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CRÍTICA LITERÁRIA - CINCO MINUTOS E A VIUVINHA - JOSÉ DE ALENCAR
de: Profa. Lorena Bezerra

O jovem Alencar dos primeiros livros
( Artigo Publicado pelo Jornal Diário de Pernambuco - Recife -PE)

Nossa biblioteca, caro leitor, deve ser diversificada para acalentar os diversos estados de espírito a que estamos sujeitos. Por isso é indispensável possuirmos exemplares alencarinos, para àqueles dias de repouso, no qual uma leitura leve nos apraz.

Ao tentar traçar um grande painel da literatura brasileira dos meados do século XIX, José de Alencar abrangeu  vários tipos de romances: regionais, histórico-indianistas e os romances urbanos. Todos buscavam, a sua maneira, a "cor local", a identidade nacional. Os romances urbanos retratando os hábitos da vida carioca de então, comumente mostravam dramas morais, tipos femininos, o amor, o  casamento por interesse, a sociedade patriarcal e a importância do dinheiro na ascendente sociedade burguesa em seus enredos.

"Carolina estava sentada a um canto da conversadeira, a alguns passos do leito, no vão das duas janelas; tinha a cabeça descansada sobre o recosto e os olhos fitos na porta da sala.

A menina trajava apenas um alvo roupão de cambraia atacado por alamares feitos de laços de fita cor de palha; o talhe do vestido, abrindo-se desde a cintura, deixava-se entrever o seio delicado, mal encoberto por um ligeiro véu de renda finíssima.

Seus longos cabelos castanhos de reflexos dourados, presos negligentemente, deixavam cair alguns anéis que se espreguiçavam languidamente sobre o colo aveludado, como se sentissem o êxtase desse contato lascivo."

CINCO MINUTOS, o primeiro livro de Alencar, e A VIUVINHA, o segundo, nos trazem elementos como o acaso, o mistério, o suspense, certa religiosidade, a idealização e a fragilidade femininas, a descrição de ambientes e costumes e o tão esperado final feliz. Ambos usam o recurso de fingir uma narrativa real, pois o narrador estaria escrevendo cartas a sua prima a sra. D..., que pode ser identificada com qualquer pessoa, e ele faz questão de reiterar que as histórias são verdadeiras.

"É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história e não um romance."

No primeiro, o atraso de CINCO MINUTOS faz com que o narrador ao entrar no ônibus encontre Carlota, a misteriosa dama de preto, que o atrairá imediatamente. Esse vulto de mulher, frágil e envolto em fatalidades do destino, já o ama e apresenta toda a nobreza de caráter ao renunciar a esse amor para que seu amado não venha a sofrer.

Isto prova que a pontualidade é uma excelente virtude para uma máquina; mas um grave defeito para um homem.

Há passagens hilárias, quando o narrador para  tentar alcançar sua amada arrebata um cavalo e cavalga até a exaustão do animal que morre assim que o narrador desmonta. E o final vem  em grande estilo através de um beijo milagroso que salva Carlota do seu terrível destino.

No segundo, o mesmo narrador contará a história de Jorge e Carolina, seus vizinhos. Jorge, herdeiro de uma pequena fortuna, é perdulário e leva uma vida desregrada após a morte do pai. Ao cansar desta maneira de viver, encontra a meiga Carolina, suprema tradução da submissão feminina. Na véspera do casamento ele se descobre desgraçadamente pobre e portanto indigno de tão puro amor. Somente o trabalho poderia purificá-lo e trazer de volta sua honra, então ele vai...    Vocês estão achando que eu vou contar o final??? Em absoluto, o livro espera-os nas bancas para desvendar o mistério do desaparecimento de Jorge.

Boa leitura e lembre-se de observar a postura monarquista e escravocrata de Alencar, sempre que possível lançando pequenas críticas à burguesia.

 

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