Até o Dia Raiar e as Sombras Fugirem
Kaoru-Dono
 

Capítulo 2
Verduras, suco,  miso-shiru , chá... “Onde estão aqueles dois? ”

Escutou passos abafados no jardim , a maçaneta girou pelo lado de fora e um rostinho infantil e faminto apareceu na porta.

- Ohayooo !! –  gritou Trunks, animado ao entrar na cozinha para tomar o café da manha. Desde que tinha começado a treinar acordava quase sempre de bom humor, achava  fascinante aprender a fazer todas aquelas coisas que o pai fazia.

- Ohayo, Trunks-chan. – Bulma beijou o rostinho  sorridente do filho. –  Seu pai....?
- Disse que já vem...

- Hai. Já terminei de fazer o café. Pode se sentar. – disse , colocando os pratos na mesa. Ela olhou
distraídamente a janela oposta à do jardim , que dava para o enorme terreno nos fundos da Corp. Capsula  e suas delicadas sobrancelhas se uniram, tornando angulosos seus olhos azuis.

“ O que é  aquil..?! ” um ponto amarelo-luminoso descrevia uma trajetória curva no céu frio e cinzento.

- Kaasan? Tá olhando o quê?  - Trunks trepou na cadeira, tentando alcançar a janela e enxergar o que a mãe estava vendo também.

“ Eu não acredito.... De novo ... não pode ser ” pensou, quando viu do que se tratava . Nunca ia esquecer as naves em forma de elipse que ela já tinha visto tantas vezes em Namekusei.

- Sugooooi! -  o pequeno abriu a boca admirado. – Mamãe , olha, uma nave igualzinha à que o Tousan usa pra treinar, só que pequenininha...

“ Claro que é parecida... Eu usei uma destas como base para construir uma maior, que levasse Goku ao planeta do Picolo... Posteriormente meu pai aproveitou a tecnologia incrível que esta nave continha e construiu uma máquina de gravidade de aparência quase igual...”

- É – concordou , olhando fixamente para a nave que  agora descia em queda livre , provocando um estrondo ao se chocar com o solo logo depois – Muito parecida...

Suas mãos se ergueram nervosamente , apertando o tecido da saia que estava usando. A curiosidade natural que ela sempre teve quase a fazia sair correndo para fora , ver
que nave era aquela, quem estava lá dentro.

* Vá até lá! * sussurravam palavras ecoando no seu cérebro; era o que queria fazer, mas o seu instinto murmurava astuciosamente :  *Fique aquí, pode ser perigoso .. você não tem idéia do que está lá dentro... *

Os olhos azuis e travessos do seu filho se ergueram para encontrar os seus , deixando transparecer uma curiosidade e excitamento quase iguais aos que ela própria estava sentindo Quando eles se encontraram, ela já tinha se decidido.

******

- Nããoooo!!! Um banho por dia já é suficientemente bom! PARE COM ISSO,GOHAN , OU VOU CONTAR TUDO À KAASAN !!! – berrava um garotinho de cabelos negros e espetados, que lutava para socar o rosto do irmão mais velho com os pequenos punhos cerrados.

- Hah! E quem você acha que me mandou vir aqui dar banho nessa coisinha imunda? – replicou ele, rindo e afastando os punhos de Goten sem nenhuma dificuldade.

- Não gosto de tomar banho no FRIO! – suplicou ele, batendo com as mãos na superfície da banheira e respingando água para todos os lados.

- Hai, hai , já está acabando! –Gohan segurou-o pelos braços, tentando faze-lo parar de gritar e se debater.

Logo depois ergueu o corpinho escorregadio de dentro da água cheia de espuma e enrolou-o numa toalha felpuda e quente.

- O café já está pronto? – murmurou um Goten já bem mais calmo , esfregando um dos olhos que ainda ardia com sabão.

- Anham – respondeu ele, enfiando uma blusa de lã pelo pescoço do irmão – Não está sentindo o cheiro da comida?

******

- Que olfato de cachorro você tem! – Bulma se virou para encará-lo, admirada. –Como pôde sentir cheiro de sangue do jardim? Eu mal consigo senti-lo daquí...

