Rosalvo Batista dos Santos


Meu velho ROSA

Rosalvo Baptista dos Santos, sêo Rosalvo, sêo Rosa, ou tio Zavo como o chamava Arturzinho, nosso primo Arthur Regis, neste 9 de julho, se estivesse vivo estaria completando 104 anos, e com certeza em minha casa comemorando o seu aniversário como fizera nos 25 anos que antecedera a sua morte. Desde 1961 quando me transferi para Recife para abrir a filial da Odebrecht e nela exercer a função de Gerente Administrativo e Financeiro para todo o Nordeste, que meu pai, meu querido Rosa, no dia 8 de julho, de todo ano aparecia na minha casa para comemorar com minha família o seu aniversário. E foi me lembrando disso que hoje, ao escrever esta crônica ( crônica? Sei lá! Isto que estou escrevendo) para o site dos Pereira, decidi homenageá-lo.
Homenagear-me? Perguntaria ele se estivesse presente. Está maluco! Acrescentaria. Tudo bem. Vou registrar a ocorrência do seu aniversário em 09 de Julho de 1969:
Às 18:00 hs. do dia 08/07/69 recebí no escritório o telefonema de Dete informando que ele chegara de viagem já tomara banho, e perguntara a que horas se jantava na nossa casa. Somente as 20:00 hs consegui chegar em nossa residência. Mal abri a porta e deparei-me com aquele homezarrão de 2 metros de altura, corpo atlético, vozerão forte, braços abertos para me erguer a altura de seus lábios e me beijar com o carinho e o amor que os pais sabem fazer e dizer: "vim comemorar meu aniversário com vocês, meu cabloco". Pedi-lhe a benção como é costume na família, e desculpas pelo atraso. Abençoado com o clássico: Deus lhe abençoe e o faça feliz. Disse-me: pelo atraso não precisa se desculpar. Dete já me serviu um jantar de rei! Somente estava esperando você chegar para ir dormir, porque homem que tem vergonha na cara dorme cedo. Amanhã a gente conversa! Cinco minutos depois ele estava ressonando. Sono dos justos. Dos homens simples, diria ele. Dos sábios eu acrescentaria. Banho tomado, roupa trocada, uisquinho bebido, pedi a Dete para me servir o "jantar de rei" . E prazerosamente jantamos um surubim grelhado ao molho de alcaparras. Seo Rosa sabia das coisas! E Dete o tinha como pai! Antes de dormir, recolhi ou melhor escondi todos os rádios de pilha dos meus filhos e outros instrumentos ou objetos que pudessem ser usados por meu pai na madrugada quando ele acordasse, para me despertar e começar a conversar. Porque conversa proveitosa se trava na madrugada, segundo ele. De nada adiantou. Às 4 horas fui despertado com batidas na porta do meu quarto. Hora de começar a conversar. Novamente: a benção, beijos, abraços, PARABÉNS! Muito assunto para conversar. Queria que eu fizesse um estudo de viabilidade econômica para um alambique que ele pretendia montar na fazenda. Tomamos café e às 7 horas já estávamos no escritório. Abri a agenda (nada de computador naquele tempo. Agenda mesmo, escrita na mão grande) cancelei alguns compromissos, transferi outros, pedi a secretária para somente passar as ligações que não se pudesse deixar de atender e informasse aos interessados a intervenção feita na agenda . Pronto sêo Rosa. Sou todo ouvidos: Ouvidos? Neste momento quem são ouvidos sou eu. Voce tem que ser voz! E aí? O que você tem a me dizer? Antes que lhe pedisse dados ele sacou da pasta um monte de notas fiscais, registro na Junta Comercial, enfim todos os comprovantes da existência de um negócio pronto para funcionar, ou de um convite para a inauguração de um alambique, ou para descascar um grande abacaxi sobre a mesa. Pedi um prazo de uma semana para estudar a questão e prometi visita-lo em seguida para examinar a coisa in loco. Meio dia fomos pegar o carro na Garagem Atlas onde eu possuía uma unidade e enquanto esperávamos o elevador trazê-lo um dos dois senhores que estavam dialogando entre si de nós se aproximou para informar que eles tinham feito uma aposta: ele, a pessoa que veio falar conosco achava que éramos irmãos enquanto o seu amigo tinha certeza que éramos pai e filho. Aos risos papai respondeu: perdeu amigo velho! Somos pai e filho! Qual dos dois é o pai? Perguntou o senhor? O carro chegou saímos as gargalhadas e meu pai pleno de felicidade. Ganhou o melhor presente de aniversário que podia ter ganho! "Almoço de festa." Elogios à Dete. O velho sabia agradar as pessoas. Sesta. Resto do dia para fazer compras e visitar amigos. "Mostrar que estava vivo! " Na madrugada seguinte carro na estrada. Ele tinha pressa. Precisava preparar uma surpresa para mim. No fim da semana quando cheguei na fazenda dele com o estudo quase pronto, faltando apenas alguns dados sobre a produtividade da cana à ser usada e custos de alguns insumos e da mão de obra local. SURPRESA... O velho pregara-me uma peça! O alambique estava pronto para entrar em operação. O que ele queria era demonstrar que ainda era o mesmo Rosalvo, ativo, empreendedor, capaz de tocar um novo negócio, trabalhoso é verdade, de baixa rentabilidade, também, mas trabalho e riscos fazia parte do seu perfil. O velho Rosa era assim: Trabalhador, amigo, sincero, alegre, simples. Coração de criança, olhos de águia para enxergar à distância, cabeça inquieta, veloz, cheia de idéias e soluções, cabeça de processador ultra rápido, diria hoje, envolvente, braços e pernas fortes para mover montanhas.
Meu pai, orgulho-me de você! Um beijão. Que Deus lhe proteja em sua eternidade!


Seu filho, LUIZ CARLOS
03:04 hs de 09/07/2007 ("Trabalho se começa cedo, deve ser perfeito e se termina com rapidez". Legado de sêo Rosa.)

 

 

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