Biografia da Amargura
Yoko Hiyama

Capítulo 9 - Nascido para Amar

- Bom dia, Kanashiro-Sama.

- Bom dia, Hiren-San. Kurama-Sama...?

- Está dormindo ainda.

- Um criado entrou no meu quarto dizendo que você queria falar comigo.

- Sim. desculpe incomodar mais o assunto é sério.

- Pode falar.

- Faz alguns dias que eu estou recebendo cartas como essa.

Kanashiro pegou o pedaço de papel estendido em sua direção e leu.

- Não é a primeira vez que recebo cartas como essa, mas..

- Isso aqui é muito sério, Hiren.

- Eu sei.

- Você já falou sobre isso com Kurama-Sama?

- Claro que não. Ele não sabe de nada.

- Mas você precisa falar...

- Pra quê? Só o deixaria agitado à toa.

- Imagina quem possa ser?

- Sim.

- Quem?

- Tenho impressão de que é do antigo escritor.

- Aquele que mexeu com você?

- Sim. Ele me ameaça desde que Kurama-Sama o expulsou daqui. Ele liga pra lá e, como sou eu sempre quem atende, diz que a culpa pelo que aconteceu foi minha e que vai me fazer pagar.

- Canalha! Precisamos impedi-lo de continuar com isso.

- Mas... como?

- Eu vou pra cidade hoje mesmo. Ele é meu colega de trabalho num jornal. Pode deixar que eu vou resolver isso tudo e volto em seguida pra cá.

- Muito obrigado, Kanashiro-Sama.

- Não é nada, Hiren. você é uma pessoa boa, que não merece passar por esse tipo de coisa. E diga a Kurama-Sama que eu tive que ir à cidade para resolver assuntos pessoais urgentes.

- Mais uma vez eu agradeço.

- Não há de quê.
 
 

******
 
 

- Assuntos pessoais?

- Foi o que ele disse, Kurama-Sama.

- Seja lá o que for, deve ter sido muito importante para ele voltar pra cidade dessa forma... ele disse quanto tempo ia demorar?

- Não, senhor.

- Hum... tudo bem. Só espero que ele volte logo.

- Eu também.
 
 

******
 
 

Três semanas depois...

- Bem vindo, Kanashiro-Sama.

- Obrigado, Hiren-San. Como está tudo aqui?

- Muito bem. Kurama-Sama está a sua espera...

- Sim, mas antes de falar com ele tenho que lhe dizer que já resolvi tudo. O maldito está na cadeia. Você tinha razão. A polícia invadiu a casa do sujeito e encontrou provas de que era ele que fazia as ameaças.

- Que boa notícia! Agora posso dormir aliviado.

- Tem mais uma coisa.

- O que é?

- Me perdoe, mas vou contar sobre isso para Kurama-Sama.

- Não... por que vai fazer isso?

- Porque eu só consegui resolver esse problema com tanta rapidez usando o nome dele e agora... Kurama-Sama precisa assinar alguns documentos.

- Eu entendo.

- Kurama-Sama não vai focar zangado com você, vai?

- Acho que sim. mas nada que eu não possa agüentar.

- Bom, então eu vou lá. Gomen.

- Vá. E mais uma vez, obrigado.

- Não foi nada.

Kanashiro foi até a sala onde Kurama estava instalado e o cumprimentou.

- Bom dia, Kurama-Sama.

- Bom dia, Kanashiro. Eu gostaria de receber uma explicação sobre o seu sumiço repentino.

- Eu estou preparado para explicar.

- Estou ouvindo.

- Bem... faz algum tempo que Hiren recebia cartas e telefonemas com esse tipo de ameaça.

- Hiren? deixe-me ver isso aqui.

Kurama pegou o papel e começou a ler:

" Olá, Hiren. sentindo minha falta? Seu grande interesseiro! Eu sei que você passou a vida inteira dando pra aquele velho só por causa do poder que ele tinha."

" Você não me engana. Tenho certeza que o velho Kurama faz tudo que você pede."

" Mas a festa vai acabar. Vou fazer com que Kurama desapareça pra sempre da sua vida e daí... eu lhe darei prazer... violento, doloroso e bem demorado. "

" Você vai sofrer o que merece nas minha mãos. Pode esperar!"

- Meu Deus! - Kurama passou a mão pela cabeça sem saber o que dizer.

- Hiren pediu a minha ajuda e eu consegui colocar o responsável por isso na cadeia.

