O Amor Nunca Se Esquece

Hakura Kusanagi


Capítulo 1

"Acorde, Kurama! Acorde escravo!"

"Está na hora de seu banho! Hahahahaha!!!" - Um Youkai alto e forte, com vestimentas de guarda, gritou, jogando um jato de água gelada no corpo do humano/youkai. Acompanhado pela risada maléfica de seu companheiro, um outro guarda se aproxima do corpo de Kurama e o ergue pelas correntes, as quais serviam para manter seus braços e pernas esticados cada qual para um lado. Cada parte de seu corpo sangrava, coberto de chagas e cortes profundos em sua pele; o rosto era o pior: cheio de escoriações por cada canto de suas faces e lábios; os olhos, estes tinham profundas olheiras de cansaço: eram fundas marcas que dominavam sua bela face, castigada pela brutalidade daquele Youkai que agora o estapeava, fazendo-o abrir os olhos.

Kurama deu um grito de dor, quando os fortes jatos de água o atingiram, tentando se desvencilhar das mãos nojentas do demônio que rasgava sua roupa bruscamente, deixando-o nu. Sua cabeça sacudia para os lados, sem força para se fixar em um único lugar, o horror se instalara em sua face quando sentiu a água gelada tocar em cada corte não cicatrizado de sua pele. Ele sacudia as mãos, tentando se soltar, machucando ainda mais seus punhos já marcados pelas presilhas que o prendiam, juntamente com as dos tornozelos e do pescoço; eram exatamente contenções de controle de Youki, específicos para Youkos.

Um dos Youkais gritou com ódio por aquela raposa não ficar totalmente consciente:

"KISAMA! Acorde de uma vez! Seu mestre quer vê-lo e é AGORA!"

Kurama sussurrou as palavras, em resposta ao cessar do banho.

"Hai... Sim, Senhor... Eu já estou pronto, Senhor..."

Ele largou as mãos e as pernas ao chão, quando os dois guardas o soltaram de suas correntes, e seu corpo foi ao chão.

O lugar em que estava era um lugar mórbido, repleto pela escuridão, com uma minúscula janela no alto daquela masmorra que permitia passar apenas uma pequena fresta de luz, tocando os fios vermelhos de seu cabelo, mostrando através do reflexo da água no chão, a face abatida e pálida daquele humano.

Ele foi arrastado até o seu quarto, se é que se podia chamar aquilo de "quarto": era apenas um buraco na parte mais alta do castelo, onde ninguém podia chegar, sem ordens expressas do "Mestre". Um pequeno espaço, com uma cama mínima no canto da parede, sendo esta de pedras cinzas e mórbidas, ressaltando um total descaso com a vida de quem ali vivesse... O teto era alto e mais acima estava uma pequena brecha para que o ar entrasse no local; pedaços de pano estavam jogados no chão, assim como os trastes de roupas preparados para serem a sua vestimenta.

Os guardas o jogaram lá dentro, urrando:

"Ouça, estúpido Kitsune: vista-se logo!"

"Nosso Mestre está esperando-o para um longo assunto! Voltaremos para buscá-lo logo, logo, servo maldito!!" - Aiko ameaçou-o .

"H-Hai, eu... eu irei... Ah..." - Kurama deu seu último gemido antes de resvalar novamente entre seus pensamentos... Reorganizando sua mente, sua vida, naqueles últimos cinco dias.

"Por Inari... estou tão cansado e machucado... humilhado!!.. passei os últimos dias sendo açoitado, espancado... e usado para divertimento daquele maldito Kairui! ...vim parar aqui no Makai apenas para uma luta, e tive minha família e amigos ameaçados por um Oni: aceitei vir para seu castelo e ser seu escravo, para evitar que eles fossem mortos por minha causa... Oh, Inari: meu corpo dói com cada movimento que tento fazer... eu quero dormir faz cinco dias, mas sou impedido sempre por um dos seus servos, ou por aquele desgraçado, me obrigando a oferecer um serviço sujo para ele e seus amigos... serviços sexuais... estou tão fraco, precisando de novas forças... e de Hiei! ... ah, meu único amor: queria-o aqui comigo... Sinto frio, tanto frio..." - Kurama tremia em delírios de febre, se encolhendo nos restos de panos caídos da cama.

Como todos os dias, eles voltaram, abrindo o cadeado pesado da porta da madeira que rangia como o clamor de almas perdidas nas profundezas do purgatório: os dois Youkais de antes - seus guardas - vieram como o prometido e, dispostas entre suas mãos, correntes longas e pesadas que tilintavam pelo chão, para agonia daquele que estavam torturando. Um deles chegou-se mais perto, abaixando-se e vestindo-o, enquanto o outro pegou a corrente e a encaixou no colar no seu pescoço, puxando-o fortemente, como uma coleira de um animal:

"Ande, escravo... Venha! Nosso Amado Senhor quer vê-lo!!"

"O seu tempo de descansar acabou, Youko!"

"Não, chega!! Eu quero dormir, preciso... por favor... eu imploro!"

"Não adianta pedir; e cale a boca!" - replicou Aiko, dando-lhe um puxão na corrente tão forte, que arrastou Kurama no chão pôr alguns centímetros.

"Não grite para nós!" - Gritou Naiuki, o mais velho, trazendo-o brutalmente pelo colar em seu pescoço, levantando o corpo todo, conseqüentemente.

Ele sentiu as forças do corpo se esgotarem quando o Youkai o fez erguer-se do chão de uma só vez, quando as pernas cederam novamente ao seu peso.

"Maldito... Pare com essa preguiça: escravos não têm direito a isto! Levante-se, rápido! Ou prefere ir de quatro, arrastado!?"

"É isto que ele quer, Naiuki! Não percebe?! O Grande Kurama quer ser arrastado pela sua coleira, como o verdadeiro animal que é! Puxe-o, vamos! Arraste-o pelos corredores!!" - o sadismo de Aiko arrepiou Kurama.

"Claro! Se é isto que ele quer... Com prazer!!"

"NÃO!"

Naiuki puxou-o pela coleira, arrastando-o pelo pescoço, pouco se importando com a fraca e desesperada oposição de sua vítima: Kurama foi obrigado a andar de quatro, como um animal, pelo chão. Suas forças eram poucas até mesmo para levantar as mãos, mas ele continuou a ser arrastado por quase todo o castelo: desceu as escadas, passando pelos corredores longos e de um brilho ofuscante, cor de sangue, como seus longos cabelos caídos ao chão, como se estivessem varrendo cada entranha daquelas pedras.

Finalmente eles chegaram ao salão do Kairui: comprido, repleto de janelas com cortinas longas de seda negra; o lugar também tinha lanças, espadas, escudos e diversas armas de batalha penduradas nas paredes, ao lado de cabeças de vários Youkais, como se fossem prêmios de caça. No teto, via-se as enormes luminárias de cristal, dando luz àquele local mórbido, de cores sombrias. Em cada parede, se juntando aos tapetes vermelho-sangue que levavam até um trono, trabalhado com dezenas de pedras brilhantes: negras, roxas, e azul-escuras; decorado com detalhes de cabeças fixadas ao longo de todo o trono... Algo tenebroso como aquele que se sentava lá: Um Youkai, Kairui, o qual todos os seus servos e soldados chamavam de "Mestre". Seu nome...

"Senhor Nazago!"

Mestre dos Assassinos daquela região do Makai, era um Youkai jovem, de aparência forte e robusta, sua pele clara ressaltada pelos longos cabelos azuis enfranjados em sua face; esta era ornada com pequenos símbolos vindos de sua testa até sua face direita, usava um brinco fino como facas afiadas no seu lóbulo esquerdo, e seus olhos, argutos como os de um predador, cinzentos. Os fios azuis caíam conforme o longo cordão de pingente da Deusa Iria, a "Protetora da Morte".

Nazago se vestia com uma túnica cor de vinho com detalhes brancos em forma de símbolos egípcios, que caía até seus pés... Onde fora jogado Kurama.

"Aqui está ele, como o Senhor ordenou!"

"Vamos, erga-se, maldito Youko: o Mestre quer vê-lo!"

Um deles o puxou pelos cabelos, erguendo sua cabeça num tranco, arrancando-lhe um gemido de dor. Mas apesar da dor, Kurama não gritou: manteve-se firme, e, com um olhar de morte, encarou o Youkai sentado acima dele.

"Não o encare dessa forma! Você é apenas um escravo, um nada perto de nosso amo! Corrija seu ato agora!!" - gritou Naiuki, puxando a corrente com mais força, fazendo descer sangue do pescoço do jovem ningen, que reagiu, com toda a fúria que lhe percorria o corpo fraco e machucado:

"NÃO!! Eu não vou corrigir NADA! Vocês não são meus DONOS! E se eu pudesse usar meus poderes, vocês estariam MORTOS... TODOS VOCÊS!!"

