HIPÓCRATES
460 - 355  a.C.



 
 
 
 
 
 
 

        
Segundo a tradição, foi o maior médico da Grécia Antiga e, possivelmente, de toda a Medicina Ocidental. Na Antigüidade, era chamado de pai da Medicina, e sua importância é tão grande que, a exemplo da Filosofia, pode-se dividir a história da Medicina em 'pré-hipocrática' e 'hipocrática'.

Biografia

          Hipócrates nasceu na ilha de Cós em -460, e morreu em Larissa (Tessália ?) por volta de -380. Era um asclepíade, membro de uma espécie de corporação de médicos que dizia descender do próprio Asclépios, o deus da Medicina.

          Seu pai, Heráclides, era médico, assim como seus filhos Tessalos e Drácon. Iniciou-se na profissão com o pai, como era costume na época, clinicou mais tarde em vários lugares e também ensinou medicina durante muitos anos. Platão o menciona com uma certa admiração (Fedro, Cármides e Protágoras) e atesta que essa atividade didática era remunerada pelos alunos.

           Já em vida sua reputação de médico e professor era considerável. Muito de sua fama posterior advém, no entanto, da atribuição a ele, pelos antigos, dos escritos médicos da coleção hipocrática. Nenhum texto, porém, pode ser considerado, com segurança, de sua autoria. É possível que Hipócrates tenha sido o primeiro a aplicar os conceitos difundidos pela coleção hipocrática e, graças ao seu renome, os antigos acabaram considerando-o autor de toda a obra.

          Conservou-se um epigrama que, segundo consta, ainda podia ser visto em sua tumba no século II. Ele sintetiza admiravelmente a vida, a doutrina e o respeito que Hipócrates mereceu de seus contemporâneos:

          O tessaliano Hipócrates descansa aqui. De família de Cós, nascido do imortal tronco de Febo, inúmeros troféus contra as doenças erigiu com as armas de Higéia, e obteve imensa glória não pelo acaso, mas pela sua arte.
Antologia Palatina, VII, 135

O método hipocrático

          Segundo a tradição, Hipócrates deu à Medicina o impulso rumo ao diagnóstico, prognóstico e tratamento em bases científicas. Estabeleceu, além disso, um conjunto de normas de conduta que fundamenta até hoje a Ética Médica.

          Graças à Hipócrates — ou aos escritos a ele atribuídos — a Medicina é hoje considerada uma Ciência e uma Arte. Seus ensinamentos quanto à postura do médico podem ser resumidos no próprio "método hipocrático": rigorosa observação do doente, análise racional dos fatos clínicos observados, escrupulosa correlação das causas e seus efeitos.

          Devido às lendas que cercam seu nome e ao anonimato dos escritos da coleção hipocrática, é difícil saber com certeza quais as idéias do próprio Hipócrates. É provável que uma das principais tenha sido a necessidade de ver o homem como um todo (cf. o Fedro de Platão). Que ele atribuía a causa das doenças ao ar e a resíduos da digestão, como informa o manuscrito conhecido por Anonymus Londinensis, não tem respaldo em nenhum dos textos da coleção.

          Uma notável característica dos textos "hipocráticos" é que nenhum deles se serve da magia ou da religião para explicar a causa das doenças. Talvez, e somente talvez, essa convicção tenha sido também a de Hipócrates. Ainda conforme os escritos "hipocráticos", ele preferia usar recursos naturais para o tratamento das doenças e era obsessivamente honesto no trato com o doente, seus familiares e também com os outros médicos.


 

          A sua fama extendeu-se até a Ásia e Artaxerxes mando-o chamar para combater uma epidemia que dizimava o exército persa. Hipócrates recusou os magníficos presentes com que o queriam seduzir e respondeu ao sátrapa enviado por Artaxerxes que a honra o inibia de socorrer os inimigos da sua pátria.

          Hipócrates é comemorado para sempre no Corpus Hippocraticus:
        
A primeira bíblia de medicina prática do mundo ocidental. Quanto dessa coleção de trabalhos era de sua lavra e quanto de outros homens é questão de pura conjetura. A riqueza de seus conhecimentos estendia-se desde ensinamentos sobre cirurgia do crânio e operações de catarata até minúcias tais como os débeis ruídos que emite o peito em casos de pleurisia, um som semelhante a "uma fricção de couro".  Ofereciam-se também conselhos teóricos e filosóficos. O médico devia consultar os colegas quando presa da dúvida; tinha o dever de registrar, com toda a sinceridade, tanto os seus malogros como os êxitos nos tratamentos, pois, sem amor pela humanidade, não podia ter amor pela arte de curar.
          O código de ética de Hipócrates é ainda observado hoje em dia como juramento solene por ocasião da formatura nas faculdades de medicina.

