Biografia da Amargura

Yoko Hiyama
 

Capítulo 2 - Cartas, esperança e dor

- Está pronto, Kurama-sama?

- Quase. Deixe só eu tomar mais um golinho desse chá. Isso está delicioso... Pronto! Podemos começar.

- Bom, não se importe muito com o gravador. Fale normalmente o que lhe vier à cabeça.

- Está certo.

Hitsuke preparou o gravador e sentou-se na frente de Kurama, com um bloquinho de notas.

- Pode começar.

- Hum... Meus 17 anos talvez foi a época mais feliz da minha vida humana. Eu tinha acabado de voltar das trevas e o torneio tinha sido um sucesso. De certa forma, eu estava aliciado sabendo que a guerra foi evitada e que a paz estava garantida. Bem... pelo menos por três anos. Aproveitando a calmaria, eu comecei a dar um rumo à minha vida. Comecei a trabalhar no armazém do meu pai, estudar para entrar numa faculdade e nos intervalos da minha rotina, tentava ficar o máximo possível com a minha mãe, Shiori. Em pouco tempo, minha vida estava estabilizada. Eu comprei uma casa, com a ajuda do meu padrasto e comecei a arrumá-la. Digamos que, naquela época, eu estava com uma idéia fixa de me casar.

- Casar-se? Por que?

- Bom, eu achava que estava com idade suficiente para isso, sabe?

- E o senhor tinha alguém naquela época?

- Eu tinha uma paixão secreta. Alguém que me amava desde a infância e que me fez recusar a proposta de casamento feita por Yomi há um ano atrás.

- Yomi te propôs?

- Sim... É constrangedor, mas ele sempre me deu tudo que estava ao seu alcance e não recebeu nada em troca, a não ser traição e indiferença da minha parte. Também, as coisas não poderiam ser diferentes. Eu nunca o amei. Para mim, ele era um grande amigo.

- Compreendo. Mas, quem era a sua paixão?

- Era Hiei.

- Hiei? Mas... como?

- Calma, rapaz. A versão da minha história que você leu tem muitos erros. Logo você compreenderá a verdade. Hiei era o meu amante secreto. Nós nos amávamos daquela forma louca que só os jovens sabem amar e... decidimos nos casar.

- Então vocês dois se casaram?

- Sim... Foi uma cerimônia belíssima no Makai, com todos os nossos amigos. Lembro que eu estava duplamente feliz. Primeiro porque estava unido em corpo e alma àquele youkai e também porque nosso relacionamento deixou de ser segredo. Eu passei a ostentar o meu koorime para quem quisesse ver.

- Então esse período foi mesmo uma época de ouro?

- Ah, sim... Eu saía para trabalhar e quando voltava, fazia amor com o meu querido durante horas... O que mais um homem pode desejar da vida? É a felicidade plena.

- E quanto tempo durou isso?

- Cerca de três anos. Até o segundo Torneio das Trevas que decidiria o próximo governante do Makai.

- Vocês participaram desse Torneio?

- Muito contra a minha vontade. Na verdade, eu só entrei nesse torneio por saber que um novo demônio poderosíssimo havia aparecido e que ele tinha a pretensão pública de dominar os três mundos. Junto com ele, outros demônios aliados também entraram na competição. Foi a primeira vez que eu ouvi o termo "Youkai Super S". Naquela época, não existiam demônios tão poderosos. Os mais poderosos eram os de nível S como Yomi, Mukuro e tantos outros.

- E o senhor? Que posição o senhor e Hiei ocupavam nessa escala?

- Ah... nós eramos simples demônios classe A. Yusuke, com muito treino, já tinha aprendido a dominar sua energia e também era considerado um classe A.

- E como foi o torneio?

- Uma verdadeira desgraça! Se o governante do Makai não tivesse proibido as mortes durante a luta, eu não estaria aqui para lhe contar essa história. Como no torneio passado, todos perderam. Para o senhor ver: Manabu, esse maldito demônio, venceu seguidamente Mukuro, Yomi e Yusuke, sem dificuldade. Logicamente, ele sagrou-se campeão e ganhou o título de rei do Makai. Eu nem o vi sendo coroado porque estava internado no hospital. Hiei também ficou muito ferido. Mas eu sei que a primeira atitude de Manabu foi encaixar todos os demônios no poder, com cargos administrativos específicos. Desnecessário dizer que a maioria não teve opção de escolha.

- E o senhor?