"O quê? Escravo maldito... Quer apanhar para ser controlado?"

"Isso! Dê-lhe uma lição, Aiko!"

Naiuki riu, enquanto Aiko socou o rosto de Kurama diversas vezes, até seus lábios sangrarem e puxou suas longas correntes para trás, chutando suas costelas. O humano tentou com as mãos e os joelhos se levantar, mas foi impedido por uma nova investida de socos e chutes acompanhados de fortes puxões em sua garganta, fazendo-o ficar sem ar, prolongando os gemidos de dor e angústia saídos de seus lábios, ao mesmo tempo em que seus olhos se fechavam fortemente em repulsão a tudo aquilo. Mas aquele Kitsune era teimoso... e atrevido o suficiente para continuar a instigá-los com suas palavras:

"Vocês... Vocês não vão conseguir me domar assim... Não vão! NUNCA!! Ouviram, seus animais? Meu Youki pode não existir, mas meu corpo jamais desistirá de lutar contra essas humilhações... Youkais estúpidos!!"

"O quê? Ah, então está a fim de ser morto de pancadas?" - Alegrou-se Aiko.

"Animais?!"- Irritou-se Naiuki - "Aiko, agora é a minha vez de esmurrá-lo até a morte: verá quem vai rir pôr último, Kitsune desgraçado!"

Naiuki trocou de lugar com Aiko e o socou com os dois punhos pelas costas, fazendo-o cair no chão, indefeso. Rapidamente ele pisou em sua coluna, enquanto Aiko, sem conseguir ficar de fora da diversão, chutou suas coxas e pernas, deixando marcas de sangue e cortes através das roupas de Kurama. Naiuki agarrou-o pelos cabelos vermelhos e socou seu rosto seqüencialmente no chão, fazendo o sangue manchar o tapete e as botas do imponente Youkai, que permanecia assistindo impávido tudo aquilo, sem expressar um único som de seus lábios.

Até que finalmente ele falou: sua voz grossa e forte, carregada de maldade e perversidade, soou pelo salão.

"Parem! CHEGA! Estão sujando meu tapete e meus sapatos com o sangue imprestável desse Kitsune!"

"Sim, Senhor Nazago!"

"O Senhor manda, nós obedecemos... Desculpe-nos, Senhor!"

Os dois pararam, largando ao chão o corpo trucidado da raposa, que caiu, permanecendo no chão sem se mexer, sussurrando gemidos de dor. Quando o "Mestre" se levantou de seu trono, sua enorme túnica se arrastou pelo chão ao descer completamente por aquele corpo enorme, ágil e tremendamente forte.

Os dois servos se afastaram do corpo prostrado de Kurama em obediência a um simples gesto de seu amo e se ajoelharam em continência. Nazago se aproximou de Kurama e parou, colocando os pés a centímetros de seu rosto, falando em tom cínico e odioso:

"Lamba. Isto é uma ordem, escravo!"

"Não!" - Kurama respondeu com a voz firme, apesar de fraca.

"Não? Então quer ser teimoso? Lamba seu sangue agora..." - um sorriso de escárnio tomou conta de seus lábios: - "... A não ser que pretenda ver a morte de seus amigos... e de seu amor."

Kurama hesitou por um instante, pensando nas conseqüências de seus atos... e logo suspendeu a face machucada e ensangüentada, esticou a ponta de sua língua e a encostou no sapato do Kairui, recolhendo o sangue que ali estava, humilhado.

O Youkai gargalhou profundamente e levantou um dos pés e chutou a face dele, que deu um longo grito de dor, surpreso com o ataque repentino. Kurama rolou pelo chão, encolhendo-se de dor, enquanto o Kairui elevava sua voz, em tom de comando:

"Erga-se, Kurama Youko... Eu quero você de pé, escravo!"

Ele o fez, juntando as forças de seu corpo, erguendo-se sobre os braços, levantou suas pernas uma a uma, ficando minutos depois em pé. Suas pernas tremiam, sem conseguir uma estabilidade para permanecer em pé. Abaixando a cabeça e os olhos, sem vontade de mantê-los abertos. Kurama, parado em frente ao Youkai, era uma visão contrastante: cheio de escoriações espalhadas em cada canto de seu corpo frágil de humano, as roupas completamente rasgadas, dando visão ao sangue de seus ferimentos.

Nazago se aproximou dele e levou seu dedo indicador ao seu queixo, falando suavemente:

"Repita o que vou dizer agora, escravo."

"Sim..." - Ele sussurrou de cabeça baixa.

"Sim... o quê?"

"Sim, Senhor."

"Fale mais alto: eu não ouvi."

"SIM, Senhor Nazago!" - Ele gritou como um soldado.

"Melhor, agora. Agora repita: ‘Eu sou seu servo, seu escravo. Obedecerei a qualquer ordem dada pelo meu Senhor.’ Fale!"

"Sim, meu Senhor! Eu sou seu servo, seu escravo, e obedecerei a qualquer ordem dada pelo meu Senhor." - Kurama falou se retraindo por dentro, por estar sendo tão humilhado.

"Assim é melhor. Bem melhor!"- Ele ergueu com o dedo o pequeno rosto da Raposa e prosseguiu, olhando-o bem dentro dos olhos verdes: - "Olhe seu estado: um rosto tão lindo e delicado, não deveria estar assim... se tivesse me obedecido e sido um servo obediente, não teria sofrido nada disto. Quer ser machucado mais uma vez?"

"Não, não Senhor." - Kurama sussurrou, desviando seus olhos para longe dos dele.

"Isto é bom. Então seja bonzinho, meu querido servo: quer a vida de seus amigos salva? Quer seu amor vivo?? Vamos, fale!"

"Sim, eu quero! Eu quero MEU AMOR de volta, Senhor!"

A fúria irrompeu no semblante do Kairui:

"O quê? Cale a boca!! Seu amor jamais voltará, pois agora você é MEU!!" - Nazago agarrou pelo pescoço, quase sufocando-o: - "Aprenda, Kurama: você JAMAIS sairá de minhas mãos, e se transformará no meu escravo eternamente! Será o mais obediente de todos, e esquecerá do seu passado com aqueles que você conhece no Ningenkai... e daquele que chama de ‘amor’!!"

"NÃO, NUNCA!" - Kurama respondeu, encarando-o com os olhos faiscantes de ódio.

"Não? Veremos: este olhar arrogante desaparecerá, assim como suas palavras negativas! Olhe para sua face..." - Ele deslizou os dedos por cada canto de seu rosto, acariciando-o: - "... tão suave e meiga... algo como suas flores, de pura sensibilidade... já viu no que está se tornando? Ela está com marcas profundas de sono e cortes... vai perder sua beleza por uma teimosia em vão?"

"Eu não me importo."

"Fala isto porque quer ser forte até o fim; mas logo se tornará um animal domesticado e estará lambendo minhas mãos, Kurama."

"NUNCA, JAMAIS!"

"Verá! HAHAHAH!!!" - Ele se afastou de Kurama, largando-o e virando as costas para ele, voltando-se para seus soldados. - "Coloquem-no nas correntes e tirem-no daqui: levem-no para os serviços domésticos com os outros serviçais... mas não deixem-no falar com ninguém, ou morrerão!!"

"Sim, Senhor."

"Claro, Mestre Nazago!"

Aiko e Naiuki prenderam os pulsos com as correntes,o puxando dali pelo pescoço e braços. Kurama saiu praticamente arrastado, enquanto virava sua cabeça, com ódio, para Nazago. Foi levado para a cozinha onde o esperavam os equipamentos de limpeza, prontos para serem usados em todo o castelo.

"Pronto! Aí está, escravo: todos os objetos necessários para limpar o castelo. Começará pelos salões no subterrâneo."

"Aposto que gostará bastante: lá está cheio de animais míseros e rastejantes, como Youkais de sua laia! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!" - Aiko explodiu em gargalhadas.

"Pegue!" - gritou Naiuki, jogando vários objetos no chão.

Kurama se abaixou para pegá-los, mas foi surpreendido por um forte murro nas costelas, vindo de Aiko, que gargalhou ainda mais, quando o viu cair sobre um balde de água suja de um outro servo.

Ele se ergueu com o cabelo molhado e sujo; um olhar assassino vindo de seus olhos verdes para os dois Youkais. Se ele pudesse usar seu Youki, os mataria com um simples gesto de seu chicote, cortando-os em mil pedaços! Mas não podia: estava preso por algemas e tornozeleiras e uma coleira de contenção de Youki, que anulava completamente seu Ki e sua forma de Youko, impossibilitando-o de revidar.

Kurama se levantou.A face rancorosa , humilhada, frente aos olhares de todos os servos e servas à sua volta. Pegou o equipamento de limpeza e saiu arrastando suas correntes até as escadas que davam para as partes internas do castelo: as masmorras e calabouços.

