Boletim Mensal * Ano VII * Setembro de 2008 * Número 63

     

 

 

Uma página de culinária

 

 

 
COZINHADOS NO NORDESTE

 

Ricardo Vilardebó, proprietário e emérito cozinheiro do “SITIO DA CALMA”,

praia de A Ver o Mar - Sirinhaem. (fone 88374418)

 

 

Durante a minha vida tenho sentido várias vezes um desejo “fénixiano” e irreprimível de mudar, de apagar tudo e começar de novo. Entro num estado de enorme desconforto e insatisfação. Nem sempre mudei, mas a partir de certa altura, não deixei mais que esse conforto sofredor do “deixa-me-mas-é-estar-quieto” se sobrepusesse à necessidade de refazer a vida, de reconstruir a vida, criar, fazer nascer um novo mundo à minha volta. E a verdade é que, quanto mais transformamos, mais vontade temos de o fazer. É um processo glorioso!

No ano passado, por esta altura, estava em Portugal, onde fiquei durante oito meses. Quando parti, ia cheio de dúvidas, se voltaria ou terminava esta aventura-Brasil. Mas o tempo que por lá andei foi suficiente para me deixar cheio de certezas, da certeza de que é aqui que eu quero viver!

Porquê? Humm!

Hoje, em Portugal, é tão difícil criar alguma coisa. Hoje, em Portugal, é tão difícil sermos crianças! Não falo de ingenuidade, falo de pureza, de amor, de liberdade, de viver sorrindo! Vive-se sob uma ditadura de estado, em que as pessoas são controladas em tudo o que fazem, sobretudo no que respeita às finanças. É uma sociedade maluca que continua a procurar a “felicidade” no bem material pela incapacidade de a encontrar onde ela está – dentro de nós!!!

Aqui, sinto, sempre, uma enorme gratidão, por tudo o que me envolve, por tudo o que vou criando, pela liberdade que tenho de ser eu! Aqui eu sorrio! Aqui as pessoas à minha volta sorriem!

E por falar em sorrir, já experimentaram fazer uma moqueca de galinha?

Pois é um prato que virou moda por aqui, desde que, um dia, me apeteceu comer uma e tinha uma galinha ali à mão.

É uma Moqueca à ........ Sitio da Calma! Passo a explicar.

Há uns dias que andava uma galinha, pertença do meu caseiro, solta, a dar-me cabo da horta e, por conseguinte, a engordar à custa da mesma. Foi por isso que pus fim à sua vida, sem qualquer remorso. A carne já vinha meio temperada por conta dos coentros, salsa e outros petiscos horticolas ingeridos mas, mesmo assim, coloquei os peitos, em pequenos pedaços, numa travessa com sal, paprika picante e regada de vinho branco e reservei.

Calmamente fui preparando os restantes ingredientes: 1 cebola, 1 pimentão verde e 3 tomates picados, 4 dentes de alho esmagados, 1½ cm de gengibre bem picado, 1 chuchu, 1 maçã e ½ manga grande cortados em cubos, 200 grs de siri e outro tanto de sururu cozinhados e leite de 1 coco ralado.

Utilizando o wok (mais uma grande invenção dos chineses .....), salteei a cebola, o pimentão e o alho. Juntei o tomate, depois o gengibre, o chuchu, a maçã, a manga e, finalmente, a galinha. Logo que a carne começou a branquear adicionei o leite de coco, 2 colheres de sopa de azeite de dendê e acertei o sal. Deixei cozinhar por uns 15 minutos e juntei o siri, o sururu e um molho de coentros e salsa picados. Mais 5 minutos e desliguei o fogo, cobrindo o wok com uma tampa grande e deixando apurar durante cerca de 2 horas.

O acompanhamento tradicional da moqueca é o arroz e assim eu a sirvo habitualmente. No entanto, eu prefiro torrar, numa frigideira, umas fatias de pão caseiro (que também faço!) em azeite temperado com alho, orégãos e pimenta picante (também caseiro.). Coloco-as no prato e deito em cima a moqueca. Fica bom demais!!!!

Se não tiverem pachorra para fazer, venham aqui comê-la, ao Sitio da Calma. Mas avisem antes!

 

Nota do Editor:- Se desejarem experimentar a cozinha do Sitio da Calma aconselho que telefonem com antecedência dado que, os pratos de nosso chef Ricardo são  sempre feitos na hora.     

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