Anjos e Demônios

Capítulo 6: O Anjo sem Asas


Bem, finalmente esta fic está chegando ao fim. Quando comecei a escrevê-la, ficava horas e horas imaginando as cenas e fatos que aconteceriam. Mas fui acometida por uma outra idéia, para um novo fic, e acabei ficando dividida. Como acho que dedicação é fundamental, aguardei pacientemente o fim desta fic para escrever a próxima.

Apertem os cintos, pois costumo acelerar no último capítulo!

 

Trunks encostou a testa na da garota e chorou. Chorou violentamente. Deixara o amor de sua vida morrer em seus braços sem nem ao menos poder fazer nada para impedir a tragédia. Mas ao menos tinha um consolo dado pelo sorriso nos lábios da garota: Kagome morrera feliz.

Perdeu a noção de quanto tempo passara assim. Apenas voltou a realidade quando ouviu um grito feminino de terror. Olhou assustado e viu que era a mãe de Kagome que chegara junto com o filho mais novo, Souta. A mulher veio correndo em direção a Trunks, sem saber o que tinha acontecido. Gritou ao ver o futuro genro e a filha banhados em sangue.

- O que aconteceu aqui, Trunks? Por favor, não me diga que... - a mãe da garota chorava.

- Eu sinto muito, Sra. Higurashi. Eu não pude fazer nada. - Trunks continuava chorando.

A mãe de Kagome se ajoelhou e olhou o semblante da filha morta. Alisava a face da garota enquanto Souta chorava, triste.

- Veja o rostinho da minha Kagome, Trunks. Ela morreu feliz, ao menos isso. Não se culpe, com um ferimento destes você realmente não poderia fazer nada. Eu sabia que vocês estavam envolvidos em algo perigoso, mas não sabia que chegaria a este ponto. - ela fez uma pausa - Mas me orgulho da minha filha. Sei que ela também fez o que pode. - depositou um beijo na testa da filha e ficou olhando-a.

Duas pessoas subiram correndo e encontraram a cena. Eriol e Tokiko estavam com uma cara muito triste e se aproximaram.

- Sentimos o poder dela se esvair a poucos minutos, Trunks. Não sei o que dizer...

Trunks olhou para Eriol quando ele terminou de dizer isso.

- Kagome falou algo a respeito de uma mulher chamada Kikyou e disse que havia entendido tarde demais. O que você pode dizer sobre isso? - Trunks estava frio.

- Quando você estiver recuperado, Eriol te contará tudo. Agora vamos, vou colocar você numa maca, perdeu muito sangue e precisa de tratamento rápido. - Tokiko falou, mas Trunks não se movera.

Depois de alguns minutos, Trunks foi levado ao hospital junto com o corpo de Kagome. Tokiko providenciaria uma autópsia e livraria a todos de uma confusão com a polícia.

 

Arashi e Kurama estavam chegando à casa da garota, depois de terem fugido da praça agora florida.

- Kurama, nunca mais faça isso! Esqueceu-se de que não pode ser pego?

- Deixe-me em paz, garota!

Arashi congelou.

- O que você disse? - ela falou secamente.

- Eu disse para me deixar em paz! Francamente, eu faço o que quero da minha vida e ninguém não tem nada a ver com isso! - Kurama estava enfurecido.

- Eu sou ninguém pra você? Achei que estávamos tendo um relacionamento, mas vejo que me enganei.

- Sim, se enganou. Eu não te amo, garota. Será que nunca percebeu?

- Desculpe-me se fui tola ao achar que você estava interessado em mim. Por favor, nunca mais me dirija a palavra!

- Será um prazer. Mas não te desejo nenhum mal. Tome cuidado.

Kurama foi embora. Arashi, que até agora se mantivera impassível, mostrava sinais de tristeza. Sentou-se num banco em frente a seu prédio e começou a chorar. Chorava de ódio. Ódio por aquele homem que tanto amara e que a desprezara como se ela fosse um nada.

“Mas quem mandou se iludir, Arashi? Você sempre o achou frio e distante, por que então achou que ele poderia estar te amando? Ele só te usou... Mas pra quê?”

Continuava chorando Ficou assim por um tempo indeterminado, até que sentiu uma presença muito conhecida enfraquecer.

“Kagome! O que está acontecendo?”

Ela foi correndo até a casa de Kagome, mas, enquanto ainda estava muito longe de chegar, sentiu a presença da amiga ir embora. Parou bruscamente de correr. Sentiu a tristeza percorrer todo seu corpo junto com o ódio que estava sentindo por Kurama. Ouviu Eriol falar em sua mente.

“Arashi... Sinto muito, eu e Tokiko não chegamos a tempo de salvá-la... Trunks está ferido e foi encaminhado para o hospital. Vá até lá, estarei te esperando na porta.”

A voz de Eriol soava melancólica. As lágrimas vertiam do rosto de Arashi com mais intensidade e ela foi correndo até o hospital. Chegou e encontrou um Eriol arrasado na porta. Ficaram se encarando por um tempo.

- O que aconteceu? - Ela finalmente se manifestou.

- Venha comigo. Tenho umas palavras e explicações a dar para você e Trunks.

Os dois subiram, mudos. Chegaram até o quarto e entraram. Trunks estava sentado na cama, com as pernas estiradas e o tronco enfaixado. Estava muito abatido. Seus olhos, segundo Arashi percebeu, tinham perdido o brilho característico. Arashi se sentou num sofá e Eriol permaneceu em pé.

- Acho que devo algumas explicações a vocês dois...

- Sim, Eriol. Você deve muitas explicações. Arashi, onde está Kurama? - a voz de Trunks era seca, sem emoção.

- Não me pergunte mais dele, Trunks. Não quero nem mais ouvir aquele nome.

- O que aconteceu? - Eriol perguntou, mas já sabia a resposta.

- Nós rompemos qualquer tipo de relação. Aquele idiota!!! - Arashi estava enfurecida. Seus olhoss marejavam num misto de ódio e tristeza.

- Aquele estúpido teve coragem de fazer isso... Mesmo depois de tudo... - Eriol murmurou para si, mas Arashi ouviu.

- E como fará sem ele aqui? - Trunks perguntou.

- Vocês não vão ouvir nada que ele já não saiba. - Eriol fez uma pausa e recomeçou - De toda forma, eu ainda vou falar umas coisas para ele. Bem, vamos começar. Trunks, você poderia nos contar exatamente o que aconteceu hoje? Sei que é doloroso, mas precisamos de esclarecimentos.