Lá embaixo era a coisa mais repugnante e nojenta: repleto de ratos e pequenos animais por todos os lados que corriam feito loucos ao sentirem a aproximação de Kurama. A visão se tornava ainda mais assustadora conforme os olhos da raposa iam se acostumando ao lugar: o horror daquele submundo vinha através dos ferros, correntes, amarras de toda espécie, e câmaras de tortura dos mais diversos tipos. Tudo completamente fúnebre, com apenas tochas iluminando os corredores da prisão que levavam a calabouços ainda piores, cheios de ossos e restos de corpos ainda em decomposição.

Aquela visão deixava Kurama cada vez mais zonzo de enjôo, não suportando mais ver corpos de Youkais e animais mortos, pensando que talvez viesse a ser seu fim dali a alguns dias... Se assim quisesse o senhor daquele castelo.

Seus pensamentos foram dissipados com um balançar de cabeça, para trazê-lo a uma realidade nem um pouco agradável: teria que limpar aquilo tudo, e não iria ser nada fácil, no seu estado.

Então tentou afastar todo o nojo que sentia cada vez que respirava aquele ar pútrido, e colocou na sua cabeça que, se não fizesse aquilo, o inferno vivido por ele seria muito pior do que aquele pequeno serviço: uma vez que seu corpo, enfraquecido como estava, não agüentaria mais uma leva de açoites.

Começou a sua limpeza: pegou um escovão e um balde, jogando água por todo o chão, esfregando continuamente o limo das pedras e correntes. Passou horas limpando as paredes e o chão, até tirar todos os corpos, ossos e musgos que se aglomeravam às pedras, mas conseguiu. Agora, parara para recolher as gotas de suor em sua face e descansar um pouco seu corpo esgotado e dolorido em uma cama de ferro, quando ouviu o barulho da porta principal sendo aberta e do barulho de aço batendo contra o chão, ao mesmo tempo que um Youkai praguejava algumas palavras:

"Aí está sua comida, Raposa infeliz: coma!"

O Youkai tornou a fechar a porta, enquanto Kurama levantava-se para ver o que tinha naquela tigela de aço. Não foi uma visão agradável: era uma verdadeira lavagem, de tal maneira que não se distinguia que espécie de coisa estava ali.

"K’so! Isto é nojento: parecem demônios alados em pedaços! Isto me dá vontade de vomitar... KISAMA! Prefiro passar fome a comer isto!"

"Então, passe fome; porque não terá mais nada para comer o resto do dia!"- O demônio grunhiu lá fora em resposta a Kurama. - "E termine seu serviço!"

"Malditos!"

Ele jogou aquilo para um canto e prosseguiu o serviço, limpando todas as grades, correntes e presilhas de ferro, para tirar suas ferrugens e realmente terminar de limpar as pedras das paredes que envolviam aquele lugar.

Kurama o fez: levou mais de 10 horas escovando, esfregando e lavando. Seu corpo havia ficado exausto: cada junta de seus ossos doía; as palmas das mãos cortadas, de tanto usar ácidos e outros líquidos para retirar as entranhas de sujeira do local... eram tão finas suas mãos que o esforço excessivo de esfregar, varrer, escovar e lavar fez com que elas ficassem com calos e marcas de sangue pisado.

Ele olhou para seu corpo inteiro, erguendo os braços na altura do rosto, notou os cortes finos e espalhados por cada lugar dele, causados pelas pontas afiadas das pedras: os cortes no seu peito que haviam passado pelo que restava de sua camisa, e nas coxas roxas e em cada pedaço que a calça rasgada permitia ver. Como que em estado de choque, Kurama levou as mãos ao rosto e o acariciou, notando, através de um pedaço de vidro jogado no chão, o quanto ele estava machucado, com cortes fundos e olheiras - estremeceu ; seus cabelos, antes tão bonitos, agora estavam sujos, sem brilho, imundos - sim, era assim que seu corpo estava: imundo... e fedendo a suor e carne podre.

As mãos trêmulas tocaram o pescoço e sentiram a humilhante coleira de aço contendora de Youki, com pontas de ferro saindo dela - aquilo incomodava e machucava demais, ferindo seu pescoço. Baixou os olhos para os punhos e viu a mesma coisa: algemas apertadas, doloridas, que, depois de todo aquele esforço, pesavam terrivelmente... Sem forças de sustentar seus próprios braços, sua coluna não agüentava de dor e cada osso de seu corpo gemia por um lugar confortável e agradável onde pudesse enfim, descansar e dormir... Seus pulmões pediam pelo aroma de suas rosas selvagens - justo o perfume que seu amor - tão distante agora - mais gostava...

Kurama se esforçava ao máximo para se manter afastado do sono, mas não havia modos de manter seus olhos abertos por mais tempo:

"Precisa dormir, Shuuichi... Necessita descansar... Faça isso por mim, por favor." - implorava todo seu corpo, desabando como uma pedra naquela cama estranha.

"Dormir... Preciso... de você, querido... Hiei... frio... muito frio..."

Kurama se encolheu entre os braços, enroscando-se no seu próprio corpo, gemendo e tremendo de frio, cedendo ao avanço da febre que de repente lhe abatia. Porém, não era assim tão estranha: afinal, seu corpo humano vinha sendo molestado a mais de cinco dias sem parar; a falta de Ki, o excesso de trabalho, o descanso que nunca era permitido, os espancamentos e açoites contínuos haviam acabado com suas defesas, e agora seu sistema nervoso lhe jogava tudo isto de uma só vez, como uma bomba explodindo no seu interior. O corpo inteiro tremia, forçando-se a achar um lugar mais confortável para se instalar no frio daquele gelo de ferro.

Mas mal sabia que seu sono estava prestes a terminar, quando um dos guardas designados para vigiá-lo abriu a porta, trazendo aquele ranger das trevas novamente à tona. Os dois olharam e viram o maravilhoso estado do enorme calabouço, esboçando um leve sorriso de maldade ao visualizarem o responsável pôr aquilo deitado em um sono profundo.

Foi somente ao pisarem dentro do calabouço, que ambos notaram que um estranho perfume se instalara no local: aquele cheiro de rosas novas desabrochando pairava no ar, excitando os Youkais.

Os dois se adiantaram, aproximando-se mais da Raposa que dormia profundamente, suspirando de cansaço.

A cabeça ruiva jogada de lado, parcialmente escondida pelos cabelos ruivos, os braços encolhidos, juntamente com as pernas, o corpo se mexendo para frente e para trás fracamente, sem forças; uma face linda se instalara, no rosto tão machucado, e um belo sorriso de felicidade, algo tão puro como a beleza dos anjos novos. Ele sussurrava o nome de seu amante da forma mais linda e meiga possível, o que fez os demônios se aproximarem, com idéias terríveis nas suas mentes doentias:

"Hum... Olhe só isto, Aiko: nosso servo está dormindo em serviço e não passam das dez da noite... Que folgado!"

"Concordo com você, Naiuki: ele trabalhou bem, muito bem, por sinal, mas ainda não é hora de descanso: nosso Amo ainda não permitiu isso. Mas até que se pode ter pena dessa Raposa: olhe só como dorme lindamente... está dormindo com um sorriso de felicidade nos lábios."

"É... e sinta só o perfume que ele exala: rosas... é uma pena ter que acordá-lo para continuar seu ‘serviço’, não?" - Aqui, o instinto maligno desperta, novamente.

Aiko deixa escapar um sorriso maligno nos lábios, antes de:

"Maldito Youko! ACORDE! ACORDE! Kitsune estúpido!"

Eles o puxaram pelas correntes, arrastando-o para fora da cama, levando-o direto ao chão, sem se preocuparem com o pânico despertado em Kurama, ao se ver acordado daquela maneira. Kurama reagiu com a dor, gritando de agonia, por seu corpo ser jogado daquela forma no chão. A agonia se cristalizou no seu rosto dolorido pela pancada com as pedras:

"Não!!! Páreeeeem!!!"

"HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! Está doendo, escravo? Machucou??"

"S-Sim... parem, por favor, Senhores,... chega... eu imploro..."

Kurama falava sussurrando em lamentos, tentando erguer sua cabeça do chão com a pequena força de suas mãos, que não agüentam, e ele cai novamente no solo, derrubado pelos tremores da febre.

"Pobrezinho, está com febre? HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! Lhe avisamos para se alimentar: não quis? Pois aí está: ficará doente, pois aqui não temos tempo para cuidarmos de escravos! HÁ! HÁ! HÁ!"

"É isto mesmo! Agora, levante-se daí, e termine seu serviço!"

"Mas senhor, eu... já acabei... deixe-me dormir... por favor!" - Kurama sussurrou, tentando levantar a cabeça um pouco para olhá-los, apoiando seu corpo nas palmas das mãos, mas sua força mal dava para erguer o queixo, deixando que seus cabelos cobrissem o rosto.

