Meu Amor Próprio
Umi no Kitsune
 
 

Notas da autora: Por que "notas" e não "nota"? Porque eu sempre tenho muito a falar.^^ As informações podem parecer sem sentido agora, mas quando ler a fic, cada coisa vai se encaixar, você vai ver.^_~ Primeiro, eu nunca me interessei por futebol, apenas por basquete mesmo, então eu não sei se nesse esporte tem aquele negócio de escolher bola/lado antes do jogo. Mas de qualquer jeito, tá valendo nessa fic. Segundo, o nome do Davis no original é Daisuke, por isso que algumas vezes você vai se deparar com o TK dizendo "Dais". É uma forma carinhosa e curta de chamar o menininho.^^ Lembre-se que o som é parecido com daisu, mas com a vogal "u" quase sem ser notada. Terceiro, eu sei que muitos gostariam o contrário, mas vestiário escolar, pra mim, tem chuveiro individual.^^() Talvez alguém diga que já estudou em colégio onde tem uma série de chuveiros sem divisórias ou portas, mas eu nunca passei por um vestiário assim. (já vi em filmes americanos que falam de algum preso e mostra o tiozinho lá no banheiro sendo encurralado ^^) Todos sempre individuais com lugar pra colocar a toalha dentro. Não, não é frescura. É coisa de escola, não posso fazer nada.-_-()

O que está em itálico é narração em primeira pessoa. O resto, ou seja, a maioria da fic, está em terceira pessoa. Normal.^^



 
 

Capítulo 1

Lá estava ele. Perfeito. Sorrindo e rodeado de amigos. Um anjo no meio dos mortais. O anjo da esperança.

Como odiava isso.

Odiava esse sorriso, odiava essa esperança, odiava esse anjo.

Takeru.

TK tinha tudo. Vários amigos, um irmão bacana, a admiração dos professores e Hikari. Ele não tinha nada. Colegas, nada de amigos, uma irmã fanática, que era mais atenta ao Matt do que nela mesma, o desprezo dos professores e a amizade fingida de Hikari.

Droga.

E lá estava ele. Jogando basquete, sendo ovacionado pelos colegas ao fazer mais uma cesta. Mas como bom moço, TK não fez nada além de sorrir rapidamente para os colegas de time e voltar a expressão concentrada durante o jogo. O que deixava as meninas loucas com seus gritinhos histéricos querendo chamar a atenção, mas ele só tinha olhos para o basquete. Queria vencer. Estava vencendo. Ia vencer.

E mesmo que tudo mostrasse o contrário ele ainda sairia vitorioso, afinal é o anjo da esperança. Tudo daria certo no final.

Os pensamentos de Davis são interrompidos quando ele sente que está sendo observado. Mas ele não se vira, continua olhando para a quadra e, apenas alguns segundos depois, ele se mexe discretamente olhando com o canto do olho quem o espiava.

Hikari. De uns tempos para cá, Davis percebeu que a menina vinha observando-o. Quando ela se afastava, era sempre sorrindo. No começo ele ficava feliz e orgulhoso de saber disso, mas agora já não tinha mais tanta certeza, já não ficava mais feliz.

O jogo de basquete terminou. Uma multidão cobriu a quadra, a maioria em volta de TK. Davis observava tudo da arquibancada, esperando que a quadra ficasse livre para o futebol. Kari se aproxima e começa a conversar com o anjo. Os dois se afastam, levando a multidão junto.

Odiava aquilo. Os sorrisos, as risadas. Sempre com ele, só com ele. Não podia agüentar isso.

"Ei, Kari!", Davis grita, já com um sorriso no rosto, indo em direção a quadra

Kari, TK e mais algumas pessoas se viram, olhando-o interrogativos. Ótimo, chamara atenção.

"Vai me assistir jogar?", apesar de reparar nas risadas debochadas de algumas meninas, Davis não mudou de expressão.

