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CRÍTICA LITERÁRIA - A MORENINHA - JOAQUIM MANUEL DE MACEDO
de: Profa. Lorena Bezerra

Um livro pra quem gosta de novelas
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife -PE)

Caro leitor, que tal fazer parte de uma aventura como personagem de uma novela, na qual estão envolvidos todos os tipos de temperos: amor, ódio, mistério, suspense, heróis e vilões ???

A busca de identificação entre o público e as personagens não é apenas  contemporânea; atualmente ela é mais acentuada em decorrência  dos meios de comunicação que entram na nossa casa diariamente, às vezes, sem o nosso consentimento.  No entanto no início do  século XIX nós não tínhamos a televisão e só as pessoas mais abastadas possuíam um rádio. Portanto a diversão da classe burguesa ascendente, dividia-se entre a leitura e os encontros, fossem eles em passeios pelas ruas movimentadas, nos cafés ou em grandes festas chamadas de saraus.

"Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. É preciso antecipar que nós não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:

Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e reqüestraram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedadamente umas às outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que fazer nem que ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais..."

É neste clima que você encontrará Joaquim Manuel de Macedo, o conhecido Dr. Macedinho, no início do nosso Romantismo a traduzir inúmeros folhetins franceses. Homem culto e formado em Medicina, profissão que nunca chegou a exercer. Foi jornalista e professor de História do Colégio Pedro II, o mais conceituado do Rio de Janeiro, capital do país,  àquela época. Sendo amigo da família imperial, foi preceptor dos filhos da Princesa Isabel e  tinha livre acesso aos salões da corte, podendo retratar com certa fidelidade os costumes daquele período.

Não esquecendo que o momento romântico é caracterizado pela farta imaginação e o público leitor solicitava maior identificação com as personagens, as quais nos folhetins franceses se chamavam Jean Pierre, Etienne, Anne e viviam envolvidos em capotes em decorrência do frio Europeu.

Com essa consciência ele vai buscar a "cor local", daí a história ingênua, com um eixo narrativo que visa ao restabelecimento de um equilíbrio que havia sido rompido.  Através de um recurso bastante usado no Romantismo – o de dizer que não vai dizer – Macedo relata não só a história de Augusto e Carolina, mas também o modo de viver e a ideologia   de uma sociedade de determinada época.

- Mas a desordem é hoje moda! O belo está no desconcerto; o sublime no que se não entende; o feio é só o que podemos compreender: isto é, romântico..."

Nós vamos encontrar uma ilha com a paisagem exuberante e paradisíaca; vários obstáculos a serem vencidos pelo par amoroso, inclusive antigos juramentos de amor; uma certa disparidade nas situações inverossímeis e a vitória glamourosa do amor e da virtude.

Augusto, que parecia ser um volúvel incorrigível, na verdade só estava sendo fiel ao primeiro amor de sua infância: a menina da praia. Carolina, levada e sapeca, é convenientemente aquela menina e assim o final será: casaram e viveram felizes para sempre....

É sempre bom ter um final assim para alimentar nossas esperanças em um mundo melhor. Este é um livro light, não pede muito esforço do leitor e ainda o deixa com um estado de espírito leve.

 

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