- Bem, eu estava esperando Kagome quando ela surgiu, toda ensangüentada, com aquele terrível corte, brandindo o arco. Ela atirou em mim, mas errou. Aí ela ficou estranha. Parecia conversar com alguém, não sei bem quem era, mas lembro-me de ela ter chamado a tal “pessoa” de Kikyou... Aí ela caiu e fui socorrê-la. Tudo que ela me disse, além do fato que me amava, foi: “Diga ao Eriol que, infelizmente, eu só pude compreender tudo quando já era tarde demais.”. Mas teve outro fato interessante: em um determinado momento, logo antes de morrer, Kagome ficou aterrorizada e parecia querer me avisar de alguma coisa, mas não conseguiu.

- Pelo menos ela entendeu tudo, no fim...

- Tudo o quê, Clow? - Arashi estava impaciente.

- Não me chame assim, Arashi. Não você. A história é um pouco enrolada. Há mais de 500 anos vivia, no Japão, uma sacerdotisa chamada Kikyou. Ela protegia um artefato mágico, o shikon no tama, e acabava por atrair muitos youkais. Clow ficou interessado no poder do shikon e foi procurá-la. Era uma mulher admirável. Porém, por causa do shikon, acabou sofrendo de intrigas. Ela era apaixonada por um hanyo chamado Inu Yasha e um youkai maléfico, chamado Narak, armou uma cilada, fazendo com que Kikyou matasse Inu Yasha, achando que ele era o responsável pela morte dela, e depois falecesse.

- Exatamente o que aconteceu com Kagome e eu, exceto a minha morte!

- Sim, essa era a intenção de quem os atacou. Kagome era a reencarnação da sacerdotisa Kikyou e este era o seu destino. Kikyou tentou alertá-la, tentando evitar que ela caísse neste trágico destino, mas, como Kagome mesma disse, ela percebeu tarde demais.

- Que meios Kikyou tentou utilizar para alertar Kagome? - Arashi perguntou.

- Sonhos, visões, o diário do mago Clow e o arco.

- Então foi ela quem mandou aquele arco? - Trunks parecia entender tudo o que se passou rápido demais.

- Sim. Queria protegê-la.

- Mas Kagome pode se utilizar destes mesmos meios para nos avisar o que ela queria antes de morrer? - Arashi perguntou.

- Temo que não. Uma alma, quando morre, é deslocada imediatamente para o mundo espiritual, e creio que Botan já o fez. Quando ela lá chegar, a sua essência, que são os sentimentos e lembranças, se destacarão de sua alma. A essência será julgada, recebendo o castigo ou a recompensa eterna. A alma seguirá por outro lugar, onde esperará mais algumas centenas de anos para receber um novo corpo e voltar para o mundo dos homens, ou das trevas. Mas fiquei intrigado com este aviso que Kagome queria dar...

- Qual será o nosso próximo passo? - Trunks perguntou.

- Boa lembrança, meu caro. A partir de hoje, vocês dois estão oficialmente fora desta missão. Essa empreitada tomou um rumo muito perigoso para todos e a morte de Kagome é a maior prova. Não quero envolvê-los mais nisso. Agora sou eu, Koenma e Kurama nesta missão.

- Sinto muito, meu amigo, mas simplesmente não posso cruzar os braços depois de tudo o que aconteceu. O mínimo que quero agora é me vingar de quem matou a minha Kagome e tentou me matar. E nem você e nem ninguém vai me impedir de fazer isso, Eriol. - Trunks se irritara com as palavras do garoto.

- Já disse que não quero mais os dois nisso. Agora já chega, preciso ir.

Um Eriol nervoso e irritado deixou o quarto.

- Trunks, eu concordo com você. E ainda digo mais: Eriol e Kurama sabem de muito mais coisas. Tenho certeza até de que eles sabem quem está por trás disso tudo. Vamos esperar um pouco até você se recuperar e vamos agir por conta própria. Agora descanse. - ela deu um beijo na testa do rapaz e saiu.

Trunks passou um bom tempo observando o dia lindo que fazia lá fora. Era um contraste imenso com seu interior destruído. Ele começou a chorar, lembrando-se de Kagome...

 

O homem entrou novamente no ambiente e encontrou Chizuru sentada da mesma maneira de quando ele saíra. Aproximou-se da mulher e colocou as mãos em seus joelhos. Ela despertou de um pequeno transe e falou com a voz embargada.

- Ela está morta, não é verdade? Aquela garota?

- Sim, está.

- Foi você que a matou? - ela o olhava com seus grandes olhos azuis intrigados.

- Sim, fui eu. Mas não fiz isso só por você. Fiz por mim também. Ela mereceu morrer, é a lei da natureza.

- Você não conhece a natureza para dizer isto, meu amigo. Mas não pense que vou lhe agradecer. Não quero me sentir culpada pela morte dela. Se ao menos ela fosse aquela sacerdotisa...

- Não vamos mais falar de assuntos desagradáveis. Eu tenho a impressão de que encontrei o amuleto que você tanto quer.

- Sério?

- Sim, é verdade. Tenho carta branca para agir?

- Se não for pra fazer alguma crueldade, tem sim.

- Ótimo. E você ainda não está pronta para responder nenhuma das duas perguntas que eu te fiz?

- Talvez... Refaça a primeira pergunta. Só te responderei a segunda quando estiver com o amuleto.

- Fantástico. Qual o nome do youkai que você amava?

- Youko.

 

Eriol entrou em casa e foi até a biblioteca. Kurama o estava esperando sentado.

- Olá, Clow! Por que você está tão agitado? - Kurama o cumprimentou com um sorriso.

- Eu que devo perguntar o porquê de você estar tão tranqüilo, mas já sei a resposta. - Eriol sentou de frente para o rapaz.

- Você está me olhando muito feio, meu caro. Parece até que fiz algo de errado...

- E não fez? Não seja cínico, você é esperto como uma raposa...

- Bem, eu sou uma raposa... - Kurama deu uma risada e Eriol ficou mais zangado - Mas você sabe muito bem que não tenho culpa na morte daquela menina! Não era o único interessado na morte dela!

