Até o Dia Raiar e as Sombras Fugirem
Kaoru-Dono
 

Capítulo 4                    
Escutou alguém batendo pelo lado de fora pela terceira vez na manhã seguinte. Tudo o que queria era ficar em paz e treinar... e não conseguia. Desligou a gravidade com um soco nos botões e foi abrir a porta. Se fosse Bulma de novo.. já estava perdendo a pouca paciência que tinha.

- Que inferno! – gritou ele exasperado- O que você quer dessa vez?

- Olha o meu vestido novo! Vou usar hoje a noite, na festa de Natal. – Vejiita revirou os olhos; não
estava acreditando naquilo. – O que você achou?

- Você parece um cavalo, trotando em cima desses saltos. – respondeu batendo a porta na cara dela com sua  delicadeza característica.

“ Baka !” gritou Bulma do lado de fora, mas Vejiita nem sequer ouviu. Estava pensando no que ele tinha visto ontem à noite ... o que era aquilo?!

Ligou a gravidade novamente e voltou a treinar. Tinha decidido interiormente que assim que saísse dali ia até o laboratório ver se Nabiki ainda estava lá – e nem mesmo sabia se o nome dele era aquele.

No começo daquela noite enquanto terminavam de arrumar a mesa de jantar os convidados começaram a chegar para a festa , as inúmeras caixas de presentes sendo colocadas embaixo da árvore. Seria uma festa pequena, íntima, apenas para os amigos mais chegados.

- Oi , Bulma! Feliz Natal  - Kuririn acenou do outro lado da sala, onde estivera ajudando a  número dezoito a se sentar numa poltrona .Embora ainda não desse para perceber ela estava grávida, vivia fazendo todas as coisas para ela – Onde está o Vejiita?

- Ele... – gaguejou.

* - Mas, se você não vier, os convidados podem ficar ofendidos...
 
 - Então, eles ficarão .  – declarou Vejiita com indiferença.

Ele jamais permitiria que alguém contrariasse suas idéias sobre si mesmo ou o forçasse a fazer algo que não quisesse fazer, e de certa forma, Bulma gostava dele por ser desta forma –decidido a ser ele mesmo, embora muitas vezes por esse motivo Vejiita fosse quase insuportável .*

- Ele não vem, Kuririn – disse Bulma. E poupou-se de ter que dar uma explicação qualquer quando ouviu Trunks e Goten berrando ao lado da árvore.

- Nossos estômagos estão doendo de fome!! –  gritaram.

Ambos estavam acostumados a jantar e dormir cedo, e  já passava das sete horas.

- Então comam alguns dos doces que ganharam enquanto a comida não chega. – disse Bulma, oferecendo à eles balas coloridas e chicletes.

Goten e Trunks estavam sentados lado a lado, enfiando um doce atrás do outro na boca. Em pouco tempo, as balas já tinham acabado como num piscar de olhos.

- Anh... Já acabou ! –  suspirou Goten,  apertando a barriga com ambas as mãozinhas pequenas – Ainda tô MORRENDO de fome...

- Já acabaram tudo!?  - perguntou, incrédula.

- Hai...Não podemos comer mais?

- Esperem só um pouquinho mais, tá bom? Os adultos ainda não estão com fome e o jantar vai ser servido só daqui a pouco. Tenham paciência.

- Mas, mãe, nossos estômagos não tem paciência!!- reclamou Trunks, desesperado.

- Hmn. Vou até a cozinha fazer sanduíches para vocês dois. E não sentem no chão, faz mais frio do que se sentarem do sofá.

- Não gostamos de sentar no sofá. – disse Goten.

E espirraram.

Bulma suspirou. Ser mãe não era tão delicioso nem tão fácil quanto ela presumira.

Chichi devia sofrer com dois filhos...três na verdade, já que Goku muitas vezes se comportava como uma criança.

Olhou em volta procurando por ela.

- Goten, onde está a sua mãe?

Enquanto caminhava pelo bonito jardim enfeitado, ela adiava a hora de entrar na Corp. Capsula. Sabia que todas aquelas pessoas lá dentro invariavelmente a lembrariam de uma pessoa, e a única coisa que ela queria no momento era esquecer. Tudo a fazia lembrar dele, a todo tempo...Risadas
alegres, alguém comendo demais, seu filho mais novo, que era como uma réplica perfeita e em menor escala do pai.

