O Amor Nunca se Esquece

 Hakura Kusanagi
 

Capítulo 4

"Vamos, não desmaie, Shuuichi!!"

"Levante, por favor!"

Sayaka e Sayara tentavam manter o Ningen/Youkai acordado.

Há muito tempo ele não dormia... e seus serviços no Castelo o desgastavam muito. Hoje era um dia destes; as duas servas Youkais tentavam levantar seu corpo, que se ajoelhara no chão, apoiado nas paredes do Castelo, num ataque de exaustão durante uma das limpezas.

"Tenha forças, não pode dormir aqui!"

"Sabe que se um dos Guardas te pegarem assim, vão acabar te machucando... Por favor, Shuuichii-san: levante-se!"

Kurama abriu um pouco os olhos e levou suas mãos ao chão, na idéia de se levantar. E foi o que fez, ajudado pelas duas moças.

"Por que me chamam assim?" – ele sussurrou, já de pé, preocupado em não atrair a atenção dos Guardas que vigiavam os escravos que ali estavam como Cães de Caça.

"Você não se lembra?" – assustou-se Sayara.

"Sim, mas... eu não entendo o porquê de desde que nos conhecemos, vocês me chamarem assim.... e também se preocuparem tanto comigo..."

"Nós... Nós sabemos pelo que está passando..." – Sayara começou.

"Sim: nós já passamos pela mesma coisa... e já vimos muitos morrerem assim. Sabemos como é duro viver nessa vida de escravos de Nazago-Sama... Principalmente quando este demonstra ‘preferência’ por um escravo em especial, como ele o faz com você..." – Continuou Sayaka.

"Sim!! Queremos... queremos que você sempre saiba... sempre lembre de seu verdadeiro nome, pelo menos isto o fará recordar de sua verdadeira família... e de seus amigos, também; pois assim, nunca os esquecerá."- era evidente nos modos da Youkai a preocupação com o estado de Kurama.

"Assim como aconteceu conosco..." – revela, com resignação sombria, Sayaka, olhando-o dentro dos olhos.: -"Vivemos aqui há tanto tempo, que nos esquecemos de tudo: nossa vida anterior foi apagada de nossas mentes com as torturas e sofrimentos freqüentes, e nosso passado já não existe mais: os nomes, as pessoas, a família, amigos, amores...Todos eles, esquecidos... Esse inferno em vida nos tirou tudo o que de mais importante nós tínhamos... Tudo."

"Nós... nós só temos uma a outra, agora, Shuuichi-San..."- Sayara se abraça fortemente à irmã, que não desvia os olhos perspicazes do Humano.

"Sim. Somos apenas nós duas. Para o que der e vier." – sua voz baixa, porém resoluta, afirmou.

"Uma ajuda a outra."

"Mas... por que eu?"

"Por que você é diferente dos outros: apesar de ser um Humano, você também é um Youkai... Mais precisamente, um Youko, um Demônio Raposa. Enquanto seu lado Humano é muito bonito e enganadoramente frágil, ao mesmo tempo também é um grande guerreiro; e a reencarnação de um dos mais fortes Demônios do Makai, extremamente poderoso – eu sei que você está aqui não por temer sua segurança, Shuuichi-San: e sim, por temer a de outros." – Vendo o espanto nas faces de Kurama, Sayaka foi em frente: -"Você foi um dos poucos que agüentaram as torturas e humilhações de nosso Mestre... e não desistiu, não se deixou quebrar: Dentro de você ainda existe muita força, Minamino-San..."

"Sim... Um dos poucos a não se esquecer de seu amor... Por isto, não desista!"

"O que pensam que estão fazendo??" – uma voz estronda pelo Corredor, assustando-os: -"Façam seu serviço, e parem de falar com este escravo!! Nosso Amo não quer ninguém conversando com ele!!!" – gritou um dos Guardas que tomava conta dos escravos daquela ala.

"Nada, Senhor... Estamos apenas trabalhando..." – responde Kurama, pegando seu equipamento e afastando-se rapidamente das duas irmãs, que também voltaram imediatamente ao serviço.

"Assim é melhor..." – concedeu o Youkai. Voltando-se para Kurama, que voltara para seu trabalho solitário, gritou: -"TRABALHE!!"