Os dois Youkais viram aquilo, e, rindo, o puxaram rapidamente pela coleira, levantando seu corpo por inteiro, que se retesou num espasmo de dor: nem mesmo Kurama sabia como conseguia agüentar aquilo.

"O serviço não acabou, serviçal: ainda tem os corredores dessa Ala do Castelo para limpar, e nosso Mestre o espera, depois que acabar! Ande logo, venha!!"

"Ande, vamos, Raposa!!!"

"Si-Sim, Senhores..."

Ele não negava mais nada, não sabia nem o que estava falando, dirá o que estava fazendo, tamanha a dor que lhe consumia.

Os guardas foram arrastando-o pela coleira e pelos braços, sua cabeça baixa para encobrir sua face humilhada através das franjas, os olhos fixados no chão, e os passos penosos através de todos os corredores pareciam ser o único som existente naquela parte do Castelo.

As correntes pareciam chumbo em seus pés, dificultando seus passos, o barulho de uivos de dor e gritos de pânico se espalhavam em cada corredor que eles cruzavam: gemidos de Youkais prisioneiros, e de Youkais fêmeas, querendo fugir dos abusos feitos a elas. Abusos bem conhecidos por Kurama... eram todas as mortes assim: diversos gemidos e urros, pedidos de misericórdia saídos dos lábios de diversas fêmeas vassalas, humilhadas a ponto de se tornarem escravas sexuais sem valor algum.

Kurama ouvia a tudo aquilo como se estivesse num pesadelo: sua mente divagava entre seus próprios tormentos em meio a suspiros, o quanto estava febril e sem forças: aquilo o fazia perder os sentidos em relação à ação, pois se estivesse em domínio de sua força, com certeza esmurraria os dois Youkais por se referirem a ele daquela forma:

"Olhe só, Aiko: este Kitsune maldito parece uma fêmea!, um ningen tão fraco e incapaz! Nunca pensei que os humanos fossem assim..."

"Bakas, é o que são; e este aqui, é bem pior: é uma Raposa Demoníaca

disfarçada de ningen que gosta de lavar, arrumar, passar... provavelmente até cozinhar!! HÁ! HÁ! HÁ! Uma ningen bem mansinho... Olhe só como ele gosta de ser humilhado, não é mesmo, escravo?"

"Sim... sim, Senhor..." - Kurama respondia sem muita ênfase: nem sabia o que estava falando direito.

"Nosso Mestre deve gostar demais dele, se não, provavelmente ele já estaria morto... Com certeza, este Youko deve ter algumas ‘qualidades’ que animam muito nosso Senhor! HÁ! HÁ! HÁ!"
 
 

"Ei, imbecil, responda-me: o que seu corpo possui de atraente? Ou será que é este seu amor por um Koorime que faz você especial? Sabia que nosso Senhor já teve uma grande desavença com um Koorime? Será que isto lhe lembra algo, Raposa?"

Eles o instigavam, puxando as correntes e a coleira, ao mesmo tempo que davam várias pontadas em suas costas com os cabos de suas espadas, deixando-o com várias marcas roxas, mas a Raposa não dava resposta: continuava seguindo como se nada estivesse acontecendo. Era a única maneira de não cair no plano sujo de provocações a que o estavam sujeitando.

Caminharam mais alguns metros até chegarem nos corredores principais, longos e enormes, cercados por cortinas vermelhas que arrastavam até o chão; este de mármore azul escuro, com detalhes negros, repleto de desenhos de Youkais e animais.

Algo tão fúnebre e sem vida, um odioso lugar repleto de estátuas de animais macabros e soldados de ferro negro indo até seus olhos perderem de vista.

Um dos demônios ergueu da quina da parede as vassouras, escovas, baldes e outros objetos dedicados à limpeza.

"Aqui estamos: este lugar é todo seu."

"Varra, limpe as paredes e lave tudo. Ande logo, pois os corredores são longos e terá que terminar isto tudo hoje! Ande logo, vamos!"

"Sim, sim, Senhores... Eu... farei o que me mandam, senhores..."

Kurama foi solto para fazer o resto de seu trabalho. Pegou os objetos e começou a varrer o chão; enquanto isto, os dois guardas se distanciaram, avisando que logo retornariam, para ver o progresso.

O ningen se abaixou pegando as vassouras e os baldes, varreu os tapetes e espanou as cortinas; depois de enrolar os tapetes, começou a lavar os mármores que cobriam o chão daquele longo corredor, jogando água e sabão e curvando-se para esfregá-los. Longos e demorados minutos se passaram até ele ter escovado cada pedaço daquelas paredes de pedra, cada junta nos relevos das estátuas.

Então Kurama se levantou e olhou para seu serviço, admirando os desenhos que, antes tão escondidos por sujeira e manchas negras de sangue, agora apareciam maravilhosos, cada um deles se ressaltando de brilho. Ele recolheu com as mãos as longas gotas de suor que escorriam por sua testa, fazendo-o notar o quanto elas estavam feridas: cada uma tinha diversos cortes e rasgos, agora mais profundos e já estavam deixando escapar filetes de sangue: um vermelho que, ao tocar o chão se misturava com a água ainda no local... o mesmo tom de vermelho de seus longos cabelos ruivos. Seus dedos tinham marcas de queimaduras e suas unhas estavam negras de tanta sujeira. Desesperado, Kurama as levou até a face, cobrindo seus olhos com elas, acariciando suas pequenas lágrimas, as que faziam suas íris cor de esmeralda brilharem como chamas - as mesmas que lhe vinham à mente, só que negras...

Era por Hiei que sempre chorava, era por ele que sempre sofria; sentia sua falta: falta de seu cheiro, de suas palavras, de seu amor... era tudo tão perfeito em sua mente, tão real!! Sentia como se pudesse tocá-lo quando fechava os olhos... mas aí, quando os abria novamente, e via onde estava, como estava, seus sonhos se destruíam como um vidro se espatifando no chão: se estilhaçavam... Suas lágrimas faziam este mesmo som, ecoando pelos corredores, enquanto a Raposa caía de joelhos ao chão, agarrando-se aos trapos de suas roupas com força para que seus soluços cessassem.

"Hiei... Itooshii... sinto saudades..." - Era o som que esvoaçava de seus lábios sempre que pensava nele, o seu amor; eram nestes momentos que o Youko tinha mais vontade de chorar: seu coração se apertava ainda mais e o fazia pensar que talvez jamais o visse novamente. Um único motivo o fazia ter essa sensação: não faziam apenas cinco dias que não o via: mas sim, mais de um mês, desde que saíra de sua casa no Ningenkai para ir ao Makai, lutar... Hiei insistira tanto para ele não ir: dissera que tinha um estranho pressentimento, mas mesmo assim, Kurama fora teimoso como sempre, e partira para o Makai para lutar contra seu inimigo... mas não voltara mais: fora aprisionado por Nazago.

E agora pensava que talvez aquele Koorime tivesse desistido de procurá-lo, não sabia se seu amor por ele era assim tão profundo, a ponto de não ser esquecido.

Shuuichi tornou a olhar para o solo, levou as costas da mão para o rosto e enxugou suas lágrimas; não tinha tempo para se envolver com seus sentimentos: precisava terminar com aqueles corredores antes que seus "guardas" voltassem. Ele se ergueu e pegou o rodo para secar as poças de água espalhadas pelo corredor. Após terminar, começou com a esfregar o chão com um pano por cada canto até o lugar reluzir com um brilho onde se podia ver seu próprio reflexo.

"Trabalho feito, menos um: vamos às janelas e paredes, agora. Tenho que acabar logo com isto, antes que o cansaço acabe de vez com os meus braços..." - pensou ele, enquanto desenrolava os tapetes pelos corredores a fora, depois voltou com panos úmidos par limpar as janelas, que por sinal, eram muitas: iam de um corredor ao outro. A vista proporcionadas por elas eram melhor do que todo aquele Castelo: elas davam para os imensos jardins que cobriam a maior parte do pátio, cercando o Castelo por completo com gigantescas árvores e flores de todo os aspectos.

Shuuichi se pegou admirando os imensos jardins, como se fossem uma coisa excepcional: as plantas eram as coisas mais amadas por aquele Kitsune - fazia-lhe despertar um leve sorriso nos lábios e seus olhos se reluziam ainda mais: aquela visão maravilhosa era um renovador de forças para ele.

***

Finalmente ele terminara com os longos corredores atribuídos a ele; agora, recostado numa das quinas de uma das paredes, observava que cada canto daquele local estava realmente limpo: as paredes de pedra haviam voltado a um tom mais claro, as janelas agora tinham seus vidros possibilitados de ver o outro lado, as armaduras tinham vida de tanto que brilhavam, cada desenho no chão estavam com suas cores ressaltadas.

