Influência do Diabo?.... assim que tudo começou
"Época triste
a nossa... Mais fácil quebrar um átomo do que o preconceito"
- Albert Einsten
Apesar de no decorrer de sua história o rock
and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros,
escravos trazidos da África para as plantações
de algodão dos Estados Unidos, a criação da estrutura
rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos
entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século
XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar
pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia). Focado basicamente
no vocal, o blues era geralmente acompanhado apenas por violão.
Enquanto
o blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes cidades
por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação
e marcado por bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão
e instrumentos de sopro.
Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se
a música gospel negra, que embora obedecendo as escalas de blues,
caracterizavam-se por rítmo frenético ou mesmo sensual,
canções de redenção e esperança para
um povo oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão.
A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria
havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o
relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial
mas também favorecendo a influência mútua entre
a música negra (blues e seus derivados) e a música branca
(principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com
os rítmos mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and
blues, que levou a música negra ao conhecimento da população
consumista.
No início da década de 50, com o final
da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia, os Estados Unidos
despontavam como grande potência mundial. Mais do que em qualquer
outro momento da história era incentivado o gozo da vida, marcada
que estava a sociedade pelos anos de sofrimento da guerra. A população
de maneira geral e inclusive as minorias pela primeira vez tinha dinheiro
para gastar com supérfluos como música. Com o anúncio
da explosão de bombas atômicas pela União Soviética
e um possível "fim do mundo" a qualquer momento, a
ordem geral era aproveitar cada momento como se fosse o último.
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O
selvagem da motocicleta |
Numa época de mudanças surgia uma corrente
intelectual inédita contrária à antiga política,
rebeldia esta refletida na literatura, como no livro "O Apanhador
no Campo de Centeio", de J. D. Salinger,
mas mais notadamente no cinema com a glorificação da antítese
dos antigos valores em filmes como "O Selvagem da Motocicleta"
(em que Marlon Brando interpreta um delinquente).
Em pleno crescimento econômico capitalista o
consumo era considerado fator primordial para geração
de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto contra o comunismo,
e a busca por novos mercados consumidores era incessante. Obviamente
a parcela mais jovem da população rapidamente se mostrou
mais facilmente influenciavel e ao público adolescente pela primeira
foi dado o direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo,
bem como poder de escolha.
Estranhamente porém os jovens brancos em grande
parte se negavam a consumir a música normalmente consumida pela
maioria branca. Começaram a buscar na música dos guetos,
algo diferente. Com a indústria fonográfica de grande
porte não preparada para suprir o público consumidor com
este tipo de música ganharam importância selos pequenos
de música negra.
A aceitação deste tipo de música
pelo público de maior poder aquisitivo levou a incipiente indústria
fonográfica da época a investir na evolução
do estilo e procura e contratação de novos talentos, principalmente
na procura de um jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando
a ele uma imagem que pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se
comuns os relançamentos de versões de músicas dos
negros regravadas por artistas brancos, que terminavam por tirar os
verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas.
Uma outra grande revolução de costumes
estava em curso. Sexo deixava de ser tabu e passava a ser considerado
diversão (tanto para o homem como para as mulheres). As canções
de amor por pressão do público comprador passavam a dar
lugar a letras mais sacanas, embora muitas vezes fosse necessário
criar versões atenuadas de versos mais diretos.
A mistura explosiva da empolgante música negra
com o consumismo branco adolescente havia sido feita... a explosão
era questão de tempo....
Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado
como responsável pela "criação" do rock
and roll? Obviamente um estilo musical tão complexo não
poderia Ter sua invenção atribuida incontestavelmente
a apenas um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém
merecesse ter seu nome associado à "criação"
do rock como o conhecemos este alguém não seria Elvis
ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader.
O "inventor" do termo rock and roll e grande responsável
pela difusão do estilo foi o disk jokey Allan Freed, radialista
de programas de rhythm and blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou
e investiu na carência do público jovem consumista por
um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu
o potencial comercial da música negra.
Os conservadores não gostavam muito do termo
"rhythm and blues", porque lembrava as boates e clubbes aonde
os negros tocavam. Allan Freed na palavra "Rock n' Roll" encontrou
o termo ideal para associar a fusão dos diversos gêneros
que compoem o ritmo. Os conservadores "aprovaram", pois o
termo não fazia tanta associação ao termo rítmico
que lembrava os negros catadores de algodão. Mas eles não
sabiam que tanto "rock" quanto "roll" era a gíria
usada pelos negros, que significa trepar. Rock Me Baby (me embale, nenê)
inverte o sentido do verbo e do ato de embalar a criança, o bebê
(baby) que, no caso, designa a garota, a namorada, num tom carinhoso
de tratamento. Rock & Roll, vertido para o português, numa
expressão livre, daria então "deite & role".
Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show
mais tarde renomeado para Moon Dog Rock and Roll Party ao mesmo tempo
em que promovia festas de dança com o mesmo nome, movidas inicialmente
a blues e rhythm & blues e mais tarde pelo rítmo que havia
ajudado a definir e divulgar. Suas festas apesar dos constantes atritos
e reclamações por parte das autoridades eram um sucesso.
Tumultos lhe valeram dezenas de processos por incitação
à violência.
Enquanto a juventude adotava o novo rítmo como
sua marca registrada, os adultos, principalmente das parcelas mais conservadoras
da sociedade, a taxavam como causa de toda delinquência juvenil...
apesar do exagero dos protestos, não estavam de todo errados,
o gosto pelo rock era realmente parte do estilo das gangues juvenis.
Apartir daí o rock se desprende de seu velho pai, o rhythm and
blues, e começa a caminhar com suas próprias pernas. A
criatividade do rock inglês só tem a acrescentar nesta
jornada, inspirando e criando novas vertentes, até o momento
em que a ovelha negra da família "liberdade de expressão"
nasce, o jovem Heavy Metal. Mas essa já é outra história....