ORAÇÃO DE BOMBEIRO


 

Tachado de saudosista por um dos poucos leitores desta coluna, resolvi mudar de estilo.
Pelo menos hoje quando estou cercado dos netos recém-chegados do Equador para passar as férias escolares em Salvador, vou sair do sério. Chega de nostalgia.

Tiãozinho, nascido na zona árida de Minas Gerais, logo cedo foi tangido para casa de um irmão, pedreiro em São Paulo, em busca de oportunidades. Garoto esforçado, trabalhador, vendia mingau no portão da obra onde o irmão trabalhava. Disposto a crescer socialmente, logo se alfabetizou.
Ao completar dezoito anos entrou para Policia Militar e foi prestar serviço na Corporação dos Bombeiros. Depois de muitos incêndios, cursos e promoções, atingiu o posto de capitão.
Criatura simples, coração puro, padece com o sofrimento das vítimas do fogo, e de ansiedade nos longos períodos de prontidão no quartel. Entra em depressão. Para se livrar dos psicólogos dos analistas e das críticas dos seu superiores desenvolveu um método próprio de superar as suas crises. Tornou-se um gozador. Conta "causos" faz piadas e assume sempre o papel de principal personagem deles.
Agora mesmo conta Tiãozinho: depois de um dia exaustivo de trabalho quando comandou uma brigada em recente incêndio onde se perderam muitas vidas, o capitão de bombeiros chegou tarde da noite em casa e entrou rapidamente. Sua mulher, que estava no quarto, assustada logo gritou:
- não meu bem, não acenda a luz, estou a morrer de dor de cabeça.
Antes que ele pudesse dar mais um passo, ela tornou a gritar mais alto:
- Pelo amor de Deus, não acenda a luz, estou com uma enxaqueca daquelas!
Ele procurou rapidamente tirar a roupa às escuras, enquanto a mulher gemia e gritava:
- Não acenda a luz, me doem os olhos e a dor de cabeça piora ainda mais!
O pobre marido com pena da mulher tornou a se vestir no escuro, e correu para a farmácia, onde ouviu do farmacêutico:
- O senhor não é capitão?
- Sou...
- E o que é que está a fazer com essa farda de sargento?
Fechando os olhos o capitão orou:
- Senhor! Fazei com que eu não seja corno! Mas se eu tiver que ser, que não saiba! Se eu tiver que saber, que não veja! Se eu tiver que ver, que fique calado! Amém!

Agosto 2007. Luiz Carlos.

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