Sombras do Passado

Yoko Hiyama

Parte 2 - Passado batendo na porta

Quando chegou em casa, Touya estava com um mau humor terrível. Com certeza, aquele tinha sido o típico dia para não se levantar da cama. Agradecendo aos céus por ser o primeiro a chegar em casa, subiu as escadas e se fechou no quarto, jogando o material pro lado com irritação. A cabeça latejava de dor e isso fez com que se arrependesse por ter acendido a luz.

Apagou novamente a lâmpada com um gemido e deitou-se na cama, puxando um travesseiro pra cima do rosto.

- Que droga... - resmungou.

Dia seguinte teria que encarar Kaho. O que diria a ela? Falar com ela a esse respeito lhe parecia tão descabido! Mesmo porque, não sabia ao certo o que tanto lhe afetava em relação a ela.

Fechou os olhos. A noite mal dormida na véspera estava começando a lhe pesar os olhos. Com um suspiro cansado, Touya decidiu dormir um pouco, antes de descer pra preparar o jantar. Pelo menos assim, ele tirava Kaho do pensamento por um instante.

******

- Temos muito em comum, Kaho... - Touya comentou, animado, enquanto revolvia o sorvete de flocos com uma colher comprida.

- Tem razão. - ela sorriu, concordando.

- E é por isso... que eu gosto tanto de você. - ele comentou, deixando a timidez de lado. Estava decidido a partir pra conquista de uma vez por todas.

- Gosta de mim porque sou parecida com você? Hum, que egocentrismo da sua parte... - ela não resistiu a fazer uma piada ao olhar pro jeito tão sério do companheiro.

- Não falo nesse sentido e você sabe!

- É... eu sei. - ela deu uma risada - mas é divertido te provocar.

- Hum...

- Não faça essa cara. - ela riu ainda mais.

- Kaho, o que eu estou tentando te dizer é que você ... - Touya se interrompeu por alguns segundos, acariciando o rosto dela com delicadeza - você...

- Não precisa dizer nada, Touya. Está tudo nos seus olhos. Não se esforce tanto.

Os dedos dele entraram pelos cabelos macios dela enquanto respondia:

- Kaho... gostaria de olhar para dentro de você da mesma forma que você faz comigo. Gostaria de ler a sua alma com a mesma facilidade que lê a minha...

- Por que diz isso? Por acaso existe algo sobre mim que você não saiba, Touya?

- Sim. Muitas coisas...

- Por exemplo?

- Se você me ama... - os dedos desceram numa carícia até se encontrarem com os dela - tanto quanto eu... te amo...

- Pois bem... olhe pra mim... e leia a resposta.

Touya obedeceu. E o que viu nos olhos dela fez com que se esquecesse de tudo em volta. Levantou-se da cadeira e inclinou o corpo agilmente, envolvendo-a nos braços com força. O beijo foi uma conseqüência.

******

Touya acordou sentindo os lábios formigarem e a cabeça doer mais do que antes. Fazendo um esforço grande pra se levantar, Touya deixou o quarto e desceu pra fazer o jantar. No caminho, pegou o telefone e discou um número, sem nem pensar direito no que estava fazendo. Ao ouvir a voz de Yukito do outro lado da linha, falou:

- Yuki, já que seus avós ainda não voltaram de viagem, o que você acha de jantar aqui com a gente?

- Seria ótimo, To-ya. Estou indo praí, ok?

- Ok. Até mais.

Sakura apareceu do nada assim que o irmão colocou o telefone no gancho e perguntou:

- O Yukito vem jantar com a gente?

- Vem.

- Que bom!!! Você vai fazer alguma coisa especial para ele comer, não vai?

- Não. Faça você se quiser.

- E vou mesmo. - ela mostrou a língua.

Touya não deu bola pra irmã e foi até o fogão pra cozinhar alguma coisa rápida. A dor de cabeça não lhe deixava um só instante em paz enquanto começava a cortar alguns legumes com a ajuda empolgada de Sakura. A comida já estava quase saindo do forno quando Yukito tocou a campainha.

- Yukito-San!!!

- Como vai, Sakura? - ele sorriu pra garotinha e entrou - com licença.

- Tem toda, Yuki. - Touya falou da cozinha.

- E aí, To-ya? A dor de cabeça melhorou, cara?

- Nem um pouco...

- Oni-Chan tá com dor de cabeça?

- Estou. - Touya respondeu enquanto botava a mesa preguiçosamente.

- Tomou um remédio, To-ya? - Yukito perguntou, com uma pontinha de preocupação.

- Não.

