Capítulo 8: A Vida na Prisão
- Muito bom-dia, Kurama-sama.
- Hn? - Kurama abriu os olhos - Bom-dia...
- Preparado para o seu banho?
- Banho? O que eu apostei com você relacionado a isso?... Ah... lembrei! Escute, eu dormi?
- E só acordou agora... - Hiren sorriu.
- Droga! Eu achei que não seria má idéia esperar de olhos fechados... Acabei pegando no sono...
- O senhor estava cansado... Eu sabia que não ia agüentar esperar. Deixa isso pra lá...
- Está bem. Vamos para o meu banho. Não quero que a água esfrie.
Depois dop café da manhã, Kurama e Kanashiro recomeçaram os trabalhos.
- Você começou a ler o livro?
- Sim. Tem estudos fantásticos de plantas ali. Por que nunca publicou aquilo?
- Falta de oportunidade.
- Eu peço permissão para publicar esses estudos. Além da sua biografia. Tem coisas muito interessantes aqui.
- Tudo bem. Você tem permissão.
- Como conseguiu fazer um trabalho tão completo?
- Eu fui preso numa penitenciária de segurança
máxima, porém, ela era muito bem equipada. Tinha
uma biblioteca fantástica, com todas as
espécies de trabalhos. Os presos tinham livre aceso a ela.
Aquilo foi um prato cheio para mim.
- Outra coisa que eu percebi foi que a sua primeira
anotação é de um ano depois da sua entrada na
cadeia.
- Isso porque o período de adaptação
foi grande. Um youko é livre por natureza. Não suporta ser
encarcerado. E paralelo a isso, eu tinha um segundo
problema. Meu companheiro de cela.
- Quem era?
- Um grosseirão chamado Katsui. Ele era
um youkai arrogante e agressivo que fazia questão de
afastar a todos que se aproximavam. Ele odiava
todo mundo. E quando nos uniram... tivemos
problemas. Eu me lembro claramente do nosso primeiro
encontro.
* * * * * *
- Katsui, adivinha? Agora você vai ter um companheiro...
- Eu já sabia...
Kurama foi empurrado para dentro da cela e trancafiado.
- Divirtam-se. - O guarda deu uma risada e se retirou.
- Então é você que matou o seu... maridinho?
- Eu não matei ninguém.
- Tá... Eu vou dizer uma coisa bem clara: Eu odeio humanos e odeio gays! Então fique bem longe de mim, florzinha.
- Já que estamos botando as cartas na mesa,
eu não sou totalmente humanoe tenho muito orgulho
da minha opção sexual! Inclusive,
acho que você não tem nada com isso.
- Nossa! A mocinha ficou nervosa.
- Já chega! - Kurama reposicionou-se para lutar, mesmo que não pudesse usar sua energia.
- Pára com isso! Eu não luto com mulheres.
- Vou lhe mostrar quem é mulher.
- Ah... vai cheirar uma rosinha.
Foi rápido. Kurama lhe deu um chute no
queixo que fez Katsui perder o equilíbrio. Mas ele
conseguiu se apoiar novamente e revidou com uma
violenta rasteira que derrubou Kurama.
- Seu imbecil. Nem sabe lutar direito sem seu ki.
- Eu vou me adaptar a isso, você vai ver...
- Espero mesmo porque com esse rostinho de menina,
não vai faltar quem queira te pegar por esses
corredores. E eu não vou te ajudar.
- Sei me defender muito bem. Não preciso de ajuda.
- Que bom pra você, humano de cabelos vermelhos!
Kurama decidiu ignorar aquele imbecil e pulou
para a cama de cima do beliche, que seria a sua, e
tentou dormir um pouco.
* * * * * *
- Esse foi o meu primeiro encontro com Katsui,
e como você pôde constatar, não foi nada
amistoso.
- Ele o agrediu sem nenhuma justificativa...
- Acho que ele queria me afastar... Mas, no dia
seguinte, tudo piorou. Uma confusão na hora do
café da manhã deixou Katsui ainda
mais furioso.