**************

"Hiei... Eu te amo tanto... sinto saudades. Eu... quero você de volta, Hiei..."- a voz doce de Kurama sussurra em meio à escuridão oprimente da cela, onde está preso: -"Faz tanto tempo que não o vejo... que não ouço sua voz..." – um leve soluço denuncia a tristeza e a solidão que ameaçavam explodir de angústia o coração do jovem ruivo: - "Você me faz falta... sua falta me deixa mais sozinho e angustiado... oh, Hiei..." – o medo de estar sendo finalmente vencido pelos esquemas de Nazago envolve ainda mais o Kitsune, levando-o ao mais amargo desespero, enquanto sua mente continua com os pensamentos sombrios: -"... eu estou perdendo o controle da realidade... minha mente já não age mais como antes... há muito tempo perdi minha auto-afirmação, minha confiança... não consigo mais controlar meu próprio corpo; faço coisas humilhantes e deprimentes, que nunca imaginaria fazer... estou ficando submisso a Nazago... aos poucos, minha humanidade está se esvaindo como um feixe de luz que toca o chão... Por que não me ouviu? Por que você não me deixou explicar?"- lágrimas amargas fogem dos olhos fechados e descem silenciosamente pelo rosto de Kurama: -" Por que, Hiei?"- os soluços agora podem ser ouvidos perfeitamente no silêncio sepulcral que o cercava: -"Hoje eu daria tudo para ficar aqui nessa escuridão, sozinho, sem ter que me... me... deixar usar... sem ter que me sujeitar àquele louco... meu corpo, ele está tão cansado, machucado... eu... eu não sou mais dono dele, Hiei... não sou mais dono de meu próprio corpo, eu... não sou mais dono de minha vida: nem mesmo ela mais me pertence... Oh, Hiei: queria tanto seus carinhos, seus abraços... seus beijos!!! Por Inari: quero você, Hiei... te quero novamente, novamente, novamente, ..."

Kurama teve seus pensamentos interrompidos bruscamente pelo abrir da porta da sua cela: uma forte luz inundou o lugar, fazendo-o levar as mãos para encobrir os olhos.

Da porta surgiram duas delicadas figuras femininas: uma de longos cabelos roxos e orelha da elfa, com delicados olhos vermelhos; a outra, tinha cabelos curtos e olhos da mesma cor, porém com um nuance de seriedade e maturidade que os olhos de sua companheira não tinham... Eram Sayaka e Sayara.

As duas entraram carregando uma bandeja nas mãos e foram avisadas por um dos Guardas que as acompanhavam:

"Andem, entrem e façam o que devem fazer... Mas sejam rápidas!!"

"Sim, Senhor." – responderam ambas em uníssono.

As duas irmãs se conduziram até o Kitsune, ajoelhando-se próximo onde ele se sentara, ainda sem entender a cena.

"Como você está, Shuuichi?" – disse Sayara.

"Trouxemos comida para você... Nosso Amo mandou lhe dar esse prato especial."

"Arigatou, mas não quero comer nada... Prefiro ficar aqui, sozinho." – disse, enquanto abraçava a si mesmo.

"Não, isso não!! Tem que se alimentar, Shuuichi! Senão, vai ficar realmente doente, e aí, as coisas vão ficar ainda pior!" – exclamou Sayaka.

"Isto mesmo, irmã... Não pode ficar tão sozinho... Tão... abandonado em si mesmo!! Veja: logo hoje, nosso Mestre deu ‘folga’ para você: não vai precisar fazer os serviços completos..."

Tal afirmação fez surgir uma expressão de surpresa em Kurama, ao mesmo tempo que o invadia fazia sentir um alívio profundo.

"Reaja, Minamino-San... Não fique assim!..."

"Eu sei disto, mas... quero ficar aqui... sozinho."- a voz dele era fraca e seu olhar, desiludido, dava mostras que não a pouco, estivera a chorar.

"Você está muito... triste hoje, não?" – perguntou Sayaka, colocando enfim, a bandeja ao lado da de sua irmã, no chão.

"Eu... deixem-me aqui... Não... estou me sentindo muito bem."

"Está pensando nele, não é?" – o tom de voz carinhoso e maternal da Youkai doeu fundo no coração do Youko, ameaçando que novas lágrimas caíssem de seus olhos.

"Sim, estou, Sayaka... Mas não é só isto: meus amigos, minha família - minha vida – eu sinto saudades de tudo..."

Um silêncio se instalou no local. As duas irmãs o olharam com profunda tristeza: seus olhos foram de encontro às suas mãos, que se enroscavam nos panos da calça, parando então em sua face tão abatida e magoada... O prisioneiro se sentia o último dos seres, até uma delas levar, vagarosamente, suas mãos ao rosto de Kurama, acariciando-o, secando lágrimas que desciam-lhe furtivamente pelo rosto, e a outra, retirou algo do bolso da saia, para então voltar-se novamente ao Kitsune:

"Não fique assim, Shuuichi... Tenho certeza que tudo vai passar. Olhe, isso é para você..." – disse Sayara, estendendo-lhe o que trouxera dentro do bolso.

"HÃ? O quê? Onde você conseguiu isto?"

