[Lorena Bezerra] [Autores] [Esquina da Literatura]

CRÍTICA LITERÁRIA - INOCÊNCIA - VISCONDE DE TAUNAY
de: Profa. Lorena Bezerra

O Romeu e Julieta sertanejo.
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife - PE)

          "Mas, que luz é essa que ali aparece naquela janela?
           A janela é o oriente e Julieta o sol. Sobe, belo astro,
           sobe e mata de inveja a pálida lua."
 
                                        Shakespeare, Romeu e Julieta.
 

O regionalismo  é mais uma forma de nacionalismo usada no ROMANTISMO. Os autores tentam fixar as peculiaridades dos costumes, das tradições e a da língua do sertanejo para apreender o homem essencialmente brasileiro e ainda não contaminado pela cultura européia, ou sendo em seu estado natural. O que nos remeterá ao mito do "bom selvagem" de ROUSSEAU (o homem nasce puro e a sociedade o corrompe), que já havíamos adaptado para o nosso Arcadismo e para o indianismo romântico.

Filho de uma família de artistas franceses (músicos e pintores), Alfredo d´Escragnolle Taunay nasceu no Rio de Janeiro, em 1843 e recebeu excelente educação intelectual. Depois de concluir o curso de Ciências e Letras no conceituado Colégio Pedro II, cursou a Escola Militar. Participou da Guerra do Paraguai e de várias expedições pelo Brasil, principalmente nas regiões de Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. Isto proporcionou o seu profundo conhecimento humano e físico sobre essas áreas.

INOCÊNCIA é a mais perfeita obra do  regionalismo romântico brasileiro. O autor consegue equilibrar uma minuciosa descrição do ambiente rural e dos hábitos da região, tornando o enredo bastante verossímel, com  a mais bela história de amor de todos os tempos: o amor impossível pelas convenções morais e sociais: uma questão de honra.

De acordo com os costumes da região de Mato Grosso do Sul, naquela época as mulheres deveriam ficar resguardadas até o casamento, tal reclusão só seria quebrada em momentos muito especiais, como a visita de parentes ou alguma doença que os chás costumeiros não resolvessem. É o que acontece com os nossos personagens, o acaso (elemento puramente romântico) permite a aproximação entre Inocência, filha de Pereira, e Cirino, um prático em farmácia, deixando-se passar por médico.

Um dos pontos altos da obra é a linguagem. Há uma enorme distinção entre a linguagem erudita do narrador, que usa citações (epígrafes) dos grandes autores de todos os tempos ao início de cada capítulo e   a fala solta dos sertanejos:

"- Esta obrigação de casar as mulheres é o diabo!... Se não tomam estado, ficam jururus e fanadinhas... se casam podem cair nas mãos de algum marido malvado... E depois, as histórias!... Ih, meu Deus, mulheres numa casa, é coisa de meter medo... São redomas de vidrosque tudo pode quebrar...Enfim minha filha, enquanto solteira honrou o nome de meus pais... O Manecão que se aguente, quando a tiver por sua... Com gente de saia não há que fiar... Cruz! Botam famílias inteiras a perder, enquanto o demo esfrega um olho."

Pereira, homem simples e honrado, já havia apalavrado sua filha em casamento com Manecão Doca, um rústico vaqueiro. O amor que nasce entre Cirino e Inocência é fadado ao desastre, porque na sua submissão feminina ela teria de respeitar os valores do seu mundo familiar e manter o compromisso feito pelo pai ou escolher a morte como solução para o conflito.

Inocência será eternizada através da descoberta do naturalista alemão Meyer de uma linda borboleta batizada como Papilio Innocentia. A bela borboleta, pronta para alçar vôos, é fruto da transformação da lagarta, assim será com a surpreendente determinação de Inocência ao desobedecer seu pai.

Cirino dando provas de sua boa índole, morre como um bom cristão perdoando seu assassino. Mas quem o matou? E como?

Agora caros leitores, só lendo o livro. Façam um bom proveito e divirtam-se.

 

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