A Presença Romana na  Lusitânia

 

Dos Primórdios da Presença Romana ao Império

O início da presença romana na Península Ibérica remonta a 218 a.C., com o desembarque de duas legiões comandadas por Cneio Cornélio Cipião , na colónia grega de Ampúrias (província de Gerona, Catalunha, Espanha), na sequência de II Guerra Púnica. 

As legiões romanas vieram com a missão específica de combater os exércitos cartagineses estabelecidos na Península e chefiados por Aníbal, Asdrúbal e Amílcar Barca. Em 206 a.C. Públio Cornélio Cipião venceu definitivamente as tropas de Cartago, na Península Ibérica, após a rendição de Cádiz.


Com esta vitória, Roma ficou como única potência militar num território que ia dos Pirinéus à foz do Guadalquivir. Para administrar este imenso território, cuja ocupação era essencialmente militar, o Senado Romano criou, ainda em 206 a.C., duas províncias: a Citerior (a mais oriental) e a Ultrior (a mais ocidentar). Ao mesmo tempo foi desenvolvido um sistema de fidelidades com povos da região controlada, o que permitiu, pacificamente, um aumento da influência política e cultural de Roma no sul da Península Ibérica (processo conhecido como Romanização).

Os textos que chegaram até aos nossos dias, apontam para 194-193 a.C., a data dos primeiros confrontos armados entre Lusitanos e Romanos, nas férteis terras do Guadalquivir (onde já tinha sido fundada a colónia Itálica - próxima da actual cidade de Sevilha).

Entre 147 e 139 a.C., os lusitanos tiveram como chefe Viriato, que impôs aos romanos anos consecutivos de derrotas militares (mais uma vez nas férteis terras do sul) até ser assassinado por homens da sua confiança, subornados pelo proconsul Servílio Cipião.

A morte de Viriato não significou o fim da guerra e este povo de pastores continuou a descer dos Montes Hermínios, em épocas de crise, para saquear as férteis terras do sul onde estavam estabelecidos os romanos.

Em 138 e 137 a.C. ocorreu a primeira investida conhecida no actual território português, por parte das legiões romanas comandadas por Décio Júnio Brutus, governador da província Ulterior. Esta expedição teve como fim último punir e submeter os lusitanos, pelas razias que periodicamente continuavam a fazer nas terras ocupadas pelos romanos no sul da Península. 

Segundo o relato que nos chegou através de Estrabão, Décio Júnio Brutus fortificou Lisboa, tornando-a base de abastecimentos do seu exército, subiu o rio e avançou pelos territórios dos lusitanos. Continuou para norte alcançando o rio Minho, no território dos Bracaros. Estes roubaram as provisões do exército de Brutus, obrigando-o a retroceder. Nesta expedição há o episódio curioso de recusa dos soldados de Brutus em atravessarem o rio Lima, com receio de se esquecerem do passado. O general romano tomou a iniciativa e passou o rio sozinho no que é seguido por toda a legião.

 
A acção de Brutus leva a supor que o território a sul do rio Tejo já estaria pacificado e os célticos teriam aceite a autoridade de roma ou não seriam hostis à presença romana.

Entre os anos de 80 e 72 a.C. ocorreram as Guerras Sertorianas. Sertório, um adepto do partido de Cáio Mário, general derrotado nas lutas internas romanas por Cornálio sila, alia-se aos lusitanos para resistir ao novo ditador romano.

Embora Sertório nunca lute contra Roma, mas sim contra os partidários de Sila na Península, a sua acção militar leva a pensar que a resistência dos povos das montanhas, como lusitanos e celtiberos, ainda estava bem viva.

No ano de 61 a.C., Júlio César é nomeado governador da Ulterior. Investido nesta função, promove campanhas militares contra os povos a norte do Tejo, com o objectivo de consolidar a influência romana numa região rica em estanho.

Em Roma, a partir de 60 a.C., a situação política precipitou-se.
Em 59 e 56 a.C. Crasso, César e Pompeu (vencedor de Sertório) dividem o poder e os territórios de Roma no Mediterrâneo: a Crasso coube o Oriente, a Pompeu a Península Ibérica e a César as conquistas da Gália. Em 53 a.C., Crasso morreu na Síria na guerra contra os Partos e deixou frente a frente César e Pompeu.

