Capítulo 5
Já era madrugada; a festa tinha demorado muito para terminar.
Estava cansada. Ligou o chuveiro e o vestido escorregou pelos seus ombros, caindo no chão; a água morna deslizando pelo seu corpo lhe dava uma sensação gostosa de conforto e descanso.
- Onde você está? seu ki era tão baixo que ele não podia senti-lo.
- Aqui.
Vejiita entrou no box e balançou a cabeça negativamente ao ver Bulma sentada no chão do chuveiro fumando um cigarro, os braços abraçando os joelhos enquanto a água escorria livremente pelas suas costas.
- Você disse a eles que podiam ficar? indagou, fechando a porta atrás de si.
- É claro, por que não? Deve ser horrível para Chichi ficar sozinha naquele fim de mundo onde ela mora. completou num sussurro Quando ela viu Nabiki no jardim, até achou que fosse o Goku. Enquanto o pai dela não voltar da montanha de fogo pra lhe fazer companhia, vai ser bom ela ficar aqui.
- Oh, que amável. tirou o cigarro da mão dela e tragou também. - Pretende prestar serviço assistencial e recolher retardados em casa?
- Pare de fingir. Eu sei muito bem que você pouco se importa se ela vai ficar aqui ou não.
Podia odiá-la por conhecê-lo tão bem.
- Nabiki também vai ficar. murmurou entre dentes.
- Sério?
- É.
- Não acredito! falou, empurrando-o para o lado. - Como pôde chamá-lo pra ficar na Terra? Você nem sabe o que ele pode fazer aqui!
- Quem disse que eu chamei alguém? respondeu, segurando seu braço escorregadio e puxando-a para perto dele. É só você consertar a nave dele para ele poder ir embora.
Bulma murmurou aborrecida:
- Hah, muito obrigado por me avisar. levantou os olhos azuis para Vejiita - Não quer que ele fique? Como ele é a única lembrança viva do seu antigo planeta, achei que talvez você gostaria que ele ficasse.
Quando ele tinha cinco anos e começou a trabalhar para Freeza,
em sua nova rotina mortes e conquistas de planetas tinha se afastado muito
da ligação que tinha com seu pai ou com qualquer outro. Não
se importou muito na época quando eles morreram ; apenas assistiu
a tudo
como se estivesse em uma platéia, distante demais para sentir
ou fazer qualquer coisa. Não tinha muita certeza de ter mudado de
opinião a respeito. O que queria era vingança pela traição,
e não que todos voltassem a viver novamente.
- Por mim ele pode ir até para o inferno, se quiser. respondeu, segurando-a pelos ombros e puxando-a para cima.
Em pé, ela passou os braços em volta do seu corpo, abraçando-o, e todos os músculos de Vejiita se retesaram embaixo da pele. As mãos relutaram em tocá-la de volta, mas depois se moveram como se tivessem vida própria sem ninguém para detê-las, afastando seu cabelo molhado da testa, beijando seus olhos fechados, a ponta dos seus cílios, seus lábios.
As mãos de Bulma deslizaram pelas suas costas, acariciando o
lugar onde seu rabo deveria estar; as
sobrancelhas de Vejiita estremeceram sobre seus olhos fechados e um
gemido escapou dos seus lábios ; mesmo que não tivesse mais
uma cauda aquele continuava sendo um dos lugares mais sensíveis
do corpo de um saiyajin, podendo provocar muita dor ou muito prazer.
Vejiita prendeu-a contra a parede, os corpos molhados deslizando um sobre o outro . Os lábios se afastaram para se procurarem novamente, as pernas e os braços entrelaçados, a respiração se tornando cada vez mais pesada e ofegante à medida que os gemidos se tornavam mais intensos.
Na verdade, Bulma despertava em Vejiita sensações que ele nunca contaria a ninguém, sentimentos que muitas vezes gostaria de esquecer e o ódio não estava entre eles.
* * *
Quando Bulma acordou, alguns raios do sol frio de inverno já entravam no quarto com toda a força por entre as cortinas fechadas. Olhou no relógio da mesinha de cabeceira e levou um susto: já era muito tarde, estava quase na hora do almoço. Prendeu os cabelos ainda molhados e resolveu descer até a cozinha.
- Anh, você não precisa se incomodar, Chichi. disse, quando a viu cozinhando o almoço. Não precisa fazer o almoço se não quiser. Tem muitos empregados aquí...
- Eu não me incomodo respondeu ela dando um sorrisinho. Gosto de cozinhar. E já está quase pronto mesmo...
