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ROCHA VIEIRA SAI MAGOADO COM HO,  Expresso 27/5/00

ROCHA VIEIRA SAI MAGOADO COM HO

 Expresso 27/5/00

Rocha Vieira e os demais seis ex-governadores vivos - todos eles curadores da Fundação - alimentaram a esperança de que a visita de Edmund Ho a Portugal pusesse fim à controvérsia. Em carta enviada a este último (e a que o EXPRESSO teve acesso), Rocha Vieira chegou mesmo a propor que «para encerrar este desagradável assunto, seria necessária uma declaração formal de Vossa Excelência apoiando a decisão que tomei, acreditando que tinha o vosso acordo» . Na sua missiva, o general invocava as «várias conversas que tivemos sobre» a FJA, em que formara «a firme convicção de que Vossa Excelência tinha concordado em que esta iniciativa seria positiva e útil» para Macau. A carta foi escrita antes de serem conhecidas as conclusões do inquérito mandado instaurar por Ho ao financiamento da fundação e que foram críticas para o ex-governador.

Reforçando a expectativa criada sobre a visita a Lisboa, os ex-governadores dirigiram, através dos canais diplomáticos, uma carta a Edmund Ho, propondo-lhe um encontro. A carta foi assinada pelo general Lopes dos Santos, o mais velho e o mais antigo dos ex-governadores de Macau - o mesmo que, na primeira reunião de curadores da fundação, propôs o nome de Rocha Vieira para presidente.

«Very unfair»

Foi com alguma surpresa que não foi incluído no programa oficial da visita (de três dias) qualquer encontro com Rocha Vieira e com os restantes ex-governadores. Esta lacuna no programa delineado por Macau foi interpretada como revelando pouca vontade de Edmund Ho em abordar o «dossier» da fundação - que ele, aliás, já declarara publicamente como encerrado. Perante as insistências e as especulações dos jornais, o encontro acabou por ter lugar, mas à margem do programa, durante a recepção oferecida pelo responsável chinês ao fim da tarde de sexta-feira num hotel da capital. À vista de todos os convidados, Edmund Ho e Rocha Vieira sentaram-se a um canto da sala «Jardim de Inverno», após o que se lhes juntaram os seis outros ex-governadores, bem como a presidente da Assembleia Legislativa da RAEM, Susana Chou.

Durante mais de uma hora o tema da conversa foi um só: a fundação liderada por Rocha Vieira, financiada por dinheiros de Macau e sediada em Lisboa. Segundo fontes presenciais, Ho confirmou que Rocha Vieira o informara do projecto da Fundação e da origem dos fundos. Explicou que fora levado a nomear uma comissão de inquérito a partir do momento em que o seu nome surgiu nos órgãos de informação como estando associado ao projecto. Repetiu o que já dissera aos jornalistas, em Macau e em Lisboa - que, por ele, o assunto está encerrado, apesar dos inquiridores terem sugerido implicitamente a abertura de um processo tendente a que a FJA devolva à Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau o controverso subsídio de 1,25 milhões de contos. Durante a conversa, Ho não escondeu a sua incomodidade. Reconheceu mesmo que Rocha Vieira fora colocado numa situação assaz delicada - «very unfair» («muito injusta»), foi a expressão que utilizou por várias vezes. Mas quando lhe foi colocada a hipótese de fazer uma declaração pública de apoio à fundação, o responsável pela governação de Macau recusou liminarmente. Com o argumento de que as circunstâncias políticas mudaram muito e que lhe escasseia a margem de manobra. Entre os presentes, terá ficado a sensação de que os sectores mais ortodoxos de Macau, que questionam uma relação privilegiada com a antiga «potência colonial», não lhe perdoariam.

Fusão das fundações

No sábado, antes de tomar um avião com destino a Paris - a segunda e última etapa do curto périplo pela Europa -, Edmund Ho não escondeu o seu desagrado com a conversa com os ex-governadores. Chegou mesmo a lamentar que ela o tivesse impedido de ter estado com os seus convidados para a recepção.

Em Paris, onde permaneceu até quarta-feira, Ho teve uma rápida audiência com o Presidente Jacques Chirac. Ao nível do Governo, avistou-se com o secretário de Estado do Comércio Externo. A deslocação a Bruxelas, que chegou a ser anunciada, foi, entretanto, cancelada.

Assim, em termos substantivos, a primeira deslocação ao estrangeiro de Edmund Ho, desde a transferência de Macau para a China (em 20 de Dezembro de 1999), resumiu-se praticamente a Portugal. E a verdade é que as autoridades de Lisboa fizeram questão de o receber ao mais alto nível: Presidentes da República e do Parlamento, chefe do Governo e uma mão-cheia de ministros. O caso da fundação, porém, acabou por dominar as atenções. Levando mesmo Jorge Sampaio a afirmar, no sábado, à Rádio Renascença que o general «vai ter que dizer alguma coisa» sobre a Fundação. O Presidente, apesar de ser crítico em relação à forma como a fundação foi constituída, não deixou de apelar: «Não vamos crucificar pessoas como Rocha Vieira, que prestaram grandes serviços» ao país.

No rescaldo da polémica sobre o financiamento da FJA, Ho nomeou uma comissão para estudar uma solução para as duas fundações existentes em Macau. Tudo indica que se avance para a fusão da Fundação Macau com a Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau, ambas presididas por macaenses (Rodrigues Júnior e Gabriela César, respectivamente). É dado como certo que o futuro homem-forte venha a ser um quadro chinês da confiança de Ho.

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA

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