Em 49 a.C., César venceu os gauleses e regressou a Roma, onde Pompeu governava com o apoio do Senado.

Desobedecendo às ordens do Senado, César passou o Rubicão, entrou com o exército armado na cidade e precipitou a Guerra Civil.

Pompeu, cujo exército e principal base de apoio e de fidelidades entre os povos não romanos se encontrava na Península Ibérica, fugiu para a Grécia, deixando sem general os seus exércitos comandados pelos filhos. César dirigiu-se para a Península, onde venceu os partidários de Pompeu. Nesta guerra funcionaram as alianças e fidelidades com os povos indígenas. Foi no decorrer destas guerras que a população de Alcácer do Sal tomou partido por Pompeu, recebendo de um dos seus filhos o título de Urbs Imperatoria Salacia, direito de cunhar moeda e o estatuto de direito latino.

Pelo contrário Lisboa (Olisipo) manteve a sua fidelidade a César, dos tempos em que este foi governado da Ulterior, pelo que recebeu do ditador o estatuto de municipium civium romanorum, categoria jurídico-administrativa tão prestigiada como colónia.

Derrotados os exércitos de Pompeu na Península, César dirige- se para o Mediterrâneo Oriental na perseguição do rival, que foi assassinado a mando do rei Ptolomeu do Egipto em 48 a.C..

Em 44 a.C., César foi assassinado o que levou a uma nova partilha do poder, desta vez entre Octávio (sobrinho e filho adoptivo de César), Marco António (general da confiança de César) e Lépido. Nesta partilha, a Península Ibérica ficou para Octávio. Vencidos os assassinos de César, Lépido sai de cena, ficando de novo o Império dividido entre dois rivais.

Em 31 a.C., Octávio derrotou Marco António na batalha de Áccio ficando sozinho no poder em Roma.

Em 27 a.C. Octávio assume o título de Augusto e em 17 a.C. de Princeps (primeiro cidadão), inaugurando a fase imperial da história de Roma.

Augusto governou até 14 d.C., iniciando a dinastia dos Júlios- Cláudios.

 

    

 

 

O Império

Entre 29 a 19 a.C., Augusto concluiu a pacificação da Península Ibérica, com a conquista das Astúrias e Cantábria e impôs a Pax romana em todo o Império.

No decorrer da deslocação à Península Ibérica, entre os anos 16 e 13 a.C., Augusto reorganizou administrativamente este território criando três províncias: a Terraconense, a Bética e a Lusitânia. O território actualmente português, a sul do Douro, ficou integrado na província da Lusitânia. 

Na estrutura administrativa então criada, cada província ficou dividida em Conventus e Civitas. Este facto, marcou o início da divisão administrativa do território português.

 
Ainda a partir da época de Augusto, a Península Ibérica deixou de ser um território de exploração para começar a ser assumido como território de colonização.

Esta transformação na política de Roma, manifestou-se através do estabelecimento de cidadãos de Roma na Península, visível na Lusitânia, através da distribuição de terras e na fundação de colónias, com veteranos de guerra e populações oriundas da Itália. Na província da Lusitânia, estão neste caso, seguramente, as cidades de Emerita Augusta (Mérida - Espanha e capital da Lusitânia) e Pax Iulia, (Beja, capital de Conventus).
Na Região da Costa Azul foi este o caso, provavelmente, de Tróia.

Ao mesmo tempo, as populações locais foram enquadradas juridicamente (no direito latino ou no direito romano), administrativamente (em Províncias, Conventus, Civitas e Vicus) e adoptaram a língua e formas de viver romanas.

 
Na época das dinastias dos Flávios (69-96) e dos Antoninos (96-192), assistiu-se ao apogeu da civilização do Alto Império. As cidades autonomizam-se administrativamente, recebendo o direito romano, ao mesmo tempo que surgiram élites locais com grande poder económico, sustentado pelo desenvolvimento das actividades comerciais (trocas locais e inter-províncias), industriais (caso de Tróia e Setúbal com a indústria de preparados de peixe) ou com a mineração (possivelmente o caso de Miróbriga).