- Então vou chamar os outros. falou, dando meia volta e saindo para o jardim. Vejiita e Trunks estavam na sala de gravidade e , por incrível que pareça, Nabiki estava do lado de fora treinando com Goten. Chamou todos eles e Gohan, que estava estudando na sala.
- Sente-se e coma. disse Vejiita à Nabiki, num tom em que não se poderia saber se aquilo era um convite ou uma ordem. Ele obedeceu e se sentou na mesa junto com os outros, olhando com uma cara estranha para a comida cozida.
- E então , Goten ? perguntou Bulma Está treinando com Nabiki?
- Hai. concordou ele, esticando a mão para pegar mais comida. Chichi a esmagou prontamente, rosnando alguma coisa do tipo tenha bons modos na casa dos outros!
Goten não se importou muito. - Se meu pai estivesse vivo, eu poderia treinar com ele ...
- Ué, por que você não ressuscita ele com as esferas do Dragão? perguntou Trunks.
- O quê ? Nabiki levantou a cabeça do prato de comida, surpreso. Era a primeira vez que se dirigia à Trunks, ou mesmo olhava para ele . - Como assim?!
- Ah, você não sabe né? É que a gente pode ressuscitar todas as pessoas que morreram com as...- se calou no meio da frase quando viu o pai olhando furioso para ele.
Mas Nabiki já tinha entendido o sentido da frase, como era óbvio. Levantou da mesa , olhando surpreso para Vejiita, que o fitou e estreitou os olhos, sabendo exatamente o que ele iria perguntar.
- Por que se passou tanto tempo e você não fez isso? Como Príncipe, ou como qualquer outro sobrevivente da raça, era sua obrigação! Você teve e tem a oportunidade de ressucitá-los e não o fez!! Por quê?!
- Não é necessário.
- Você não sente raiva pelo que aconteceu? Não deseja vingar a suas mortes, revivê-los para que nós possamos voltar a ser a família mais forte do universo?
- Você está delirando. respondeu, mais alto do que desejava - Estão mortos há MAIS DE TRINTA ANOS! Você talvez não tenha noção porque esteve congelado todo estes anos. Para você, o tempo não passa de uma linha contínua em que os anos 737 e 770 estão ligados e todo o resto não existe, simplesmente porque você não os viveu.
- Se viver todos esses anos me deixariam como você, eu não sei o que seria pior! Você se esqueceu completamente de como é um saiyajin! Agora você come, se veste, fala e age como se fosse um deles! Você vive junto com uma terráquea, e nem mesmo seguiu os costumes da monarquia e deu o seu nome para o seu primeiro filho! Trunks! O nome dele tinha que ser Vejiita, assim como foi o nome do seu pai e o seu!
Gohan e Bulma se entreolharam, assustados. De repente, parecia que a mesa tinha virado uma arena de luta.
- Eu não estava no planeta quando ele foi batizado. E não há porque manter as tradições de uma família real que não existe mais. O único que restou fui eu, e isso é tudo.
- Os mitos dos terráqueos não são os nossos. A
maneira de pensar não é igual a nossa. Os costumes deles
não são os mesmos. Você não vê? Esse lugar
não nos pertence! Não podemos nos esquecer de tudo e vivermos
aqui , nos misturando a essas patéticas criaturas como se fosse
natural!
Vejiita não respondeu nada.
- Não acha que eles gostariam de voltar à vida?
- Eles já foram vingados. Não há necessidade de ressuscitá-los.
- Não acredito declarou Nabiki no exato instante em pousou o copo na mesa . Você simplesmente não quer ressucitá-los porque não é conveniente para você .
- ... conveniente?
- Oh, por favor! Não sabe do que eu estou falando?! Você se juntou com uma terráquea, criando um mestiço! Sabe que nenhum deles aprovaria! Tentariam matá-los e por isso você inventa essas mentiras miseráveis para protegê-los!
- Iie. Não o matariam. Tem poderes quase iguais aos seus, e é uma criança.
- Não interessa se tem poderes quase iguais aos meus! Pelo menos os filhos de Kakarotto se parecem com saiyajins puros! apontou para Trunks - Olhe para ele!
Olhe para a cor dos seus cabelos, dos seus olhos! Aquele cabelo fino e liso não se parece com o de um saiyajin de verdade! ELE não se parece!
- Você realmente acha os filhos de Kakarotto melhores? declarou, dirigindo um olhar à Gohan e referindo-se à ele Um inútil, um covarde e um chorão, que prefere passar seus dias se arrastando no meio de prateleiras de livros, sentado lendo durante horas como um zumbi, e que faz de tudo pra não precisar lutar! Eternamente decepcionante... Praticamente uma aberração, eu diria. Acha isso o mais próximo de um saiyajin de verdade? ACHA?