Era enlouquecedor.  Não queria esquecer de Goku, mas daqueles anos que não iriam mais voltar e que a faziam se sentir pior, mais egoísta e mais solitária a cada vez que pensava neles.

* GOKU! Quantas vezes eu vou ter que repetir?! NÃO entre em casa pela janela! Use a PORTA, como uma pessoa civilizada faria!

- Anh... desculpa, Chichi –ele coçou a cabeça e olhou para o chão, sem jeito. Mas não durou muito tempo; um segundo depois já estava perguntando pela janta , fazendo com que ela ficasse mais brava ainda. *

* Goku!!! Não coma como um porco! Será que você NUNCA vai ter bons modos à mesa ?*

* Não vou deixar que o meu Gohan lute, em hipótese alguma! Não me interessa se a Terra está correndo perigo, o que interessa são os estudos de Gohan... Ele precisa estudar para ser um grande cientista....! *

* Não esqueça de tirar essas botas imundas antes de deitar, Goku...*

* Será você não cresce nunca?! Porque sempre tem que ser tão irresponsável ?!*

* Não quero que Gohan ande com os seus amigos! Eles são todos uns REBELDES! *

“ Ah , Goku...Você nunca reclamou não é? Sempre foi paciente comigo, e eu tratava você daquele jeito. Talvez você nunca tenha chegado a saber o quanto eu te amo ... Eu...eu  fiquei tão preocupada com o Gohan que acho que... nunca te disse...”

Lágrimas mudas encheram seus olhos, escorrendo pelo rosto. Não era justo, pensou . Como ela poderia saber? Amorte era para pessoas velhas, fracas e doentes, e não para os bonitos, os saudáveis, os queridos. Não para ele.

Imaginou como seria bom se ele voltasse nem que fosse por um dia, e então ela poderia abraçá-lo e dizer todas as coisas que poderia ter dito enquanto ele estava do seu lado e ela não se importou em dizer , simplesmente porque achou que ele estaria sempre lá .
 
Foi de repente, enquanto andava pelo jardim. Goku estava parado diante dos seus olhos, ao lado de uma das árvores e de costas para ela, olhando para o lado oposto. Chichi ficou paralisada de susto e surpresa, sem saber se era aquilo era uma visão tamanho o seu desejo em vê-lo ou se era real. Tinha que ser de verdade! Era o mesmo rosto de perfil, os cabelos pretos, o mesmo corpo forte... absolutamente vivo, como ela mesma. Ao olhar com mais atenção, ela percebeu um detalhe
intrigante : ele não tinha auréola.

O que  aquilo significava? Será que tinham ressuscitado Goku em segredo para lhe fazer uma surpresa ? Como se estivesse sentindo a sua presença ali, ele virou o corpo lentamente na sua direção, encarando-a o tempo todo com uma expressão de indagação e dúvida. Ela levantou o rosto para olhá-lo, retraindo-se involuntariamente. Nada de olhos suaves e meigos, quase infantis.

Não era Goku.

Os olhos que a encaravam eram penetrantes , velhos demais para aquele rosto jovem. Confrontaram-se a distância, tempo suficiente para que muitas perguntas passassem pela cabeça dela com extraordinária rapidez enquanto ele se mantinha em silêncio, olhando-a fixamente de um jeito perturbador.E  tão de repente quanto tinha chegado, ele já não estava mais lá.

“ Hmn. Poder de luta 83...” Nabiki conferiu no rastreador antes de virar as costas para a mulher de
cabelos pretos e compridos que o olhava como se ele fosse uma visão. Só o que queria era voltar para o laboratório, tentar consertar a sua nave que tinha se danificado na queda e voltar para Vejiitasei. Não lhe agradava estar naquele planeta rodeado de criaturas tão fracas, mas também não
tinha ordens para conquistá-lo. Dentre todas as pessoas que tinha visto, aquela mulher era a que tinha um poder mais alto – a média dos habitantes da Terra era um poder de luta que variava de 1 a 5.  Enquanto dava a volta na casa para chegar aos fundos e entrar no subsolo, percebeu   que estava sendo seguido . Seu primeiro pensamento foi  que a mulher o havia seguido, e agora estava atrás dele para saber aonde ia... Mas os seus movimentos eram rápidos demais para ela, que não tinha nem mesmo ki suficiente para poder voar e acompanhá-lo.

