Candelaria
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Nenhum segredo é sagrado. Nenhuma guerra é santa.

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Somos meninos famintos em busca de refrigerante
fetiches de estilete, filetando o semelhante
fabricantes de gestantes, principiantes cambaleantes
moramos nas ruas cheirando a lua
o diesel que urinamos é imunizante
somos os filhos dos gigantes na terra de ninguém
praticantes da sobrevivência
disciplinados no vai e vem.
O perigo é nosso lar, nosso umbigo, nosso bar
somos o bizarro e espalhamos catarro
somos o escarro, escrachados e humilhados
passando a flanelinha para o homem da sacolinha
não temos TV, não somos como você
não temos sossego, queremos você
queremos sua parabólica sintonizada em nós
temos a fome nos poros, nos ossos, nos nossos olhos
podemos doar, podemos vender, emprestar
somos meninos mortos por prazer
alpinistas das avenidas espirrando vida
fumantes de bitucas na batucada da nuca
cacetetes, capacetes, muitos tiros, acidente...
Ninguém preso, nenhum suspeito
é tão perfeito para o prefeito
alentador para o governador
somos a ironia do pescador de destinos
que nos colocou no ar e doou o desvio
temos o nosso papel, só que não sabemos ler.

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