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ROCHA VIEIRA DEBAIXO DE FOGO,  Expresso, 22/1/00

 

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Rocha Vieira debaixo de fogo

in Express 22/1/00

 

A ATRIBUIÇÃO de um subsídio de 1,2 milhões de contos, ainda enquanto governador, a uma fundação portuguesa para a qual foi depois nomeado presidente, está a suscitar severas críticas em Macau contra o general Rocha Vieira. Contactado pelo EXPRESSO, o general remeteu para um comunicado do conselho de curadores da fundação, que afirma apenas que essas críticas partem de «informações incompletas».

A história começa em finais de Novembro passado, quando Rocha Vieira, como presidente da Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau, deu ordem para transferir 50 milhões de patacas (cerca de 1,2 milhões de contos) para a comissão constitutiva de uma fundação com o nome de Jorge Álvares (primeiro navegador português a chegar a Macau). Esta fundação propunha-se prolongar a cooperação entre Portugal e a China através de Macau - encarregando-se, nomeadamente, da dinamização do Centro Científico e Cultural de Macau (sediado em Lisboa e dependente do Ministério da Ciência e Tecnologia).

Em finais de Dezembro, a Fundação Jorge Álvares pediu o cumprimento da ordem de pagamento à FCDM, o que esta cumpriu. A fundação obteve também um financiamento do magnata do jogo Stanley Ho (mais 50 milhões de patacas). Além da comissão constitutiva (integrada por Alexandra Costa Gomes, directora do Centro Científico, e o advogado Manuel Coelho da Silva), a Fundação surge com um conselho de curadores, que inclui os antigos governadores de Macau.

Dinheiro do jogo financia Fundação

A notícia da existência da fundação, e de que Rocha Vieira é o seu presidente, surgiu no passado dia 13 através dos órgãos de comunicação sociais portugueses no território. A forma como foi anunciada (causando surpresa) fez com que fosse encarada em Macau como um mero organismo canalizador da saída de dinheiros do Território para Portugal - uma vez que a FCDM, que atribuiu o subsídio, é financiada pelo dinheiro do jogo. Idênticas acusações tinham no passado sido dirigidas à Fundação Oriente - de tal forma que catalisaram os trabalhos do Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês sobre o futuro de Macau, tendo resultado na perda das receitas do jogo por parte da Fundação Oriente.

Na Imprensa chinesa, o ex-governador foi acusado de ter trocado a política pelo dinheiro e a sua fundação é referida como uma repetição da canalização de fundos de Macau para Portugal, igual à levada a cabo pela Fundação Oriente - como afirmava o jornal «Ou Mun», tido como uma voz oficiosa de Pequim em Macau.

Os ecos da imprensa chinesa motivaram de imediato reacções políticas. A Associação do Novo Macau Democrático protestou formalmente contra a transferência dos 50 milhões de patacas da FCDM para a Fundação Jorge Álvares. A seguir, Susana Chao, presidente da Assembleia Legislativa anunciou não estar disponível para integrar o conselho de curadores da Fundação e Anabela Ritchie, sua antecessora, tomou igual posição.

O chefe do Executivo de Macau, Edmundo Ho, veio anunciar em conferência de Imprensa, na quarta-feira, a constituição de uma comissão independente, para averiguar não só a forma como os 50 milhões de patacas foram transferidos da FCDM para a Fundação Jorge Álvares, mas também dar parecer sobre as formas de melhor controlar as actividades daquela instituição. A comissão - formada por um juiz do Tribunal Administrativo, um advogado e deputado da Assembleia Legislativa e por uma contabilista - tem agora 45 dias para apresentar a Edmundo Ho um relatório exaustivo.

Edmundo Ho, que tinha sido curador da FCDM até Outubro do ano passado, afirmou-se desconhecedor de toda a tramitação que envolveu a transferência do dinheiro. Os trabalhos da administração portuguesa não necessitavam da aprovação do chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau, que na altura era apenas indigitado - disse Edmundo Ho, demarcando-se do processo.

Esta questão poderá constituir mais um embaraço para Edmundo Ho, a juntar à controvérsia gerada pela proibição de entrada em Macau, há duas semanas, de uma militante do movimento pró-democracia da China, oriunda de Hong Kong, e ao problema da circulação de cidadãos de Taiwan através do aeroporto de Macau, utilizando os passaportes daquela ilha nacionalista, que a China não reconhece.

Fundação diz que Ho sabia de tudo

Para um mês de mandato, há quem afirme que já são problemas a mais e que tudo terá origem na actividade de certos sectores fundamentalistas, apostados em retirar poder ao chefe do Executivo. Mas a controvérsia poderá levar Edmundo Ho a cercear a autonomia do conselho de administração da FCDM.

Em Lisboa, e após a sua primeira reunião, esta semana, o conselho de curadores da Fundação Jorge Álvares emitiu um comunicado, em que considera que as notícias na Imprensa «partem de um conhecimento parcial do que é o objectivo da Fundação». E afirmou-se certo de que «o futuro dissipará qualquer interpretação inadequada que seja feita na base de informações incompletas e que não se aplicam ao caso específico da Fundação Jorge Álvares».

Fonte próxima do conselho de curadores afirmou ao EXPRESSO que a existência da fundação era bem conhecida em Macau e por Edmund Ho. E que Rocha Vieira foi escolhido para a presidência apenas por ser o último governador, o que facilitaria o arranque da Fundação, destinada a dinamizar projectos de cooperação com Macau (como projectos de investigação e bolsas de estudo).

JOÃO GUEDES, correspondente em Macau
com ANA PAULA AZEVEDO

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