* * * * * *
- Todos podem sentar agora!
Kurama sentou-se e começou a se servir.
- Eu não sei porque até na hora das refeições eu tenho que sentar ao seu lado.
Kurama não respondeu e se forçou a mastigar um biscoito.
- Você não come muito, não é, cabeça vermelha?
- Não tenho fome.
- Hum... pensei que você quisesse manter a boa forma.
Kurama respirou fundo, mas novamente permaneceu em silêncio.
- Você é um inútil mesmo. Não serve nem pra falar.
- Me deixa em paz.
- Escuta, cabeça vermelha, quanto tempo
você vai ficar preso? Quero saber quando vou me livrar
de você.
- Sinto decepcioná-lo. Estou em prisão perpétua.
- Merda! Eu não quero compartilhar a mesma
cela com um maldito ningen homossexual pelo resto
da vida. Maldição!
- Lamento por você.
A hora do café terminou e os presos fizeram
seus caminhos para as celas. Foi quando um grupo de
youkais parou diante de Kurama e Katsui.
- Olha só o novo casal da cadeia.
- Katsui, você finalmente arranjou um veado pra você comer.
- Calem as bocas sujas! - Katsui respondeu.
- Quando vai ser o casamento?
- Vocês querem uma luta?
- Lógico! Queremos te dar o troco pelo outro dia.
Kurama também se posicionou para a luta mas Katsui o empurrou.
- Volte para a cela, cabeça vermelha, eu cuido desses dois malditos sozinho.
- Lógico que não. Eu quero lutar.
Katsui deu um tapa em Kurama.
- Já mandei ir pra cela, cabeça vermelha.
Kurama decidiu obedecer e voltou para sua cela.
Uma hora depois, Katsui retornou, arrastado
pelos guardas, todo rasgado e ensangüentado.
- Katsui! - Kurama pulou do beliche e tentou lhe ajudar mas o youkai lhe empurrou.
- Não encosta em mim! Maldito!
- Aqueles caras fizeram isso com você?
- Claro que não, foram os guardas que nos
pegaram no meio da luta! Merda! Tudo isso por sua
culpa, cabeça vermelha. Eu sabia que você
só ia me dar problemas.
- Você é muito grosseiro! Vamos,
me deixa te tratar. Eu ainda tenho uns remédios de ervas muito
eficazes na cicatrização.
- Não quero as suas florzinhas. Eu sei me cuidar.
- Está certo. Eu não vou insistir.
- É bom mesmo! Porque se você encher muito o meu saco eu vou lhe dar uma porrada.
Kurama decidiu não devolver o insulto, ao invés disso, perguntou:
- Por que me mandou pra cela? Por que não me deixou ajudá-lo na luta?
- Não quero que meninas como você se metam nos meus assuntos.
- Pois eu acho que você quis me proteger.
- Ora, cale a boca, imbecil.
- Ele queria mesmo te proteger?
- Eu sei lá. Pode ter sido...
- E como continuou o relacionamento de vocês?
- Por um mês, foi terrível, tenso...
Não tinha um dia que nós não trocássemos socos.
Nós nos
odiávamos... - Kurama riu - Mas eu acho
que a nossa rivalidade nos dava mais vontade de viver. O
ódio era nosso estímulo.
- E como estava a sua cabeça naquela época?
- Ah... Aquela prisão me afetou a ponto
de me tirar a vontade pra fazer qualquer coisa. Eu passava
o dia deitado, olhando pro teto. Não me
interessava por nenhuma das oficinas de trabalho... Na
verdade, a única coisa que eu fazia era
brigar com Katsui. Como eu ainda não sabia lutar direito
sem usar o ki, quase sempre apanhava até
desmaiar. Até que um dia... a coisa começou a mudar.
* * * * * *
- Você é mesmo um imprestável, cabeça vermelha! Não faz nada durante o dia inteiro!
- Não se meta na minha vida, seu ogro repugnante!
- Você quer apanhar novamente, é?
- Eu aceito lutar com você.