Kurama deu um profundo suspiro de cansaço e voltou-se para a janela: dava perfeitamente para perceber que já eram altas horas da madrugada e que provavelmente os guardas já estariam se aproximando para o pegarem de volta... Agora o levariam para um novo serviço - desta vez, mais imundo do que o outro, e estes pensamentos deixavam Kurama com mais nojo do que podia controlar.

Respirando fundo, ele cruzou seus braços e encarou os guardas que já vinham na sua direção: aqueles passos pesados causavam agora agonia nos ouvidos da Raposa e aumentava mais ainda seu nervosismo e tensão, cujo bolo já lhe torcia o estômago: a voz dos malditos era o rumor das trevas, pronunciando cada sílaba de seu nome, em um prenúncio de que o pior dos seus tormentos ainda estava por vir.

"Então, Kurama, finalmente terminou: vejo que fez um bom serviço."

"Nada mais que sua obrigação. Veja, Aiko: parece que sua teimosia acabou, já está de pé, novamente, e esperando por nós! Um escravo para ser perfeito ao Mestre, deve ser resistente e obediente."

Eles se aproximaram de Shuuichi, carregando suas correntes novamente. Enquanto a colocavam na coleira em seu pescoço, Kurama apenas abaixou os olhos e deixou seus braços caírem ao longo do corpo, em forma de desistência, deixando-se ser acorrentado sem resistir.

"Bom, escravo, agora, irá para o lugar onde nosso Mestre quer vê-lo urgentemente."

"Sim... O ‘Salão das Festas’... HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!"

O tom dado àquela simples palavra era macabro, assim como suas profundas e sádicas risadas. A simples menção daquele lugar aterrorizava a mente de Kurama e fazia suas mãos tremerem, assim como seu próprio corpo, ao lembrar de tudo o que já lhe acontecera... e o que ainda estava a esperá-lo, ali.

O ‘Salão das Festas’ era um local reservado no Castelo, onde poucos Youkais , ou quase nenhum, podiam entrar; mas os que conseguiam a "honra" de serem convidados, tinham interesses de divertimento ao máximo, e de todas as formas possíveis.

Era uma longa e extensa área repleta de portas; por cima de cada corredor existia um "Símbolo", este indicando o tipo de prazer que se queria ter através de desenhos. Alguns tinham formações femininas acorrentadas pelos braços e pernas, vestidas de roupas de couro negro com ligas e cintas - se alguém entrasse ali, significava que pretendia ter sonhos eróticos com fêmeas da forma mais louca possível. Aquilo variava em simbologias de: homens fazendo sexo com fêmeas, ou até mesmo com outros homens, uma vez que no Makai não existiam noções como no Mundo dos Homens - por cada parte que o Youko passava ele ouvia longos gemidos de dor, misturados com o prazer extremo, geralmente proporcionados pôr uma escrava sexual do Castelo; outras vezes ele notava homens e mulheres juntos, gritando e se debatendo com o som de chicotes em sua pele, com as mesmas sendo queimadas com brasas - o cheiro de sangue novo era o aroma dos Deuses para aqueles Youkais que ali se encontravam. O cheiro de carne sendo queimada se misturava ao odor de cera derretida, proporcionando gritos de dor e pedidos de clemência espalhados pelo ventos nos corredores.

Um dos Youkais, Aiko, se pronunciou à Raposa, cínico, ao notar a reação de Kurama, frente ao que lhe aconteceria em breve:

"Que foi... Não gosta? Isto é maravilhoso: este som do prazer dado em todos os níveis é lindo!" - Deliciando-se com o cheiro de medo que ele detectava vindo do humano, Aiko continuou: - "Hoje nosso Amo está com visitas... Acredite: esta noite, você vai ser contemplado com diversões intensas! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!"

"Não é só isto:" - Naiuki continuou: -"Cada um dos Youkais que vêm aqui estão sempre sedentos por sexo diferente, algo que somente o Mestre Nazago pode proporcionar! Sinta o cheiro de gozo espalhado pelo ar: é delicioso! Faz nossas pulsações estourarem de excitação, querendo ter uma chance dessas! Mas é impossível: somente os ‘Escolhidos’ têm esta felicidade, e você, escravo, é hoje, um dos prêmios mais aguardados... Afinal, a fama de vocês, Youkos, é lendária! Fique feliz, e sorria: hoje você estará no lugar de honra! HÁ! HÁ! HÁ!"

Kurama virou o rosto, engolindo em seco, numa tentativa de conseguir controlar o pânico que sentia: daria tudo para não ouvir os milhões de gemidos, gritos e uivos de todas as formas; cada um dos Youkais pedia da forma mais repugnante para o prazer ser maior, para a dor sem mais forte e longa; espancavam uns aos outros, de forma que seus gritos prolongavam a sensação de orgasmo, fazendo-os gozarem como animais. Era nojento; Kurama não queria acreditar que logo, logo, estaria fazendo parte de todo aquele horror: ele tentava mudar de pensamento, quando finalmente chegaram à porta que era a sua, cujos símbolos negros onde figuravam formações de homens e mulheres se espancando e se masturbando sozinhos: a parede era repleta de sangue espirrado pôr todos os lados e podia-se ouvir, ao fundo, o som de chicotes estalando na pele de algum outro escravo.

De repente, saíram de lá dois outros guardas carregando pelo pescoço dois homens e duas mulheres Youkais completamente destruídos - mortos - por espancamento: os cortes atravessavam sua pele, deixando-a em carne viva, seus corpos nus tinham seus membros sexuais arrancados, o sangue que lhes descia dos corpos provavelmente fora o mesmo que se espalhara pelas paredes e pelo chão; era horrível a cena de seus rostos marcados pelo que pareciam marcas de facadas - ou outros instrumentos pontiagudos - que tinham acabado com rostos, lábios e tudo mais que os pudessem tê-los tornados bonitos, um dia.

Kurama olhou para aquilo e sentiu seu estômago revirar: pensou logo que aquilo poderia acontecer o mesmo com ele, caso não fosse obediente e fizesse tudo o que lhe mandassem. Isso o fez fechar os olhos e abaixar a cabeça, deixando-a encoberta por suas franjas, uma das últimas maneiras de os guardas não perceberem o medo e o pavor que lhe subira às veias.

Um dos guardas que acabavam de sair voltou seus olhos para o corpo daquele ningen, dando-lhe uma olhada de cima abaixo nele; em seguida, grunhiu para os companheiros que o traziam acorrentado:

"Acreditam que este pequenino vai satisfazer a sede de prazer de nosso Amo e seus amigos?! Olhe o estado destes aqui: não suportaram nem três horas de prazer com nosso Amo; sendo que eles foram os décimos, nesta noite: parece que nada os satisfaz!"

De repente, ele foi interrompido por um forte grito vindo do interior do quarto:

"MALDITOS!! Tragam alguém que nos satisfaça!! Estes estúpidos Youkais são fracos demais e não suportam nosso divertimento! Estamos impacientes!!"

"Sim, Senhor! Ouviram o que eu disse? Eles hoje estão extremamente sádicos: eu acho que este verme que vocês estão trazendo não vai resolver nada!"

"Acha? Este espécime é uma ‘Encomenda Especial’, meu caro!"

"Ele já foi ‘testado’ por nosso Amo... e quanto a seus amigos, haveremos de descobrir, não é mesmo, Aiko?"

"Sim, Naiuki: e se ele não suportar, vai ser ótimo!!HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!"

Terminaram, enquanto puxavam Kurama para o quarto adentro.

A visão do local não era nada agradável: parecia uma verdadeira sala de tortura. Parecia estar em uma quase completa escuridão, clareada apenas por algumas tochas de fogo.

Conforme Kurama caminhava, pisava sobre restos de corpos espalhados por todo o chão; o sangue grudava nas sapatilhas dele, a cada passo que dava. Ele observava cada parte daquela sombria sala recheada de velas vermelhas e roxas, quando um dos demônios apagara uma tocha, resmungando alguma coisa.

A observação prosseguia: ele notou que ao seu lado esquerdo tinha diversos tipos de chicotes presos a uma parede; uma jaula de ferro suspensa por uma corrente no ar... Era o convite para qualquer situação sonhada por aqueles Youkais; à sua direita via-se correntes penduradas com a finalidade de prender punhos, pernas e pescoço; ao lado, um móvel fechado repleto de coisas estranhas: botas de ferro; coleiras com espinhos eriçados em sua volta; facas de todos os tipos; aparelhos com utilidades diversas, dependendo de qual mente fosse trabalhar com eles. Ao lado deste móvel, havia forcas, arreios de cavalo e selas para se sentar sobre os escravos, e um tipo de estátua de madeira, na forma de um cavalos-de-pau, onde provavelmente se prendia a vítima da noite deitado em cima dele, de costas, com as pernas abertas, vulnerável, tendo seus punhos e tornozelos presos por algemas colocadas abaixo, a cabeça presa por arreios ligados à madeira da estátua, de modo que não tivesse como se defender de maneira alguma de seu algoz. Ou algozes.