- Neste ponto você tem razão. Mas como você me disse há dias, você a odiava e estava cada vez mais difícil de fingir que estava tudo bem. Logicamente você era a primeira pessoa em que eu pensaria ter culpa. Mas eu me esqueci das outras duas pessoas interessadas...

- Duas pessoas? Eu só conheço uma! - Kurama pareceu surpreso.

- Isso não vem ao caso, Kurama. Como você teve coragem de fazer o que fez com a Arashi?

- Agora entendi o motivo de sua irritação...

- Não se faça de sonso. - Eriol parece tentar se recompor, sem muito sucesso.

- Bem, agora que a minha meta com ela foi atingida, pelo que Koenma nos disse, então creio que não preciso manter nenhum vínculo com ela, certo?

- Errado. Principalmente por você ter feito o que fez era que devia ficar ao lado dela! Eu te avisei que se você fizesse algum mal àquelas garotas, você iria acertar suas contas comigo.

- Não quero acertar as contas com você, Clow. Para mim, já basta o julgamento do mundo espiritual. E, afinal, eu não fiz nenhum mal a elas...

- Pode não ter feito necessariamente o mal, mas também não fez o bem. Se quisesse ter feito o que fez com Arashi, deveria ter feito com o seu anjinho.

- Não ouse mencionar este assunto ou este nome aqui, Clow! - Kurama vociferou - O passado deve ficar para trás.

- Mas você que insistia em desenterrá-lo logo quando Koenma te enviou! - a voz de Eriol tinha uma nota de sarcasmo.

- Vamos parar com esta discussão estúpida?

- Está bem. - Eriol agora voltara a sua calma habitual - Diga-me: você suspeita do que seja o aviso que Kagome queria nos dar antes de morrer?

- Só poderia ser a revelação do nome do assassino. E já que ficou tão perturbada, isso reforça as minhas suspeitas...

- Sobre ele?

- Evidentemente. - Kurama se levantou e fez menção de sair; Eriol o interrompeu.

- Kurama, você está diferente. Não está escondendo nada de mim, não é mesmo?

- Não, meu caro.

- Você já errou uma vez por ambição, não queira errar a segunda vez.

- Não. Se eu errar, não será por ambição.

Kurama sai da sala.

- Eu devia ter mantido a minha oposição quando ele foi envolvido neste caso... Embora não fosse adiantar, pois ele está diretamente ligado a ele... - Eriol fica observando a paisagem da janela da biblioteca.

 

Já fazia uma semana que Kagome havia falecido. Trunks ainda estava em processo de cicatrização, mas Tokiko já tinha lhe dado alta. Ele e Arashi haviam combinado de se encontrar numa praça meio afastada, por volta de três horas. Precisavam combinar os detalhes de sua busca individual pelo amuleto e por respostas.

Ele sentara num banco. Usava uma calça preta de brim e uma camisa branca de botões. Não podia fazer movimentos bruscos ou corria o risco de reabrir o ferimento. Não esperou muito quando Arashi apareceu. A garota vestia um lindo vestido azul marinho até o joelho, bem rodado.

- Você está muito bonita, Arashi-chan.

- Muito obrigada.

- Sente-se. Precisamos traçar as nossas metas.

Ela obedeceu.

- Trunks, você consegue sentir alguma presença estranha como Kagome o fazia?

- Não. E sei que você também não sente. Acho que devíamos ficar atentos aos movimentos de Eriol e de Kurama.

- É uma boa idéia. Eu estou com fome...

- E não almoçou?

- Almocei sim, mas é que estou comendo muito ultimamente...

- Cuidado, você vai engordar.

- Acho que é porque estou meio deprimida com os últimos acontecimentos...

Ela parou de falar de repente. Ambos se entreolharam. Uma energia muito forte surgira num lugar mais ou menos próximo dali.

- Arashi, vamos até lá?

- Vamos sim. Eu conheço essa energia. É do Kurama.

 

Chizuru olhava a expressão de seu amigo intrigada. Ele sorria, mas ela saia que ele estava profundamente angustiado.

- Não me diga que se arrependeu de ter matado a garota?

- Não é isso.

Chizuru avaliou o silêncio do rapaz.

- É algo relacionado com a outra garota?

- Sim.

- Deixe-me adivinhar... Está enciumado e preocupado por causa do estado em que ela se encontra.

Ele não respondeu. Mas Chizuru sabia que acertara-lhe a ferida.

- Vou busca o amuleto que você tanto quer. - O homem disse, por fim.

Chizuru tinha um sorriso de triunfo no rosto.

- Você tem certeza de que achou o amuleto, meu caro?

- Claro que tenho. Não me restam mais dúvidas.

- Então o que está esperando para agir? Ficarei atenta a todos os seus movimentos, quando sentir a presença do amuleto, eu aparecerei.

- Tudo bem, então. Mas lembre-se de que ainda precisa me revelar o seu nome.

- Pode deixar.

O homem saiu. Chizuru estava ansiosa para finalmente recuperar a sua essência.

 

Kurama andava sozinho por uma praça. Há muito mandara às favas os conselhos de Eriol e resolvera agir por conta própria, como sempre quis desde o começo. E aproveitaria aquele local bem afastado da mansão Hirasigawa para fazê-lo.

Notou que estava sendo seguido. Não porque sentisse uma presença estranha. Ele sentiu um olhar assassino o seguindo. Sorriu. Continuou andando até o meio da praça.

- Não gosto de pessoas que vivem nas sombras. Apareça!

O vento soprava. Uma pessoa encapuzada desceu do alto de uma das árvores da praça. De estatura bem mais baixa que a de Kurama e portando uma espada, ele parou e observou Kurama.

- Finalmente apareceu. Sabia que você é bem baixo para um homem? Parece até uma mulher...

O homem riu.

- Por que não me entrega logo o que eu vim pegar? - falou num tom infantil.

- Não sabia que você era tão impaciente... - Kurama riu com sarcasmo - Por que não me mostra seu rosto? Está com medo?

- Medo? O que é isso? - o homem riu.

Kurama colocou uma mão atrás do cabelo e puxou uma rosa.

- Para mim? Muito obrigado, eu não quero. - o homem deu uma risada.

- Ah, que peninha. - Kurama estava começando a se impacientar com a falta de emoção do adversário.

- Bem, você nem ao menos é um espadachim... Não vou usar minha técnica com você. Usarei princípios básicos.

- Está me subestimando? Rose Whip!