- Cabeça vermelha, você não
aprende mesmo! Sem o seu ki, o que lhe resta é a força física
e eu
sou muito mais forte do que você.
- Cale a boca e prepare-se!
Katsui atacou Kurama que conseguiu se esquivar
de todos os ataques e, num movimento rápido,
atirou um espinho de rosa no braço do
adversário.
- Está terminado! - Kurama anunciou.
- Você só pode estar maluco! - Katsui
riu, jogando longe o espinho - Acha que essa droga vai me
derrubar?
- E não vai? Então... tente me atacar.
Katsui tentou dar um soco em Kurama, mas para sua surpresa, ele não conseguia se mover.
- O que você fez comigo, maldito?
- Admito que sou muito mais fraco do que você...
Mas depois de apanhar por dois meses, consegui
decorar todos os seus ataques. E mesmo que eu
não possa mais contar com a minha energia, ainda
conheço as plantas... Colhi uma rosa no
jardim onde tomamos sol e com um simples espinho
envenenado consegui te vencer.
- Que merda de veneno é esse? Eu não consigo me mexer...
- É um veneno que mata em quinze minutos...
Começa com a paralização dos movimentos e termina
com a destruição total dos órgãos
internos.
- Você é um desgraçado mesmo, cabeça vermelha!!!
- Nem à beira da morte você é
capaz de ser educado, Katsui. - Kurama se abaixou, pegou o
espinho jogado no chão e o lavou cuidadosamente.
- O que está fazendo? - Katsui quis saber.
- Esse é um veneno muito simples. Só fez efeito porque o seu ki está bloqueado. A cura é simples. -
Kurama colocou o espinho na boca.
- Está falando isso só para me irritar. Eu sei que você vai me deixar morrer.
Como resposta, Kurama subiu num banco para estar
ao alcance da cabeça de Katsui e
inclinando-se, o beijou, passando o espinho mastigado
para a boca do youkai, que foi forçado a
engolir aquilo.
Imediatamente, os movimentos de Katsui voltaram e ele pôde empurrar Kurama para longe.
- Seu nojento! - ele gritou, passando a mão pela boca com desprezo.
- Desculpe, seria muito complicado te explicar
isso agora, mas foi a única forma de cortar os efeitos
do veneno.
- Por que não me deixou morrer?
- Eu não tinha intenção de
te matar, e sim de te mostrar que eu posso ser tão ou mais forte
do que
você.
- Reconheço que hoje eu fui derrotado. Mas você não poderá me pregar a mesma peça duas vezes.
- Fique tranqüilo. Não usarei mais
esse truque. Não quero correr o risco de você acabar gostando
dos meus beijos.
Em resposta, Katsui lhe deu um tapa.
- Homossexual desprezível!!!
Kurama riu, acariciando o rosto dolorido e depois arriscou a proposta.
- Que tal se você me ensinasse suas técnicas
de lutas em troca dos meus truques com plantas. Acho
que nós dois temos muito para ensinar.
- Você só pode estar me sacaneando, estúpido!
- Escute, tem um grupo de youkais que anda me perseguindo na hora do banho. Eles são muito mais fortes que eu, preciso da sua ajuda ou terei problemas.
- Reconhecendo que não pode se virar sozinho.
Ah... Mas você não gosta da mesma coisa que
eles, porque não se diverte com os caras?
- Que pergunta, Katsui! Eu tenho um marido sabia?
- Mas ele não morreu? Foi você que o matou.
- Eu não o matei, youkai estúpido!
- Kurama respondeu de forma agressiva - E daí que o meu
companheiro esteja morto. Eu ainda o amo. Não
me interessa ter outro que não seja Hiei!
- Pare ou vou vomitar!
- E aí? Aceita a proposta?
- Claro que não. Se vira com os tais caras!
Eu quero mesmo que você morra. Não suporto mais
esse revoltante cheiro de rosas na minha cela.
- Você é um ser inferior. Eu vou
te ensinar uma lição qualquer dia desses... Pena que a de
hoje não
adiantou muita coisa.
* * * * * *
- Katsui deve ter ficado aborrecido com essa história...