Era um local completamente sádico e apavorante.

Os Youkais ali em volta é que eram realmente assustadores: estavam sentados à volta de uma cama de ferro repleta de cadeados, algemas e correntes: esperavam a vítima da noite vestidos com roupas negras coladas ao corpo, com tachas de metal espalhadas por suas jaquetas de couro justas ao peito; correntes que tilintavam nas suas pernas e botas arrastavam-se no chão. Todos encaravam com olhares famintos para aquele Youko/humano... No centro de todos, de pé, em posição predatória e cínica, estava Nazago, com roupas idênticas, às dos outros - a diferença era que seu tórax forte, que podia ser visto pela abertura da túnica era tracejado de marcas egípcias, algumas dando voltas em seus mamilos; os braços tinham pulseiras de couro com espinhos de ferro, iguais à de seu pescoço; o longo cabelo azul descia até seus ombros, com alguns fios caindo por cima de seu tórax; o brinco parecia estar vivo, reluzindo de encontro às luzes das velas roxas sobre ele; um sorriso perverso escapou-lhe aos lábios ao ver seus guardas se aproximando dele, trazendo-lhe seu escravo preferido.

Um deles, Aiko, disse, ao chegarem mais perto:

"Senhor, nós o trouxemos, como seu desejo."

"Nazago-Sama,..." - perguntou um dos convidados: - "... você tem certeza que este ningen fará a nossa noite valer a pena?"

"O quê?"- interrompeu outro, incrédulo: -"Ele vai ser nosso ‘brinquedinho’ esta noite? Não brinque conosco, Nazago: este pequeno verme ningen não nos trará nem sequer um fogo de prazer... Ele não agüentará nossas perversões!"

Um sorriso superior tomou conta dos lábios do Kairui:

"Não duvide de minha escolha, Youkai: este pequeno humano vai ser nosso brinquedinho, esta noite; e irá nos satisfazer muito bem... A não ser que vocês não conheçam a fama de Youko-Kurama."

A notícia cai como uma bomba, no meio dos Youkais, arrancando as mais variadas exclamações:

"O quê? Não pode ser: este é o famoso Ladrão das Trevas, Kurama Youko?"

"Impossível!! Kurama Youko está morto!!"

"Não! Eu ouvi boatos... Boatos que falavam que ele reencarnou em um ningen! Participou até do Torneio das Trevas!"

"Então... vamos poder ver a potência de um Youko, uma das raças mais promíscuas do Makai?? Isso é bom. Muito bom, Nazago-Sama!"

O Kairui se aproximou de Kurama e deu uma boa olhada em seu escravo, pegando a corrente de sua coleira, puxando-o mais para frente, para mais perto dele, deixando-o a centímetros de distância. Com as mãos tocou no rosto da raposa, erguendo-o, enquanto acariciava seus longos cabelos com uma das mãos, levando seus olhos ao encontro dos verdes dele, que se recusava a encará-lo.

"E então, Miako?" - perguntou, sem tirar os olhos dos de Kurama: - "O que achou deste Youko?"

"Hum... Não sei, Nazago: ainda o acho muito humano, para ser o verdadeiro Kurama Youko, o famoso Ladrão e Assassino das Trevas."

"Provoque-o ." - foi a resposta dada por Nazago.

"Se é assim... Vamos, Raposa: sorria! Quero ver seus lábios e caninos aparecendo para mim... Kitsune gostoso de uma figa, este seu corpo é tão reles e inferior quanto um rato! Que me diz, escravo?"

O Youkai se aproximou, pegou-o pelo pescoço através das correntes e deu-lhe um violento tapa em seu rosto, jogando-o ao longe. O sangue escorreu de seus lábios, a violência do golpe quase deixando-o sem voz e respiração.

Kurama encarou-o, erguendo seu rosto para o Youkai, os olhos verdes do Kitsune ardiam em fúria. Com um simples movimento dos lábios, murmurou, revidando:

"Kisama..."

"O quê? Ah... então ele não é um escravo completamente domesticado, Nazago? Isto é bom; muito bom!"

"Senhor Nazago, quer que lhe demos uma lição?" - perguntou Aiko.

"Não!"- Nazago foi taxativo. Tinha outros planos: -"Quero ver sua reação quando libertarmos seu Ki. Segure-o firme pela garganta, Aiko. Miako? Veja!"

Nazago deu um comando com a voz, e, de repente, o Ki de Kurama foi liberado por alguns instantes. Instantes suficientes estes suficientes para o Youki do Youko legendário do Makai aparecer: em frações de segundos, o corpo de Youko Kurama tomou o lugar do de Shuuichi Minamino, as garras do Youko apareceram e seus caninos se sobrepuseram através dos lábios, e seu espírito, em fúria, fazendo-o voar direto na garganta do Youkai que o estivera espancando, atacando com as garras e os punhos, abrindo um enorme rasgo em seu peito.

O Kairui deu um belo sorriso de satisfação no lábios, enquanto via toda a selvageria do Youko em ação, enquanto seu convidado defendia-se desesperado daquele Youko enlouquecido. Sabia que, se dependesse de seu ódio, ele e todos os outros Youkais seriam exterminados ali mesmo, mas apesar de Kurama estar atacando Miako com todo o ódio que sentia, seus poderes estavam totalmente enfraquecidos: seu Ki tinha sido drenado severamente, prova disso era que nem energia para invocar suas tão famosas plantas, ele tinha. Fosse o contrário, Miako há muito já teria sido devorado por alguma das suas planta assassinas.

A raposa estava completamente em suas mãos.

"Muito bom!"- pensou.

"Maldito!! Vou matá-lo!!! Largue-me!!!" - gritou Miako, enquanto lutava para não ser estrangulado pelo Youko.

"HÁ! HÁ! HÁ!" - Riu, cínico, Nazago: - "Isto vai ser muito divertido!"

Imediatamente, Nazago deu outro comando, e aprisionando novamente o Ki da Raposa, trazendo-o à sua forma mais fraca, diante de todos os Youkais que assistiam, chocados, aquela súbita transformação e a luta. Depois, voltou-se aos convidados, dizendo:

"Ouçam todos: este ningen vai ser nosso único brinquedo esta noite... e até nosso prazer se gastar!" - voltou-se então para Aiko e Naiuki: - "Agora, guardas, retirem-se!"

"Sim, Senhor Nazago!"

"Com licença, Amo... Senhores."

Eles se afastaram, desaparecendo na escuridão, enquanto o Youkai aproximou-se de Kurama, já transformado em Shuuichi, que estava tentando se defender dos golpes de Miako. A um movimento seu, Miako controlou-se e o largou no chão. Kurama se negou a olhar para cima, mas mesmo assim obedeceu quando o Kairui, abaixando-se, apertou seu rosto entre os dedos, afastando definitivamente Miako dele, para que o desacorrentasse de suas correntes e da coleira e levá-lo para a cama.

Kurama parecia hipnotizado outra vez, e não reagia aos seus atos: derrotado, sabendo-se sem esperanças de poder fugir, abaixara a cabeça, deixando que Nazago o livrasse das correntes e começasse logo a última parte de seu tormento naquela noite: fechou os olhos. Se lhe fosse permitido, se mataria ali, naquele momento.

Levado por Nazago, levantou-se, foi arrastando seus pés até se aproximar dos Youkais, que logo o rodearam, e começaram a acariciar devagar o corpo daquele ningen, que se encolheu de nojo.

"Vejam bem e apreciem nosso novo prazer: o testaremos hoje, realmente... Eu quero saber se ele pode suportar nosso sadismo!! Peguem-no... e saboreiem-no!!"

"Com muito prazer, Senhor Nazago!"

Eles começaram: cada um passeava com suas mãos pôr dentro do que sobrara da camisa de Kurama, retirando-a rapidamente, da mesma forma que os farrapos de sua calça.

Eram línguas lambendo seu pescoço, nuca; se enroscando em seus mamilos, e umbigo, contornando cada centímetro de seu abdômen, costela, e coluna vertebral... A virilha retraída com os toques de garras e dedos por toda ela, percorrendo suas pernas, coxas, e nádegas.

O prazer saído dos lábios dos Youkais era tão maravilhoso como seus olhos brilhando de excitação: parecia que a pele de Kurama tinha um gosto tentador a todos eles, não deixando-os parar de enchê-lo de carícias por todo o corpo. Eles precisavam vê-lo totalmente nu, mas Nazago os detinha com palavras que atingiam fortemente a mente de Kurama, uma vez que este se recusava a sentir qualquer prazer com aquilo: seus músculos estavam paralisados para alguma sensação que não fosse nojo do que faziam com ele.

"Não se apressem a sentir prazer com ele: vocês ainda não viram nada do que ele pode dar! Vamos levá-lo para o local onde a brincadeira se tornará mais agradável."

