Por hábito, diariamente abro o nosso site esperando algum registro
novo sobre os PEREIRA ou sobre o CATU. Por falta de novidades, leio
o que se escreveu ontem (há muito tempo). Recordo do Catu da minha
infância, revejo as fotos antigas dos parentes queridos e fico embevecido
com uma foto de 1938 que retrata a Praça do Comércio, o Cruzeiro
(onde eu prendi muitos companheiros em uma brincadeira de artista
e bandido tão em voga naquele tempo) que foi erguido no centro da
praça para registrar a altura máxima do rio Catu na cheia de 10
e 11 de setembro de 1913, o centenário sobrado de D. Laura Góes
onde funcionava a escola por onde passaram minha mãe e meus tios,
e, ao alto, a igreja matriz e o prédio escolar.
Pode ser bairrismo mas não conheço cidade mais bonita! Depois de
tanto ufanismo, fico irritado. Logo abaixo a citada fotografia segue-se
um artigo de um "tal" Durval Vieira Aguiar ( que Deus o tenha na
santa glória. Amém!) publicado em 1888 sob o título: Descrições
práticas da província da Bahia, transcrito a pedido de Tiago Batista,
um dos melhores colaboradores deste site, como produto de uma das
suas pesquisas. O Sr. Aguiar depois de uma breve descrição sobre
a localização geográfica de Santanna de Catú, entra de sola: " tendo
5 distritos de sub-delegacias, por se achar disseminada uma população
de 22.329 habitantes, dos quais 4.197 pertencem a Pojuca, arraial
em tudo superior e mais aprazível do que a vila, onde, à exceção
dos dias da insignificante feira, vive-se em um perfeito deserto.
A edificação é feia, baixa e irregular. A matriz ultimamente consertada,
fica na praça, no alto da vila, no correr de um sobradinho onde
funciona a Câmara Municipal, que por falta de recursos, não tem
podido beneficiar a vila, nem eleva-la da decadência física e moral
em que se acha.............." e lá vai o sr. Aguiar... conforme
todos os Pereira já sabem e os que não sabem podem ficar sabendo
através leitura do texto acima citado. Concluída a leitura, vermelho
de raiva, levanto os olhos sobre uma foto emoldurada que tenho em
meu gabinete, tirada em 1861 (27 anos antes da publicação do artigo
de 1888 do sr Aguiar) pelo fotógrafo BENJAMIM R. MULOCK que retrata
um dia de feira na praça do comércio. O que se vê? Vê-se uma rua
larga. No primeiro plano: o imponente sobrado de D. Laura, o mesmo
da foto de 1938. Imponente e sólido que chegou aos nossos dias.
Marco da nossa cultura e abrigo das letras de ilustres filhos de
Catú. Vê-se pelo menos mais três sobrados. Um deles em construção.
Vê-se inúmeras casas comerciais com longos alpendres para oferecer
sombra aos seus clientes que exerciam os atos da oferta e da procura,
eternos lados do mercado. Ali se negociavam os produtos agrícolas:
melaço, farinha de mandioca, fumo etc... e se adquiriam xarque,
sal, farinha do reino, condimentos, tecidos, bebidas e outros industrializados.
O cenário é vivo, pulsa. O número de pessoas às portas dos armazéns,
a quantidade de animais selados, a população da vila avaliada em
22.329 almas, a renda (anual?) da coletoria declarada pelo sr Aguiar
em 2:448$021 (Dois contos, quatrocentos e quarenta e oito mil e
vinte e um réis), o entroncamento da rêde telegráfica terrestre
em ligação direta com a corte, localizado no arraial de Pojuca,
um dos cinco distritos de Santanna do Catu, além da Fábrica Central
Açucareira pertencente a uma associação particular de abastados
lavradores e o registro da existência de muitos engenhos importantes,
inclusive o denominado Catu, propriedade do Barão de Camaçari, nos
leva a pensar diferente do sr. Aguiar. Santanna do Catu era, sim,
uma importante vila do recôncavo bahiano em 1838. Logo, ou o sr.
Aguiar não merecia o dinheiro da coroa que ganhou para escrever
as suas "Descrições práticas da província da Bahia" ou as escreveu
em um dos alambiques (muitos) que fabricavam gostosas cachaças em
Santanna do Catu. Anexo a fotografia feita pelo Sr. Benjamim R.
Bulock em 1861.