- Pior, a partir daquele dia, as nossas lutas
deixaram de ser tão fáceis pra ele. E passei a vencer
muitas delas. Ele ficava furioso com aquilo.
No final, aquilo tudo só serviu para que o nosso ódio
aumentasse a ponto dele arrebentar a cara de
qualquer um que fizesse qualquer insinuação de que
nós dois tínhamos um caso. Com
o tempo, ele foi ficando cada vez mais detestável, mais
insuportável. E quem sofria com o mau-humor
dele era eu... Logicamente, ele também não era o
meu único problema...
- Continue.
- Eu não conseguia dormir, nem comer. No
terceiro mês de prisão vivia agitado, andava pela cela
até Katsui se aborrecer de verdade e me
bater... Era uma vida muito triste.
- Imagino... E quando o senhor soube da morte de sua mãe?
- No quarto mês de prisão. Eu estava
agoniado porque minha mãe não tinha ido me visitar nenhuma
vez. No meio dessa ansiedade, eu recebi uma visita
de Yomi.
******
- Mas é um absurdo que não se possa falar a sós com ele! - Yomi reclamou ao ver que Katsui ouviria aquela conversa tão delicada.
- Lamento, Yomi-Sama!
Katsui quase caiu da cama quando viu Yomi entrando na cela... Levantou-se na mesma hora e ajoelhou-se .
- Yomi-Sama! Eu nasci em Gandara.
- Gandara não existe mais e eu não sou mais rei. Então, não precisa se ajoelhar- O senhor é o único imperador que eu reconheço. Gandara sempre foi o melhor reino do Makai.
- Hoje é ruína... Bom, mas eu não vim aqui lamentar de um reino que eu construí durante toda a minha vida. Kurama, eu vim para falar com você.
Katsui olhou para Kurama, chocado. Este ignorou a surpresa do youkai e pulou da cama.
- Yomi, é bom te ver novamente.
- Desculpe por não ter te visitado antes. Eu não tenho tempo nem para dormir, acredite! Manabu me enche de trabalho para não me dar tempo de mexer com o seu processo. A propósito, ele veio te ver?
- Não. Ele resolveu me deixar em paz.
- Isso é bom.
- Yomi, eu preciso que você descubra o que aconteceu com a minha mãe. Eu não a vejo desde o julgamento.
- Kurama, eu vim falar com você exatamente sobre isso.
- Que cara é essa, Yomi? O que aconteceu?
- Eu lamento, Kurama. Tanto ela quanto Yukina faleceram.
- Como?
- Eu não pude ajudá-las.
- Foi Manabu, não foi? Ele as matou, não foi?
- Não. As duas contraíram uma doença que as matou em pouco tempo. Quando eu soube que estavam doentes, garanti os melhores tratamentos mas não adiantou.
- Eu não acredito! Não pode ser verdade!
- Lamento, Kurama! Eu fiz o que pude.
- Por que não me avisou?
- Sua mãe não permitiu. Disse que não queria vê-lo ocupado.
- Maldição! Eu poderia ajudá-la... descobrir um remédio, qualquer coisa.
- Kurama... não teve jeito.
- EU ARRANJARIA UM!!!
- Controle-se, por favor!
- Como eu posso fazer isso? Eu perdi tudo o que amava! Estou sozinho, preso numa maldita cadeia pelo resto dos meus dias!
- Kurama, eu estou trabalhando no seu caso e sei que você vai sair daqui. Eu vou encontrar um jeito.
- Pra quê? O que eu vou fazer quando tiver liberdade? Me matar?
- lamento muito, Kurama. Você vai ter que agüentar essa dor.
- A culpa é toda minha!
- Não! A culpa é de Manabu! Se ele não tivesse dominado os três mundos, nada disso teria acontecido! Você é mais uma das vítimas dele!
- Yomi...
- Eu quero que esta seja a sua razão para viver. Odeie Manabu, Kurama! Alimente este ódio dentro de você. Eu vou conseguir libertá-lo e você destruirá Manabu com todo o seu poder. Treine, se alimente, se prepare. Eu vou lhe dar a oportunidade da vingança. Você só precisa aproveitar.