"Claro! Mas logo, Nazago: este ningen/Youko tem um cheiro na pele que nos deixa loucos!"

"Sim... ele tem que ser nosso!! É maravilhoso!!"

"Seu corpo é macio, jovem, novo... e saboroso. Queremos ele agora!"

Eles o conduziram até a cama repleta de correntes e cadeados, e o depositaram lá.

Foi quando o Kitsune deu mostras de se dar conta do que estava prestes a acontecer, e rebelou-se, lutando até o fim:

"NÃO!"

"ME SOLTEM!!"

Mas seus esforços de nada adiantaram: foi colocado na cama á força, e teve os braços esticados para cada extremidade.

Kurama se arrepiou ao ser tocado pelo frio do ferro: seus medos pareciam ter sido descobertos quando começaram a e prendê-lo com as correntes.

"NÃO!! PAREM!!" - o pânico pelo que iria lhe acontecer tomara conta de sua voz, e de seu corpo: - "O que estão fazend... PAREM!!!"

"Você logo verá, meu escravo! Vai ser divertido!! HÁ! HÁ! HÁ!"

"NÃO!! Meus braços... ME LARGUEM!!"

"CALE-SE, Kitsune estúpido!"

Os Youkais atravessaram sua boca com uma mordaça, e prenderem seu pescoço com um corrente, aprisionando sua cabeça à cama; Kurama fora amarrado com algemas nos punhos, braços e tornozelos: esticaram suas pernas e a separaram uma da outra, assim como já haviam feito com seus braços, levados acima da cabeça. O humano se sacudia contra as amarras, gemia de desespero, mas os Youkais estavam dispostos a tê-lo por inteiro, da forma mais animal possível... e nada iria pará-los.

Nazago apontou para os outros a parede que estava em frente aonde estavam os chicotes e disse, friamente:

"Pegue cada um o seu: rasgaremos sua pele até sua cueca desaparecer e seu corpo ficar exposto ao nosso prazer!"

Os olhos verdes de Kurama arregalaram-se com o mais puro pavor. Sabia bem o que haveria de vir... e rogava a Inari para ter forças para suportar o suplício.

Cada um pegou o seu chicote e começaram a seção de tortura: As finas tiras de couro rasgavam a pele de Kurama, fazendo-o gemer; os cortes saltavam em suas pernas, como o sangue que espirrava a cada chicotada... ao mesmo tempo em que outros prendiam espinhos em seus mamilos.

Os chicotes ricocheteavam por seus braços, rosto, peito, estômago e pernas... Os gritos de Kurama aumentavam à medida que a força dos carrascos era maior, fazendo o sangue escorrer de toda sua pele, escorrendo pelas correntes e pelo ferro, até o chão. As risadas dos Youkais eram de puro êxtase com aquele divertimento macabro.

As mãos do humano chocavam-se diversas vezes contra o ferro, seus punhos se marcavam de sangue de tanto que eram forçados contra as algemas, na agonia de tentarem se soltar. O rosto desesperado do Kitsune estava marcado com pequenos cortes nos lábios e nas faces; seus olhos se fechavam a cada vez que sua pele era rasgada pelas tiras de um chicote; a boca se machucava na mordaça, por causa da violência das mordidas na mesma, na luta para evitar dar o gosto aos seus algozes de lhe ouvir gritando... e dos seus gritos de dor, quando esta se tornou, então, mais do que ele poderia suportar.

Gritos estes que se tornaram assustadores, quando sua última peça de roupa fora retirada. Seu corpo ficara nu por completo...

"Ah, agora sim, você será nosso por completo!"

"Vamos ver o quanto você agüentará, escravo!" - falou Nazago.

"Esperamos que mais que os outros, Nazago-Sama!"

"Verão: será muito melhor!!"

Os Youkais se desvencilharam de seus chicotes, colocando-os para trás, assim suas mãos ficavam livres para os toques no corpo de Kurama. E foi exatamente o que fizeram; se dividiram em grupos, então, para que todos pudessem aproveitar o máximo possível do prêmio da noite.

As mãos começaram a percorrer em círculos suas coxas e tórax, várias mãos contornando e apertando os músculos de seu abdômen, suas costelas e costas; acompanhadas de línguas que se dividiam, ora lambendo seus mamilos e os mordendo loucamente, ao mesmo tempo que sugavam os fios de sangue que deles desciam, outras que passeavam pelos contornos de seu pescoço, até que um mais afoito não resistiu, e mordeu-lhe o pescoço, enfiando os caninos até o sangue começar a escorrer entre seus lábios azuis, enquanto com a outra mão ia agarrando seus longos cabelos com força, trazendo sua cabeça para trás, deixando o pescoço ainda mais vulnerável, prolongando a agonia da raposa. Os desesperados gritos que saiam de sua boca eram tão fortes quanto os gemidos de seus senhores: aquele prazer louco e insano dos Youkais era agonizante para Kurama.

"Grite! Grite!! Maldito escravo... Grite de prazer e orgasmo!!"

Era o que dizia Nazago, enlouquecido com todo o espetáculo.

Mas Kurama se recusava a gemer e a gritar de excitação: nunca teria orgasmo com aqueles insanos tocando e machucando seu corpo; ele tinha o mais abjeto nojo e ódio profundos, fechando os olhos quando um deles encostava em sua face, lambendo-a por inteiro...

De repente, Kurama teve um espasmo repentino de pânico:

Foi quando as mãos de alguns do Youkais se engalfinharam em seu pênis, apertando-o de forma contínua, masturbando-o, deslizando as línguas em seu contorno, suspendendo seu membro até suas bocas e chupando-o freneticamente, o que deixava outros Youkais terem sessões de loucura com aquela visão, querendo provar o saboroso gosto de seu pênis.

O grito agônico de Kurama foi um urro de vergonha e desespero tais, que quase rasgou a mordaça que lhe machucava a boca.

Mas aqueles seres ensandecidos por prazer não pararam: aquela visão de outros deles engolindo, sugando, o membro de Kurama, provocava os demais de tal forma, que eles precisavam tocá-lo com mais intensidade, tê-lo por completo: ouvir seus gritos e gemidos que lutavam para não sair de seus lábios.

Então Nazago arrancou-lhe, num só golpe, a mordaça de sua boca... e sufocou-o com um longo beijo em seus lábios machucados, cruzando sua língua na dele, decidido a sugar toda a doçura daquela boca; eriçando seus mamilos e apertando, repentinamente, seu membro em uma das mãos enormes. Apesar de Kurama negar, aquele prazer insano tomava conta de seu corpo: ele não podia esconder a necessidade de tudo que o compunha explodir por sua pele, em êxtase pleno...Não dava para suportar: a carne era mais forte que a mente, e seu corpo estava sendo tocado nos pontos principais de orgasmo de maneira implacável... e cruel. Ele gemeu, quando Nazago finalmente arrancou seus lábios dos dele, e partiu para mordidas em sua clavícula e pescoço, lambendo seu lóbulo e mordiscando cada dobra de sua orelha, fazendo os gritos de seus lábios aumentarem, se misturando ao prazer e ao ódio de forma incontrolável.

"Isto: gema, grite, em excitação! Carregue sua voz nos êxtase da loucura do sexo... Eu quero vê-lo em colapso nervoso, com nossos choques de prazer, Kurama!" - Nazago ameaçava, sussurrando em seu ouvido, vendo-o quase enlouquecido por seu intento.

"Continue, Raposa maldita... Você é excelente!" - gritou um Youkai.

"Escravo maravilhoso: esta sua resistência nos enlouquece!!"

"Sim... Este sabor puro, intocável, é um privilégio para nós encontrarmos alguém que finalmente nos suporte, em todas as loucuras imaginadas por nós!!"

Eles enlouqueciam com seus gemidos e gritos, e suspiravam cada vez mais, aumentando a pressão de seus apertos no seu corpo: as línguas corriam sua virilha, lambendo-a, causando choques em cada músculo da raposa, que começava a tremer loucamente com aquela insanidade.

Kurama se aquecia, suava como um dos Youkais loucos por orgasmo, a cada chicotada - que haviam começado novamente em seu corpo: eles se trocavam em chicotes e carícias, chupões e lambidas em cada local erógeno dele.

Até que Nazago se dispôs a completar seu orgasmo, subindo no corpo de Kurama, e o penetrando com seu membro enorme, de forma frenética, assustando os outros Youkais à sua volta, e fazendo Kurama gritar, alucinado pela dor, tal a violência do ataque.

"Nós queremos ele! Pôr que você foi o 1o, Nazago?"

"Ele é meu escravo e servo! Se quiserem, façam depois com ele o que quiserem... Depois. Mas agora, ele é MEU!" - gritou.

