Na barriga
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Nenhum segredo é sagrado. Nenhuma guerra é santa.

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Imaginava, da barriga, a fonte de água viva,
a que percebia, toda a fantasia da criatura
na veste crua dos ossos.
Lembrava de coisas que não conhecia
como se um baú aberto lhe fornecesse brilhos
de memória, flashes, pedaços de instantes,
coisas como o sopro, o tato, o sol.
Expelido, sentiu o cuspe da vida e era frio.
Grudava.
A vida era uma gosma estranha e o
tempo, um guardanapo sujo.
Esticou.
Percebeu que os dias eram elásticos enormes
e sua única certeza
era que um dia retrairiam.
Viu as coisas acontecerem
as guerras, as conquistas espaciais
que o homem inteligente que conquista é o mesmo que desfaz.
Teve tantos sonhos como qualquer um
amores comuns
e uma barriga que expeliu-lhe
parte sua noutra vida.
Tomou pílulas, soro, morfina...
Imaginava, da barriga, o baú aberto
a gosma fria da vida nova.

 
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