Capítulo 4 – As Regras do Jogo
- Bem-vindo de volta, Saitou Hajime-Kun.... – um tom de voz quase cínico se fez ouvir em meio a penumbra quando Saitou voltou a casa que tinha sido de Kaoru e Kenshin.
- Ainda está aqui? – Saitou perguntou, indiferente.
- Estava esperando que voltasse. – o influente homem respondeu – Eu sabia que não demoraria muito insistindo na sua tola teimosia e voltaria, como lhe ordenei.
- Hunf!
- Você parece tenso, Hajime-Kun... Deve ter tido mesmo um dia bem difícil, não é? Quer beber alguma coisa?
- Não.
- Ora, ora... relaxe um pouco... não faça essa cara séria o tempo todo... isso dá rugas, sabia?
- Não estou interessado nesse tipo de assunto.
- Claro, claro... sente-se então. Vamos ao que realmente interessa. Vou lhe passar suas instruções. Siga todas elas a risca, sem erros.
Saitou sentou-se, em silêncio e ouviu:
- Procure o antigo mestre de Himura Kenshin, Seijuro Hiko e peça que ele lhe ajude a encontrar uma forma de neutralizar o poder que Kenshin tem agora.
- Poder?
- Sim... devo avisar que a força que Himura Kenshin possui agora não mais se compara com a sua ou mesmo com o mestre dele e que , pra vocês, será impossível matá-lo.
- Por que?
- Porque ele é um demônio agora. E dos mais poderosos.
- Um demônio...
- Exatamente, o que você deve fazer é começar a reunir os mais fortes guerreiros existentes para ao menos fazer com que ele pare de matar e destruir de alguma forma. Exatamente como fez com Shishio Makoto.
- Entendo.
- Depois disso, deve localizar Aoshi Shinomori. Ele também nos será muito útil.
- Sim.
- É importante que você seja discreto em suas ações. As pessoas não devem saber da existência dos demônios e muito menos do Makai, você entende?
- Entendo.
- E... – uma batida na porta o interrompeu, nesse momento – Quem está aí?
O mesmo policial que havia sido incumbido de destruir o corpo do youko entrou no quarto.
- Ah, é você?
- Sim, senhor. Vim lhe dizer que a minha missão foi cumprida, senhor.
- Ótimo... Alguém te viu?
- Não, senhor. Tenho certeza.
- Muito bom. Você é bom policial... merece um prêmio.
O homem retirou uma arma da cintura e disparou impiedosamente contra o peito do policial que desabou morto no chão.
- Vou lhe dar a vida eterna.... abaixe a espada, Saitou Hajime. Você sabe que isso foi necessário.
- Eu decido o que fazer com os meus homens.
- E eu decido o que fazer com a SUA vida...
Saitou se viu cercado por dezenas de policiais que apontavam armas para ele.
- Você realmente acha que eu não tinha percebido a presença dos seus cães assim que entrei aqui?
- Você realmente acha que sempre está no controle da situação, Saitou Hajime? Mas deixe-me explicar uma só coisa a você e espero que me entenda muito bem... a segurança de milhares de pessoas depende do sucesso dessa operação e eu não vou admitir falhas ou traições. Não quero sequer me arriscar a isso!
- E se eu disser que não vou participar disso tudo? Que você pode me matar mil vezes se quiser que não mudará a minha opinião?
- Eu te direi que você perderá muito mais do que a vida fazendo isso...
- Do que está falando?
- Sua esposa é realmente muito bonita, Saitou Hajime... pelos seus traços finos, eu suponho que ela seja... um pouco mais nova que você. Estão casados a muito tempo?
Saitou não se alterou, continuou mudo, direcionando o seu ataque para o homem sentado tranqüilamente a sua frente, que então, preferiu continuar a falar.
- Mas sabe o que mais me chamou atenção nela? Tokio-San se parece tanto com o primeiro capitão do Shisengumi, Okita Soushi! Você tem mesmo um gosto bem exigente, Saitou... – ele deu uma gargalhada.
- Eu vou te matar...
- Fique sabendo que estará matando quatro pessoas ao mesmo tempo... eu, sua esposa, seu filho que ainda nem nasceu e... você mesmo, claro.
- Meu filho?
- Hñ? Ai, me desculpe... esqueci que você ainda não sabia... sua esposa devia estar lhe preparando uma boa surpresa. Que pena, acho que estraguei tudo.
- Desgraçado!
- Finalmente me levou a sério... isso é bom... isso quer dizer que você aceita a sua missão, não é mesmo?
Saitou não teve outra saída a não ser abaixar a arma, derrotado.
- Você tem que me prometer que nada vai acontecer com ela.
- Tem a minha palavra. Mas você não pode falhar.
Saitou deu as costas e andou até a porta.
- Não faça nenhuma besteira, Hajime. – o misterioso homem ordenou, não obtendo resposta – E vocês, queimem isso tudo, não quero uma folha de grama viva, entenderam?
-Ryoukai! – todos se retiraram de seus esconderijos estratégicos e trataram de cumprir as ordens.
* * *
- Quem é você? – Seijuro perguntou, notando que seu visitante não era um simples comprador de cerâmica.