A rosa que Kurama segurava se transformou num chicote. O homem não respondeu. Apenas usou a mão para descolar a espada da bainha, sem retirá-la. Passaram alguns minutos se analisando. Ninguém queria dar o primeiro passo. Mas o homem resolveu atacar.

Correu com uma incrível velocidade em direção de Kurama. Este tinha uma enorme dificuldade em prever os movimentos do inimigo, pois o homem não demonstrava nenhuma emoção ou energia. Kurama resolveu saltar. O homem apoiou-se no pé direito e saltou também. Atacou Kurama com a espada e este praticamente não conseguiu desviar. Ficou com um belo corte na perna esquerda. Mas o chicote de Kurama também golpeou o rapaz, cortando-lhe o braço esquerdo.

- Ainda conseguiu me atacar? Interessante... Parece que a minha Kikuichimonji-norimune (nome da espada) não foi rápida o suficiente...

Kurama arfava um pouco. Aquele corte tinha machucado muito a sua perna e iria ter dificuldades de locomoção. O rapaz não queria parar e veio novamente em sua direção.

- Fuu-Ka EnbuJin! - Kurama gritou e uma barreira de pétalas de rosas apareceu ao seu redor.

O homem estranhou a presença das pétalas, mas não hesitou. Saltou e sacou sua espada, atacando Kurama por cima. Porém as pétalas funcionaram como lâminas, fazendo vários cortes no corpo dele. Mesmo assim, ainda conseguiu desferir um golpe em Kurama, que atingiu o ombro direito de raspão. Afastou-se.

- Você é bom... Gostei destas pétalas, são muito bonitas. - O rapaz sorriu.

Kurama estava ficando extremamente irritado com aquele rapaz e resolveu se revelar. O poder de Kurama foi aumentando progressivamente e a sua aparência também foi se modificando. Seus cabelos tornaram-se prateados e seus olhos, dourados. Tinha um par de orelhas acima da cabeça e um rabo de raposa. Suas vestes foram trocadas por um manto branco.

- Você é um youkai? Não sabia...

- Você é muito jovem, meu caro. Há muitas coisas que desconhece neste mundo.

Kurama deu um sorriso cínico.

- Makai no Ojigisou! - Kurama ordenou.

Uma grande planta brotou no chão.

- Mas o que é isso? - O rapaz perguntou.

- Mimosa do mundo das trevas.

- Ah, a planta que se retrai com o toque? Já ouvi falar...

Kurama sorriu. O rapaz iniciou o movimento em direção de Kurama novamente. Mas aconteceu algo fora de seus planos. A planta começou a atacá-lo furiosamente. Ele quase não teve tempo de desviar e recebeu um corte na altura do fígado.

- Esta planta ataca o fogo e tudo aquilo que se movimenta. - Kurama riu sarcasticamente.

O rapaz parecia ter dificuldades de desviar da planta e começou a cortá-la fervorosamente. Continuava se movimentando para frente, num ponto atrás de Kurama.

“Idiota... Só vai morrer mais rápido...”

Mas então foi Kurama quem ficou surpreso. A planta parecia agonizar e ele se virou para trás. O rapaz havia encontrado a raiz da planta e a cortara. A mimosa estava morta. Kurama preparou uma espécie de espada criada a partir de uma planta e começou a lutar com o rapaz.

Rapidamente Kurama descobriu que não tinha a técnica suficiente para deter aquele homem. Mas sorria. Resistia bravamente aos ataques, porém, em um determinado momento, o homem sumiu. Kurama começou a procurá-lo, em vão. Não conseguia sentir nenhum tipo de energia. Era como se aquele homem nunca tivesse existido.

Notou uma movimentação atrás de si e viu duas pessoas se aproximando. Eram Arashi e Trunks. Como os dois nunca o viram naquela forma, não o reconheceram. Embora Arashi tivesse certeza que a energia que emanava do youkai era a mesma de Kurama.

Com esse pequeno deslize de atenção, o homem aproveitou para atacar. Veio numa velocidade fulminante, brandiu a espada e atacou. Um brilho muito forte começou a emanar do corpo do youkai. O amuleto de Anúbis aparecera novamente. Mas a intensidade do golpe do rapaz for tão forte que atravessara o amuleto no meio e atingira ainda em cheio o abdômen do seu alvo.

Arashi estava estranha. Tinha uma sensação muito ruim dentro de si e estava preocupada com aquele youkai estranho que tinha acabado de levar um golpe mortal. Trunks parecia indiferente. Veio em busca de Kurama e não o achou. Pelo menos achou o amuleto.

Kurama ficou surpreso com a potência daquele golpe. Aproveitou a proximidade e analisou o rosto do seu oponente. Sorriu com satisfação.

- Eu sabia que era você, meu caro. - sussurrou de modo que apenas o homem escutou.

Retirou a espada do youkai e o deixou cair no chão. Afastou-se. Começou a analisar o que tinha acontecido e se achava um idiota por ter quebrado o maldito amuleto junto. Chizuru jamais o perdoaria. Então se virou para trás de súbito. Uma voz feminina, a voz de Chizuru, apareceu gritando um nome.

- Youko! - A mulher tinha lágrimas nos seus lindos olhos azuis.

O youkai olhou surpreso para a mulher. Todo o seu cinismo desaparecera. Tudo que ele murmurou foi um nome.

- Mai...

O homem encostou-se numa árvore e ficou observando a cena. Arashi e Trunks também começaram a observar. Seja lá qual fosse a identidade deles, o amuleto estava destruído. Mas ouvir aquela história seria interessante.

A mulher correu em direção ao youkai e colocou a cabeça dele em seu colo. Começou a afagar-lhe os cabelos e a chorar copiosamente.

- É tão lindo ver um anjo chorar... - o youkai parecia sereno.

- Youko! Você estava mesmo vivo! Por que não me disse nada? Por que não me avisou?

- Avisar? - Mai notou uma nota de irritação na voz dele - Você não tinha o direito de achar que eu tinha morrido!

- Como não? Depois daquela flecha?

- A flecha realmente quase me matou, ia purificando aos poucos as minhas quatro almas. Mas consegui fugir e entrei num corpo de raposa que havia por ali. Esperava que você me achasse, mas você nem sequer me procurou!

- Eu achava que você tinha ido para o mundo espiritual e tudo o que eu fazia era pensar num jeito de retornar para lá! Como você conseguiu um novo corpo?