- Eu vou pegar pra você, Oni-Chan! - Sakura avisou e subiu as escadas atrás do analgésico.

- Bom, a mesa tá pronta. Só temos que esperar o papai chegar.

- Não precisam mais. - Fujitaka abriu a porta da sala naquele instante, sorridente - Boa noite.

- Boa noite, pai.

- Boa noite, Kinomoto-San.

- Oh, Yukito-San. Boa noite. Vai jantar conosco?

- Vou sim.

- Eu convidei o Yuki. - Touya avisou.

- Fez muito bem, filho. Sakura-Chan?

- Está lá em cima.

Nesse mesmo instante, Sakura desceu as escadas com o remédio do irmão em mãos.

- Oni-Chan, esse foi o melhor que eu pude arranjar... PAPAI! - ela correu para abraçar o pai assim que o viu em casa.

- Como está, filhinha?

- Estou bem, papai. Mas o meu irmão é que não tá muito legal hoje...

- Verdade, Touya? - ele olhou pro filho, preocupado.

- Eu estou bem. Não precisa se preocupar.

- To-ya teve muita dor de cabeça hoje. - Yukito explicou assim que os olhos de Fujitaka o interrogaram silenciosamente - mas tenho certeza que ele vai melhorar assim que tomar o remédio que Sakura-Chan trouxe pra ele, ne?

- Hai. - Fujitaka concordou, parecendo mais aliviado.

A partir daí, o jantar foi bem tranqüilo. O remédio e a comida até que ajudaram bastante a melhorar a dor de cabeça e o humor de Touya, que até conseguiu conversar um pouco com os demais. Ao final, ele ainda fez um convite a Yukito.

- Você não quer dormir aqui não? Amanhã você acorda mais cedo pra ter tempo de ir pra casa e se arrumar pro colégio. O que acha?

- Hum... - Yukito pensou um pouco e então respondeu - acho melhor não... não está tão tarde, ainda posso voltar pra casa.

- Se é o que quer.... tudo bem... - Touya deu de ombros e então se despediu do amigo - até amanhã.

- Até amanhã, To-ya! - Yukito sorriu e se foi, logo depois de se despedir do pai e da irmã do amigo.

Touya ficou parado alguns segundos na frente da porta antes de anunciar.

- Bom, acho melhor eu ir dormir. Boa noite...

Touya percebeu o olhar preocupado do pai quando este lhe deu boa noite, mas não deu muita importância. Não queria importunar seu pai novamente com aquele assunto. Resolveria tudo aquilo sozinho desta vez.
 
 

******

Quente. Um calor gostoso que só podia vir da pele, do amor. Era muito bom quando os dois podiam ficar sozinhos e, juntos, se esquecerem do mundo. Mas, no namoro dos dois, tudo aconteceu com muita rapidez. Como se, na verdade, os dois soubessem desde o começo que o tempo que teriam seria muito curto e que deveriam aproveitá-lo o máximo que pudessem. A cada vez que se beijavam, sentiam que algo muito mais forte do que eles mesmos os empurrava cada vez mais para o sexo. A química entre os dois era poderosa demais pra ser ignorada.

E a noite em que tudo aconteceu não poderia ser mais perfeita. Lua cheia, estrelas... Touya teve um pensamento de descrença sobre a sua própria sorte quando a viu, parada na calçada, esperando a sua saída do trabalho. Kaho tinha uma beleza mágica, que enfeitiçava e deslumbrava. Seus cabelos longos, lisos, os olhos castanhos tão claros que mais pareciam ser amarelos, a pele muito branca, um mármore caro e raro que pedia o seu toque. Era linda!

- Veio me buscar? - ele acariciou o rosto delicado da namorada que apenas assentiu com a cabeça em resposta, procurando sua mão.

De mãos entrelaçadas, os dois passearam pela cidade. Falavam pouco, estavam concentrados demais nas carícias trocadas pelos seus dedos para pronunciar mais do que uma ou outra monossílaba. Andaram pelas ruas já pouco movimentadas, cruzaram o parque, a ponte, passaram na frente do colégio onde estudavam.

- Hum, já está fechado. - Touya comentou.

- Touya... nunca teve curiosidade de saber como é lá dentro quando não tem ninguém?

- Aonde quer chegar? - ele perguntou, sem entender.

- Vem! - ela foi puxando seu braço - a cerca está aberta mais adiante.

- Você quer entrar no colégio a essa hora?

- Por que não?

- Se nos pegarem...

- Não vão nos pegar.

