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Análises Literárias - Cinco Minutos (1856) e A Viuvinha (1857)

São volumes de José de Alencar do seu inicio de carreira. Publicados em folhetins. São curtos, se passam no Rio de Janeiro em meados do século passado e contam estórias de amor. Pertencentes a sua fase urbana, este romances possuem outras semelhanças.

Os Romances são escritos dirigidos a uma prima, a quem conta as estórias: a do seu casamento com Carlota (Cinco Minutos) e a de uma amiga de sua mulher (A Viuvinha). Desta maneira o leitor lê o romance não como quem lê um livro escrito para ser um romance, mas quem como surpreende uma conversa que não lhe é dirigida. O Autor enfatiza o caráter verídico: "É uma estória curiosa a que vou lhe contar, minha prima. Mas é uma história e não um romance." (Cinco Minutos), "Mas eu não escrevo um romance, conto-lhe uma história." (A Viuvinha).

O narrador além de afirmar que as estórias não são verdadeiras, usa outras técnicas que as subtraem à categoria de ficção: citações precisas de locais e horários, menção a obras públicas - como a destruição da Santa Casa e a destruição do Morro do Castelo -, alusão a fatos característicos da vida carioca da época, como a freqüência à opera e os hábitos comerciais da praça do Rio. Enfim, Alencar fornece a seus leitores um forte lastro de realidade que, por assim dizer, embrulha tudo o que no seu romance há de fantástico, imaginoso e romântico. Assim, por tabela, para o leitor ingênuo, ganham foros de verdade os amores súbitos e eternos, os gestos irrefletidos, as decisões passionais, as curas impossíveis e tudo o mais que faz o leitor moderno (e mais exigente) sorrir-se de Alencar. Se hoje em dia, tais romantiquices provocam sorrisos de incredulidade e relegam o Alencar destas obras para estantes empoeiradas pelo desuso, são elas também que dão às obras em estudo sua identidade romântica, isto é, sua capacidade de satisfazer aos leitores brasileiros de meados do século passado.

Quem eram tais leitores? Na sua maioria mulheres. Mulheres da classe burguesa, para quem a leitura de folhetins era o meio de passar o tempo, dividido entre ordens aos escravos e trabalhos de agulha; estes últimos, muitas vezes, tinham como fundo sonoro a leitura de romances do tipo Cinco Minutos e A Viuvinha, cuja existência e popularidade nos é atestada pelo próprio Alencar que, em certa altura da sua obra, conta que sua carreira de romancista deve muito ao fato de ter sido encarregado pelas tias, primas e irmãs da leitura em voz alta dos folhetins (capítulos semanais de romances), avidamente escutados e fartamente lacrimejados pela assembléia feminina reunida em torno de costuras e babados.

Daí, talvez, a importância daquela misteriosa inicial D, que esconde do leitor a identidade da prima a quem o narrador conta ambas as estórias. Por ser uma personagem incógnita, pode facilmente confundir-se com qualquer leitora. Esta prima, que tem o privilégio de conhecer uma personagem de romance, identifica-se com facilidade com a leitora, a quem o livro empresta, por momentos, a vida aventurosa e romanesca de Carlota e Carolina.

Cinco Minutos e A Viuvinha não documentam senão o lado direito e luminoso da vida burguesa. Suas personagens são personagens que, no fundo, representam o ideal acabado da vida burguesa, tropicalmente reproduzida na Corte brasileira.

Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está disponível, da primeira à última página, para satisfazer a todos os caprichos de sua imaginação. Sem compromisso profissional algum, o aspecto financeiro de suas peregrinações atrás de Carlota não chega jamais a preocupá-lo.

Já em A Viuvinha, a trajetória percorrida pela personagem masculina principal é um pouco diferente, mas no fundo reflete a mesma ideologia burguesa de desprezo pelo trabalho. Senão, vejamos: Jorge, estróina e perdulário, esbanjou a herança do pai, honrado negociante. Com a falência iminente pensa em suicídio, do que o dissuade o Sr. Almeida. O trabalho o absorve completamente durante cinco anos, ao fim dos quais, como prêmio, consuma seu casamento com Carolina, a quem abandonara "viúva" na noite de núpcias, por saber-se pobre. Mas, não é só: como recompensa adicional o Sr. Almeida deixa sua fortuna para o filho dos dois. Como se percebe nas entrelinhas, o dinheiro é essencial à felicidade, mas o trabalho honesto para consegui-lo é um castigo. Resta, portanto, aos leitores, a impressão final de que uma existência digna de um grande amor é indigna de vis preocupações materiais, como o trabalho do dia-a-dia.

E, é dessa realidade diária, mesquinha e burguesa, que o leitor de tais obras se sente libertado, ao, ilusoriamente, identificar-se com as carolinas e carlotas literárias, precursoras, a seu tempo, das heroínas alienantes e alienadas das tele e fotonovelas.

Marisa P. Lajolo
In: ALENCAR, José de. Cinco Minutos; A Viuvinha. 5a edição. São Paulo, Ática, 1976.
* Com alterações.

 

Análises Literárias - Professora Lorena Bezerra
Análises das obras Cinco minutos e A viuvinha.

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