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Crítica Literária
- A Moreninha
Breve Biografia
Em 24 de junho de 1820, em São João do Itaboraí,
Rio de Janeiro, nasce Joaquim Manuel de Macedo. O ano da sua formatura
em Medicina, 1844, com a tese Considerações sobre a nostalgia,
é o mesmo da publicação de A Moreninha, cujo
imediato sucesso junto aos leitores desviou o médico das obrigações
terapêuticas em favor da atuação em atividades variadas
como o jornalismo, colaborando principalmente no periódico A
Nação e fundando a revista Guanabara, ao lado
de Porto Alegre e Gonçalves Dias; a política, militando
como deputado no Partido Liberal; o magistério, havendo sido professor
de História e de Geografia no Colégio Pedro II e preceptor
dos filhos da Princesa Isabel; e as letras.
Sua produção literária envolve formas diversificadas
tais como o romance, o teatro, a poesia, a crônica, os relatos de
viagem e o texto de cunho biográfico. Seu grande mérito
consiste em ter introduzido e ajudado a fixar a narrativa urbana no Romantismo
brasileiro de seu tempo, notadamente com o relato da paixão vivida
por Augusto e Carolina, tão brejeiramente contada em seu primeiro
livro. De sua vasta produção romanesca destaca-se, além
de A Moreninha, O Moço Loiro e A Luneta Mágica.
Macedo faleceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de abril de 1882, e é
o Patrono da Cadeira no. 20 da Academia Brasileira de Letras.
Crítica
Somente com Manuel de Macedo e José de Alencar é que a
prosa de ficção tomou fisionomia própria, ganhou
contornos definitivos e avultou nas nossas letras...
Macedo compreendeu admiravelmente as tendências da nossa alma popular,
sentimental e piegas, e fez, com pequenas intrigas ingênuas, à
maneira de um Bernadin de St. Pierre atrasado e rústico, a sua
história íntima e simplória. Chorou e riu largamente,
do mesmo modo que as suas melancólicas leitoras; contou as suas
anedotas sem sal nem sangue, com a pachorrenta fantasia de um pacato burguês,
funcionário público e chefe de numerosa prole, recatada
e limpa. Não desceu à escabrosa sargeta de Aluízio
de Azevedo, não penetrou muito menos na consciência dos outros,
como fazia Machado de Assis, com aquele seu ar tímido, desiludido
e indiferente, nem tampouco se elevou ao lirismo delicioso de Alencar.
Ficou entre duas águas, nem muito abaixo nem muito acima.
Macedo não amava os escândalos, nem os crimes sensacionais;
sua pena ainda tinha pudor, era sossegada, bonacheirona e católica.
Seus atrevimentos não iam além de algumas considerações
cheias de bom senso vulgar e prático, desse bom senso apanágio
das pessoas de experiência, que se vingam da velhice achacada e
veletudinária dando conselhos, contrariando vontades, rabujando
e praguejando contra as inovações, as modas audaciosas e
demoralizadoras...
Nesse terreno ele sabia pisar como ninguém. Se nos permitem a
expressão, foi Macedo um escritor de sala de jantar, do recesso
da família brasileira, séria e sisuda, amiga de uns tantos
preconceitos, muito mais louváveis, aliás, do que esse filoneismo
perigoso, posto em prática por certos casquilhos fin de siècle,
pedantes e amorais.
Ronald Carvalho
(Pequena História da Literatura Brasileira)
Textos do livro:
MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha - Apresentação:
Fernanda Coutinho. Fortaleza: Diário do Nordeste, 1997.