O Youko/Humano se assustou quando viu, nas mãos de Sayara, uma pequena pulseira de ouro – na verdade, uma correntinha trançada como um longo "rabinho de raposa" prateado bem fofinho, e que tinha, na ponta, algo que causava um pequeno ruído – tal como um guizo – cada vez que mexia, e cuja forma era a de um dragão negro com a cabeça para frente, segurando em sua boca uma pequena gema negra – exatamente igual àquelas que unicamente apenas os Koorimes eram capazes de produzir: uma jóia de lágrima; brilhante e reluzente.

Um olhar maravilhado tomou conta dos olhos verdes de Kurama, seus lábios sorriram como a muito tempo não faziam. Ele esticou os dedos para pegar a correntinha, encantando com o "presente".

"Me diga, onde o conseguiu?"

"Que bom que gostou, Shuuichi! Esperávamos que seu sorriso de felicidade voltasse ao seu rosto com este presente... e parece que conseguimos." – comentou Sayaka.

"Você está tão lindo, sorrindo!! Seus olhos ficaram tão bonitos... Deixe-me coloca-la para você, por favor!!" – Sayara parecia uma criança, de tão contente estava.

Sayara pegou a pequena correntinha e a prendeu no pulso esquerdo dele, o dragão fazendo um delicado barulho, ao tocar o ferro da algema, em seu pulso.

"Ficou lindo! Coube direitinho!!"- exclamou Sayara, sorrindo.

Sayaka permitiu-se um leve sorriso, emocionando-se com a cena.

"Nós a achamos nas coisas perdidas do Castelo, em um lugar onde ficam, jogadas como lixo, as recordações de muitos nós, ..."- explicava a Youkai. –"...objetos que nosso Amo recolheu como prêmios de seus escravos... Algumas de suas coisas estavam lá, ainda. Em meio a elas, estava a pulseira..."

"Então, nós vimos a pedra negra, e o Dragão, e imediatamente pensamos em você, Kurama!" – interrompeu Sayara, feliz.

"Eu... eu.... não acredito: esta corrente foi um presente... de Hiei!... ele... ele me deu quando..." – Kurama não suportou a avalanche de dor das lembranças misturadas à felicidade, e chorou fortemente.

"Shuuichi? Por que está chorando? O que foi?" – Sayara foi pega de surpresa com a reação do Kitsune.

"Desculpe-nos, nós... não queríamos faze-lo chorar." – Sayaka comentou, consciente do que causara tal reação do jovem Humano.

Ele soluçou um pouco antes de responde-las, limpando as lágrimas com as costas da mão.

"Tudo... tudo bem, Sayaka, Sayara; é que... essa pequena pedra... negra... é , na verdade, uma jóia de lágrima de Hiei... Há tantos anos, ele me deu, como prova de seu amor por mim... Sabe, ele me amava realmente, e foi uma ... esta jóia, esta ligação, que uniu para sempre nossos espíritos, eu... Ah, minha Inari!!!" – Kurama levou as mãos ao rosto, encobrindo-o .

"Calma, Shuuichi, calma... deve ser doloroso recordar o passado..."- Sayaka falou, afagando os cabelos do Kitsune.

"Mas você ainda o tem dentro de si, no seu coração .. e isto é ótimo!!" – completou Sayara.

"Estão certas, eu... eu pelo menos o tenho no meu coração." – Kurama pegou novamente o dragão com a jóia com a outra mão, quase como se não pudesse acreditar que ela estivesse ali, ao seu alcance: um tesouro tão precioso! –"Esta jóia foi uma dádiva para que pudéssemos nos interligar em corpo e alma, antes... agora.... Eu só... eu só não queria ficar somente imerso nas lembranças, entendem?? Elas doem... demais."

Elas o abraçaram fortemente, dando-lhe forças para que suportasse tudo aquilo que estava torturando-o por dentro.

"Pronto, acabou, agora..." – Sayaka sorriu, falando logo em seguida após ouvir o último soluço do jovem ruivo.

"Agora, coma!!" – Completou alegremente Sayara, tentando faze-lo distrair-se daquelas lembranças que tanto o machucavam.

"Sim, isso: agora, coma!!"

Elas empurraram as bandejas de comida para ele, presenteando-o com sorrisos, fazendo Kurama finalmente dar leves gargalhadas, ao vê-las tão firmemente intencionadas em faze-lo menos triste, como a um garotinho.

"Ótimo... isto agora parece delicioso! Arigatou gozaimasu, de todo o coração."

"Comida especial... para alguém especial, Shuuichi!!" – as duas irmãs falaram, todas sorrisos.

*****************

Continua...

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Capítulo 5

O Amor Nunca se Esquece

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