- Hm. – Vegeta se limitou a virar o rosto para encará-la, franzindo a testa. No segundo seguinte já tinha voltado a observar a nave estranha ; seu olhar revelava desconfiança, mas não preocupação – o poder que estava sentindo emanar de dentro da nave era quase nulo.

******

* - Então, já está decidido. Use uma das muitas naves espaciais de longa jornada que recebemos e deporte-o.

- Mas , ... você  tem mesmo ...certeza ?

- É claro, Baka. – respondeu o outro, agitando furiosamente a cauda que se enrolava atrás dele e
puxando com um gesto arrogante a magnífica capa vermelha presa a sua armadura. – O que ele fez.... não estamos certos quanto aos seus poderes, por isto a decisão mais correta é mandá-lo para bem longe em uma rota espacial aleatória.

- Mas ele poderia tornar-se um magnífico guerreiro ....- começou a dizer timidamente a voz ao lado do trono.

Por alguns instantes, os olhos negros do homem vestindo a capa vermelha cintilaram de raiva, como uma faísca prestes a arder com um vento mais forte.

- Chikusho! – rosnou ele, se virando furiosamente para o homem ao seu lado. – EU sou o Rei! Como ousa contestar minhas decisões? Apenas limite-se a cumprir cegamente as ordens! Será que é tão estúpido que não percebe que para continuar entre nós ele deveria ter uma lealdade muito
superior aos seus poderes? *

******

A porta curva da nave abriu-se lentamente com um ruído sibilante . Dentro dela repousava em um ser de feições duras e franzidas , como se estivessem sido talhadas em alguma madeira dura demais. Seus cabelos eram relativamente curtos e negros, porem incrivelmente grossos e embaraçados; vestia uma armadura de guerreiro, e por baixo dela o fluxo de sangue quente e escuro que
deixava seu corpo lentamente já começava a manchar a roupa comumente usada por baixo da armadura.Enrolada cuidadosamente em volta da sua cintura, jazia uma cauda que imediatamente denunciou quem ele era.

- Saiyajin?

- Hai.

“ Se recusam a morrer...”

- Vejiita... Todos não estavam mortos? Em que ano mesmo o seu planeta explodiu?

Seus olhos se voltaram contemplativos para o céu e ele franziu as sobrancelhas, como se tentasse se lembrar de alguma coisa distante e incômoda como uma dor de cabeça constante que ele fazia questão de ignorar.

- Quando eu tinha cinco anos...737, eu acho.Ela observou atentamente as feições do sayadin que
continuava aparentemente dormindo dentro da nave, observando cada detalhe com uma expressão intrigada.

- Estranho, não é? Você também não reparou?

- Hm?

- Olhe. – disse ela, forçando-o a se virar para encará-lo. - Ele não parece ter mais de vinte anos. Menos, talvez.

Bulma parou de falar por um instante e examinou  melhor seu rosto.- Ele não pode ter a aparência tão jovem assim! Mesmo que tenha deixado o seu planeta com poucos meses de vida, como fez Goku, deveria parecer mais velho!

- Hai... –concordou Vegeta distraído, ainda aparentemente perdido em lembranças distantes.

- Por favor, Vejiita-san leve-o até o laboratório...! Eu acho que posso mante-lo vivo se você levá-lo até lá para mim...

- Hai. – disse novamente , antes de segurá-lo por uma das botas e puxa-lo para fora da nave descuidadamente ;  logo depois seu corpo inerte era erguido no ar de cabeça para baixo, seguro por um dos tornozelos. – Abayo.

“ Está gelado como se estivesse morto... Mas não está, porque seu sangue ainda corre quente pelas veias.”

Deu a volta na casa pelo ar e começou à descer para o laboratório.
 

A tarde gélida chegou e foi embora; o sol fraco de inverno se pôs e a luz da  lua já entrava pelas janelas, iluminando lugubremente a casa com seus reflexos prateados. Trunks tinha devorado a sua janta e dormido quase que imediatamente ; Bulma estava sentada em frente ao enorme espelho do banheiro na suíte do seu quarto, vestida com a  sua camisola mais mínima; passava
lentamente a escova pelos seus compridos e sedosos cabelos que cheiravam a xampu, úmidos e recém lavados. O reflexo de Vegeta se aproximou no espelho, logo atrás dela.