 

          Os médicos naturalistas da antiga Grécia encaravam o corpo como objeto de estudo desapaixonado e sem a influência de superstições. Observações clínicas levaram médicos como Hipócrates, no século V a.C., a conceber o corpo como um agrupamento de partes correlatas e a doença como o mau funcionamento de uma ou mais dessas partes. Tais estudos prepararam o caminho para as grandes pesquisas anatômicas de Galeno, médico grego do segundo século, que exercia sua profissão em Roma. A obra de Galeno, que descreve seus exames de ossos humanos e vísceras de animais, foi a bíblia dos anatomistas durante 1.400 anos.

 

          Uma tentativa mais precisa para resolver o problema de pôr ordem na diversidade dos seres humanos foi a de estabelecer classificações do físico, uma prática conhecida como somatótipo. esse sistema foi empregado nada menos que pelo próprio Hipócrates. Ele via o homem como pertencente a um dos dois tipos principais: o baixo e gordo, que denominava "apoplético", ou o alto e delgado, ao qual dava o nome de "tísico". Mais de 2.300 anos depois de Hipócrates, antropólogos físicos deram novo alento à sua teoria com o auxílio de técnicas supridas pelas novas subciências de antropometria — medição do corpo — e antroposcopia estudo visual e comparado das variações do corpo.

 
 

Os Antigos Traumatólogos

          Uma crescente eficiência nas armas criou uma grande demanda de engenhos para reparar as fraturas, tais como a tala para perna e o extensor de braço. Os gregos já conheciam as talas, as ataduras de amido e as ataduras gessadas, e, no século V a.C., Hipócrates já tratava de fraturas com técnicas apropriadas. No século XIV, entraram em uso pesos e roldanas como meios de tração para manter em seus lugares os membros fraturados.

 
 
 
O Mago Ortopédico
          Antes que tal osso possa começar a curar-se, os fragmentos devem primeiro ser repostos em suas posições anatômicas, quer por manipulação quer por meio de operação cirúrgica, e devem ficar imobilizados por meio de moldes de gesso, chapas metálicas, alfinetes, pregos ou parafusos. A despeito desses relativos progressos na tecnologia médica, a técnica básica de endireitar os ossos não tem sofrido mudança radical há séculos. Em seu tratado "Sobre Fraturas", Hipócrates cita uma arte já antiga quando aconselha a seus leitores exatamente como manipular um braço quebrado para encaixar corretamente os ossos, antes de encaná-lo, a fim de que tornem à sua "direção
natural". Ossos deslocados ou fraturados de muitos indígenas africanos foram consertados por feiticeiros com inclinação para a ortopedia, os quais usaram para isso paus bifurcados como muletas e barro seco ao invés de gesso.

 
 

O JURAMENTO MÉDICO


Pedro Inacio Mezzomo
 
 

         Juramento



 
 
 
 

1. Juro por Apolo médico, Asclépios, Hígia, Panacéia (5) e todos os deuses e deusas, fazendo-os testemunhas de que conforme minha capacidade e discernimento cumprirei este juramento e compromisso escrito:

"Considerar aquele que me ensinou esta arte igual a meus pais, compartilhar com ele meus recursos e se necessário prover o que lhe faltar; considerar seus filhos meus irmãos, e aos do sexo masculino ensinarei esta arte, se desejarem aprendê-la, sem remuneração ou compromisso escrito; compartilhar os preceitos, ensinamentos e todas as demais instruções com os meus filhos, os filhos daquele que me ensinou, os discípulos que assumiram compromisso por escrito e prestaram juramento conforme a lei médica, e com ninguém mais;

2. utilizarei a dieta para benefício dos que sofrem, conforme minha capacidade e discernimento, e além disso evitarei o mal e a injustiça;

3. não darei a quem pedir nenhuma droga mortal e nem darei esse tipo de instrução; do mesmo modo, não darei a mulher alguma pessário para abortar;

4. com pureza e santidade conservarei minha vida e minha arte;

5. não operarei ninguém que tenha a doença da pedra, e cederei o lugar aos homens que fazem isso;

6. em quantas casas eu entrar, entrarei para benefício dos que sofrem, evitando toda injustiça voluntária ou outra forma de corrupção, e também atos libidinosos (6) no corpo de mulheres e homens, livres ou escravos;

7. o que vir e ouvir durante o tratamento sobre a vida dos homens, sem relação com o tratamento e que não for necessário divulgar, calarei, considerando tais coisas segredo."