- Quando minha alma ficou forte o bastante, refugiei-me no corpo de um bebê ainda sendo gerado pela mãe. Esperei por você todo este tempo. Você não sabe o quão forte foi o meu desgosto quando soube por Koenma que você estava procurando este maldito amuleto para recuperar a sua essência! Então você desistiu de mim?

- Jamais! Eu não te esqueci nem um só minuto! Desculpe-me, meu amor, por favor... - Ela baixou a cabeça e beijou Youko. Quando se separaram, ele sorriu.

- Eu posso ser um terrível youkai, mas você sempre terá o meu perdão, meu anjo...

- Você não sabe o quanto eu sonhei em ouvir estas palavras de sua boca! Mas agora você está condenado... Quero partir contigo, meu amor... Espada celestial!

Arashi estremeceu ao ouvir aquelas palavras. O homem se aproximou.

- Perdoe-me, Chizuru. Não sabia que se tratava de Youko.

- Tudo bem. Apenas venha cá.

Ele obedeceu. Chegou próximo da mulher e parou. Sorriu.

- Mai é um nome muito bonito...

Ela sorriu.

- Muito obrigada. Pelo menos você obteve a resposta de sua segunda pergunta. Faça-me um favor, meu amigo. Atravesse meu corpo com esta sua espada no mesmo lugar em que cortou Youko.

Ele obedeceu com um grande sorriso no rosto. A mulher se contorceu com a dor que sentiu, principalmente quando ele puxou de volta a arma. Mas sorria. O homem se afastou e retornou à árvore. Arashi estremecia cada vez mais que assistia à cena.

- Mai-chan... - uma outra voz masculina surgiu. Todos se viraram para ver quem tinha chegado.

- Koenma-sama... - Mai deu um sorriso.

- Ah, moleque! Você finalmente sossegou depois de todo aquele tempo. Reprovo o que você fez, mas santa paciência! Ninguém merece passar pelos mesmos apuros que Clow e eu passamos por causa desta história. - Koenma falou observando Youko com uma cara engraçada - Finalmente estas duas almas vão ter um descanso. Felizmente você não conseguiu recuperar sua essência. Será mais feliz assim no mundo espiritual, Mai-chan. Você sabe que seu único pecado foi amar. E tem um camarada lá de braços abertos te esperando, garota.

- Que bom que meu irmão me perdoou! - ela deu um imenso sorriso.

- Nem me fale naquele homem... Ou melhor, anjo...

- Youko! - ela deu um sorriso, apesar da repreensão.

- Tudo bem, meu amor. Agora eu só quero saber de você.

Mai e Youko sorriram e se beijaram. Morreram simultaneamente nesta posição.

- Botan! - Koenma gritou.

- Chamou, Sr. Koenma? - Uma garota de cabelos muito azuis, trajando um kimono rosa em cima de uma espécie de “vassoura” apareceu, flutuando.

- Leve estas duas almas para serem julgados pelo meu pai por seus crimes. Eles já sofreram demais por mais de 500 anos...

Botan assentiu com a cabeça. Duas almas entrelaçadas a seguiram flutuando até desaparecerem no infinito.

Arashi e Trunks correram até Koenma. O rapaz continuava observando a tudo encostado na árvore.

- Koenma-sama! - Arashi gritou.

- Vocês estavam aí...

- Pode nos explicar o que aconteceu aqui? - Trunks segurava o ferimento que começara a latejar com a corrida.

- A história é um pouco longa. - Ele olhou para o rapaz e prosseguiu - Há mais de 500 anos, o mundo dos humanos e o das trevas eram ligados. Assim, muitos youkais trafegavam livremente pela Terra e causavam muitos distúrbios. Entre eles havia um grupo de ladrões liderados por um youkai raposa, Youko. Eram famosos por roubar artefatos de grande valor mágico ou espiritual.

- Eles já tentaram roubar o amuleto de Anúbis? - Arashi perguntou.

- Não. Poucos sabiam da existência de tal artefato. Nem mesmo Clow, um mago tão poderoso, sabia disso. Os furtos deste bando começaram a perturbar o mundo espiritual. Deste modo, eu mandei um anjo para se encarregar de trazer Youko para o mundo espiritual e ser julgado. Era Mai.

- Ela era um anjo? - Trunks perguntou.

- Não, falei isso só pra tapear. Claro que sim, ô estrupício! - Trunks fez uma cara feia, mas Koenma não ligou - Mai começou a perseguir o bando de Youko e estava tendo dificuldades, apesar de ser muito competente. Em seis meses ela conseguiu encurralá-lo. Mas não o trouxe até nós.

- Eles se apaixonaram... - Arashi acrescentou.

- Exatamente. Já fazia um ano que Mai estava nesta missão e eu tive que chamá-la. Conversei com ela e ela me contou que os dois haviam se apaixonado. Mas como ela era um anjo e ele, um youkai, não poderiam se tocar. Ela era pura e o machucaria com o toque. Então ela decidiu perder a sua essência.

- Essência como a das almas? - Trunks perguntou.

- Não. Um anjo só tem a alma, não tem a essência em separado. A essência a que me refiro é a fonte de sua pureza. Sem ela, um anjo não passa de um simples youkai. A essência de um anjo são as asas. Para ficar ao lado de Youko, Mai decidiu perder suas asas. Mas, além de mim, tinha mais alguém contra: Yue.

- Quem é Yue? - Arashi perguntou.

- Yue é o irmão mais velho de Mai. Ele odiava Youko com tudo o que podia.

- Um anjo pode odiar? - Arashi interrompeu.

- Se não for corromper a sua alma, pode. Yue sempre repurificava a sua alma para não corrompê-la. Ele insistiu muito para Mai não perder suas asas, mas viu o quão decidida ela estava. Olhou-a com tristeza e disse que ele mesmo queria fazer aquilo. Disse-lhe também que não tinha mais irmã, que ela morreria quando ele o fizesse. E fez. Arrancou as asas de Mai com as próprias mãos, vendo o sangue jorrar das costas da irmã e ouvindo seus urros de dor. Quando terminou, saiu sem nem olhar para trás.

- Que horror... Ela deve ter ficado muito triste... - Arashi completou.

- Sim. Ela ficou arrasada. Mas saiu em busca de seu amado. Youko era teimoso feito uma mula e, não ouvindo as recomendações de Mai, foi roubar mais um artefato mágico enquanto ela ia ao mundo espiritual perder a sua essência. Ele foi roubar a shikon no tama.

