PLATÃO
427 - 347 a.C.



 
 
 
 

          Platão, o mais importante dos discípulos de Sócrates, exerceu enorme influência na filosofia, na religião, na educação, na literatura e até mesmo na língua grega.

 
 

Biografia

          Nasceu em Atenas, por volta de -428, e era membro de uma aristocrática e ilustre família. Descendia dos antigos reis de Atenas, de Sólon e era também sobrinho de Crítias (-460/-403) e Cármides, dois dos "Trinta Tiranos" que governaram Atenas em -404. Lutou na Guerra do Peloponeso entre -409 e -404, e a admiração por Sócrates, que conheceu em algum momento desse período, foi decisiva em sua vida.

          Saiu de Atenas em -399, após a execução de Sócrates, e passou os 12 anos seguintes viajando. Por volta de -387 visitou a Magna Grécia, e em Taras conheceu o político e matemático Arquitas
(c. -400). Em Siracusa tornou-se amigo de Díon (-408/-354), jovem parente de Dionísios I, o tirano que governou a cidade de -405 a -367. Em razão de atritos com o tirano, foi expulso da cidade e vendido como escravo em Egina, então inimiga dos atenienses.

           Resgatado por um amigo, retornou a Atenas e fundou por volta de -385 a Academia, protótipo de todos os colégios e universidades atuais. A escola era dotada de alojamentos, refeitório e salas de leitura, onde Platão e seus alunos passavam o tempo estudando e discutindo matemática, astronomia, música e, é claro, filosofia. Sua intenção era formar homens de princípios elevados, preparados para exercer funções políticas de destaque em suas comunidades.

          Em -365 e em -361 esteve novamente em Siracusa, a pedido do amigo Díon, numa tentativa inútil de transformar o jovem Dionísios II (-367/-342), filho e sucessor de Dionísios I, no "rei-filósofo" que idealizara. Desiludido com a dificuldade de colocar em prática suas idéias filosóficas, Platão não mais saiu de Atenas. Dedicou-se somente à Academia e aos seus escritos até -347, quando morreu.


 
 

Obras sobreviventes

          Todos os 43 diálogos e 13 cartas atribuídos a Platão pelos antigos chegaram até nós. Dentre eles, somente 27 diálogos e as cartas VI, VII e VIII são considerados autênticos.

          O "diálogo platônico", discussão filosófica com estrutura dramática, recebeu fortes influências do mimo siciliano; com Platão, o diálogo adquiriu o status de gênero literário. Devido à pureza e correção da linguagem, a prosa de Platão é também um dos paradigmasdo  dialeto ático.


 

    Fédon
    A República
    O Banquete
    Fedros
    O Sofista
    O Político
 
 
 

          Na impossibilidade de datar individualmente cada um dos diálogos, é costume agrupá-los em relação à data das viagens de Platão à Sicília. A análise do estilo e do conteúdo permite, também, ordená-los de forma mais ou menos cronológica:
 

          1º grupo (-399/-387): Apologia de Sócrates, Críton, Laques, Lísis, Cármides, Êutifron, Hípias Menor, Hípias Maior, Protágoras, Górgias e Íon;
 

          2º grupo (-387/-367): Mênon, Fédon, A República, O Banquete, Fedro, Eutidemos, Menéxenos e Crátilos;
 

          3º grupo (-360/-347): Parmênides, Teetetos, O Sofista, O Político, Timeus, Crítias, Filebos e As Leis.


 
 

O pensamento platônico

          Nos diálogos do 1º grupo (ditos "socráticos"), o personagem principal é Sócrates e são as idéias dele que Platão nos apresenta. Nos diálogos do 2º grupo, embora Sócrates ainda seja um dos personagens importantes, ele é apenas o um porta-voz das concepções platônicas. A presença de Sócrates é rara nos diálogos do 3º grupo e, provavelmente, as idéias mostradas são as do próprio Platão.

          Além de Sócrates, Platão teve outras influências, como por exemplo os pitagóricos, Heráclitos e Parmênides. Sua filosofia contém, basicamente, dois elementos: o metafísico e o moral.

          A famosa "teoria das formas"  com freqüência erradamente traduzida por teoria das idéias  é a mais importante contribuição platônica à Filosofia. Segundo Platão, o Mundo Sensível (o que se apreende pelos sentidos), variado e mutável, é apenas um aspecto do mundo real, constituído por formas puras, fixas e imutáveis que só podem ser conhecidas intelectualmente, através da razão pura.

          Platão, como os pitagóricos, acreditava que a alma já existia antes do corpo, continuava a existir após a morte e posteriormente entrava em novo corpo prestes a nascer. Em estado puro, era a alma capaz de contemplar sem obstáculos o Mundo das Formas; ao adentrar um novo corpo, porém, ocorria um choque e produzia-se o esquecimento. Mas, traços dessa contemplação permaneciam no espírito e podiam ser eventualmente reativados. Para conhecer, portanto, era preciso relembrar.