- Quem é o desgraçado?

- Foi o seu antigo escritor.

- Eu sabia... que droga!

- Agora eu preciso que o senhor assine algumas coisas pra mim. Hoje mesmo eu volto pra cidade pra resolver umas últimas questões burocráticas.

Hitsuke estendeu os documentos para Kurama que assinou todos e os devolveu.

- Aqui está. Eu agradeço muito pela sua ajuda.

- Não foi nada.

- Só mais uma coisa... - Hiren lhe impediu de me contar sobre isso, não foi?

- Sim... o senhor não vai ficar zangado com ele, não é? Ele só queria te proteger.

- Por favor, Kanashiro. Antes de sair, avise Hiren de que eu quero falar com ele.

- Está bem.

Kanashiro procurou Hiren que, quando o viu, adivinhou o recado.

- Ele quer falar comigo agora...

- Sim. eu estou votando pra cidade.

- Boa viagem. Kanashiro-Sama.

- Até logo.

Hiren respirou fundo e foi até a sala.

- Com licença, Kurama-Sama?

- Entre.

Hiren obedeceu e se aproximou de Kurama.

- Eu estou muito chateado com você.

- Eu sei.

- Você se colocou em perigo com essa atitude. Imagine se Kanashiro não tivesse conseguido resolver isso?

- Eu sei disso.

- Como você pôde me esconder uma coisa tão séria?

- Eu sei resolver os meus problemas.

- Não duvido disso. Mas você não acha que eu tinha o direito de saber uma coisa dessas?

- Acho, mas... eu não queria...

- Eu sei que você não quer me preocupar, mas às vezes isso é necessário! Será que você não vai colocar nunca isso na cabeça? Hiren, você já tem 60 anos, deveria compreender isso. O que fez foi imprudente.

- Gomen nasai, Kurama-Sama. - Hiren abaixou a cabeça para esconder os olhos cheios de lágrimas.

- Hiren... venha aqui. Fique bem perto de mim.

Hiren se aproximou e ajoelhou-se na frente da cadeira de rodas, deitando a cabeça nos joelhos de Kurama. A velha raposa acariciou seus cabelos.

- Eu tive medo. - Hiren confessou com voz fraca.

- Eu sei. Mas agora está tudo bem. Hiren, você sabe que desde o começo a minha intenção nunca foi te criar como um filho. Desde a primeira vez que eu pus os olhos em você, eu o quis como meu koibito. Você era tão parecido fisicamente com Hiei... os mesmos olhos vermelhos, a mesma pele, o mesmo rosto, o mesmo cabelo... eu o desejei tanto...

- Kurama-Sama, eu...

- Mas quando eu te conheci, pude ver que você não era Hiei. lógico, havia algumas semelhanças... a sua inocência, seu jeito calado de quem estava adaptado à vida em comunidade. Mesmo assim, era diferente. Você era uma criança assustada que precisava de proteção e carinho. Foi aí que você me conquistou pra sempre, eu acabei percebendo que te amava mais do que amei Hiei. a idéia de que você era meu me excitava... acabei me tornando mais do que seu koibito, virei seu pai. E eu acho que sou responsável por você.

- Eu sou muito grato por tudo que o senhor fez por mim, Kurama-Sama.

- Quem tem que agradecer sou eu. Você me deu uma vida. Faz tempo que eu atrelei a minha vida a sua. E o que acontecer com você, acontece comigo. Por isso, eu quero que me conte sobre suas tristezas, criança.

- Kurama-Sama... eu... eu... - os soluços não permitiram que Hiren continuasse.

- Chore... minha criança..

- Eu não quero perder o senhor... Nunca!

- Eu sei... eu sei... acalme-se.

- Eu te amo... eu sinto que já nasci te amando. Eu só existo pra ser seu koibito.

- Não fale assim, Hiren. Quando eu morrer, quero que você continue vivendo feliz.

- Não! Eu não aceito a idéia de viver sem o senhor! Eu não quero!

- Hiren, acalme-se, por favor.

Hiren secou as lágrimas e tentou controlar a respiração.

- Gomen, Kurama-Sama.

- Não pense mais nessas coisas triste, Hiren.

- Sem, Kurama-Sama. Eu vou voltar ao trabalho.

- Faça isso.

Hiren saiu da sala e Kurama voltou a responder suas cartas.



Capítulo 10
Biografia da Amargura
 
 
 
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