8. Se cumprir e não violar este juramento, que eu possa desfrutar minha vida e minha arte afamado junto a todos os homens, para sempre; mas se eu o transgredir e não cumprir, o contrário dessas coisas aconteça.


          Atribui-se a Hipócrates de Cos (viveu de 460-380 a.C.) a primeira coleção de textos médicos científicos do mundo antigo.

          Nesse período da história o médico aparece como representante de uma cultura refinada e metódica, com fim ético e caráter prático. Conhecedor da técnica, por sua dedicação à ciência, e destaque ético e filantropo, por seu amor à humanidade.

          Considera-se o Juramento de Hipócrates um documento histórico. Porém, deve ser ambientado na situação sócio-cultural da época, deixando de lado as interpretações exclusivamente idealistas.

          As obrigações nele contidas refletem ideais comuns também a outros grupos profissionais ou religiosos e relacionados a prejuízos populares pelo ofício médico. Assim que, alguns médicos se comprometeram a seguir normas de conduta popularmente aceitas. Essas normas procediam principalmente da esfera religiosa (p. ex., proibição do aborto: "Tampouco proporcionarei a mulher alguma um abortivo. Em pureza e santidade manterei minha vida e minha arte.").

          Confirma-se, desse modo, que o interesse do paciente é importante, e que todo homem é um indivíduo, o qual deve ser respeitado.

          Porém, a instituição do Juramento foi interpretada, também, como um compromisso exigido ao médico para ingressar no grêmio de Asclepíades (Asclépio ou Esculápio, deus da medicina grega), com objetivos eminentemente utilitaristas ou como filiação a uma secção na qual se compartilhavam os conhecimentos.

          Não foi emitido por todos os médicos, nem extensamente consagrado como instituição, mas foi criado por um grupo que propunha uma ética exigente, como meio de formar uma conduta.

          Existe no Juramento uma chama utilitarista: o médico cuida por sua boa reputação e esta se obtém agindo conforme é devido.

          A glória é uma aspiração geral entre os homens.
 
 

ORAÇÃO DO MÉDICO







"Senhor: Tu és o grande médico
Ajoelho-me diante de Ti,
Já que tudo que é bom
Vem de Ti, eu te peço:
Habilidade para minhas mãos
Lucidez para meu espírito e
Compreensão para meu coração;
Afasta do meu coração a cobiça e a mesquinhez,
Dá-me correção nas atitudes e
Força para poder aliviar
Ao menos uma parte
Da carga de sofrimentos
Dos meus semelhantes.
Dá-me a graça de compreender
O privilégio que Tu me concedes,
Dá-me a graça de confiar em Ti
Com fé simples de uma criança
Amém."

Autor desconhecido.


 

          Eis aqui o que há acerca da doença dita sagrada: não me parece ser de forma alguma mais divina nem mais sagrada do que as outras, mas tem a mesma natureza que as outras enfermidades e a mesma origem.
Hipócrates, -430/-420

 

          A coleção hipocrática (Corpus Hippocraticum) é uma coleção heterogênea de escritos médicos em dialeto iônico, reunidos ao longo de quase sete séculos. São aproximadamente 60 tratados, de temática muito variada, distribuídos em cerca de 70 livros.

          Os "livros" da Coleção Hipocrática foram considerados textos básicos da medicina no Ocidente até fins do século XVIII, e somente as modernas descobertas da ciência, a partir do século XIX, os suplantaram em importância nas escolas médicas.

          O método de abordagem do doente e da doença, os princípios básicos de diagnóstico e tratamento, e mais as bases filosóficas e éticas estabelecidas pela Coleção continuam, todavia, tão atuantes hoje quanto há mais de 2000 anos.


 
 

Origem e autoria







          Uma das hipóteses correntes é a de que todos os escritos médicos da escola de Cós (e provavelmente também alguns da de Cnidos) foram reunidos no Período Helenístico pelos sábios alexandrinos. O núcleo mais antigo da coleção continha, aparentemente, apenas 21 tratados, conforme o testemunho de Báquios de Tânagra no século -III. O cânone definitivo, de 60 tratados, foi estabelecido provavelmente no século XI pelos eruditos bizantinos.