"Infelizmente eu não posso, Davis. Meu jogo vai começar daqui a pouco.", ela responde sorrindo, "Tenho que ir com as meninas."

"Ah, que pena.", ele faz uma cara triste.

Kari e a maioria das meninas se afastam indo na direção da outra quadra. TK e os outros garotos que estavam jogando basquete vão em outra direção. Pelo menos conseguira separá-los. Que bom.

Davis se volta para a quadra pronto para mais uma partida. O time dele ficara com a bola. Uma vantagem, já que o sol estava fraco e não iria interferir muito na hora do ataque. Ele se posiciona. Então o mesmo sentimento ocorre. Está sendo observado.

Antes que seu olhar se encontrasse com os olhos do observador, um grito chega aos seus ouvidos, forte e caloroso:

"Vai, Dais!!"

TK estava lá. Sentado na arquibancada, uma mão segurando uma garrafa d’água e a outra em concha perto da boca. Ele sorriu quando Davis o olhou, mas...

"Olha pra bola!", ele gritou, um pouco desesperado, ficando de pé

"O quê? Ah, que droga!", Davis notou que a bola, cuja primeiro toque era seu por direito, já não era mais de seu time.

Tinha levado o drible mais vergonhoso da sua vida. Droga, droga, droga! Teria que recompensar essa perda com o seu time. Coisa que não foi muito difícil, pois os gols não demoraram a sair.

Quando o apito tocou anunciando o fim da partida, Davis brecou sua corrida no susto, pois estava com o pensamento só na bola e nada mais. Obrigou-se, durante o jogo, a esquecer o que tinha acontecido. Simplesmente ignorou a presença e gritos de incentivo de Takeru, tinha que se concentrar apenas no jogo, do contrário, besteiras poderiam acontecer de novo.

"Bela partida, Davis."

A mesma voz, só que dessa vez não era um grito distante e sim um cumprimento bem próximo, vindo de trás. Davis se vira e vê TK estendendo a garrafa d’água em sua direção.

"Obrigado.", ele diz baixinho, pegando a garrafa e tomando alguns goles

"Vamos indo. Só temos quinze minutos para nos trocarmos."

TK lhe deu as costas e começou a andar. Era impressão sua ou... TK o tinha esperado para se arrumarem? Ele podia ter ido antes, já podia estar limpo e com tempo de sobra para chegar para a próxima aula. E as partidas de futebol sempre se prolongam um pouco mais que as outras, estavam os dois atrasados.

"TK..."

Davis começou, querendo esclarecer sua dúvida, mas seu raciocínio ficou fora de ordem ao se ver objeto dos olhos azuis, não conseguindo pronunciar nada compreensível, como se estivesse preso e mudo pelo olhar.

"Er... eu, eu... hmm... er... você...", o moreno percebe que estava fazendo papel de bobo e, bravo consigo mesmo, balança a cabeça e fecha os olhos, livrando-se da prisão azul. Ele respira fundo e diz decidido, olhando para frente, "Besteira. Vamos logo."

Oh, droga! Ele está sorrindo... não posso olhar pra ele! Não posso olhar pra ele! Droga... o sorriso dele é lindo. Por que isso tem que acontecer? Só porque ele é mais bonito, mais amado e mais popular que eu... não quer dizer que eu tenha que me fazer de idiota como o resto da escola.

Davis ignora seus próprios pensamentos e olha para TK. Este, quando os dois entram no vestiário, tira o chapéu, apoiando-o em um cabide. Sem perceber, o moreno fica parado no meio do caminho, admirando o cabelo loiro, de fios fininhos, alguns molhados pelo suor na testa e perto da orelha.

"Pô, Motomiya! Sai do caminho!", um garoto falou, atrás dele, do lado de fora do vestiário.

"Ah, dá um tempo!", Davis respondeu bravo por ter sido pego de surpresa.

