«Quando me vêem, os ciganos parece que vêem Cristo» Maisfutebol: Qual é o seu maior vício?
Quaresma: Tenho vários. Tatuagens, carros, ouro e relógios.
Maisfutebol: Quantas tatuagens tem?
Quaresma: Tenho seis, mas vou fazer mais. Todas as minhas tatuagens têm um significado e estou a pensar fazer pelo menos mais duas ainda este ano. Depois logo se vê. Tenho nos braços, nas costas, nas pernas. A primeira que fiz foi uma tribal, parecida com uma cruz. Tinha 17 anos e estava a aparecer no Sporting. Tenho dois anjos, a cara do meu irmão, o nome dele, o nome da minha mãe, das minhas irmãs, do meu pai… São as pessoas mais importantes da minha vida. Um dia que tenha filhos vou fazer com o nome deles. Ainda tenho espaço…. [risos]. Adoro tatuagens e tenho pancada pelos carros. E gosto muito de relógios e de ouro.
Maisfutebol: O acidente que teve assustou-o?
Quaresma: [Risos] Quase todos os acidentes assustam. Ia um pouco distraído mas ia devagar. Apanhei óleo, o carro fugiu-me e já não tive hipóteses de o controlar. Mas mais vale ter partido o carro do que eu. Não me aconteceu nada. Carros há muitos e Quaresmas há poucos. [Risos]
Maisfutebol: O gosto que tem pelos relógios e pelo ouro tem ligação ao facto de parte da sua família ser cigana?
Quaresma: O ouro é possível. A família da minha mãe é angolana e os angolanos também gostam muito de ouro. Se calhar o gosto vem dos dois lados.
Maisfutebol: Alguma vez na sua carreira sentiu algum tipo de descriminação por ser cigano?
Quaresma: Senti na escola, quando era miúdo, mas quando comecei a crescer não. Sempre me trataram bem e tenho colegas que chamam «cigano ou ciganito», mas é no sentido carinhoso. Se uma pessoa que não me conhece me chamar cigano se calhar respondo logo. Nunca me chamaram cigano com desprezo.
Maisfutebol: Sente-se o representante da etnia cigana?
Quaresma: Sim e é normal. Quando vou a casamentos ou visitar o meu pai e a minha irmã os ciganos parece que vêem Cristo. [Risos] Sinto que olham para mim como um símbolo. Eu compreendo e tenho muito orgulho em ser cigano e nunca escondi isso de ninguém.
Maisfutebol: Mas você nunca viveu a tradição cigana?
Quaresma: Não. Eu também tive uma vida diferente. Os meus pais separaram-se quando eu tinha cinco anos e eu vivi de forma normal. Nunca segui a tradição cigana. Apesar de saber tudo e de respeitar a tradição dos ciganos, nunca o fiz e não é neste momento que o vou fazer.
Maisfutebol: Mas é muito diferente da vida que você tem?
Quaresma: É tudo diferente. O que gosto mais dos ciganos são as festas. São únicas. E adoro música cigana e kizomba.
Maisfutebol: Mas sente-se um cigano?
Quaresma: Em certos aspectos sinto. Às vezes a maneira de ser e de reagir, de ser impulsivo… Dentro de campo sou muito frio. Não sou muito de falar, apesar de agora estar um pouco melhor, pois às vezes mal me tocavam eu levantava-me logo e reagia. Neste momento não, aprendi a controlar-me. Isso tem a ver com o facto de ter sangue cigano.
Maisfutebol: Os problemas que teve no Barcelona, ao enfrentar Frank Rijkaard, estiveram relacionados com o facto de ser cigano?
Quaresma: Talvez. Tenho uma personalidade forte e quando vejo que tenho razão não sou de ficar calado.
«Melhor do Mundo sou eu»
Ricardo Quaresma de corpo inteiro. O avançado do F.C. Porto fala sem rodeios da sua forma particular de jogar, do amor ao futebol-espectáculo e deixa a promessa de que nunca mudará a maneira de estar em campo. Quaresma analisa o momento da equipa, a passagem frustrante por Barcelona e acha que já merecia ser chamado por Scolari.