 
 

          Os textos mais antigos datam provavelmente de -450/-430, e os mais recentes dos séculos II e III. Embora a coleção tenha sido tradicionalmente atribuída a Hipócrates de Cós, nenhum dos escritos pôde ter sua autoria a ele vinculada com qualquer grau de certeza, nem mesmo o famoso Juramento de Hipócrates.

          Somente o tratado Da Natureza do Homem, escrito manuscrito Vaticanus graecus
(1512) a 1ª edição do Corpus hippocraticum no Ocidente (1525)  por volta de -400, pode ser atribuído com alguma plausibilidade a Pólibos, genro de Hipócrates.


 
 

Os textos

          Além de tratados médicos propriamente ditos, há vários outros tipos de texto: conferências sobre medicina e filosofia, textos para leigos, notas para orientação de alunos, rascunhos e minutas de discursos. A extensão e a qualidade é muito desigual.

          Os escritos podem ser agrupados, de forma prática, do seguinte modo:


 

    Da doença sagrada
    Da lei
    Da natureza do homem
    Do decoro
    Do médico
    Preceitos
 
 
 

Medicina em geral: Da Arte, Da Medicina Antiga, etc.

Comportamento do médico: Juramento, Do Médico, Do Decoro, etc.

Anatomofisiologia: Da Anatomia, Da Natureza do Homem, Do Coração, etc.

Medicina preventiva: Da Dieta, etc.

Patologias em geral: Epidemias, Da Doença Sagrada, Das Doenças, etc.

Patologias específicas: Da Visão, Das Enfermidades das Mulheres, Do Parto de Oito Meses, etc.

Terapêtica: Da Dieta nas Enfermidades Agudas, Do Uso dos Líquidos, etc.

Cirurgia: Das Articulações, Dos Ferimentos na Cabeça, Das úlceras, etc.

Assuntos diversos: Da Dentição, Aforismos, e outros.
Traduções

          A primeira edição completa dos manuscritos, no Ocidente, é a aldina, de 1526. A mais antiga e completa edição e tradução para uma língua moderna é a do médico e erudito francês Émile Littré (1801-1881), publicada em 10 volumes entre 1839 e 1861. Foi a primeira edição dos manuscritos segundo as modernas técnicas filológicas.

          Edições posteriores e mais atualizadas estão em curso desde 1923, nas coleções Loeb (inglês), Belles Lettres (francês), Corpus Medicorum Graecorum (alemão), e Biblioteca Clasica Gredos (espanhol). Em italiano, há algumas traduções esparsas; em português... praticamente nada.

"Traduzi, recentemente, os cinco textos ligados à ética médica: Juramento, Da lei, Do médico, Do decoro, Preceitos. O Prof. Henrique Cairus, da UFRJ, já traduziu dois importantes tratados. E outras traduções, espero, estão a caminho..." ( Dr. Wilson A. Ribeiro Jr.

- Ver Bibliografia )
 
 

Apresentação

          Hipócrates (460-375/351 a.C.), o pai da Medicina, foi o mais importante médico da Grécia Antiga e possivelmente de toda a Medicina Ocidental. Iniciador da medicina racional e da deontologia médica, seus ensinamentos baseavam-se na rigorosa observação do doente, na análise racional dos fatos clínicos observados, na escrupulosa correlação das causas e seus efeitos, no uso de recursos naturais para o tratamento das doenças, e na obsessiva honestidade no trato com o doente e seus familiares. Ao contrário da maioria de seus predecessores, jamais recorria à magia ou à religião para explicar as doenças, e considerava a todas fenômenos naturais. Já em vida sua fama era muito grande, conforme o testemunho de Platão, seu contemporâneo e admirador (2).

          Uma vasta compilação de obras médicas em dialeto iônico, o Corpus Hippocraticum (CH), é tradicionalmente atribuída a ele. Há mais de 2.000 anos o CH é o texto médico fundamental da Medicina no Ocidente e, até há pouco (séc. XVIII), sua leitura era ainda exigida em muitas Faculdades de Medicina.

          É possível que algum dentre os 72 "livros" que compõem o CH seja efetivamente da autoria de Hipócrates, mas até hoje os estudiosos falharam em vinculá-lo diretamente a qualquer um deles. A grande maioria, seguramente, foi escrita pelos discípulos e médicos que o sucederam. Alguns textos, sem dúvida, são ainda anteriores a ele (3).


