Robert Johnson e o seu estranho dom
"Nós todos viemos
de um escravo, cantando no campo, em algum lugar" -
Lenny Kravitz (1995)
Pouco mais que um século depois, apesar de nunca
ter sido rico e com fama apenas regional enquanto em vida, Robert Johnson
oferece uma certa similaridade com a história de Paganini e aqueles
que o criticavam. Nascido em 1911, negro e descendente de escravos,
foi criado em uma fazenda de algodão. Assim, trabalhando no campo
desde criança, teve pouca instrução, aprendendo
a tocar seu primeiro instrumento, a gaita, sozinho. Quando começou
a entrar na maioridade, fugiu de casa para aprender a tocar violão
com Son House. Logo passou a tocar junto com os músicos que mais
o influenciaram, Charlie Patton e Willie Brown, além do próprio
Son House. Juntos, perpetuavam o que se costuma chamar de country blues;
o blues rural ou delta blues, pois vinham da região do delta
do Mississippi.
Com vinte
anos, Johnson descobriu como fazer sua guitarra chorar usando o gargalo
de uma garrafa quebrada, deslizando-a pelas cordas. Já se apresentando
sozinho, foi o autor de uma série de composições
que retrataria diversas amarguras da vida, desde a rejeição
carnal até o desconforto espiritual. Suas letras falam de amores
violentos, como em "Ramblin' On My Mind" e amores
perdidos como em "Love In Vain". Com um certo senso de sutileza,
ele fala sobre sexo em letras como a de "Traveling Blues",
onde utiliza analogias do tipo "Squeeze my lemon till my juice
runs down my leg" ("Espreme meu limão até
o suco escorrer pelas minhas pernas") frase hoje mais lembrada
na voz de Robert Plant quando este pertencia ao Led Zeppelin. Johnson
também falava de perseguição e desespero em canções
como "Me And The Devil" e "Hellbound Trail".
Essas letras ajudaram amarrar a lenda de um pacto entre o diabo e o
bluesman, lembrado até hoje.
Conta-se que Robert Johnson ficou à espera em
uma encruzilhada, com seu violão à mão, em uma
noite de lua nova. Quando deu meia noite, o diabo em forma de homem
apareceu para afinar o instrumento. A partir daí, todos que ouvem
suas músicas são encantados por ela. Na verdade Robert
Johnson tocava um violão excelente e é mais provável
ser a inveja, a origem das lendas que apareceram. Sua genialidade e
dom natural são tão mais cativantes, comparando-se aos
outros músicos de sua época, que novamente me traz à
lembrança o destino infeliz de Paganini. Johnson costumava tocar
quase que de costas para o seu público. As pessoas então
diziam que ele fazia isto para esconder o olhar do diabo que surgia
para auxiliá-lo. Mais coerente seria supor que ele se preocupava
em esconder os acordes que bolava sozinho e não queria que outros
músicos na platéia o copiassem.
Por volta de 1935, ele perambulava entre as cidades
dos estados de Tennessee a Arkansas. Fez uma série de gravações
em 1936, que circularam pelo sul e eventualmente chegariam a ser ouvidos
pelo norte do país. Acabariam editados em dois álbuns,
anos depois de o artista falecer. Em 1937, tocaria com ele em ocasiões
esporádicas Alex Miller (Sonny Boy Williamson, o segundo), como
também Elmore James e Howlin' Wolf, mas em geral Johnson se apresentava
sozinho.
Morreu, acredita-se, no dia 16 de agosto de 1938. Como
toda boa lenda, existem diversos rumores para explicar sua morte, mas
em geral inclina-se a acreditar que um marido ciumento colocou veneno
em sua garrafa de bebida. Johnson era famoso pela atração
que causava nas mulheres, como também por atrair as chamadas
"mulheres erradas". Ele veio a morrer três dias depois
de envenenado, sofrendo dores estomacais horríveis durante esse
tempo. Isto explicaria em parte as histórias que contam dele
antes de morrer, andando de quatro e uivando como um cachorro, animal
muitas vezes associado com o demônio.
Influência do Diabo?.... assim
que tudo começou