- Shikon no tama? Esta não é a jóia que Kikyou protegia? - Trunks pareceu mais interessado na conversa.

- Correto. Youko subestimou o poder da sacerdotisa e ela o matou com uma flecha no coração. Quando Mai saiu do mundo espiritual, resolveu trocar seu nome para não manchar as lembranças de Yue. Passou a se chamar Chizuru. Então ela saiu em busca de seu amado e tudo o que encontrou foi um corpo sem vida. Chorou mais que qualquer pessoa. Queria se vingar da mulher que matou Youko, mas quando descobriu, ela já havia sido morta por Narak. Sem saber que a alma e essência de Youko estavam alojados em uma raposa, ela partiu para o mundo das trevas antes que o nosso esquadrão criasse uma barreira entre os dois mundos. Quando a alma de Youko ficou mais forte, buscou refúgio numa mulher grávida e mudou de nome. Virou Kurama Minamino.

Arashi ficou em choque ao ouvir as últimas palavras. Decerto que não queria mais vê-lo, mas também não o queria morto. Olhou para aquele corpo sem vida jazendo próximo a seus pés e chorou.

De repente, começou a se lembrar de um fato. Lembrou-se de como Kurama ficava estranho toda vez que ouvia a música Iris, do Goo Goo Dolls. Era lógico! A música descrevia exatamente o que tinha acontecido com ele. Todos os movimentos estranhos de Kurama pareciam fazer sentido agora para ela. E isso a fazia chorar ainda mais.

Trunks ouvira o fim da história com os punhos cerrados. Espasmos de ódio percorreram toda a extensão do corpo dele. Com um olhar frio e assassino, ele se dirigiu a Koenma.

- Quem matou Kagome? Mai ou Kurama? - perguntou cheio de ódio.

- Nenhum dos dois. Mai, apesar de ter virado uma youkai, era ainda muito pura. Youko não poderia, Eriol o supervisionava.

- Como assim? Eles eram os interessados em se vingar de Kikyou! - vociferou.

- Sim, mas nenhum dos dois mexeu um dedo para matá-la. Quem o fez foi uma terceira pessoa, que está bem ali, encostada na árvore. - Koenma apontou para o rapaz e se afastou. Resolveu ficar observando.

Arashi estava muito incomodada com aquela presença. Quando viu que Trunks tinha a intenção de ir até lá, colocou um braço em seu caminho.

- O que foi, Arashi? Deixe-me ir! Quero vingar Kagome!

Arashi não respondeu. Virou-se para o rapaz encostado na árvore.

- Se ouvi bem, Mai te chamou de Espada Celestial. Eu só conheço uma pessoa que atenda por esta alcunha. - Arashi estava com medo da resposta.

Trunks resolveu segurar seu ódio. Se tentasse atacar daquele jeito, seria um alvo fácil. Tentou começar a raciocinar enquanto observava Arashi conversar com aquele homem.

- Exatamente. - O homem respondeu.

Arashi estremeceu com aquela voz. Lágrimas começaram a brotar do seu rosto mais intensamente e ela começou a tremer um pouco.

- Onii-chan? - Sua voz estava trêmula.

O homem levantou o capuz e revelou o seu rosto.

- Há quanto tempo, Arashi-chan.

Arashi chorou convulsivamente. À sua frente se encontrava um belo rapaz de cabelos lisos negros e olhos azuis. Sorria. Vestia um gi azul e carregava uma espada. Sim, era aquele rapaz que não via há um ano.

- Soujirou? Koenma estava mentindo, não é? - Arashi recusava-se a acreditar.

Trunks estancou ao ouvir Arashi chamar aquele garoto de “Soujirou”. Seus pensamentos ficaram confusos. Quem estava na sua frente era o irmão de Arashi! Ele não poderia ter matado Kagome...

- Fiquei aqui escutando a versão do mundo espiritual para a história de Chizuru. Vejo que foram bem fiéis.

- Soujirou, você não matou Kagome, não é? - Arashi estava nervosa e continuava chorando.

Soujirou sorriu.

- Sobrevivência dos hábeis: o forte sobreviverá e o fraco irá sofrer. É a lei mais básica da natureza. Se ela era fraca, por que deveria continuar vivendo? Se ela tentou destruir alguém que era mais forte do que ela, então merecia morrer.

Trunks teve ódio das palavras daquele garoto, mas com certeza não superou as ondas de ódio que percorriam todo o corpo de Arashi. Ela tremia de ódio. Parou de chorar. Apenas mirava o irmão com seus olhos cheio de ira.

- Não é porque ela te deu um fora há um ano que você tinha o direito de matá-la, Soujirou!

- Ela não me deu um fora; ela tentou me destruir. Você não estava lá, não tem como saber o que ela fez. Mereceu morrer. - ele deu um grande sorriso - Eu ainda a amava, mas ela era fraca... Muito fraca...

Trunks fez menção de avançar. Arashi deu uma olhadela cheia de ira que o fez estancar. Ouviram mais alguns passos e olhara. Era Eriol.

- Koenma! Vejo que cheguei um pouco tarde para evitar a tragédia... Percebi que Kurama estava com o amuleto há pouco, parece que ele seduziu o artefato numa exibição de poder. - Eriol ainda não percebera que Trunks, Arashi e Soujirou estavam lá.

- Tarde? Eu nunca pensei que veria um inglês se atrasar! Esses dois já devem estar sendo julgados por meu pai. Mas a confusão ainda não acabou... - Koenma apontou para os três que os olhavam.

Eriol analisou as caras de Trunks e Arashi. Ia perguntar o motivo daquele ódio todo quando viu a terceira figura.

- Meu Deus! - disse de uma vez.

- Se isso é tudo o que tem a dizer nem precisava ter vindo, Eriol. - Arashi estava extremamente irritada - Soujirou, você vai acertar as suas contas comigo. Agora! - Ela retirou sua espada da mão.

Soujirou riu.

- E você acha que pode lutar neste estado? Faça-me o favor!

- Estado? Que estado? Eu não estou doente nem ferida. - Ela deu uma olhada para Trunks.

- Soujirou, Mai sabia do estado de Arashi? - Koenma perguntou.

- Sim, sabia. E teve certeza hoje do responsável.