- Eu era um caso especial.

- Como assim?

- Desde o começo do torneio, quando Manabu pôs os olhos em mim, passou a declarar que me queria e que quando fosse governante do Makai, me tomaria como seu marido. Repare que até o fim do torneio, eu nem sequer o conheci pessoalmente.

- E Hiei? O que falava sobre isso?

- Hiei ficou louco de ódio. Diversas vezes eu tive que contê-lo para que não enfrentasse Manabu diretamente.

- Kurama-sama, isso me parece ser um ponto muito importante. Poderia me falar sobre isso com mais detalhes?

- Claro. Bem, a primeira vez que ouvi falar sobre isso foi quando entrei no hotel onde os lutadores ficariam hospedados. Assim que cheguei, me disseram que minha conta, assim como a de todos os meus gastos já estavam pagos. E no meu quarto, estavam mnhas flores preferidas: Rosas vermelhas. Ele me cortejava, ignorando completamente a existência de Hiei, que demonstrava uma tremenda insegurança. Ele tinha medo de me perder. Eu optei por ignorar Manabu. Quem sabe ele não se esquecia de mim? Pois é, mas ele não esqueceu... Nos outros dias eu ouvi pessoas me tratando como o futuro marido de Manabu. Hoje, eu acho que ele estava jogando com a gente o tempo todo.

- E quando o senhor se encontrou com Manabu pela primeira vez?

- No hospital. Eu estava em recuperação e ele veio me visitar.

- Por favor, eu preciso dos diálogos nos mínimos detalhes.

- Ah... eu me lembro perfeitamente do que falamos...
 

*****

- Bom-dia, Kurama.

- Huh? - Kurama abriu os olhos lentamente - Manabu?

- Enfim, posso conversar com você. Eu prometi a mim mesmo que só falaria com você quando fosse Rei. E aqui estou eu. Espero que meus presentes nao o tenham ofendido. Eu pesquisei bastante para descobrir os seus gostos preferidos.

- Eu gostaria de saber o que você quer de mim.

- Não está claro? Eu quero partilhar o meu reino contigo. Quero que seja meu marido. Estou te oferecendo o poder sobre os três mundos, Kurama.

- O que você quer dizer com "três mundos"??

- Ora, Kurama... Não escondi isso de ninguém. Minhas ambições são essas: ter você e ser o dono de tudo. Você não acha que eu tenho poder para isso, Kurama?

- Eu não sei.

- Kurama... case comigo.

Manabu era o mais seguro de si. Parecia que tinha certeza que a resposta lhe seria favorável.

- Manabu, eu não quero provocar conflitos com você, mas... eu já sou casado. Não posso casar com você.

- Hum... Aquele koorime insignificante? Nem sei como você se rebaixou a esse ponto. Abandone-o e fique comigo.

- Você não entende. Casamento para mim é eterno. Eu estarei unido ao meu companheiro para sempre. E quando ele morrer, escolherei o Luto Eterno. Assim como Hiei também fará o mesmo com a minha morte.

- Isso não faz parte da sua natureza, Kurama. Você nasceu para amar. Sua pele e seu perfume são um convite para o sexo. Você é uma criatura sexual, sua raça não lhe deixa mentir. Você precisa ter alguém na sua cama sempre...

Manabu dizia isso acariciando o rosto e os cabelos de Kurama, que permaneceu imóvel, porém frio. O demônio então continuou.

- Eu vou esperar, Kurama. Mas desde já, lhe prometo uma coisa: um dia, pela sua própria vontade, você será meu.

- Por favor, saia daqui.
 

*****
 

- E ele se retirou.

- Kurama-sama, o que ele falou era certo?

- Sobre a minha raça? Creio que sim. O Luto Eterno nunca foi para mim, apesar de eu achar admirável que alguém se dedique ao isolamento e à caridade depois da morte de seu amado. Eu falei aquilo principalmente para afastá-lo.

- E o senhor conseguiu?

- Por algum tempo, acho que sim. Ele só me procurou novamente depois da grande invasão.

- A grande invasão...

- Em um ano, aquele maldito reuniu um exército poderosíssimo que destroçou o Reikai em minutos. A conquista do Ningenkai foi ainda mais fácil. Foi uma carnificina. Milhões de pessoas mortas na batalha que recebeu o nome de Batalha do Apocalipse.

- Não acha esse um termo exagerado, Kurama-sama?