          A forma suprema é a do Bem, capaz de tornar compreensíveis todas as demais. O verdadeiro conhecimento é o conhecimento do Bem. O filósofo, de todos o mais apto a adquirir esse conhecimento, é conseqüentemente o mais apto a governar a cidade-estado ideal.


 
 

Passagens Selecionadas
 
 

Uma receita prática






          Trecho de O Banquete, famoso diálogo do filósofo Platão (-429/-347), com uma das intervenções do médico ateniense Erixímacos. Data aproximada:
-387/-367.
 

(...) devia falar Aristófanes, mas tendo-lhe ocorrido, por empanturramento ou algum outro motivo, um acesso de soluço, não podia ele falar; mas disse ao médico Erixímacos, que se reclinava logo abaixo dele: "Ó Erixímacos, és indicado para ou fazer parar o meu soluço ou falar em meu lugar, até que eu o possa parar."

          E Erixímacos respondeu-lhe: "Farei as duas coisas: falarei em teu lugar e tu, quando acabares com isso, no meu. E enquanto eu estiver falando, vejamos se, retendo tu o fôlego por muito tempo, quer parar o teu soluço; senão, gargareja com água. Se no entanto ele é muito forte, toma algo com que possas coçar o nariz e espirra; se fizeres isso duas ou três vezes, por mais forte que seja, ele cessará (...)

          Com efeito, quanto a ser duplo o Amor, parece-me que foi uma bela distinção; que porém não está ele apenas nas almas dos homens, e com os belos jovens, mas também nas outras partes, e com muitos outros objetos, nos corpos de todos os outros animais, nas plantas da Terra e por assim dizer em todos os seres, é o que creio ter constatado pela prática da medicina, a nossa arte (...)

          Ora, eu começarei pela medicina a minha fala, afim de que também homenageemos a arte. A natureza dos corpos, com efeito, comporta esse duplo amor; o sadio e o mórbido são cada um reconhecidamente um estado diverso e dessemelhante, e o dessemelhante deseja e ama o dessemelhante (...)"

          É de fato preciso ser capaz de fazer que os elementos mais hostis no corpo fiquem amigos e se amem mutuamente. Ora, os mais hostis são os mais opostos, como o frio ao quente, o amargo ao doce, o seco ao úmido, e todas as coisas desse tipo; foi por ter entre elas suscitado amor e concórdia que o nosso ancestral Asclépios, como dizem estes poetas aqui, e eu acredito, constituiu a nossa arte (...)


 

[ 185c - 186e ]

Referência

    Platão - O Banquete ou Do Amor - São Paulo: Difusão
    Européia do Livro, 1966, pág. 117-119

Tradução
    J. Cavalcante de Souza

O mito da Atlântida
Trecho do Timeus, diálogo do filósofo Platão
(-429/-347), com o relato de uma curiosa história que o ateniense Sólon ouviu no Egito. Data aproximada:
-362/-347.
 

(...) "Há no Egito" disse Sólon, "no Delta, perto de onde o curso do Nilo se divide, um certo nomo que é chamado de Saítico, donde era oriundo o rei Amásis." (...) Sólon contou que, chegando entre eles, recebeu grande consideração e, como um dia perguntasse sobre coisas antigas aos sacerdotes mais versados nessas matérias, descobriu que nem ele, nem outro grego, por assim dizer, nada sabiam.(...)

"(...) De nossas duas cidades, a mais velha é a vossa, por mil anos, pois recebeu vossa semente de Gaia e Hefestos. Esta é mais recente. Ora, depois que esta região foi civilizada, escoou-se, mostram nossos escritos sagrados, a cifra de oito mil anos." (...)

(...) Com efeito, nossas escrituras relatam como vossa cidade outrora aniquilou insolente potência que invadia de um só golpe a Europa e toda a Ásia, e que sobre elas se lançava do fundo do Oceano Atlântico. Pois naquele tempo se podia atravessar esse mar. Ele tinha uma ilha, diante daquela passagem que chamais 'colunas de Héracles'. Essa ilha era maior que a Líbia e a Ásia reunidas. Nessa ilha Atlântida, os seus reis formaram um grande e maravilhoso império. Este império dominava toda a ilha, assim como muitas outras, e porções do continente. (...)

(...) Entretanto, no tempo que se seguiu, houve tremores de terra temíveis e cataclismos. No espaço de um só dia e uma noite terríveis, toda a vossa armada foi engolida de um só golpe sob a terra, bem como a ilha Atlântida abismou-se no mar e desapareceu.


 

[ 20-25 ]

Referência

    Platão - Timeu e Crítias, ou A Atlântida - São Paulo:
    Hemus, 1981, pág. 66-75

Tradução
    N. Paula Lima (a partir da versão francesa)


 

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Bibliografia:






- Ribeiro Jr., Wagner - Grécia Antiga - São Carlos :
  http://warj.med.br ,
Outubro de 1999.


- Enciclopédia Científica e da Natureza LIFE,
Livraria José Olympio Editora S.A.



- Diálogos de Platão,
Livrarias Edições de Ouro.
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