Smallville - Reunião

Capítulo 6 - Um Comediante Frustrado.


A noite cai.

Peter Parker e Chloe Sullivan caminham pelas ruas de Pequenópolis na direção do Talon. Um tanto envergonhados, hora ou outra trocam olhares e sorrisos tímidos. O fotógrafo mal podia acreditar. Estava saindo com uma garota! Aguardara por um momento como aquele durante muito tempo, e faria de tudo para que aquele encontro se tornasse inesquecível.

– Peter! - chamou Chloe, tirando o jovem de seus pensamentos.

– Sim?

– Você tinha alguma pessoa especial em Nova York?

– Como assim?

– Você sabe, uma namorada...

O rapaz olhou para a calçada por alguns segundos antes de responder num sorriso:

– Eu sempre gostei de uma garota chamada Mary Jane, mas ela nem deve saber que eu existo... Sempre a amei em segredo, sem ser amado...

– É, eu sei como é isso...

Chloe se referia à sua paixão por Clark Kent. Ela sempre o amara sem ser correspondida, pois ele apenas tinha olhos para Lana Lang. A editora do “A Tocha” suspirou, procurando afastar tais lembranças. O importante era que estava indo ao Talon com um rapaz bonito, simpático, inteligente e, o mais importante, que parecia mesmo estar interessado nela.

Nesse instante, Peter tomou coragem e ofereceu sua mão direita à jovem. Para a felicidade de Parker, Chloe entrelaçou seus dedos aos do rapaz sorrindo amavelmente, e assim, de mãos dadas, o casal seguiu até o Talon.

 

Não muito longe dali, Clark também caminhava até o café onde sua mãe trabalhava. Precisava relaxar um pouco. Mesmo assim, não conseguia tirar o misterioso Bruce Wayne da cabeça. Afinal de contas, por que ele havia se tornado um criminoso? O que o levara a se transformar no mesmo tipo de pessoa responsável pela morte de seus pais? Por mais que tentasse, Kent não conseguia compreender aquela atitude por parte do jovem milionário.

Foi quando sua audição sobre-humana agiu. Clark começou a ouvir uma conversa suspeita não muito longe dali, a qual um ouvido comum não seria capaz de identificar. Parando de caminhar, o jovem concentrou-se no diálogo que ocorria:

– Até que o dono daquela loja tinha bastante dinheiro, o Cletus ficará satisfeito! - disse uma voz masculina.

– Vamos voltar para o esconderijo, talvez ainda ajamos esta noite! - exclamou outro homem.

Aproveitando-se do fato de a rua estar deserta, Clark seguiu na direção das vozes usando sua supervelocidade. Contornando uma esquina, avistou dois indivíduos caminhando de costas para si alguns metros à frente. Trajavam vestes negras. Sem dúvida alguma eram dois dos assaltantes que haviam invadido o Talon vinte e quatro horas antes. Caminhando discretamente, o rapaz começou a seguí-los. Chegara o momento de desmantelar aquela quadrilha...

 

Peter e Chloe chegaram ao Talon. Logo na entrada havia dois policiais garantindo a segurança dos funcionários e fregueses, conseqüência do assalto ocorrido na noite anterior. Ao ganhar o interior do estabelecimento, o casal percebeu que o local estava lotado. Inúmeros jovens circulavam pelo café aguardando o início do show de comédia, seja batendo papo ou namorando.

Depois de alguns passos, os dois recém-chegados, ainda de mãos dadas, encontraram Lana Lang.

– Olá! - saudou ela.

– Oi, Lana! - retribuiu Chloe num sorriso. - Como está o Jason?

– Graças a Deus aquele tiro o pegou apenas de raspão... Ele já está bem, só não veio aqui hoje porque precisou ir tratar de alguns assuntos em Metropolis. Quem é seu acompanhante?

– Ah, este é o Peter, o novo fotógrafo do jornal do colégio!

– Muito prazer! - disse Parker, cumprimentando Lana com um aperto de mão.

– Igualmente! - respondeu Lang. - Creio que já nos conhecemos de vista!

Nisso, as luzes do Talon se apagaram, enquanto refletores no teto lançavam feixes luminosos coloridos sobre o palco montado para a apresentação do show. Numa das paredes do estabelecimento estava pendurada uma grande faixa com o nome do espetáculo, “Laughing Clown”, ao lado do desenho de uma cabeça de palhaço fazendo careta. E, após breve rufar de tambores, surgiu o comediante, trajando terno e calça de cores berrantes, além de uma gravata borboleta listrada. Tinha a face coberta de maquiagem branca e usava grande esfera vermelha sobre o nariz. Os cabelos verdes arrepiados completavam a aparência daquele perfeito bobo da corte.

– Boa noite, pessoal! - gritou o artista em tom lunático.