- Muito interessante... Aquela era a minha menina... - Koenma falou mais para si e Eriol que para os outros.

- Querem parar de falar como se eu estivesse doente? Meu irmão, prepare-se!

- Eu não sou seu irmão há um ano.

- É verdade. Meu irmão jamais faria uma atrocidade destas! Trunks, afaste-se. Vá para onde está Eriol e Koenma. - ele obedeceu indignado. Mas sabia que aquele assunto tinha se tornado mais de Arashi que dele próprio.

- Vocês vão permitir que ela lute assim? - perguntou a Eriol e Koenma, mas não obteve resposta - Então tudo bem.

Arashi colocou a perna direita à frente e girou o corpo para trás. Brandia a espada com a mão direita e a mantinha próxima à perna esquerda, recuada.

- Battoujutsu? - Soujirou começou a imitá-la - Eu também sei fazer esta técnica.

Soujirou sorria e Arashi mantinha-se em seu ódio. Analisavam-se. Ninguém queria dar o primeiro passo com receio de ser o primeiro a errar. E um erro poderia ser fatal. Depois de alguns minutos, atacaram-se simultaneamente.

As espadas estalaram com a colisão, mas mantiveram-se firmes. Soujirou se afastou após a colisão.

- Você melhorou muito, Arashi-chan. Seus golpes estão mais fortes que antes. Não acredito que não foi capaz de matar Kamus... Vou matá-lo depois. Será que ele achou mesmo que eu ia deixá-lo vivo?

- Era você quem dava informações nossas juntamente com Michiru?! Claro, quem mais poderia ter dito a Kamus que eu sabia lutar com espadas?

A lembrança vem à memória da garota. A voz de Kamus ecoava.

Uma espada, hein? Vejamos se você sabe lutar tão bem quanto me disseram.

- Sinto muito, minha querida, mas temo ter que matá-la. - Soujirou começou a bater a ponta do pé esquerdo no chão - Tentarei ser o mais rápido possível para que você não sofra.

Soujirou deu um grande sorriso e desapareceu no ar. Tudo que poderia ser visto eram as marcas de seus pés tocando o chão. Isso deixava enormes buracos no solo.

- Shikuchi! Isso é Shikuchi! - Arashi gritava enquanto tentava localizar Soujirou.

A tentativa da garota estava sendo frustrada. Inúmeros cortes começaram a aparecer em seu corpo provocados pela espada de Soujirou.

“Preciso contra-atacar... Agora.”

Arashi saltou. Como conseguia ver os lugares por onde Soujirou passava, sabia que ele não poderia estar no ar. Tentou adivinhar o próximo movimento dele e conseguiu. Mas Soujirou foi mais rápido, desviando-se e saltando. Quando Arashi deu por si, Soujirou estava em sua frente, lhe golpeando na coxa direita. Ele deu um pulo para trás e ela caiu no chão.

- Muito bom, Arashi-chan. Mas na verdade esta técnica não foi a Shikuchi verdadeira. Não preciso dela para derrotar você. Se fosse a técnica verdadeira, meus pés não deixariam marcas no chão.

Arashi levantara-se com um pouco de dificuldade.

- Pelo menos eu consegui prever onde estava. Posso te derrotar.

- Será? - Soujirou sorriu e recomeçou a bater a ponta do pé esquerdo no chão - Como você se sai contra Shun Ten Satsu? - Ele riu e sumiu novamente.

- Shun Ten Satsu? Você vai combinar o Battoujutsu com Shikuchi?

Arashi procurava Soujirou. Pareceu perceber seus movimentos e ia contra-atacar, quando teve uma surpresa. Uma árvore atrás de si foi partida ao meio. Ela olhou e percebeu que tinham sido os pés de Soujirou. Mas os passos agora estavam à sua frente e logo após, nas árvores novamente. Ia ser muito mais difícil prevê-lo. Então uma outra lembrança veio à mente dela. Foi do dia em que Kurama a observou treinar. A voz dele ressonou nitidamente.

“Vejo que você é realmente boa nisso. Fiquei preocupado quando vi a sua luta com Kamus. Mas quero que você treine melhor sua defesa, principalmente para ataques vindos de todas as direções. Faça isso agora de tarde. Preciso ir agora. Ah, amanhã vamos à festa, certo?”

“Ele me pediu para treinar defesas contra ataques multi-direcionais. Ele sabia de Soujirou!”

- Concentre-se Arashi! - Trunks deu um grito e recebeu olhares de censura de Koenma e Eriol.

Ficava cada vez mais difícil achar Soujirou. Quando quase conseguiu, ele percebeu a tempo e mudou de posição. Soujirou era rápido demais, ela sabia. Mas precisava reagir. Sentiu uma grande dor nas costas. Soujirou a acertara novamente.

- Você é muito resistente! Mas no próximo golpe você morrerá!

- Será mesmo, Soujirou?

Ele deu uma risada. Bateu as pontas dos pés e sumiu pela terceira vez. Mas Arashi também era rápida. Apesar da dor que sentia em sua perna, ela resolveu atacá-lo. Os dois iam se bater de frente, mas a perna machucada de Arashi fraquejou. Ela acabou abrindo a guarda, dando toda a chance a Soujirou. Mas ele não a aproveitou. Ela se recuperou e conseguiu reagir a tempo. Sua espada perfurou o coração de Soujirou.

- Soujirou? - Arashi estava confusa - Por que não me atacou?

- Não sei... Foi estranho... Mas não consegui matar as duas pessoas mais importantes na minha vida... Seja forte, minha irmãzinha...

A vida de Soujirou expirou nos braços de Arashi. Ela recomeçou a chorar. Retirou a espada e a guardou. Sentou-se e colocou a cabeça de seu irmão morto no colo. Chorava muito, mas gritava com Eriol e Koenma.

- Por favor, vocês dois podem me explicar por que Soujirou disse duas pessoas? E por que dizia que não queria lutar comigo?

Koenma ia abrir a boca, mas Eriol pediu para falar.

- Arashi, Koenma contou a mim isso há dois dias. Você está grávida de Kurama.

Arashi ficou olhando Eriol com um olhar vago. Parecia não entender o que tinha sido dito.

- Eu estou grávida de Kurama?

- Sim. Eu acabei participando inocentemente desta situação. Kurama sabia que ia morrer e se aproveitou do amor que você devotava a ele para deixar um descendente.