Kurama ficou calado por alguns segundos e depois falou:
- Por favor, Yomi! Eu quero ficar sozinho...
- Eu vou embora. Mas eu quero que pense nas minhas palavras. Você precisa recuperar sua vontade de viver. Adeus!
Katsui se ajoelhou se ajoelhou diante de Yomi e beijou suas mãos.
- Foi um prazer poder vê-lo pessoalmente.
- Agradeço muito. adeus.
- Adeus, Yomi-Sama.
Yomi se retirou da cela e assim que desapareceu
das vistas de Kurama, ele pulou na cama e começou a chorar. Katsui
permaneceu calado, respeitando a dor do companheiro.
******
- Foi assim.
- Katsui respeitava mesmo Yomi ou tinha mentido?
- Ele o adorava! E acreditava que ele tinha sido o melhor governante de todos os tempos. Acho que mesmo que Yomi fosse um escravo, Katsui se ajoelharia perante ele.
- Você contou a ele que Yomi te amava?
- Não! Nunca! Acho que seria uma decepção pra ele.
- Eu trouxe chá... - Hiren interrompeu a conversa pra colocar a bandeja numa mesinha.
- Onde estão os biscoitos? - Kurama perguntou.
- Sem biscoitos. Não quero que o senhor perca a fome e não almoce direito.
- Ai!
- Esse chá é uma receita especial para abrir o apetite.
- Vou voltar pra cidade uns dez quilos mais gordo. - Kanashiro se queixou enquanto bebericava o chá. - Hum... está bom!
Kurama olhou pra sua xícara, desconfiado.
- Pode tomar, Kurama-Sama!
- Já vou tomar, que coisa!!!!
Kurama provou da bebida, contrariado:
- Está bom...
- Que ótimo! Então tome tudo! O almoço deve sair em uma hora.
- Nossa! Eu fiquei falando tanto tempo assim?
- É... - Kanashiro respondeu - quer continuar?
- Claro! Ainda não estou cansado. Vamos em frente.
- Como Katsui se comportou depois da visita de Yomi?
- Ele respeitou a minha dor por algum tempo. Ele não me irritou, nem sequer me provocou durante o período que eu chorei pela minha mãe. Também não me disse nenhuma palavra de conforto. Em resumo, Katsui me odiava mas era honrado.
- E o senhor precisou de quanto tempo pra se recuperar?
- Alguns meses... pra falar a verdade, eu só voltei a falar de novo quando Katsui voltou a me provocar.
- E como foi isso?
******
- É impressionante... - Katsui começou a falar depois de quatro horas sem que Kurama proferisse uma única palavra. - você não fala nem faz nada a meses.
Kurama olhou para Katsui, sem expressão na face. Sem se abalar, ele continuou:
- Sabe, você me intriga... a primeira impressão que tive de você era que não passava de um gay que tinha matado o marido não sei porquê. Daí, em pensei que em tempos de guerra e dominacao, as pessoas não são condenadas por crimes como este e sim por crimes políticos. Todos, ou quase todos nesse lugar são presos como presos políticos.... a minha curiosidade em descobrir até que ponto você era um caso especial aumentou e eu fui até a biblioteca pesquisar sobre você...
Kurama continuava calado, como se não ouvisse as palavras de Katsui.
- O que eu descobri foi ainda mais estranho... - Katsui deu uma risada - você era um dos líderes da resistência do Ningenkai, um dos mais procurados e caçados. Chegou a ser preso e libertado no dia seguinte. Logo em seguida, foi condenado. Mas não como um preso político e sim como assassino. Isso não faz o mínimo sentido.
- Por que está falando essas coisas? - Kurama se manifestou pela primeira vez.
- Eu gosto de saber com quem estou lidando. Se é com um maldito homossexual que matou seu caso por um ataque de ciúmes ou com o grande Youko Kurama, uma figura quase mitológica, que inclusive já lutou por Gandara e é amigo de Yomi-Sama!