- Não teremos mais esses problemas com terráqueos. Ressuscitarei todos os saiyajins que morreram.
- Se fizer isso, mato você. declarou sem hesitação, como se matar fosse uma atitude tranqüila e honrosa.
Nabiki ficou mais atônito com sua frieza do que com suas palavras.
- Matar-me? Não faria isso. - gaguejou Sou um dos poucos sobreviventes da raça, assim como você.
- Foda-se murmurou Vejiita num tom baixo, mas feroz. E involuntariamente começou a rir, lembrando-se do que tinha feito com Nappa.
- Você o matou?
- .. Hmn ?
- Eu ouvi você murmurar um nome... Nappa! Onde está ele? Se você o matou, por que?
- Não interessa a ninguém. replicou Vejiita.
Faz tantos anos....
* Era uma noite estrelada e muito quente, anos atrás; todos os habitantes do planeta Khan foram exterminados num piscar de olhos. Eram muito frágeis e delicados, sem possuir nenhuma habilidade de luta significativa. Quando a fumaça da explosão provocada por ele mesmo cessou, ainda se ouviam os últimos gemidos, os últimos gritos, os últimos uivos de dor. O jovem Vejiita caminhou entre eles, observando atentamente - era um planeta esplendidamente bonito, e seria vendido por um bom preço. Mas olhou em especial para uma mulher Khan perto dele, abraçada com um corpo rígido. Talvez ela fosse o único ser vivo naquele planeta. Tinha cabelos compridos e prateados, orelhas pontudas e grandes olhos cor de violeta que ardiam em seu rosto pálido. Ela era linda e estava morrendo, como todos os outros da sua raça.
Balançava-se para frente e para trás, murmurando coisas ininteligíveis. Vejiita ajoelhou-se perto dela, e escutou o que ela falava sem querer.
- Eu não quero morrer... Não desse jeito... eu não quero morrer... não desse jeito...
Vejiita puxou-a para junto de si e murmurou:
- Mas, você já está morta. e ela olhou-o com seus
febris e espantados olhos violeta. Ele sorriu
perversamente ao ver que ela acreditava nele. Sentiu um prazer cruel
ao enganá-la, brincar com a sua morte. Não está
vendo? Fez um gesto com o braço mostrando os mortos, o sangue
negro e pegajoso que brilhava por toda parte ao redor deles Você
está morta, como todos os outros ; e sou eu decidirei se você
irá para o paraíso ou para o inferno. Portanto, agora você
deve me contar
todos os seus pecados... murmurou, deslizando seus lábios
quentes pelo pescoço, as mãos escorregando pelas suas costas
nuas.
Uma gargalhada estrondosa ecoou atrás deles.
- Você é mesmo um maldito pervertido! riu Nappa Consegue fazer isto mesmo no meio de pilhas de gente morta!
Vejiita virou-se para ele furioso, empurrando-a para longe com seu braço livre. Arqueou uma das sobrancelhas para Nappa , declarando diabólica e ironicamente:
- Não dei pra esse sentimentalismo! Eu não sinto nada por eles, nem respeito as suas mortes. Toco até tambor em cima desses cadáveres, se eu quiser!
- Não é sentimentalismo, só acho que estamos perdendo nosso tempo à toa... Por que você está fazendo isto, enquanto já poderíamos estar voltando ?
- Porque eu gosto de fazer. Divirto-me.
Nappa encarou-o sem entender, mas como um cão adestrado com medo
de desagradar o seu dono, não falou nada. Atrás dele
a mulher que estava com Vejiita a poucos segundos atrás gemeu e
entreabriu os olhos semi-consciente, e Vejiita não deu a mínima
importância para ela. Apenas sentou-se em uma pedra , acendeu fogo
e cozinhou calmamente sua comida espacial , lançando-lhe
ocasionalmente um olhar aborrecido seus trêmulos lábios
brancos balbuciavam coisas sem sentido , como se estivesse atrapalhando
a paz da sua refeição.
- Está pronto. resmungou , inclinando-se sobre a comida no fogo . Nappa chegou mais perto do fogo e sentou-se para comer, enquanto a mulher de olhos cor de violeta chorava desesperada e pateticamente atrás deles.
- Mas que inferno! praguejou Vejiita, parecendo a ponto de matá-la. Mas não o fez. Empurrou-a novamente para que ela se sentasse e falou : - Sente-se aquí e coma. Ou não coma, se quiser. Mas cale essa maldita boca, ou eu vou ter que te matar antes da verdadeira diversão começar.
