é eletrizado positivamente, a carga em excesso veio de outro corpo que ficou com menos carga. Um corpo ficou carregado a mais e o outro a menos. Desta forma, conseguiu explicar o funcionamento da garrafa de Leyden, o que a teoria dos eflúvios não pudera fazer. Segundo ele, após eletrização da garrafa, o interior desta ficava carregado a mais e o exterior a menos e desta diferença resultava a descarga quando o interior e o exterior eram postos em contato.

 

Para além do problema de saber qual a causa que lhes dava origem, era a forma como os fenómenos se manifestavam à distância, sem um meio de ligação visível, que levantava grandes dificuldades de interpretação. As primeiras tentativas de explicação e que duraram muitos e muitos anos foram de ordem mecanicista. Deveria existir um fluido elástico não visível que preencheria o espaço e através do qual se propagavam as ações entre os corpos.

 

Ampère e o éter

 

Para André-Marie Ampère (1775-1836) o éter elétrico é constituído por um fluido elétrico neutro com moléculas separadas umas das outras e distribuídas no espaço. A corrente elétrica é devida às decomposições e recombinações sucessivas das moléculas de éter. As moléculas transmitem as suas ações umas às outras, de um pólo da pilha ao outro, de forma instantânea. Para ele, o éter luminífero e o elétrico são a mesma coisa.

 

Faraday e o éter

 

Quando, cerca de 1850, Michael Faraday (1791-1867) observou as linhas ( a que chamou "linhas de força") formadas pela limalha de ferro num papel próximo de um íman, ocorreu-lhe que o espaço deveria estar preenchido por "tubos de forças". Quando se dá a ação dos ímanes e das correntes, estes tubos vibram. O "seu" éter é um meio invisível e fibroso que serve de meio de transmissão das ações à distância com velocidade finita.

Com esta noção de um espaço constituído por "tubos de forças", Faraday prefigurou a noção de "campo de forças" desenvolvida posteriormente por Maxwell.


 

Maxwell (o unificador da eletricidade, magnetismo e luz) e o éter

 

James Clerk Maxwell (1831-1879) era adeto de utilizar modelos concetuais que servissem de analogia com os fenómenos estudados, independentemente de representarem ou não a realidade, desde que a sua utilização servisse para clarificar a compreensão dos fenómenos.

Por isso, concebeu o "seu" espaço a partir da ideia de Faraday de "tubos de forças". Imaginou que os "tubos de forças" estavam cheios de "turbilhões moleculares" com eixos paralelos aos tubos girando todos no mesmo sentido e davam origem a forças centrífugas, tendo tendência a alargar-se equatorialmente e a contrair-se longitudinalmente.

 

tubo

contração

alargamento

 








 





Maxwell aplicou as leis da Mecânica dos fluidos a este modelo e estabeleceu as suas relações matemáticas. Depois, relacionou as grandezas mecânicas intervenientes com as grandezas elétricas e magnéticas. Substituiu a velocidade de rotação dos turbilhões pela intensidade do campo magnético. Substituiu a força exercida pelos turbilhões sobre as partículas pela intensidade do campo elétrico. A densidade de corrente elétrica substituiu o fluxo de partículas.

Foi com base nesta analogia física que Maxwell estabeleceu as chamadas Equações de Maxwell que relacionam os fenómenos elétricos com os magnéticos e que são a estrutura matemática das propriedades do chamado campo eletromagnético.

 

Em 1864, Maxwell apresentou  à Royal Society de Londres uma evolução da sua teoria inicial, considerando no lugar do modelo mecânico, uma interação entre a energia elétrica (potencial) e a energia magnética (cinética) associada ao campo magnético. De acordo com a teoria que desenvolveu, o magnetismo pode produzir eletricidade e vice-versa, sendo finita a velocidade de propagação das ações. Esta velocidade depende do meio, sendo, no vazio, igual à velocidade da luz. Considerou também que as ondas eletromagnéticas são transversais em relação à direção de propagação como acontece com as vibrações luminosas. Por fim, acabou por considerar que o éter que propaga as ondas eletromagnéticas é o mesmo que propaga as vibrações luminosas e que estas são ondas eletromagnéticas. Maxwell unificou a eletricidade, o magnetismo e a ótica numa só teoria. Quanto ao éter não negou a sua existência, mas passou a considerar os campos elétrico e magnético em lugar do éter.


 

O éter após Maxwell

 

Enquanto parte dos físicos continuaram a considerar a necessidade da existência do éter, outros preferiram esquecê-lo um pouco ou totalmente, substituindo o conceito de éter pelos de campos de forças elétricas e magnéticas.

Os primeiros eram de opinião que o éter deveria atravessar a Terra sem a perturbar. Pensaram numa experiência que serviria para demonstrar a existência do éter. Ela consistia em medir a velocidade da luz a partir da Terra. A medida efetuada num ponto da Terra que se aproxima (por efeito da rotação da Terra) da fonte luminosa, devia ser diferente da medida efetuada quando o ponto se afasta da fonte, pois à velocidade da luz havia que adicionar ou subtrair, respetivamente, a velocidade de rotação da Terra. Esta experiência foi efetuada várias vezes por vários cientistas a partir de 1880, mas os resultados esperados não se verificaram. A velocidade da luz é igual nos dois casos considerados. Mais uma vez falhou uma tentativa de verificar a existência do éter.

 

Einstein e o éter

 

Em 1905 Einstein apresentou a teoria da relatividade restrita. De acordo com esta teoria, o éter não existe e a velocidade da luz é constante.

 

Quando, mais tarde, desenvolveu a teoria da relatividade geral, considerou a existência do éter, necessária à consistência da sua noção de curvatura do espaço.

 

Conclusão

 

Do que se disse, verifica-se que a Natureza continua a guardar segredos, o que deve ser aliciante para os físicos. Por vezes o éter é necessário para justificar uma teoria, mas não se consegue provar a sua existência, outras vezes nega-se a sua existência e substitui-se por conceitos que não satisfazem totalmente quando se pretende conceber a verdadeira natureza do espaço, embora expliquem cabalmente os fenómenos. Por fim, o dilema de Einstein : o éter existe e não existe.

 

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Bibliografia :

Fresnel (Les Cahiers de Science et Vie)

Benjamin Franklin (Les Cahiers de Science et Vie)

Maxwell (Les Cahiers de Science et Vie)

 

 

 

 

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