Geralmente não era assim. Não ficava bravo, nem respondia com mal-educação. Nem ficava nesse estado de bobeira assim. Só que não era geralmente que olhava para TK sem o chapéu. Não estava acostumado com isso, não estava preparado para isso.

O garoto estava na frente de uma fila de cinco meninos, que se formara atrás de Davis, aguardando que ele saísse do caminho para poderem usar os chuveiros e trocar de roupa. Davis pensou consigo mesmo que todos só estavam lá por causa do TK. Afinal, a escola tinha dois vestiários maiores e mais próximos à quadra do que este, porque todos se dariam ao trabalho de vir até esse que era menor e mais longe?

Como confirmando os pensamentos do moreno, o primeiro garoto o empurrou para o lado e sussurrou:

"Pode olhar o quanto quiser, Motomiya. Você nunca vai ser como ele..."

Sentindo-se humilhado, Davis puxa o garoto pela camisa e o joga na direção dos outros, para fora do vestiário.

"O vestiário está lotado! Não perceberam, não?", ele quase grita de raiva, fechando a porta na cara dos garotos e trancando-a por dentro, "Que gente mais chata!", ele suspira encostando-se na porta, escutando as batidas e xingamentos.

Quando dá por si, Davis percebe o olhar interrogativo e confuso de TK. Ele presenciou tudo o que aconteceu só não escutou o que foi sussurrado para Davis.

"Dais... tudo bem com você?", TK pergunta cauteloso, "Por que você disse que o vestiário estava lotado? Só estamos eu e você aqui, ainda tem mais três chuveiros disponíveis."

"Os outros três estão quebrados.", ele respondeu ríspido e rapidamente, mentindo, pois foi a primeira coisa que lhe ocorreu.

"Ah... mas você não precisava ficar tão nervoso.", TK disse virando-se de costas e tirando a blusa, "Eu não sabia disso, acho que eles também não."

"Hn.", Davis respondeu olhando para o chão.

Por alguns segundos ficaram em silêncio. Davis ainda encostado à porta, olhos abaixados, escutando os sons que TK fazia, sem se importar com o que poderiam significar. Estava com os pensamentos de novo em movimento, muito ocupados.

Estava bravo. Tinha feito um escândalo e agora estava sozinho com o senhor perfeito. Por que sempre agia de forma estranha perto dele? Isso tudo não pode ser inveja. Davis sabia que grande parte de sua raiva era inveja, mas mesmo assim... isso não justificava o seu comportamento.

E se fosse apenas inveja? Uma grande e incontrolável inveja? Seria normal preferir ficar sozinho com TK ao invés de sair de perto dele? Não...

Deve ser outra coisa.

"Bem, qual deles não está quebrado?", TK interrompeu seus pensamentos de novo, "Você sabe?"

Davis levantou o rosto para escolher aleatoriamente um dos chuveiros e perdeu a fala novamente.

TK estava nu.

Não exatamente nu, estava com uma toalha enrolada na cintura, mas... por baixo estava nu. E o que uma simples toalha deixa para a imaginação, afinal?

"Não sabe?"

"Que? Ah... é o... o segundo! O segundo e o primeiro estão funcionando."

TK entrou no chuveiro e fechou a porta de acrílico fosco atrás de si. Através dela, Davis viu um TK embaçado tirar a toalha e ligar o chuveiro.

Droga...

Davis suspirou. Até o corpo dele era mais bonito que o seu. TK era mais alto, e tinha os músculos das pernas e dos braços proporcionais... ele, ao contrário, tinha pernas muito grossas e braços finos. Culpa do futebol.

O melhor a fazer agora era tomar banho. Já não bastava estar atrasado ainda ficava pensando em quanto Takeru era maravilhoso.

"Uh?", Davis murmurou alto para si mesmo, espantado com o pensamento que teve.

"Você disse alguma coisa?", TK perguntou

"... nada. Nada não.", ele respondeu se despindo e entrando rápido dentro do chuveiro.

