Até o Dia Raiar e as Sombras Fugirem
Kaoru-Dono

*nota da autora   Esta história começa entre a Saga de Cell e a Saga de Magin Boo.

Capítulo  1        
Faziam três dias inteiros que ele estava treinando.

Bulma olhou para a tela do computador em seu quarto, porém não conseguia se concentrar.
Era tarde e ela estava começando a ficar preocupada, pois Vegeta quase nunca ficava tanto tempo seguido dentro da maquina de gravidade, sem comer e sem dormir.

- Vejiita...- ela murmurou encostada ao vidro da janela, de onde podia se ver o lugar onde ele estava.

- Hai...?
Um borrão acabava de se materializar a poucos centímetros do seu rosto, fazendo-a  levar um susto tão grande que agarrou o primeiro objeto que viu num gesto de autodefesa.

- Bulma - um indiscutível ar de riso passou pelo rosto dele - O que pretende fazer com isto?

- Baka ! - ela soltou o controle remoto que tinha pegado, rindo. - Você me assustou...Porque sempre tem que fazer essas coisas?

Ele olhou-a com ardentes olhos negros e a segurou pela cintura, levantando-a  alguns centímetros do chão.

- Porque que eu não consigo ficar três noites longe de você...- murmurou - Sentiu minha  falta, Bulma-chan?

- Hai...- Ela suspirou, abraçando-o.
 
Acordou no meio da madrugada com o ar frio e o barulho do vento cortante que se insinuava pelas frestas da janela e da casa . Abraçando as costas de Bulma, descansou o rosto na curva suave e macia do seu pescoço, sentindo o cheiro dos sedosos fios azuis espalhados pelo travesseiro.

“Três anos ” pensou “Três anos na mais absoluta paz, vivendo pacificamente sem nenhuma batalha...E elas não estão me fazendo tanta falta quanto eu pensava que fariam. Será que eu mudei tanto assim? ”

Sim, ele tinha mudado.
 
Há poucos anos atrás, teria achado desnecessário ter um quarto usado quase todas as noites e dividir este quarto com alguém, mas a insistência de Bulma e a sua própria vontade, mesmo sem  ele admitir a sua existência, tinham feito ele acabar concordando em passar as noites dentro de casa e não no jardim ou na máquina treinando.

Hoje ele gostava  de ser abraçado no meio da noite, de sentir o calor e o cheiro dela junto dele, e a sua desconfiança se tornava menor a cada dia que passava, quando eles se conheciam um pouco mais , mesmo que sem palavras.

A confiança que nascia dentro dele e a certeza de se sentir querido e amado tinham feito aos poucos ele mudar a sua atitude e a sua maneira de ver aqueles que sempre estavam próximos a ele, considerando-os como a sua família.

- Família... – murmurou-  Há muito tempo eu tive algo próximo disso.

Por um breve instante, um lampejo de dor atravessou a sua mente ; fazendo ele se sentir de novo
insignificante, indefeso e cheio de ódio ao lembrar como bastaram alguns segundos para sua antiga família, seu planeta e todos os outros explodirem como “lindos fogos de artificio! ”

“ Não, não de novo” – pensou . As velhas cicatrizes e sombras do seu passado insistiam em voltar, se esgueirando pelos cantos , sussurrando coisas ruins em seus ouvidos.

Aquela nova família que estava sendo construída agora era tudo que ele tinha , talvez mais importante do que a outra  já que era a SUA própria família. E ninguém ia destruir isso; não mais agora, quando ele já era adulto e não uma criança  que pode ser facilmente manipulada e
enganada.

Se levantou  e  andou até  a janela, sentando no peitoril  e  abrindo um pouco o vidro na esperança de  que o vento que soprava lá fora soprasse dentro dele também, levando seus pensamentos desagradáveis e cheios de suspeita para longe .
 
- Acordado há muito tempo?

- Hun?

Bulma tinha acordado e estava sentada na cama, esfregando os olhos com os pequenos punhos fechados.

- Não muito.

- Nan da yo? Algo errado?

- Iie.  – grunhiu ele.

Ela  franziu as sobrancelhas e caminhou até ele.

- Está frio hoje... ...- ela o abraçou com força, sussurrando em seu ouvido : - Ai shiteru, Vegeta-kun...

“ Eu te amo também.” – ele se limitou a pensar, devido à sua incapacidade de demonstrar os sentimentos com palavras; não sabia como expressar o que sentia  e cada mínima palavra de afeto era pronunciada depois de muita hesitação.

Bulma olhou para os olhos escuros e sombrios que não olhavam para ela, e sim para a chuva torrencial que tinha começado a cair lá fora.