 
 

Iusiurandum

          Com cerca de 250 palavras, o "Juramento", denominado tradicionalmente Iusiurandum pelos estudiosos de manuscritos, é o mais curto dos escritos médicos do CH e, sem dúvida, o mais estudado em toda a sua longa história. Bacchios de Tânagra, médico alexandrino do séc. III a.C., o mais antigo comentador do CH, não o conhecia; a primeira referência a ele é de Erotianos, que viveu no tempo de Nero (37-68 A.D.) e, aliás, considerava-o genuinamente hipocrático. Foi comentado por Galeno, famoso médico romano do séc. II A.D., conforme tradição que chegou até nós através dos árabes. Há um certo acordo quanto à data de composição: fim do séc. V ou início do séc. IV a.C.

          O mais antigo manuscrito que contém o texto é o Marcianus Venetus 269, do séc. XI; a primeira edição no Ocidente, em tradução latina, é a de M. Fabium Caluum, de 1525. No ano seguinte, 1526, saiu a famosa "edição aldina", Omnia Opera Hippocratis, considerada a edição princeps do texto grego.

          O leitor moderno verificará que, apesar de sua antigüidade, os preceitos éticos preconizados pelo Ius Iurandum continuam válidos, e o Juramento de Hipócrates conserva o mesmo vigor e atualidade de há 2.500 anos.


 As palavras em grego foram digitadas com a Fonte SPIonic.

ORKOS (4)
1. 7)Omnu/w70Apo/llwna i0htro\n kai\ 70Asklhpio\n
kai\7(Ugei/an kai\ Pana/keian kai\ qeou\j pa/ntaj te
kai\ pa/saj, i(/storaj poieu/menoj, e0pitele/a poih/sein
kata\ du/namin kai\ kri/sin e0mh\n o(/rkon to/nde kai\
suggrafh\n th/nde:

h(gh/sasqai/ te to\n didacanta/
me th\n te/xnhn tau/thn i)/sa gene/th|sin e0moi=j,
kai\ bi/ou koinw&sasqai kai\ xrew~n xrhi%zonti
meta/dosin poih/sasqai kai\ ge/noj to\ e0c au)tou~
a)delfoi=j i)/son e0pikrine/ein a)/rresi kai\ dida/cein
th\n te/xnhn tau/thn, h0\n xrhi%zwsi manqa/nein, a)/neu
misqou~ kai\ suggrafh~j, paraggeli/hj te kai\
a)kroh/sioj kai\ th~j loiph~j a(pa/shj maqh/sioj
meta/dosin poih/sasqai ui9oi=j te e0moi=j kai\ toi=j tou~
e0me\ dida/cantoj, kai\ maqhth|~si suggegramme/noij
te kai\ w(rkisme/noij no/mw| i0htrikw|~, a)/llw| de\ ou)deni/.

2. diaith/masi/ te xrh/somai e0p' w)felei/h| kamno/ntwn
kata\ du/namin kai\ kri/sin e0mh/n, e0pi\ dhlh/sei de\
kai\ a)diki/h| ei)/rcein.

3. ou) dw/sw de\ ou)de\ fa/rmakon
ou)deni\ ai0thqei\j qana/simon, ou)de\ u(fhgh/somai sum-
bouli/hn toih/nde: o(moi/wj de\ ou)de\ gu/naiki\ pesso\n
fqo/rion dw/sw.

4. a(gnw~j de\ kai\ o(si/wj diathrh/sw
bi/on e0mo/n kai\ te/xnhn e0mh/n.

5. ou) teme/w
de\ ou)de\ mh\n liqiw~ntaj, e0kxwrh/sw de\ e0rga/th|sin
a)ndra/si prh/cioj th~sde.

6. e0j oi0ki/aj de\ o(ko/saj a)\n
e0si/w, e0seleu/somai e0p' w)felei/h| kamno/ntwn e0kto\j
e0w\n pa/shj a)diki/hj e9kousi/hj kai\ fqori/hj, th~j te
a)/llhj kai\ a0frodisi/wn e)/rgwn e0pi/ te gunaikei/wn
swma/twn kai\ a)ndrei/wn, e0leuqe/rwn te kai\ dou/lwn.

7. a(\ d' a)\n e0n qerapei/h| h)\ i)/dw h)\ a)kou/sw, h)\ kai\ a)/neu
qeraphi/hj kata\ bi/on a)nqrw/pwn, a(\ mh\ xrh/ pote
e0klalei=sqai e)/cw, sigh/somai, a)/rrhta h(geu/menoj
ei]nai ta\ toiau~ta.