- Não mesmo. Depois daquela data, a humanidade conheceu décadas de sofrimento. Os humanos foram escravizados, assim como todos os youkais mais frágeis. Os que resistiam morriam. Na batalha final, até mulheres e crianças lutavam e morriam.

- E como o senhor se encaixou nessa batalha?

- Bem, eu...

- O tempo acabou, Kurama-sama. Está na hora de sua soneca.

- Não quero dormir, Hiren. Quero continuar a contar.

- Nem pensar. O senhor terá que descansar senão pode passar mal.

- Está certo. Façamos um intervalo.

- Enquanto isso, Hitsuke, leia isso. - Hiren estendeu-lhe uma caixa de cartas.

- O que é isso?

- São as cartas que Kurama-sama escreveu para sua mãe e irmão que estavam escondidos junto com Yukina num lugar remoto durante a guerra. Também tem cartas de Yusuke e Kuwabara para suas noivas.

- Isso é muito interessante. Vou começar a ler agora mesmo.

- Você teve uma grande idéia, Hiren.

- Obrigado, Kurama-sama. Agora vamos para o quarto.

- Sim, Hiren. - Kurama bocejou discretamente enquanto sua cadeira era empurrada.

Hitsuke levou as cartas para seu quarto. Ele estava bastante curioso e intrigado. Kurama-sama parecia contar uma história bastante diferente das que ele tinha lido. E o maior ponto de interrogação era Hiei. Por que não havia nenhum livro que disesse que os dois eram casados? Ele resolveu que era inútil pensar naquilo agora e, aos poucos, começou a abrir as cartas. A primeira era de Kurama, para sua mãe.
 

16 de fevereiro
 

Querida Kaasan


         Espero que você esteja bem instalada e segura. Estou com muitas saudades apesar de ter lhe deixado aí ontem.

         De qualquer forma, foi uma decisão certa deixar a senhora, Shuuichi, Keiko e Yukina nesse esconderijo. Aí vocês estarão seguros.

         Por aqui, a situação não melhorou. A escola foi destruída, assim como as igrejas e os hospitais. Os doentes e abandonados são atendidos num galpão subterrâneo. Os mortos ficam amontoados pelas ruas. É difícil conseguir enterrar os nossos mortos. Com muito custo, eu e Yusuke conseguimos enterrar os pais da Keiko. Por sinal, espero que ela esteja melhor.

         Nossa casa assim como todas as casas do bairro foram queimadas. O ataque dos youkais é fulminante. Eles matam e queimam tudo que vêem pela frente. As pessoas estão em pânico, mas ainda existe esperança de vitória. Amanhã será a reunião de todos os guerreiros do Ningenkai. Eu e Hiei vamos nos apresentar. Eu preciso defender o Ningenkai. É a minha terra também. O Makai não tem mais salvação.

         Desculpe a carta curta mas o mensageiro sai em 10 minutos. Eu volto a escrever, minha mãe.
 

Um abraço do seu filho,
Shuuichi Minamino


A outra carta era de Yusuke. Tudo que Kanashiro sabia era que este era um antigo companheiro de lutas, muito amigo de Kurama e que também era filho de Raizen. Kanashiro iniciou a leitura da carta.
 

16 de fevereiro

         Querida Keiko

         Sei que você está triste por causa dos seus pais, mas, por favor, eu lhe peço que mantenha a calma e fique aí no esconderijo. Logo logo, eu vou vencer todos esses malditos youkais e nós nos casaremos e teremos muitos filhos.

        Eu te amo, Keiko-chan! Hoje eu não tenho a mínima vergonha de gritar isso para o mundo. Nós vamos superar isso e seremos felizes, eu prometo.

                                            Te escrevo mais.

Um beijo
Yusuke Urameshi


Outra carta de Kurama-sama.
 

20 de fevereiro

     Querida kaasan,

     Mãe... essa guerra atingiu os limites do absurdo! Não aguento mais ver as pessoas morrendo, mulheres e crianças sendo estupradas. A situação é insustentável.

     Todos lutam com garra mas já sabemos que não há possibilidade de vitória. É triste ver tudo destruído.

     Infelizmente, essa carta não traz boas notícias. Por favor, mãe. A senhora tem que ser forte para ajudar a todos.

     Lamento informar que Kuwabara e Shizuka estão mortos. Desde o começo eu fui contra que Shizuka ficasse aqui, mas ela insistiu. Não que ela tivesse atrapalhado, pelo contrário, ela lutou como uma verdadeira heroína... mas se ela tivesse ficado aí, seria uma morte a menos.