- Entenda que eu não sou nada disso. Eu sou apenas um cara sem ki, sem amigos, sem marido, preso pra sempre numa cela nojenta. Hoje, eu sou um projeto de ser humano e youkai. Até a minha mãe foi arrancada de mim! Eu não tenho mais nada...
- Ora, pare de choramingar! Você acha que é o único que perdeu tudo nessa guerra? Todos que estão aqui têm histórias trágicas pra contar e, mesmo assim, continuam trabalhando para que a nossa resistência nunca acabe! Você tem razão em se achar desprezível foi chorar e Ter pena de si mesmo desde que entrou aqui!
- Do que está falando?
- Estou falando que se você é mesmo Youko Kurama, que é forte o suficiente para ser a única esperança de resistência para o Ningenkai, não deveria estar se comportando dessa maneira. Deveria estar se preparando para a grande vingança contra Manabu!
- Eu não tenho mais por quem lutar!
- Não? Se você é parte humano, parte youkai, tem ainda mais motivos pra lutar do que eu! Lute pelas suas terras natais! Makai e Ningenkai! Meu país, Gandara, não existe mais, mas eu continuarei lutando até o fim da minha vida até reconstruir a minha terra! Você não ouviu as palavras de Yomi? Ele tinha toda razão! Viva em função do seu ódio!
- Eu não quero mais viver.
- Estúpido ningen! Ainda não entendeu que você tem uma missão?
- Não estou interessado.
- Está certo. Se você quer morrer,
muito bem, eu te matarei. Te espancarei até a morte!
******
- Katsui me surrou violentamente. Quase me matou porque eu não movi um dedo pra me proteger. Eu não tinha interesse algum em viver. Mas ele não me matou, porém só me dava atenção quando queria me surrar. O ódio dele contra mim só aumentou...
- Espera um pouco! A primeira idéia que tive dele era que Katsui não passava de um grosseirão, ignorante. Aliás, o senhor mesmo me falou isso.
- Fiz isso de propósito para que você tivesse o mesmo impacto que eu tive ao descobrir que na verdade Katsui era um dos resistentes do Makai . Um preso político que me odiava não só pelo seu preconceito mas porque eu já cheguei ali derrotado, sem vontade de lutar.
- É a única forma que ele achou para mudar seu modo de pensar era te espancando, entendi bem?
- Exatamente.
- Essa história é muito esquisita.
- Eu demorei anos para entender isso com clareza.
- E o método dele adiantou?
- Adiantou... mas eu apanhei bastante até
retomar um ritmo normal de vida...
******
- Acorda, Cabeça Vermelha! Hora de ir para o café da manhã.
- Não quero comer.
- Não interessa! Você não come a três dias. Hoje vai comer nem que eu tenha que te arrastar pelos cabelos até o refeitório.
- Por que não me deixa em paz?
- Porque você é um imbecil! Eu nem tenho com te bater, sua cara já tá tão roxa, tão inchada que eu não encontro espaço livre. Apesar disso, você não aprendeu nada. Se continuar assim, eu vou desistir de você.
- Que bom.
- Venha! - Katsui puxou Kurama para fora da cama, fazendo com que caísse de uma altura considerável. Kurama grunhiu de ódio e, quando ia saltar pra cima do youkai um chute o impediu.
- Maldito!
- Não temos tempo pra isso. Você precisa se alimentar, já estamos atrasados, logo os guardas vão abrir as celas. Se vista!
Kurama não teve opção a não ser obedecer e ouvir os comentários detestáveis de Katsui.
- Aposto que sua mãe te mimou bastante. Você está muito mal acostumado. Mas agora as coisas mudaram. Mais rápido! Tá muito devagar. Depois do café da manhã, eu vou te levar na enfermaria para consertarem essa sua cara. Quem sabe eu não consegui te fazer uma cicatriz e você fique com uma cara de homem? Chega de dividir o quarto com um zumbi.
- Gostaria de saber desde quando você se importa.
- Desde que descobri que você é Youko
Kurama seu imbecil, imprestável!
