Esquina da Literatura

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Autores

Ronald de Carvalho

 

Modernismo

Geração de 22

 

Introdução
Informa��es retiradas do trabalho Modernismo Movimentos Primitivistas

T�da a Am�rica

"Onde est�o os teus poetas, Am�rica?

 

Onde est�o �les que n�o compreendem os teus meios-dias voluptuosos,

as tuas r�des pesadas de corpos eur�timicos, que se balan�am nas sombras �midas,
as tuas casas de ad�be que dormem debaixo dos cardos,
os teus canaviais que estalam e se derretem em pingos de mel,
as tuas solid�es, por onde o �ndio passa, coberto de couro entre rebanhos de cabras,
as tuas matas que chiam, que trilam, que assobiam e fervem,
os teus fios telegr�ficos que enervam a atmosfera de humores humanos,
os martelos dos teus estaleiros,
os silvos das tuas turbinas,
as t�rres dos teus altos fornos,
o fumo de t�das as tuas chamin�s,
e os teus sil�ncios silvestres que absorvem o espa�o e o tempo?

 

Onde est�o os teus poetas, Am�rica?

 

Onde est�o �les que se n�o debru�am s�bre os tr�gicos suores das tuas sestas b�rbaras?
No teu sangue mesti�o crepitam fogos de queimadas, juizes, tribunais, leis, b�lsas, congressos, escolas, bibliotecas, tudo se estilha�a em clar�es, de repente, nos teus pesadelos irremedi�veis.
Ah! Como sabes queimar todos �sses troncos da floresta humana,
e refazer, como a Natureza, a tua ordem pela destrui��o!

 

Onde est�o os teus poetas, Am�rica?

 

Onde est�o �les que n�o v�em o alarido construtor dos teus portos,
onde est�o �les que n�o v�em essas b�cas mar�timas que te alimentam de homens,
que atulham de combust�vel as fornalhas dos teus caldeamentos,
onde est�o �les que n�o v�em t�das essas proas entusiasmadas, e �sses guindastes e essas gruas que se
cruzam,
e essas bandeiras que trazem a maresia dos fiordes e dos golfos
e essas quilhas e �sses cascos veteranos que romperam ciclones e pampeiros,
e �sses mastros que se desarticulam,
e essas cabe�as n�rdicas e mediterr�neas, que os teus morma�os v�o fundir em bronze,
e �sses olhos boreais encharcados de luz e de verdura,
e �sses cabelos muito finos que procriar�o cabelos muito crespos,
e todos �sses p�s que fecundar�o os teus desertos!
Teus poetas n�o s�o dessa ra�a de servos que dan�am no compasso de grego e latinos,
teus poetas devem ter as m�os sujas de terra, de seiva e limo, as m�os da cria��o!
E inoc�ncia para adivinhar os teus prod�gios,
e agilidade para correr por todo o teu corpo de ferro, de carv�o, de cobre, de ouro, de trigais, milharais e caf�zais!

 

Teu poeta ser� �gil e inocente, Am�rica!

 

e alegria ser� a sua sabedoria,
a liberdade ser� sua sabedoria,
e sua poesia ser� o vagido da tua pr�pria subst�ncia, Am�rica, da tua pr�pria subst�ncia l�rica e numerosa.
Do teu t�mulo �le arrancar� uma energia submissa,
e no seu molde m�ltiplo t�das as formas caber�o,
e tudo ser� poesia na f�r�a da sua inoc�ncia.
Am�rica, teus poetas n�o s�o dessa ra�a de servos que dan�am no compasso de gregos e latinos!"

(Ronald de Carvalho)

Nascido no Rio de Janeiro, em 1893, cidade onde realizou os seus estudos, inclusive os de direito, a� tamb�m faleceu em 1935, v�tima de um desastre de autom�vel, ocupando na ocasi�o o cargo de Secret�rio da Presid�ncia da Rep�blica. Estudou tamb�m na Europa e, seguindo a carreira diplom�tica, esteve nos mais altos postos possibilitados pelo Itamarati. Com Lu�s de Montalvor, fundou a revista "Orfeu", que adotava como numes tutelares Camilo Pessanha, Verlaine e Malharm�, de um lado, e de outro, Walt Whitman, Marinetti e Picasso. Participou da Semana de Arte Moderna, tendo declamado no palco do Teatro Municipal, al�m dos seus versos de Manuel Bandeira e de Ribeiro Couto. O poeta dedicou-se ao ensa�smo, � cr�tica, aos estudos de hist�ria da literatura e dos problemas brasileiros, est�ticos e pol�ticos.

Simbolista e parnasiano, nos primeiros livros, e modernista nos subsequentes, deixou em todos a marca da c�r, da luminosidade fulgurante, realizando uma poesia gr�fica e n�tida. Andrade Murici classificou-o como um humanista da boa tradi��o greco-latina. Esp�rito da renascen�a fecundado por um tropicalismo verbal, escreveu ora poemas concisos e diretos, ora pe�as plenas de f�r�a, dinamismo e efus�o que desbordavam pelo ret�rico e pelo grandiloq�ente. Assim s�o os "Epigramas Ir�nicos e Sentimentais" e "T�da a Am�rica", os livros mais expressivos de sua obra po�tica moderna. Nesta �ltima obra, de versos amplos, de ritmos lib�rrimos, e de acentos que remontam a Walt Whitman e Verhaeren, vale-se de um "sincretismo poderoso em que a Am�rica surge como um mundo de energias virgens e crepidantes" – na frase de Trist�o de Ata�de. H�, em "T�da a Am�rica" uma "pulula��o de met�foras e um paroxismo que faz pensar nas pulsa��es da febre", repara Agripino Grieco. Observe-se, no entanto, que a nota pan-americana de Ronald de Carvalho corresponde a uma transposi��o ao plano continental do esp�rito nacionalista da "Poesia Pau Brasil", inventada por Oswald de Andrade, e cujos versos, ao contr�rio dos do cantor carioca, vinham caracterizados pela s�ntese e pela secura da linguagem. Em Ronald havia o predom�nio da intelig�ncia sobre a emo��o. Sob o signo do c�lculo, comp�s seus versos. Da� praticar "uma poesia de supercivilizado", como acertadamente regista Vin�cius de Morais.

 

 

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