- Vejiita - murmurou, fazendo-o virar o rosto para encará-la - Não estrague  tudo de doce e bom que acontece na sua vida com estes velhos pensamentos sombrios. São apenas lembranças ruins que não voltarão e devem ser enterradas...Porque já não fazem mais parte da vida que você tem agora.

Ele olhou para os grandes olhos azuis e desejou o ter mesmo otimismo que via neles.

Ela sorriu e beijou o seu rosto:

- Talvez se você esperar coisas boas para a sua vida, receba somente coisas boas.

-  Hai.

“  Arigatou, Bulma-san...”

- E então – a voz animada o fez acordar dos seus pensamentos- O que vai querer comer no café da manhã? Vou descer e fazer alguma coisa.

- Nada por enquanto.

-Nani?- se virou um pouco surpresa; ele não costumava recusar uma boa comida....

- Eu vou treinar agora. Perdi uma noite inteira... Mais tarde penso no que vou comer. – disse , se levantando do peitoril da janela  e pegando uma capsula Hoi- Poi contendo uniformes de treino. – Até mais.

- Veji... –    começou a falar, mas no instante seguinte não havia mais ninguém ao seu lado-  Anh, já foi... – apenas a porta aberta denunciava que ele tinha passado por alí ao sair do quarto tão rapidamente que os olhos humanos de Bulma não puderam ver.
 
- Otousaaan!!

- Hai ?

- Me deixa  treinar com você, Otousan? Eu prometo que não vou atrapalhar nada...

Vejiita olhou pra carinha ansiosa do seu filho , que estava parado na porta da sala de gravidade. Os dois tinham começado a treinar juntos desde o ano passado, mas as vezes ele ainda preferia treinar sozinho quando queria treinar mais à sério.

- Hai. Vamos ver o que você pode fazer.

Vegeta soltou um pequeno, porém moderadamente forte poder com uma das mãos. Trunks preferiu não desviar e se protegeu  com os dois braços cruzados cobrindo o rosto.

- Viu ,Tousan!! Como eu fiquei mais forte!! Nem precisei desviar!! -  disse , com um dos joelhos apoiados no chão e enxugando o suor da testa com a palma das mãos.

“ Ele é mesmo meu filho.”- pensou Vejiita, orgulhoso- “Talvez nem eu tivesse feito melhor com apenas quatro anos de idade.”

- Você não ficou MAIS FORTE. O poder que eu mandei para você é que foi FRACO. Até o filho idiota de Kakarotto seria capaz de fazer isso que você fez , mesmo que estivesse com um balde de água na cabeça e equilibrado em pernas de pau.

- Mas..

- E além disto, você se machucou. – disse, apontando para um pequeno corte que sangrava na parte exterior do braço de Trunks.

- Hun... – Trunks parecia desapontado e afastava alguns fios do seu cabelo roxo que estavam grudados no rosto – Então eu quero treinar mais.

- Hai, Hai. Antes vá comer alguma coisa, e depois volta aqui pra treinar comigo.

“ Assim eu vou treinar em paz enquanto ele come.”

- Você não vem tomar café da manhã também, Tousan ?

- Iie. Mais tarde.

Uma hora depois , morrendo de fome, ele resolveu parar de treinar um pouco na máquina de gravidade e ir até a cozinha . “ Não devia ter vindo sem comer alguma coisa ... ”

Ao abrir a porta, uma rajada de ar frio pareceu cortar a sua pele e congelar a parte interna do seu nariz.  A chuva furiosa que caía de manhã cedo tinha parado, mas o tempo continuava não parecendo dos melhores.    “ Esfriou mais ainda... Acho que hoje deve nevar ” – e andou mais rápido, afim de chegar logo na cozinha que devia estar aquecida e com cheiro bom de comida.
 

O miso-shiru, as verduras, o peixe e o chá estavam quase intocados, e as cadeiras estavam meio tortas e afastadas da mesa, como se tivessem sido empurradas as pressas.

- Isso é  estranho... – murmurou Vejiita. Onde estavam Bulma e Trunks? Ela podia não comer muito, mas se dependesse do pequeno Trunks a comida não ficaria assim quase intacta..

Ele tomou um pouco do miso-shiru; estava frio mas ainda sim muito bom. “ Será que foram ver alguma coisa lá dentro? ”

- Bulma? –tinha resolvido procurar por eles – Trunks?

Parou em frente a porta da sala, estupefato. Tinha sentido um cheiro muito familiar...

* são apenas lembranças ruins...*

Um cheiro que ele não sentia desde que tinham terminado as lutas contra Cell...

* que não voltarão e devem ser enterradas ... *

Um cheiro que tinha sentido durante toda a sua vida, praticamente. Cheiro de sangue.

Continua... 



Capítulo 2
Dragon Ball
 
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