******
- Eu não fiquei com nenhuma cicatriz, como você vê.
- Então ele te forçou a cuidar mais de você?
- É ... mesmo assim, eu não fazia nada por minha própria vontade. Eu tive que sofrer ainda mais para aprender.
- Hora do almoço! - Hiren entrou na sala, seguido pelos criados, cada um trazendo uma travessa de comida - Acho que ficou uma delícia!
- Hiren, está animado assim porque acertou no tempero? - Kanashiro perguntou.
- Mais do que isso. Eu andei testando umas receitas novas e todas deram certo.
- Lá vou eu servir de cobaia para as suas experiências culinárias. - Kurama resmungou.
- Kurama-Sama, não seja chato. - Hiren o reprovou com doçura.
- Chato? Eu bem sei o quanto eu sofri quando você aprendeu a cozinhar.
- Pois o senhor vai provar e ver que está realmente delicioso.
- Não tenho muita escolha.
- Não tem mesmo. Vou fazer seu prato.
Hiren se afastou para fazer os últimos retoques na mesa. Kurama aproveitou a chance e se inclinou para Hitsuke:
- Faça o favor de dizer que está delicioso mesmo que tenha gosto de areia. - Hiren fica extremamente magoado quando falha na cozinha.
- Acho que nem vamos precisar mentir. Isso está com uma cara lindíssima! Um cheiro gostoso!!!
- Tomara que esteja certo.
- Podem vir. Está servido. - Hiren chamou.
******
- Não é que ficou gostoso mesmo? - Kurama falou depois de provar da comida.
- Sim, ficou delicioso. - Hitsuke concordou.
- Obrigado. - Hiren não cabia em si de tanta felicidade - Valeu a pena o trabalho.
- Você passou tanto tempo na cozinha que perdeu os depoimentos de hoje. - Kurama emendou.
- É uma pena. Mas pode deixar que não acontecerá de novo.
O almoço decorreu tranqüilo, assim como o resto da tarde. E como sobrou tempo, os dois se dedicaram a ler cartas.
- Veja só, Kurama-Sama. Mais uma carta dos Restauradores. - Hitsuke falou.
- Leia, por favor.
- Eles querem que o senhor vá fazer uma palestra.
- Sei. Uma "palestra" para milhões de pessoas. Não, obrigado.
- O senhor não dá chance mesmo.
- Próxima carta.
- Outro grupo Restaurador.
- Não, por favor. Não agüento mais. Onde estão as cartas me sacaneando? Elas são bem mais divertidas.
- Pelo que eu estou vendo, hoje não tem nada parecido... - Hitsuke comentou.
- Olha só... - Hiren pegou um envelope - tem uma pra mim. Depois eu abro. Vamos continuar...
- Chega. Já estou com sono. - Kurama protestou.
- Eu também estou cansado. - Hitsuke concordou.
- Então é melhor nos recolhermos. Boa noite, Kanashiro-Sama. - Hiren falou.
- Boa noite, Hiren. boa noite, Kurama-Sama.
- Boa noite, rapaz.
Hiren colocou Kurama na cama, tomou seu banho e quando voltou pro quarto se surpreendeu ao ver a raposa ainda acordada.
- Perdeu o sono? - Hiren perguntou.
- Acho que sim.
- Está preocupado com alguma coisa?
- Não.
Hiren sentou-se na cama.
- Vamos abrir essa carta... - Hiren pegou o envelope e o abriu, mas quando começou a ler, empalideceu.
- O que foi, Hiren? - Kurama perguntou ao perceber aquilo.
Hiren forçou um sorriso e respondeu:
- Não foi nada, Kurama-Sama. Apenas outra carta ofensiva de alguém que não tem mais o que fazer.
- Deixe-me ver.
- Não é preciso. - Hiren colocou a carta de lado.
- Hiren, você não está me escondendo alguma coisa novamente, não é?
- Não! Pode ficar tranqüilo. Não é nada demais.
- Está bem, eu não vou insistir. Vamos dormir. Boa noite.
- Boa-noite, Kurama-Sama.