Boletim Mensal * Ano V * Abril de 2007 * Número 49

           

COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

 

 
Compadres, no último artigo escrevi sobre meu retorno de Portugal ao Brasil e o reli antes de confeccionar o presente. Apesar de passados mais de quatro meses da minha chegada, ainda me sinto um pouquinho por lá. De lá cheguei com uma visão diferente da vida, das pessoas, da civilização e também do vinho. Meu artigo anterior serviu para relembrar os maravilhosos momentos vividos a aguçar ainda mais os planos de lá voltar. É bom reviver tais momentos.
            Por outro lado, aqui chegando apliquei imediatamente à minha vida um pouquinho do que aprendi naquele país, seja valorizando minha história, meus antepassados e minha terra, seja me concedendo um pouco de paz interior nos momentos de convivência com a família e amigos, lançando-me com prazer a uma refeição e um bom vinho, aplacando um pouco a correria diária de todos nós e essa busca incessante por produção.
            Esse afã de fazer tudo de uma só vez e ao mesmo tempo tem nos levando a esquecer o prazer da boa mesa e da boa comida. Faço mea culpa, pois contribui bastante para o crescimento do fast food em detrimento aos almoços e jantares em família ou com amigos. Mudei!
            Aprendi que comer com calma, acompanhado de uma ou duas taças de vinho faz muito bem à saúde, física e mental, pois relaxa nosso corpo e desopila nossa mente das agruras do dia-a-dia, fazendo com que se veja a vida de uma perspectiva diferente. Além disso, é equivocada a idéia que quanto mais rápido a realização de determinadas tarefas, melhor. Muito pelo contrário, às vezes a calma e a paciência são os elementos que levam à perfeição dos trabalhos e ao melhor rendimento da máquina mais poderosa que já vimos: o corpo humano.
            O prazer de degustar uma refeição aliada a um bom  vinho, juntamente com entes queridos, ou até mesmo sozinho, absorto em seus pensamentos mais íntimos, faz do homem um ser único, dotado de discernimento para realizar atos antagônicos entre si, como a vida e a morte.
            Esse ser único, há séculos atrás inventou o vinho, fruto, provavelmente, de um acidente que levou uvas armazenadas a fermentarem, gerando essa indefectível bebida, apreciada e amada nos quatro cantos de nosso globalizado mundo. O homem deu vida e significado ao vinho e ao prazer...
            Séculos depois, na calejada Europa, mais especificamente em território francês, à época da Guerra dos cem anos, quando digladiavam França e Inglaterra por terras e riquezas, o Monarca francês, não querendo se privar dos prazer da mesa e da bebida carregava consigo um séqüito de serviçais que traziam a somma, o conjunto de víveres e de equipamentos necessários para a manutenção da pompa e circunstância que envolvia a alimentação dos monarcas e dos seus bajuladores, digo, senhores feudais e demais privilegiados membros da corte.
            Anos mais tarde, em algum intervalo dessas batalhas, os serviçais que cuidavam da somma, os chamados sommeliers, passaram a cuidar também das despesas dessas empreitadas em relação aos mantimentos fato esse que não tardou a ingressar nos palácios. Assim, nas guerras, em meio a mortes e tragédias, nascia uma profissão ligada ao prazer e ao vinho... O sommelier.
            Com o passar dos anos, tal profissional se tornou o responsável pelo serviço e administração de tudo que dizia respeito ao vinho nos restaurantes e exerce até os dias atuais essa duríssima profissão.
            Dessa forma, passei a degustar uma refeição e não mais a engolir a refeição, haja vista o bem que isso faz à minha e à sua saúde. O profissional sommelier tem me ajudado a harmonizar o vinho e o alimento de forma a criar momentos sublimes e únicos, os quais tive a oportunidade de valorizar quando em Portugal. Lá, a cada refeição fiz acompanhar uma garrafa de vinho indicada pela casa. Não me arrependi! Isso é um convite ao prazer. E ao vinho.

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