Nogueira Batista II

Capítulo I

 

Capítulo II

 

..... Em família, transmitiu-se oralmente, que os BAPTISTA eram descendentes de JOÃO BAPTISTA DOS SANTOS, que migrara de Portugal para integrar a tropa de Garcia d´Ávila, dar segurança às suas Bandeiras e aos currais instalados nos locais conquistados aos índios. Daí talvez se possa explicar o espírito empreendedor e a disposição de MANUEL BAPTISTA DOS SANTOS, pai de meu pai, para o trabalho, liderança de ações e observação de princípios éticos e morais. Os limites das Fazendas Quiricó e Quirocozinho, que foram legadas à família com a morte prematura de seu pai, quando ele completou 6 anos de idade, ficaram estreitos para Manuel Baptista.
Ele sonhava com outras coisas. Queria estudar. Ser doutor como seu primo Arnaldo que estava estudando medicina na Bahia (depois de formado foi Prefeito de Catú no período de 1917 a 1919, inclusive); negociante em Pojuca como o marido de sua irmã Mariquinhas, (Maria Baptista dos Santos que passou a se chamar Maria Baptista Lemos, quando se casou com Emídio Seraphim Lemos, que vem à ser os avós de José Lemos de Santana, fundador e proprietário da rêde de Farmácia Santana).
Ao completar 12 anos arrumou sua malinha e foi morar na vila de Pojuca na casa de Mariquinhas e Emídio. Ali dividia seu tempo com a escola e o balcão do seu cunhado. Logo interagia com Totonho, Mário. Menandro e Wanderlino, todos Nogueira, seus futuros cunhados, em favor de Pojuca e de sua separação de Catú. Com suas economias e algum dinheiro recebido de sua mãe, Manuel se estabeleceu com um pequeno armazém de compra e venda de produtos locais: farinha de mandioca, fumo, feijão, peixe salgado. Ganhou dinheiro e percebeu que seu crescimento comercial dependia de uma maior demanda dos produtos de Pojuca e que teria que procurar outros mercados.
Ambicioso partiu para Salvador ao invés de ficar na periferia de Pojuca, e começou a negociar com arame farpado, sal, café em grãos, querozene, adquiridos na Capital. Embora José Lemos de Santana, em BAMBANGA, livro de memórias de sua autoria, diga que meu avô Manuel ganhou dinheiro vendendo cal por um erro de grafia do telegrafista que transmitiu o pedido de sal à Magalhães & Cia escrito como CAL porque o telegrafo não usava o Ç para escrever ÇAL, como ele escrevia. Inesperadamente faltou cal em Salvador e o nosso Manuel o revendeu com um lucro extraordinário, meu pai dizia que meu avô ganhou dinheiro foi vendendo açúcar da Usina Pitanga do Barão do Açu da Torre referida no artigo anterior.
Ainda jovem Manoel Baptista dos Santos casou-se com Hermelina Meireles de Sousa Nogueira, filha de José Antonio de Sousa Nogueira e de Emília dos Reis Meireles, que lhe deu 5 filhos: Etelvina (Teté), José Nogueira dos Santos, Edith Batista Marques, Rosalvo Batista dos Santos (meu pai) e Antonio Batista dos Santos.
Manuel, embora não fosse político, tudo fazia pelo engrandecimento de sua terra. Pensando nisso foi que ele estabeleceu uma padaria para que toda a população pudesse tomar café com pãozinho quente. Teve a capacidade de saber que o crescimento econômico de Pojuca somente se daria a partir da instalação de energia elétrica. Seus amigos ingleses do moinho de trigo lhe deram informações e prospectos de fabricantes de máquinas a vapor para geração de energia. O gerente do London Bank se ofereceu para cuidar da importação da usina e em pouco tempo Pojuca dispunha de eletricidade. As lamparinas de óleo de baleia foram substituídas por lâmpadas incandescentes, a Philarmônica que ele tanto prestigiava podia formar músicos à noite. Festas, saraus, peças teatrais, enfim, vida social. Manuel queria mais.
A padaria ganhou cilindro e masseira elétricos. Se Pojuca tinha luz elétrica porque não tinha um cinema? Manuel construiu o galpão e trouxe para sua terra os projetores dos filmes. Tudo isso na década de 20 quando o mundo estava saindo de uma guerra e o Brasil sofria os problemas político-administrativos da República Velha. Nada impedia Manuel.
Em 1934 ele encomendara um projeto de instalação de água encanada para Pojuca! Quando estava orçando a obra foi acometido de fortes dores abdominais. Somente se chegava ou saia de Pojuca a cavalo ou de trem. Manuel tinha bons amigos na Rêde Ferroviária mas o deslocamento de uma composição era difícil, burocratica e operacionalmente. Não havia trens diariamente. A chegada do carro especial somente ocorreu 36 horas após a solicitação. Manoel morreu na mesa de cirurgia com o apêndice supurado quando Dr. Fernando Luz começou a opera-lo. MANUEL BATISTA DOS SANTOS não preparou a sucessão. Como empresário foi empreendedor mas não cuidou da perpetuação do negócio. Cobrava dos filhos a execução de tarefas. Exercia forte autoridade sobre eles mas não delegava poderes. Educava-os rigidamente. Queria os filhos ao seu lado como colaboradores e não como sócios e futuros sucessores. José (Zeca) o filho mais velho, logo se rebelou com este tratamento e fugiu para casa de tio Wanderlino, irmão de minha avó Hermelina, então Capitão do Exército Brasileiro e por ele orientado a seguir a carreira militar no Rio de Janeiro onde cursou a Escola . Meu pai que era o seu braço direito e por ele nutria amor extremado de filho e admiração de tiete, alcançara a maior idade, estabelecera-se com padaria em Catu onde conheceu minha mãe e com ela se casou no dia 28 de maio de 1930. Somente Antonio o filho caçula ainda vivia com os pais. As filhas: Etelvina e Edith já estavam casadas e cuidavam dos seus filhos com seus respctivos maridos. Com a morte prematura de meu avô, por deliberação dos filhos, minha avó passou a ser a única herdeira do patrimônio legado, cabendo a sua administração à tio Antonio.
A família resolveu ainda desativar o projeto de instalação de água encanada e transferir a usina de luz e força para terceiros por entender que tais atividades deviam ser tocadas pelo governo municipal. Em 1940 visitando tio Antonio tive a oportunidade de conhecer o galpão, o locomóvel Davenport acoplado ao gerador da Luz e Força de Pojuca, bem como os projetores do cinema. Hoje quando faço esta reflexão posso entender porque meu pai tanto reverenciava aquele homem que estava há anos a frente dos seus contemporâneos. Quando meu avô morreu eu estava com 2 anos não guardo outra lembrança da sua fisionomia senão através das fotografias anexas para ilustração deste texto:
Foto 1) Meu avô de terno claro (identificado com o número 1) Meu pai de terno escuro com um lenço no bolso (identificado com o número 2) e um grupo de convidados para inauguração da usina termo elétrica. Ao fundo vide postes de transmissão da força.
Foto 2) Minha avó Hermelina Nogueira dos Santos, como se passou a chamar depois do casamento e meu avô Manuel Baptista dos Santos.

Luiz Carlos.

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