- Você nunca tinha visto ele antes no seu planeta? – indagou ela distraídamente enquanto penteava o cabelo.

- Iie.

- Mas... não faz idéia de como ele veio parar aquí?

- Iie.

“ Apenas os seres com poderes insignificantes, soldados de classe baixa como Kakarotto eram mandados, quando bebês, a planetas com nativos de poderes baixos para conquistá-los mais tarde... Ou então seres de poderes grandiosos que constituíssem uma ameaça... Mas, isso era
TÃO raro... e ele tem um poder insignificante.”

- Mas EU passei a tarde toda no laboratório e acho que tenho uma explicação...

Vejiita permaneceu imóvel onde estava, o queixo apoiado em uma das mãos, olhando para ela inexpressivamente. Na verdade estava interessado no que ela iria falar  mas costumava nunca demonstrar isso, essa era certamente uma das manias mais antipáticas que ele possuía.

Bulma  recomeçou a falar, não se importando nem um pouco com o silêncio desinteressado dele. Isso era normal – para Vejiita.

- A nave foi construída em 731, acho. Pelo menos é essa a data que está gravada  na parede interna, e acho que isto significa a sua data de fabricação...Examinei a memória da nave e o último lugar que está gravado nela é o seu planeta, portanto quando ela saiu de lá provavelmente não tinha nenhuma rota específica a seguir, nenhuma conquista a ser feita, nenhum lugar a se visitar. Apenas foi lançada como se fosse lixo espacial indesejável a ser eliminado, exilando o saiyadin dentro dela do convívio com os outros.

“ Talvez... o ki dele esteja apenas enfraquecido.. ou talvez ...ele saiba diminuir o seu ki até ficar quase nulo. Não, isso é impossível. – pensou - Quase nenhum guerreiro tem essa habilidade...eu mesmo só fui aprender a fazer isso quando lutei com terráqueos.”

- Você ... não sentiu nada estranho quando o levou até o laboratório para mim?

- Estava gelado, como se estivesse morto.

- Hai.- disse ela, balançando a cabeça afirmativamente - Todos os sinais vitais lentos...Acho que ele foi congelado para poder vagar eternamente em um sono letárgico. Quando a nave caiu, o sistema automaticamente se desligou.

“Então foi isso que o impediu de sangrar até a morte durante a viagem ,” pensou Vegeta “ o congelamento impediu o sangue de deixar o corpo. Só quando a temperatura começou a voltar ao normal o sangue pode correr livremente pelos ferimentos.”

- Chega desse assunto. – murmurou ele autoritariamente, passando os braços musculosos pela sua cintura e apertando-a com uma força que ela achou que suas costelas iam se quebrar. – Não me interessa saber mais nada sobre ele.

- Yoshi, Vejiita-san. – disse ela, pousando a escova na bancada de mármore que circundava a pia e o espelho.

Ele observou melancolicamente o reflexo de ambos no espelho, as feições do rosto se atenuando enquanto suas mãos levantavam seus cabelos molhados e mordiam sua nuca quente.

- Às vezes eu me olho no espelho e vejo meu pai.  Às vezes, quando eu estou treinando e fico sozinho e imóvel durante horas, eu sou capaz de escutar os fantasmas do meu passado sussurrarem em meus ouvidos...Às vezes eu escuto os seus murmúrios à minha volta e quase posso
entender o que eles dizem.

- E às vezes você diz coisas realmente estranhas...Seu reflexo no espelho sorriu maliciosamente ,
deslizando ambas as mãos por dentro do decote da camisola dela.

- Hai. Talvez eu esteja me preocupando com coisas idiotas.

“Como costumam fazer os terráqueos.”

- Mas de qualquer forma, não tão estranhas assim... o que você me disse hoje de manhã... estava
errada...Velhas lembranças mortas e enterradas não aterrissam em naves na casa dos outros...

Continua



Capítulo 3
Dragon Ball
 
 
 
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