     Ontem, nós estávamos procurando um novo abrigo quando Kuwabara viu um grupo de crianças perdidas e decidiu salvá-las. Shizuka não deixou ele ir sozinho e o acompanhou.

     Eles foram atacados e pelo que parece, acho que nem tiveram a chance de se defender.

     Eu não pude fazer nada por eles, mãe. O clima está horrível e todos se culpam pelo que aconteceu. Mas precisamos continuar lutando.

     Por favor, eu sei que é duro mas dê a notícia a Yukina. Confio em você, mãe.
 

Um abraço de seu filho,
Shuuichi Minamino


21 de fevereiro

     Yukina, eu lamento pela morte de Kuwabara. Eu prometo que vou dar o troco a todos eles. Achei essa carta de Kuwabara para você. Está incompleta, mas acho que você vai gostar dela.

Hiei


Hitsuke estranhou aquela carta de consolo tão curta escrita por Hiei. No mesmo envelope, estava a carta de Kuwabara.
 

18 de fevereiro

     Yukina-san, minha querida!

     Você sabe que eu não sou muito bom com as palavras, mas achei que você gostaria de saber como estou indo.

     Estou com saudades, Yukina-san. É triste ver toda essa destruição. Eu quero vê-la novamente, minha querida... beijar seus pés e nunca te deixar sozinha.

     Eu te amo e quero
 

A carta terminava aí. Com certeza, aquele rapaz não teve tempo de acabar de escrever. Hitsuke deixou a leitura de lado. Aquelas cartas manchadas de lágrimas eram dolorosas e retratavam a crueldade da Grande Invasão. Hitsuke então passou a rever os depoimentos de Kurama e tomar notas de suas primeiras conclusões.
 

*****

- Hiei, alguma coisa está errada. Isso aqui está muito quieto.

- Eu também estou achando. Não há um único soldado inimigo pelas ruas...

- Droga! Temos que descobrir o que está acontecendo. Vou contatar Yusuke pelo rádio.

- "Yusuke! Está me ouvindo? Me responda, câmbio!"

- "Eu estou ouvindo, Kurama, câmbio."

- "Yusuke, o que está acontecendo? Não há youkais inimigos, eles recuaram durante a noite, câmbio."

- "Parece que sim. Mas isso não faz nenhum sentido, câmbio."

- "Vamos sair por aí e procurar pistas, se achar alguma coisa, eu aviso! Câmbio."

- "Certo, câmbio final."

- Vamos, Kurama. Precisamos descobrir o que esses malditos estão tramando.

Kurama e Hiei saíram do esconderijo e foram às ruas. Eles viraram o bairro todo em busca de algum inimigo mas não acharam nenhum.

- O que vamos fazer, Kurama?

- Acho melhor nos reunirmos com Yusuke. Temos que nos preparar para o pior.

- Tem razão.

Os dois já iam iniciar a corrida quando um grito chamou-lhes a atenção.

- Espere, Kurama!!

Kurama voltou-se e para sua surpresa, encontrou Yomi.

- Você está com Manabu, Yomi. O que você quer? Lutar conosco? Estamos preparados. - Hiei disparou.

- Não é nada disso! Precisamos fugir daqui. Me sigam!

- E como podemos saber que você não vai nos trair? - Hiei insistiu, desconfiado.

- Não há tempo para esse tipo de coisa! Me sigam agora, ou vão morrer!

- O que está dizendo, Yomi? Explique isso! - Kurama perguntou.

- Não temos tempo. Tudo vai ser destruído! Avise quem você puder avisar, para que fiquem bem longe do centro da cidade, e vamos sair daqui.

- "Yusuke, está ouvindo? Me responda! Câmbio! Yusuke!..." Droga, interferência! Não consigo me comunicar com Yusuke e os outros.

- VAMOS EMBORA! - Yomi gritou pela última vez e correu. Kurama e Hiei o seguiram até um lugar remoto sobre as montanhas.

- Acho que aqui estaremos seguros. - Yomi pareceu respirar aliviado.

- Agora você pode me explicar o que está acontecendo, Yomi? - perguntou Hiei.

- Manabu perdeu a paciência. Disse que essa guerra estava muito demorada e resolveu apelar para um coisa terrível.

- O que é, Yomi? Fale! - Kurama estava no auge da ansiedade.