- Mas eu já estou morta! berrou histericamente MORTA!
Acreditou em mim... BAKA.
- Todos nós morremos um dia. disse com impaciência - E agora você já conhece a sensação. É até um privilégio.. retrucou morbidamente, mastigando a sua comida. Estava ruim, como a maioria das comidas espaciais semi prontas.
- Foi uma boa conquista, eh? falou Nappa, alheio as conversas do príncipe com a mulher Khan. - Nós somos bons parceiros para conquistar planetas!
Ele não respondeu de imediato, seus olhos fitando a dança das chamas a sua frente, fazendo-o lembrar-se de uma conversa de alguns anos atrás.
- Você acha que ele lhe serve, filho?
- Hai.
- Enquanto Nappa é mais forte que você, será útil para acompanhá-lo a outros planetas e treinar com você. E quando ficar mais forte que ele, poderá matá-lo e usar um outro soldado mais poderoso.
- Sim, acho que farei isso, Otousan.
A promessa nunca tinha se concretizado. Apesar de ter apenas quinze anos, Vejiita era mais poderoso que Nappa há muito tempo e ainda não o tinha matado. Mas desde o começo ele considerava-o insignificante.
- Você não é meu parceiro, Nappa, e nunca foi. disse friamente. Você é meu escravo.
- Oh, Deus! disse uma voz lamurienta atrás deles. eu estou morta!
- É, agora você realmente está .... rosnou Vejiita, colocando de volta o pescoço dela no lugar. Apertou as bochechas dela de modo que seus lábios apertados formassem um botão cor de rosa que ele beijou em cheio. Finalmente calei a sua boca.
Sentou-a ao seu lado , colocando-a de um jeito que seu queixo se apoiasse no peito, como se ela estivesse apenas cochilando.
- Temos a visita de uma dama, Nappa. falou rindo, divertindo-se com a sua própria brincadeira perversa. Vamos comer silenciosamente e com educação hoje, ou ela poderá acordar.
Deu um tapinha na cabeça dela, que a fez desmontar no chão como se fosse um manequim.
- E você é malditamente irritante acordada , minha dama.
Nappa não riu e não disse nada, porque estava chocado com a declaração de Vejiita a respeito dele. Ele realmente acreditava que eram amigos, que se divertiam juntos, que Vejiita o ajudaria se precisasse. Mas agora ele começava a enxergar. Vejiita não precisava dele fazia suas próprias leis e sua própria diversão.
- Você me deve a sua vida, Nappa. começou ele como se
adivinhasse Se você não fosse meu escravo, não me
acompanharia a todos os lugares e teria morrido na explosão de Vejiitasei.
Mesmo você me considerando seu parceiro, não será uma
traição da minha parte se eu te matar, hun? Afinal, se você
vive e não arde no inferno agora é por minha causa. Mas não
se preocupe retrucou
sorrindo ao ver o horror nos olhos dele Porque eu não vou
te matar.
Não por enquanto, filho da puta. *
Olhando para trás , talvez agora eu veria Nappa com mais benevolência do que antes. Talvez.
- Você o matou? E matou Raditz também?
A resposta de Vejiita foi um ataque imediato; Nabiki concentrou toda a sua força apenas para conseguir se esquivar e como era muito mais lento, só conseguiu fazê-lo parcialmente.
- O que está fazendo ?! gritou estupefato , segurando o braço ferido.
Vejiita não precisava dele, da sua falta de força, da sua inutilidade, das suas perguntas e idéias estúpidas. Ele que morresse com elas.
- Não é obvio?! sorriu perversamente - Tentando arrancar suas tripas...!
Súbito, ouviu um grito abafado atrás dele, o barulho de
um corpo caindo muito próximo antes que pudesse se virar para ver
o que acontecia. Quando o fez, distinguiu Chichi em pé , apertando
entre os dedos o cabo de uma faca cuja lâmina comprida e afiada brilhava
suja de sangue. Bulma cambaleou para trás e caiu aos seus pés
, sentindo o sangue morno correr por entre seus dedos
livremente.
* * *
Algumas horas depois, sozinho, Trunks ajoelhou-se perto da sua cama, encostando o rosto no travesseiro.
- Kaasan... ouviu-se murmurar, e a palavra pareceu ecoar no
silêncio do seu quarto. Deixou que duas lágrimas escorressem
com suavidade pelo seu rosto infantil. Não podia acreditar. Que
todos morressem, menos ela...
Continua...