A platéia, curiosa em relação àquele divertido personagem, respondeu “Boa noite!” entre risadas. O comediante improvisou uma engraçada dança antes de apanhar novamente o microfone e dizer:

– Ah, Pequenópolis... Acho que se não fosse pela chuva de meteoros, esta cidade nem apareceria no mapa!

O palhaço fez uma breve pausa aguardando as risadas dos espectadores, mas elas não vieram. Mesmo assim continuou:

– Sabe, quando meu empresário disse que eu faria um show aqui, fiquei com medo de não encontrar a cidade! Depois de passar uma hora procurando Pequenópolis num mapa do Kansas, vi um pontinho minúsculo perto de Metropolis e me perguntei: “Será mesmo a tal cidadezinha ou é só cocô de mosquito?”.

O comediante parou novamente de falar por um instante, mas ao invés de gargalhadas, ouviu uma ou duas vaias. Porém, não se intimidou:

– Ora, mas o que é que eu estou dizendo? Pequenópolis é uma cidade de primeira! Se você engatar a segunda, passa pela estrada sem vê-la!

O artista não se conteve e riu de sua própria piada, mas a reação da platéia foi bem diferente. As vaias aumentaram, e uma ou outra lata de refrigerante foi arremessada na direção do palhaço.

– Qual o problema de vocês? - indagou o humorista, irritado. - Estão zangados só porque a cidade onde vivem é uma metrópole de caipiras?

Praticamente todos os espectadores vaiavam agora o artista, enquanto uma chuva de objetos caía sobre o palco. Além das latas de refrigerante, eram jogadas bolas de papel, pares de tênis, copos descartáveis... Até tomates voavam sobre o infeliz comediante.

Em meio à confusão que se formou, Peter e Chloe deixaram rapidamente o Talon.

 

Clark seguira os dois bandidos por vários quarteirões sem ser percebido. Agora, escondido atrás de uma lixeira, o rapaz vê que a dupla de meliantes entra num galpão supostamente abandonado. Lá, além do cruel Cletus Kasady, o jovem provavelmente encontraria também o enigmático Bruce Wayne. Decidido, Kent deixa seu refúgio e segue cautelosamente na direção da porta cruzada pelos criminosos. Precisava pegá-los.

 

Em poucos minutos o Talon encontrava-se completamente vazio de fregueses, já que todos, irritadíssimos com as piadas do comediante sobre Pequenópolis, haviam ido embora após terem exigido seu dinheiro de volta. Naquele momento, Lana Lang e Martha Kent limpavam a sujeira feita pelos espectadores do show, enquanto o artista, responsável por tudo aquilo, podia ser visto sentado numa cadeira, cabeça baixa, fitando o chão fixamente. Tinha em mãos a esfera vermelha que antes cobria seu nariz. A mãe de Clark, observando o palhaço com maior atenção, percebeu que lágrimas escorriam sobre sua maquiagem branca, numa situação que contrastava totalmente com a empolgação que ele transmitira no início do espetáculo.

A esposa de Jonathan Kent compadeceu-se do pobre comediante. Ele queria apenas levar riso e alegria às pessoas, mas tivera o azar de contar o tipo errado de piada aquela noite. Tendo o coração amolecido pelo choro do palhaço, Martha caminhou até ele sem ser percebida, sentando-se numa cadeira ao lado. Após passar alguns segundos pensando no que falar, a funcionária do Talon disse:

– Não chore!

O artista olhou para a mulher entre soluços. Depois voltou a fitar o chão, murmurando:

– Não adianta me consolar, senhora... Sei que sou um comediante incompreendido e frustrado!

– Por favor, não fale assim! Todos nós temos dias ruins! Você apenas contou algumas piadas inapropriadas, errar é humano!

– Tudo que eu faço é inapropriado, senhora... - afirmou o comediante em tom melancólico. - Minha vida é um completo fracasso...

– Mas...

– Eu tinha um emprego promissor na ACE, uma indústria química de Gotham City, porém resolvi largar tudo para iniciar carreira como humorista, meu grande sonho... Queria dar uma vida melhor à minha esposa, pois em breve pretendemos ter um filho... Mas não há platéia na qual minhas piadas provoquem riso! A cena ocorrida há pouco já se repetiu inúmeras vezes durante meus shows... Tornei-me uma completa decepção naquilo que sempre quis ser!

– Tenha fé na vida, senhor...

– Jack - disse o artista em tom desanimado. - Jack Napier.

– Senhor Napier, tenho certeza de que as coisas melhorarão, pois possui um grande potencial e em breve seu talento será reconhecido!

– Como eu queria que as coisas fossem assim...

E, após mais um soluço, o humorista cobriu o rosto com as mãos, tomado por incomparável vergonha e sentimento de fracasso.


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