Quando Kaho lhe dizia esse tipo de coisa, Touya sabia que deveria acreditar. Mas era uma proposta tão maluca que ele não se controlou e insistiu:

- Você tem certeza disso?

- Claro que tenho. Venha! É aqui. Segure um pouco isso e puxe bem pra cima pra eu poder passar, tá?

Touya obedeceu, ainda sem acreditar na loucura que estava prestes a fazer. Em poucos minutos, os dois estavam dentro do terreno mal iluminado do colégio. Kaho correu pelo jardim, rindo de uma forma que Touya não se lembrava de ter visto antes. Kaho normalmente era tão séria! Mas agora parecia entusiasmada como uma criança fazendo uma grande travessura.

- Kaho...

- Venha, Touya. Quero lhe mostrar uma coisa! - ela falou e desatou a correr.

- Kaho! Kaho! Onde você está indo? - Touya correu atrás da namorada, incapaz de relaxar.

- Por aqui!! Rápido!

- Estou indo...

Kaho só parou quando os dois chegaram ao pátio do colégio. Na verdade, um grande terreno retangular iluminado por dezenas de holofotes. Kaho andou até o meio do pátio e então voltou-se para o namorado parou de andar, ainda na parte sem iluminação, incapaz de dar mais um passo adiante.

Toda aquela luz tornou Kaho ainda mais admirável para Touya. Seus olhos desfilavam por todo seu corpo quando ela finalmente parou de olhar e olhou pra ele com um belo sorriso nos lábios.

- Afinal, o que você queria me mostrar? - ele fingiu um mal humor inexistente, sem poder ao menos controlar um sorriso.

E resposta, os dedos finos começaram lentamente a desabotoar a blusa. Touya ficou paralisado. Simplesmente incapaz de fazer qualquer coisa a não ser olhar pra ela, ele ficou ali, observando cada botão sendo afastado da casa até que a blusa deslizou para o chão. E sem parar de sorrir, ela partiu pra saia, abrindo o zíper de trás com agilidade. Em pouco tempo estava nua, deixando que toda a luz do lugar a mostrasse por completo para o namorado. Longos instantes de silêncio se seguiram. Touya simplesmente não tinha forças para quebrar aquele momento e, por isso, controlava até mesmo a respiração. Foi quando ouviu o convite:

- A fronteira entre a luz e a escuridão é muito fina, mas quebrá-la... não é tão fácil quanto parece.

Ciente da verdade daquelas palavras, Touya não se mexeu do seu lugar, sem se atrever a dar o único passo que o separava da trevas, onde estava, para o espaço amplo iluminado pelos holofotes onde estava sua namorada.

- Kaho... - ele sussurrou o nome dela num pedido mudo de ajuda.

Ela sorriu. Acabou com a distância que havia entre eles com alguns pares de passos lentos. Cruzou a linha que dividia o escuro do claro e então ficou bem próximo a ele.

- Estou aqui. - ela disse no ouvido dele.

- Kaho... - seus braços a envolveram, adivinhando todos os contornos mesmo com toda aquela escuridão e as bocas se procuraram famintas e trocaram aquele beijo gostoso que sempre vem como um prenúncio de todas as sensações. As mãos dele contornaram o corpo dela com uma curiosidade adolescente enquanto sentia que sua roupa era retirada. A penetração veio ansiosa, em meio aos beijos - verdadeiras declarações de amor de um menino inexperiente que havia encontrado o seu primeiro amor, a mulher dos sonhos e que ainda não acreditava direito que tudo não era um sonho.

Olhos colados numa mútua e excitada observação. Corpos se afastando e se encontrando num ritmo cada vez mais alucinante. Gritos e gemidos cada vez mais altos. O prazer aumentando cada vez mais e mais... a cabeça rodando cada vez mais, os sentidos se esvaindo cada vez mais, a carne tremendo... cada vez mais perto, cada vez mais gostoso...

******

Touya acordou com o barulho do seu próprio gemido. Felizmente, não fora alto o bastante para acordar os demais. Meio assustado, ele sentou-se na cama, esfregando os olhos. Sentia uma umidade desconcertante na região do baixo ventre e deu um muxoxo de impaciência. Fazia tempo que não sonhava com sua primeira vez.

Mesmo assim, das outras vezes que isso tinha lhe acontecido, sempre acordava sentindo uma dor chata no peito que custava a desaparecer. Mas desta vez, não foi assim. Touya apenas balançou a cabeça e levantou-se da cama, disposto a tomar um bom banho.

- Estou agindo como um adolescente... - resmungou.

Continua.... ^^ 



Parte 3
Sombras do Passado
 
 
 
 
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