Pousou seus dois pés no solo, ao mesmo tempo que escutava  dois pés tocando o solo atrás dele. Continuou andando, e notou que aqueles passos o acompanharam em perfeita sincronia com os seus; quando parou, eles também pararam.  Poderia ser só coincidência. Seguiu em frente, caminhando mais rápido, e eles também recomeçaram a andar, ganhando velocidade com ele; alguém estava se divertindo as suas custas, pensou com certa raiva. Atrás dele, sempre distantes demais para o rastreador registrar qualquer coisa, aqueles passos ecoavam tão longe que nenhum terráqueo poderia ouvir. Súbito, os números começaram a aparecer no rastreador. 1,2,4,8 mil , não paravam de crescer. 10, 15,20 mil , e isso foi o bastante para o rastreador explodir. Parou
atônito, o espanto superando em muito o medo. Retirou as pressas os restos do rastreador do seu rosto e virou para frente, apenas para ver o vulto inconfundível de um outro saiyajin , agora tão perto que poderia tocá-lo se quisesse. Como tinha percorrido aquela distância enorme em tão pouco tempo?

Virou-lhe as costas, apenas para vê-lo surgir na sua frente como se estivesse se materializado naquele lugar. Virou-se para outro lado, e de novo, e em todas as vezes ele surgia na sua frente com movimentos tão rápidos que ele não conseguia percebê-los, levando-o a ter a ilusão de que  estava no meio de um círculo cercado por milhares de saiyajins e não por um só.

Nabiki recuou um passo quando o outro deu um passo à frente. Vejiita estendeu a mão para ele com como se estivesse pedindo a sua para um aperto de mãos; e antes que Nabiki pudesse estender a sua, ele subitamente empurrou-o contra a parede e derrubou-o no chão .

Era a sensação mais estranha que já tinha tido, ser atacado por um braço que ele sequer viu se mover contra ele.

Então Vejiita moveu-se para deixá-lo ver a luz da lua em seu rosto; um rosto estranho e familiar, porém mais jovem do que aquele que ele conhecia.

-... Rei Vejiita?

Recebeu como resposta palavras ironicamente emudecidas.

- Porque está nesse planeta?

- Como me fez ver a sua luta contra o Thoma? – perguntou, como se pouco se importasse com o que ele estava falando.

Ele sacudiu a cabeça, confuso.

- Eu não sei. Estava saindo do laboratório ontem à noite...Talvez o tenha hipnotizado sem querer quando você estava distraído e isso fez com que visse os espectros das minhas ultimas lembranças. –olhou para dentro da Corp. capsula- A nave estava quebrada. Quero tentar consertar agora e voltar, se permitir.

- Voltar? Para onde?

- Para o nosso planeta...

Vejiita fez um gesto de impaciência com a mão , interrompendo-o.

- Não existe mais Rei Vejiita. Ele está morto, assim como Vejiitasei.

- Nani?!

- Escute. Apesar da sua aparência você não é um jovem, pelo contrário, é mais velho que eu. Você saiu do planeta um pouco antes dele desaparecer, e passou muitos anos vagando pelo espaço. Eu não sou o rei Vejiita, e sim o príncipe.

- Mas você tinha só quatro anos de idade quando eu saí de lá...E eu tinha dezenove.

- Então, agora você tem cinqüenta e três anos.

- Cinqüenta e três?! Mas eu não aparento essa idade, e nem me lembro do que aconteceu nesses anos..!

- Hai. Isso aconteceu porque você passou todo o tempo congelado.

- Entendo.... – murmurou – Mas por que está aquí? O senhor Freeza ordenou que invadíssemos esse planeta?

- Iie. Freeza também já morreu ; não trabalhamos mais para ele.

- O quê? Então todos já morreram? E Raditz?

Vejiita levantou uma sobrancelha.

- Porque está perguntando em especial por ele?

- Perguntei porque eu o treinei desde pequeno... até o dia em que fui embora. Ele era como se fosse um irmão mais novo pra mim. Eu ia treinar o outro filho de Bardack, Kakarotto, quando ele crescesse mais um pouco...Ele morreu também?

- ...Kakarotto... Então você ia treiná-lo? -  estreitou os olhos negros – Ele foi mandado para Terra quando era um bebê e se esqueceu completamente de como é ser um saiyajin. Viveu sempre como se fosse um terráqueo; está morto, mas seus filhos estão aquí.

- Aqui... Não tenho pra onde ir , e os que restaram estão nesse planeta...Acho que também vou ficar.
 

Continua....



Capítulo 5
Dragon Ball
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