- Ele realmente me usou? Não gostava nem um pouquinho de mim? - Arashi chorava - Onii-chan! O que foi que eu fiz? Você não precisava ter morrido... Você ainda se importava comigo!

Arashi chorava afagando os cabelos de Soujirou. Trunks emudecera por completo.

- Arashi, se você aceitar, tenho pretensões de torná-la uma detetive espiritual. Sei que sua vida mudará muito por conta desta criança, mas você pode morar com a mestra Genkai num lugar afastado. Criará este bebê e poderá receber o treinamento adequado quando estiver em condições. O que acha? - Koenma terminara de falar.

Trunks resolveu interferir.

- Sei que a situação é difícil, mas Arashi pode morar comigo e a minha mãe. Estou disposto a assumir esta criança como minha!

- Não Trunks. Não estrague a sua vida por mim. Eu estou assim porque fui conivente com os desejos de Kurama. Ao que eu quisesse ter um filho, mas já que é assim, a melhor solução é aceitar o convite de Koenma.

- Arashi, não vá!

- A minha vida normal não existe desde o dia em que entrei neste grupo a pedido de Eriol. Não tem mais volta, Trunks. Eu quero que você encontre uma esposa a altura de Kagome-chan e seja feliz, meu amigo. E muito obrigada por tentar me ajudar. Mas devo seguir só agora.

Eriol sorriu.

- Estou perdoado?

- Sim, Clow, está. - Eriol fez uma careta ao ouvi-la chamando a ele deste nome - Vamos, Koenma?

- Claro. Mas antes você vai ao hospital. Tokiko vai cuidar de você e acompanhar a sua gravidez.

- Tudo bem. Mas se Kurama pensava que eu is criar esta criança para ser como ele, está muito enganado. A minha pequena Hotaru será a única luz da minha vida, como um vaga-lume...

- Como você sabe que é uma menina? - Trunks pergunta.

- Pressentimento. Adeus, Trunks. Será que poderia dar a Soujirou um enterro decente?

- Tudo bem.

Arashi deu um beijo na testa de Trunks. Koenma a fez levitar e a levou embora para o hospital.

- Trunks, vá pra casa. Eu cuido dos três mortos.

- Vou cumprir o que prometi a Arashi. Não deixarei ninguém a seus cuidados.

- Então providencie o necessário apenas para Soujirou. Mai e Kurama serão levados para o mundo das trevas.

Eriol conjurou seu báculo e a carta Flutuar e partiu. Trunks ligou e providenciou o enterro do irmão de Arashi.

Depois deste dia, nenhum deles mais se encontrou. Eriol retornou para Inglaterra. Trunks não conseguia esquecer Kagome, para desespero de sua mãe, Bulma. Arashi teve uma gravidez saudável e Hotaru nasceu forte. Era uma menina de cabelos negros e olhos lilás, de aparência frágil, mas que escondia um grande poder interno. Juntos mesmo estavam apenas Youko e Mai, no mundo espiritual. E, no mundo das trevas, no seio de uma floresta, lugar onde se conheceram, estava a lápide dos dois.

Mai e Youko

Chizuru e Kurama

Um anjo e um demônio. O paraíso e o inferno. Juntos. Enamorados.

Um amor que resistiu ao tempo, à distância e às diferenças.

Um amor tão forte e verdadeiro que conseguiu vencer até mesmo a própria morte.


Comentário final da autora: Bem, consegui terminar! ^^’ Sei que devo ter corrido um pouco, mas é que sou assim mesmo. Eu tentei fazer deste epitáfio uma coisa legal, mas simplesmente me ocorreu um bloqueio! Não ficou como eu esperava, acho-o meio brega e clichê. Mas o que é o amor senão clichê?

Gente, vocês não sabem o quanto foi complicado escrever as cenas da luta da Arashi e do Soujirou sem parecer a luta do Soujirou com o Kenshin no esconderijo do Shishio! Eu tinha gravado esta luta (eu amo o Soujirou-sama!!! ^^’) e fiquei observando os movimentos, mas talvez ainda tenha erros. Esforcei-me ao máximo, mas acho que não sou muito boa em lutas...

Eu já tinha pensado numa possível gravidez para Arashi, mas quando a escrevi me pareceu tão nada a ver... É que precisava de alguma desculpa para fazê-la se afastar e aproveitei e usei a gravidez como um motivo para que o Kurama a seduzisse... A Hotaru é realmente a personagem de Sailor Moon. E notem que Arashi faz um trocadilho ao falar que Hotaru será o vaga-lume da vida dela: Hotaru é vaga-lume em japonês.

Acho que já me alonguei muito. Agora vem um super disclaimer com todos os personagens da fic. Ninguém precisa ler, é realmente só uma retratação.

Disclaimer geral: à exceção de Mai/Chizuru, da narradora da festa beneficente e do amuleto de Anúbis, os personagens aqui utilizados não são criações minhas. *comemora porque pelo menos criou alguma coisa* Sou apenas mais uma maluca por mangás que se aproveita dos queridos personagens já criados pelos grandes mestres.

Os criadores dos personagens aqui utilizados são:

Rumiko Takahashi - Kagome, a mãe de Kagome, Souta, o avô de Kagome, Kikyou, Inu Yasha, Naraku, Midoriko e a shikon no tama.

Nobuhiro Watsuki - Soujirou Seta.

Masami Kurumada - Kamus e Shun.

Akira Toriyama - Trunks, Bulma e a professora de inglês (lembram da professora de inglês do Gohan, na saga do Majin Boo?)

Junichi Sato - Sora Naegino e Leon Oswald.

Naoko Takeuchi - Michiru Kaiou, Haruka Tenou e Hotaru.

Yu Watase - Amiboshi e o Shijin Tenchisho.

Masaki Kajishima - Ryoko.

Yoshihiro Togashi - Koenma, Botan, o Makai (mundo das trevas), o mundo espiritual (esqueci o nome original agora) e Kurama (utilizando aqui uma adaptação do nome youkai de Kurama e nome humano).

CLAMP - Arashi Kishu, Eriol Hirasigawa, Nakuru, Sumomo, Kotoko, Tokiko, Yue, Clow, Fujitaka Kinomoto, Sakura Kinomoto, Sonomi Daidouji, os alunos da escola Tomoeda, Kaho Mizuki e as cartas Clow.

Capítulo 5

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