8. o(/rkon me\n ou}n moi to/nde e0pi-
tele/a poie/onti, kai\ mh\ sugxe/onti, ei)/h e0pau/rasqai
kai\ bi/ou kai\ te/xnhj docazome/nw| para\ pa~sin
a)nqrw/poij e0j to\n ai0ei\ xro/non: parabai/nonti de\
kai\ e0piorke/onti, ta)nanti/a tou/twn.
 
 

Comentários






          O texto começa por uma invocação (1a), que precede as cláusulas juramentárias (1b a 7), e termina com uma "imprecação" (8).

          Na invocação o autor dirige-se especificamente aos deuses protetores da prática médica e, por segurança, também aos demais deuses e deusas; a imprecação no final do texto evoca punições aos que não cumprirem as cláusulas do juramento. Essa fórmula solene de apelo aos deuses e a penalização dos violadores de juramentos, se bem que presente desde cedo na cultura grega, é ainda mais antiga e provavelmente de origem oriental. A finalidade dessas fórmulas é emprestar ao texto um caráter sagrado, desnecessário em contratos privados amparados pela lei e pelos tribunais humanos, mas essencial nos pactos de ordem moral. As cláusulas compreendem dois tipos diferentes de compromisso, apresentados seqüencialmente. O primeiro tipo (1b) refere-se a um pacto familiar ou corporativo, e o segundo tipo (2-7) a um código de conduta tanto profissional como pessoal, a ser observado no dia-a-dia da prática médica.

          O pacto familiar e corporativo acompanha os costumes da época. Note-se que os filhos habitualmente seguiam a profissão dos pais, especificamente os "filhos do sexo masculino", considerando-se o papel social da mulher na Grécia Antiga. O texto sugere também que os médicos se uniam em corporações semelhantes às guildas medievais, com rituais e até liturgias próprias (seria o Juramento uma dessas cerimônias ?). Que o ensino médico fora da família era usualmente remunerado e regulamentado, não há dúvida, conforme o testemunho de Platão no Protágoras.

          Quanto ao código de conduta pessoal e profissional, a maioria das cláusulas é bastante clara. Assinale-se, no entanto, que fa/rmakon (3) designava qualquer substância capaz de alterar a natureza do corpo e tem sentido tanto positivo (remédio) como negativo (veneno) e dela originou-se a palavra portuguesa fármaco; que pesso/n (3), origem da palavra latina pessarium, referia-se genericamente a uma pedra redonda ou oval, utilizada originalmente como peça de jogos de tabuleiro e que mais tarde passou a designar objetos colocados na vagina para fins terapêuticos ou para induzir abortos.

          O parágrafo 5, finalmente, a despeito de extensivas análises, continua obscuro até o presente. Pode ser uma referência à colelitíase, doença que acumula pedras na vesícula biliar, à separação entre "Medicina" e "Cirurgia", ou talvez uma recomendação genérica, ainda válida, de que o médico não deve aventurar-se a fazer coisas de que não tem pleno conhecimento...


 
 

O todo de Hipócrates

Trecho do diálogo Fedros, do filósofo Platão, em que Sócrates menciona o médico Hipócrates de Cós. Data aproximada: -430/-420.

 

(...)

SÓCRATES. Você pensa que é possível, então, compreender satisfatoriamente a natureza da alma à parte de toda a Natureza?

FEDROS. Se devemos acreditar em Hipócrates, o dos Asclepíades, não podemos compreender nem mesmo o corpo sem recorrer a esse método.

SÓCRATES. Ele tem razão, meu amigo, ao dizer isso. É preciso, portanto, examinar o argumento em relação (às palavras) de Hipócrates e verificar se eles (os argumentos) se harmonizam.

FEDROS. Concordo.

SÓCRATES. Observe, então, o que podem dizer sobre a Natureza tanto Hipócrates quanto o argumento verdadeiro. Certamente, é do seguinte modo que devemos investigar a natureza de qualquer coisa:
(...)
 

[ 270c - 270d ]

Referência
    Platon tome IV 3e partie - Phèdre - Paris: Les Belles
    Lettres, 1954, pág. 80

Tradução
    Wilson A. Ribeiro Jr.


 

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Texto suplementar de ' Hipócrates de Cós '

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Bibliografia:







-Doutor Wilson A. Ribeiro Jr. :  http://warj.med.br/ciencias.html
 que sem as contribuições deste renomado Médico e Pesquisador esta página não seria possível.
Meu muitíssimo obrigado por ter-me permitido compilar alguns dos seus trabalhos e publicá-los em meu "Hipócrates" o qual 3/4 o pertencem.



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