Não sabia dizer o por quê, mas a água gelada, apesar de incômoda, estava lhe fazendo bem. Difícil de explicar. Seu corpo reagia com desconforto às gotas tão frias, mas mesmo assim ele continuava lá, sem mudar a temperatura.

... ficou pequeno. Todo encolhido com a água fria. Hn... pelo menos nisso eu sei que sou melhor que o Takeru. Eu não sei qual é o tamanho do dele, mas não pode ser maior que o meu. Mesmo encolhido.

Quando estava fechando o registro, TK voltou a falar e Davis adivinhou que ele já devia estar se trocando:

"Você vai na casa do Tai hoje?"

"Pra quê?", ele perguntou, em um misto de desinteresse fingido e curiosidade inevitável, enquanto secava-se ainda dentro do box

"Como pra quê? Vai estar todo mundo lá hoje à noite.", TK respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, "A Kari fez questão de convidar todo mundo."

"Não fez não.", Davis disse, de novo bravo, abrindo a porta de acrílico, com sua toalha presa na cintura, "Eu não fiquei sabendo de encontro nenhum."

Por um momento, TK apenas ficou olhando-o, sem saber como responder. Depois ele tratou de sorrir, ainda que meio sem graça, mas sorriu, e disse:

"Deve haver algum engano... Kari marcou com uma semana de antecedência com todos os digiescolhidos. Ela não quer que ninguém falte."

"Eu não fiquei sabendo de nada.", Davis respondeu rispidamente. Sentindo os olhos de TK sobre si, ele disse baixinho, "Vira pra lá."

"O que?"

"Vira pra lá.", ele repetiu, ficando vermelho, "Você já está vestido, eu não. Vira pra lá."

"Oh... desculpe.", TK disse virando-se de costas, "Dais... se você quiser ir... eu estou te convidando agora. Por favor, não fique chateado com a Kari..."

"Pára com isso!", Davis quase gritou, "Pára, droga!", TK ia se virar, mas ele o impediu, "Não vira ainda! Eu já estou vestido mas não quero olhar pra você! Não quero!", na verdade ele estava com medo de olhar nos olhos de TK e ficar sem reação de novo

TK não disse nada. Continuou de costas sem se mexer.

"Que saco! Por que você tem que ser assim? De onde você tira tanta perfeição? Por que é tão bom pra mim?"

"Dais, eu..."

"Não me chama assim!", ele gritou, "Eu odeio isso! Você me espera... você se preocupa... me chama com esse nome... só você não percebe que ninguém me quer por perto? Só você continua do meu lado, Takeru! E eu odeio isso! Odeio você sendo tão adorável e bonito e inteligente... e amigo! Eu te odeio e você continua sorrindo e sendo o anjo perfeito. Que droga! Você é tudo e eu sou nada!"

Davis suspirou profundamente, tentando deixar a respiração voltar ao normal. Simplesmente não acreditava que tinha dito tudo aquilo. TK tinha que tocar no assunto "Kari"? Ele tinha que jogar na cara dele que ela não liga a mínima pra ele? Ele tinha que ser tão preocupado?

Um som abafado chamou a atenção de Davis, que se voltou na direção dele. TK ainda estava de costas, mas os ombros davam pequenas sacudidas, acompanhadas de leves sons... TK estava chorando.

Droga.

E agora? E agora? O que iria fazer?

Davis se aproximou da figura tensa ao seu lado, mas, antes que sua mão alcançasse o ombro encolhido, TK virou-se e, sem levantar o olhar, pegou suas coisas e saiu correndo do vestiário.

Eram lágrimas. Tinha certeza que eram lágrimas. Droga...

Nenhuma pergunta foi respondida. Não adiantou fazer TK chorar... ainda não entendia por quê ele se preocupava tanto. E, de alguma forma, as lágrimas só pioravam tudo.
 
 

Continua...



Capítulo 2
Digimon
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