- Meu nome é Saitou Hajime. Vim falar sobre o seu pupilo.
- Não tenho nenhum pupilo.
- Claro que tem. Vim falar sobre Himura Kenshin.
- Não estou interessado. Se não quiser comprar nada, saia! – Hiko não alterou o tom de voz.
- Ele se tornou um youkai assassino, continua pouco interessado?
O enorme homem olhou para ele, sério:
- Como é?
- Eu vou lhe contar toda a história, se estiver interessado em ouvir.
- Sim, sente-se.
Saitou tentou contar os últimos acontecimentos da forma mais sucinta possível e, no final, Seijuro apenas sorvia seu saquê, em silêncio.
- É tudo.
- E o que quer de mim?
- Primeiramente, algumas respostas.
- Sei.
- Você não me parece muito surpreso...
- E não estou.
- Quer dizer que sabia da existência desses troços?
- Naturalmente. Já lutei contra muitos deles. Um ou outro vem me importunar de vez em quando. São um bom treinamento.
- Por que isso acontece?
- Porque eles procuram poder. E o espírito humano é uma fonte incalculável de poder. É normal que eles sintam e procurem os donos de espíritos mais poderosos do Ningenkai.
- Mas estes bichos... eles são bem poucos, não?
- Pelo contrário, são mais numerosos do que imagina.
- Nunca tinha visto nada parecido antes.
- Eles não se deixam pegar com muita facilidade.
- E você sabe o que pode ter acontecido com Kenshin?
- Sem dúvida, ele realmente se tornou um youkai.
- Mas, como isso pode ser possível?
- Com certeza ele tinha sangue youkai nas veias.
- Como é? Sangue youkai?
- Exatamente. Como você ouviu.
- Isso é ridículo!
- Não é mesmo. Kenshin tem agilidade, poder e força fora do normal. Com certeza há uma razão para tanto poder. Eu sempre suspeitei disso mas, só agora tenho minhas provas.
- Como isso pode ser possível?
- Você nunca se perguntou o motivo de Shishio Makoto Ter sobrevivido depois de levar tantos tiros e ainda ser queimado vivo? Nunca pensou que poderia haver um motivo para todo o poder que ele desenvolveu depois de renascer?
- Ele também?
- Sim... os Ningens que trazem sangue youkai nas veias, despertam para a suas verdadeiras vidas a partir do momento que os seus corações param. E no lugar dele, passa a funcionar um outro tipo de órgão bem particular que lhes dá poder e resistência fora do normal. Shishio já era poderoso antes mesmo do seu lado youkai despertar, depois, tornou-se quase invencível. Só alguém com sangue igual ao dele pôde vencê-lo. E eu creio que acontece o mesmo com Kenshin. Quando viu sua família morta, Kenshin morreu sem morrer e transformou-se em youkai.
- Morreu... sem morrer?
- Sim. Ninguém precisou queimá-lo vivo para que Kenshin despertasse como um youkai. O ódio que sentiu foi tanto que seu coração humano parou e deu lugar ao coração youkai. Nem ele mesmo deve ter percebido, mas o Kenshin que eu e você conhecemos, não existe mais, ele está morto.
- E vivo... ao mesmo tempo.
- Eu posso te garantir que tudo que ele quer nesse momento é morrer.
- Eu vou fazer isso por ele.
- Você não vai conseguir.
- Eu vou.
- Eu tenho um plano melhor. Ao invés de matá-lo, você pode tentar prendê-lo no Makai. Lá, ele não será um risco e, quem sabe, não tem a sorte de encontrar alguém mais forte do que ele para matá-lo?
- Trancá-lo no Makai? Mas... como?
- Só existe um jeito, armando uma armadilha pra ele.
- Sim, acho que já sei o que você quer dizer. E também sei como... mas tenho que fazer alguns preparativos antes de colocar esse plano em prática.
- Faça como quiser.
- Está certo. – Saitou levantou-se – Mas antes, me responda só mais uma pergunta... Como você sabe de tudo isso?
- Como eu sei? Minha mãe me contou...
* * *
- Pare de correr, Misao! – Aoshi teve que pedir pela centésima vez.
- É que eu estou morrendo de vontade de encontrar com Kenshin, Kaoru, Kenji e todos os outros! – Misao falou, exaltada.
- Tenha mais juízo! Você está grávida!
- Eu e o meu bebê estamos bem e agüentamos mais uma viagem inteirinha!
- Teimosa! – Aoshi não pôde evitar um sorriso – Ainda bem que estamos quase chegando
- Sim! Sim! Sim! – Misao apertou o passo ainda mais ao ouvir que estavam próximos – É na próxima rua, é na próxima rua.
- Eu sei, eu sei....
Os dois andaram até o lugar onde deveriam encontrar o dojo Kamiya, mas tudo que acharam foi um enorme terreno em cinzas.
- O ... o ... – Misao tentou esboçar alguma reação mas não conseguiu muita coisa.
- O que aconteceu por aqui? – Aoshi completou a frase da esposa, igualmente estarrecido.
- Eu posso explicar o que aconteceu...
- Saitou Hajime? – Aoshi se voltou para encarar o policial, seriamente. – Então é bom começar logo...