Os Youkais prosseguem com os açoites, e carícias, mas Kurama não consegue atinar com mais nada ao redor: seu mundo resumira-se a uma explosão de dor... seus gritos transformam-se em uivos, causados pela violência das penetrações de Nazago em seu corpo: o desgraçado parecia determinado a matá-lo... ou a dividi-lo em dois!!... a dor era tamanha, que Kurama sentia-se sem voz, sem ar, sufocado por aquela imenso e desumano membro dentro de si.

As lágrimas desciam silenciosas dos belos olhos verdes, como que vidrados, fora de foco, num testemunho do sofrimento e das torturas a que estava sendo submetido... e seguiam caminho, fazendo os cortes em seu rosto arderem ainda mais.

Nazago-Sama agarrara seus longos cabelos ruivos fortemente com uma das mãos, enquanto se movimentava com mais velocidade dentro dele; penetrações bruscas, rápidas e dolorosas, disposto a provocar um gozo longo no interior do Youkai/Humano: sua cabeça se jogou para frente, arquejante, as coxas propuseram a controlar o orgasmo infindável que ele estava atingindo, forçando-se ainda mais fortemente para dentro de Kurama:

"Você é delicioso, Kitsune!! Uma foda... maravilhosa!" - gritava, entre gemidos de prazer e êxtase.

"MAL... DI... TOOOO!!!!!!!!!!!! EU..." - Kurama conseguiu falar, quase sem forças.

"Chega de ser teimoso... e GOZE!!" - Ordenou o Kairui.

"PÁRE!! ESTÁ ME MACHUCANDO!!! CHEGAAAAAAAAAAAA!!" - a dor o estava levando quase a implorar, aos gritos.

"Não! NUNCA!! IMPLORE, como o escravo que é... TENHA PRAZER!!!"

"NÃO!!!!!" - Ele respondeu, com ódio.

Mas a pressão aumentava, conforme as chicotadas, mãos, garras, línguas, em seu corpo, e as penetrações de Nazago, dentro de si, estavam levando-o à loucura. Até que um Youkai agarrou-lhe a cabeça, enquanto outro o fez abrir a boca, e envolver, à força, seu sexo... e engolir seu sêmem. A reação de Kurama foi a mais dolorosa possível: sentir aquele líquido nojento descendo por sua garganta adentro, o fez perder os sentidos, sentir vontade de vomitar; sufocado, sem ar, moveu com mais força seus punhos nas algemas, tentando se soltar, machucando-os mais ainda. Os sacolejos sobre seu rosto faziam sua cabeça queimar de dor, finas lágrimas escorriam de seus olhos, a falta de ar trazia à sua face uma terrível agonia, curvando suas sobrancelhas em pânico.

Até que o Youkai se retirou, e Kurama soltou um grito, respirando fortemente, enquanto Nazago, após observar a cena, voltava sua voz a ele, aumentando a violência das penetrações em seu ânus, no qual sentia-se penetrar mais e mais, até o fundo, haja vista que agora seu pênis estava sendo banhado por um excelente lubrificante: sangue.

"E agora, escravo? Que acha? Vai continuar sendo agressivo?"

"Não... Não! Pare com isto!" - Kurama respondeu, quase sem voz.

"Não é assim que se deve responder, vassalo: ande... peça, implore!... ou continuaremos com nosso prazer!" - Nazago torturava-o, falando quase que em cima de seus lábios: baixara o corpo enorme, musculoso e pesado até colocar as mãos lado a lado da cabeça de sua vítima, enquanto que, com os quadris e as coxas musculosas, ia estocando Kurama, sem piedade. O sangue do humano já tingia suas coxas: o seu cheiro, juntamente com o odor de seu próprio esperma, estava quase deixando-o quase louco de tanto gozo... Mas dobraria aquele humano teimoso: até o fim!

"Por favor... por favor, Senhor... eu... imploro..."

"Implora... o quê?"

"Continuem... continuem!! Eu... lhes darei tudo que quiserem..."

"Por quê?"

"Por que... o Senhor é meu dono! O Senhor manda... e eu obedeço! cada ordem sua... é uma ordem para mim, Mestre... NAZAGO-SAMA!"

Desistira.

Kurama gemeu por dentro e, fechando os olhos, chorou lágrimas de vergonha invisíveis no seu interior...

Desistira.

Aquele horror o fizera se quebrar: seu corpo não agüentava mais, e sua mente não suportava mais tanto sofrimento... Tivera que ceder seu orgulho.

Ele perdera o primeiro round da luta.

"Assim é melhor, querido servo: agora vai ser bem mais interessante..."- Nazago comentou, enquanto observava o ser derrotado e humilhado abaixo de seu corpo. - "Tenho que admitir que você é realmente delicioso... e resistente: foi minha melhor escolha."- Aqui, inclinou-se mais, até chegar próximo da boca da Raposa, a ponto de sentir sua respiração, e quase tocar-lhe os lábios com os seus.: - " Será meu para sempre, Kurama-Youko..."- Tomou-lhe os lábios com um beijo selvagem, como se a marcar a posse definitiva de Kurama, até que subitamente interrompeu o beijo, para rir, triunfante:. - "Minha Raposa de Estimação!!!! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!"

Depois disto, eles se revezaram, cada um penetrando em Kurama de uma vez, ou várias vezes, variando em sua boca, já outros o faziam chupar seus pênis, e outros queriam fazer isso com o seu.

O Youko se entregou ao cansaço, não resistiu mais: seu corpo cedeu à eles; gemia e tinha os prazeres que quisessem seus donos. Ele na realidade, não sentia mais nada: fechara seus olhos, seus ouvidos, sua alma... para não ouvirem mais nada, deixando sua mente vagar no vazio. A única coisa que ele jogou para fora, foram suas lágrimas: finas, pequenas e delicadas como um dia ele mesmo fora... pois, agora, a única coisa que ele desejava, era a morte.
 
 

***
 
 

"Você foi meu melhor escravo, minha Raposa: o melhor prazer que nenhum outro nos deu antes, a mim e a todos eles..."

Foi o som de uma voz que Kurama ouviu quando teve forças para abrir seus olhos... Ele somente viu um vulto do rosto do Kairui, sentiu suas mãos tocando seu rosto e afagando seus cabelos... A imagem demorou muito a se formar, mas quando ela o fez, ele pôde se localizar: estava novamente em seu "quarto", deitado sobre os farrapos de lençóis e colchão. Kurama teve vontade de apalpar tudo à sua volta, inclusive seu corpo, bem devagar, mas não conseguiu: sentia-se cansado, exausto, sem forças nem mesmo nos músculos de suas pernas e braços; qualquer esforço que fizesse para se mexer daquela posição seria quebrado pela fraqueza. As peças de roupa que estava vestindo impossibilitavam de ver se os ferimentos estavam tão profundos quanto da mesma forma que lhe vinham à mente nublada por aquele verdadeiro pesadelo em vida, mas a única coisa que conseguiu foi respirar profundamente... e deixar sua cabeça ser confortada pelos braços fortes de Nazago-Sama.

Seus belos olhos verdes, timidamente abertos, assim como seus lábios, observavam-no, apenas prestando atenção aos gestos e fala de seu dono.

" Hum... Então você acordou, minha pequena Raposa... Está cansado? Imagino que esteja... mas não se preocupe: seu corpo está sendo devidamente cuidado por meu Youki; afinal, não quero que meu melhor escravo sexual morra, não é mesmo?"

Kurama responde com um gemido... ele podia sentir que o poderoso demônio não estava mentindo: as dores em todo seu corpo eram fortes, mas seus ferimentos não estavam abertos como ele esperava, sinal de que, mesmo que quisesse, sua vida não corria perigo: Nazago jamais deixaria sua mais preciosa "mercadoria" morrer, não importava o que acontecesse.

Os toques de Nazago em seu rosto tão machucado e sofrido trouxeram arrepios em sua pele, e o fizeram encolher-se e retrair as pernas, com medo. As mãos do Kairui deslizaram por cada lado de sua face, e depois os dedos se enroscaram em seus longos fios de cabelo, enquanto ele falava, murmurando calmamente, como que para acalmá-lo:

"Não tenha medo, eu não vou machucá-lo... se não me desobedecer, é claro! Vamos, o que me diz? Não é melhor ser bonzinho e obediente, escravo?"

"Si-sim, Senhor... Obrigado, Nazago-Sama..." – a voz de Kurama, doente, nada mais era que senão um sopro.

"Assim é melhor!" – vendo o jovem humano deslizar, indefeso, novamente para o sono, enquanto era embalado pela imensa energia de seu Ki, Nazago continuou, com um brilho maligno nos frios olhos cinzentos: -"Você logo vai ficar tão manso quanto um animalzinho domesticado, Kurama... Isso é só o começo! HÁ! HÁ! HÁ!"


Fim do 1o capítulo.

By Hakura Kusanagi

Capítulo 2

O Amor Nunca se Esquece

Página de Fanfics de Yuyu
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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