- É a M-23. A mais poderosa bomba do Makai. Ela será jogada em todas as principais cidades do mundo. Tudo e todos serão destruídos.

- Meu Deus! Precisamos avisar Yusuke! - Kurama pegou o rádio novamente. - "Yusuke! Yusuke, me responda!"  Droga, ele não está respondendo! Yomi, quanto tempo nós temos? Para quando está marcada a explosão?

- Para daqui a alguns minutos.

- Eu vou lá. - Kurama levantou-se. - Vou tentar localizá-los.

- Não há tempo para isso, Kurama. Se for, vai morrer junto com eles.

- Eu prefiro morrer do que ficar aqui sem fazer nada, apenas esperando meus amigos morrerem.

- Mas, Kurama...

- Ele tem razão. - Hiei concordou. - Vamos atrás dos outros.

Yomi fez uma barreira de energia.

- Vocês não estão conseguindo pensar direito. Eu não vou permitir que vocês se matem. Agora vocês são a única esperança desse lugar. Os que não passaram para o lado de Manabu morrerão hoje.

- Yomi, desfaça a barreira. - gritou Kurama.

- Não!

- Droga! "Yusuke! Me responda, Yusuke! YUSUKE!! - Mais uma tentativa fracassada.

- Quanto tempo? - perguntou Hiei.

- Dez minutos.

Kurama largou o rádio e começou a socar a barreira de energia, depois tentou usar seu Rosewhip e por último, se transformou em Youko, usando toda sua energia para tentar destruir a barreira. Mas mesmo com a ajuda de Hiei, Kurama não conseguiu sair da prisão imposta.

- Desista, Kurama. Só temos mais 3 minutos agora. Acalme-se!

- Yomi! Pela última vez, nos liberte! Queremos nos juntar aos nossos amigos! - Hiei pediu.

- Eu já disse que não posso. Não insistam! Eu não vou libertá-los, lamento.

- O que vamos fazer, Hiei?

- Tente chamá-los pelo rádio novamente!

- Sim, eu vou tentar. - Kurama pegou o rádio e fez sua última tentativa desesperada. - "Yusuke!! YUSUKE! YUSUKE!!!!!"

-"O que foi, Kurama? Que desespero é esse? câmbio!"

Por milésimos de segundos, Kurama perdeu a voz, engasgado nos próprios soluços. Mas tomou ar e gritou:

- "SAIA DAÍ AGORA!"

- "O que? Kurama? Não estou conseguindo te ouvir direito!"

- "SAIA DAÍ! FUJA!!"

- "Fugir? Fugir por que? Para onde?"

- "SAIA DO CENTRO DA CIDADE AGORA!"

- "Está bem... eu... que MERDA é essa?"

- "Yusuke?"

- É tarde demais, Kurama. - Yomi apontou para o céu.

Duas lágrimas deslizaram pelo rosto de Kurama quando ele viu aquela chuva de bolas de fogo caindo sobre a cidade. Sua mão soltou o rádio, que ainda transmitia os gritos dos humanos resistentes apavorados.

- "AAAAHHHH!" - O último grito de Yusuke e o silêncio, acompanhado por um clarão que consumiu toda a cidade.

- YUSUKEEE!!!!.... - Kurama gritou.
 

*****
 

- Acorde, Kurama-sama! Por favor!

- O que? - Kurama abriu os olhos.

- O senhor estava gritando durante o sono. - Hiren parecia muito preocupado.

Kurama respirou fundo, passando a mão pelos cabelos molhados.

- Eu tive um pesadelo... Com a batalha do Apocalipse... a morte de Yusuke... nossa derrota final. Depois de ter sido bombardeado de uma forma tão cruel, o Ningenkai se rendeu...

- Kurama-sama, acalme-se, por favor.

- Sabe o que eu nunca entendi em tudo aquilo? Nós já estávamos praticamente derrotados. Porque aquele ataque tão... absurdo? Milhões de pessoas mortas por nada. Por uma guerra acabada. Eu tenho certeza de que eles sabiam que a nossa resistência não duraria mais de uma semana. Por que eles fizeram isso? Por que?

- Kurama-sama, eu não sei as respostas para essas perguntas, mas sei que tudo aquilo foi muito doloroso e que nunca será esquecido por nenhum ningen da face da Terra.

- É verdade. Coisas assim fazem cicatrizes na alma... que são as mais difíceis de se apagar...


Capítulo 3
Biografia da Amargura
 
 
 

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