Estes factores contribuíram para a renovação urbana das cidades, através da construção de grandes obras públicas (algumas das quais chegaram até nós como aquedutos, estradas, templos, pontes, barragens, etc.), pagos pelas novas élites romanizadas ou constituídas por romanos de origem mas com grande poder económico. Há evidências deste processo em cidades como Miróbriga.
             

 

Baixo Império

Para a época posterior à dinastia dos Antoninos (192 d.C.), não existem na Região da Costa Azul muitos dados disponíveis sobre a evolução política, económica e social. Foi um período de grande instabilidade política e consequência desta, militar.

 Ao mesmo tempo, aumentou a pressão dos povos germânicos nas fronteiras do norte do Império.

Entre 192 e 284 d.C., ano em que Diocleciano se torna Imperador, sucederam-se 25 imperadores. Diocleciano empreendeu uma reforma na sucessão da púrpura imperial, mas falhou .


Em 306 Constantino torna-se Imperador. Transferiu a capital do Império para Bizâncio, cidade que refunda com o nome de Constantinopla. Em 313 reconheceu liberdade de culto aos cristãos.

Em 395, o Império é definitivamente dividido pelos dois filhos de Teodósio, cabendo o Ocidente a Honório. Em 411, Honório, após um prolongado período de guerra civil, estabeleceu um pacto com os Alanos concedendo-lhes a Lusitânia. 

Termina assim o vínculo administrativo da Lusitânia com Roma. Entre 415-417, os Alanos são expulsos pelos Visigodos que impõem o seu domínio no território da Lusitânia a sul do Tejo. No essencial, a organização administrativa criada pelo romanos continuou em vigor.

Alcácer do Sal, por oferecer boas condições defensivas, terá aumentado a sua importância na região.

Outras cidades como Miróbriga, Tróia e Setúbal são abandonadas ao longo do século V por não oferecerem condições de segurança ou não serem economicamente viáveis.

No entanto, as fontes arqueológicas e escritas conhecidas, referentes a um longo período que vai do século V ao século XII (durante o qual ocuparam a região os Alanos, Visigiodos e Árabes), são escassas no que respeita à Região da Costa Azul.

 
 

 

As Populações e Território da Região da Costa Azul na Antiguidade

 Uma das mais antigas referências ao território actualmente português, encontra-se no texto do geógrafo grego Estrabão. Relata as campanhas militares de Décio Júnio Brutus de 138 a.C. contra os lusitanos.

Nessa operação militar (como já foi referido) o general romano fortificou Lisboa, onde construiu uma base militar e seguiu para o norte do território.

 

 
 

O dado importante a reter, é o facto da base militar mais a sul que Décio Júnio Brutus estabeleceu no decorrer desta campanha, ter sido em Lisboa, o que leva a supor que os territórios da Península de Setúbal, vale do Sado e a costa alentejana já estariam pacificados ou sob a influência política e militar de Roma na data da expedição.

Sobre as populações indígenas, as referências e os conhecimentos são ainda muito incipientes. As duas fontes de informação vêm através da arqueologia e dos textos de autores antigos. Pelo texto de Plínio ficamos a saber o nome das populações: Celtici (Célticos). Pelos dados fornecidos pela arqueologia, sabe-se que se fixaram cerca dos séculos VII - VI a.C. numa região que coincide “grosso modo” com o Alentejo.

 

Dominavam a metalurgia do ferro, incineravam (queimavam) os seus mortos e decoravam as suas cerâmicas de luxo com estampilhas. 

Até cerca do século I d.C., habitaram, essencialmente, em povoados fortificados, como Alcácer do Sal (Bevipo até ao ano 45 a.C. e depois Salacia), Setúbal (Caetobriga) ou Miróbriga.


 
Com a reforma administrativa de Augusto, o território da Região de Turismo da Costa Azul ficou integrado na província da Lusitânia, no conventus de Pax Iulia (Beja), tendo como civitas, Alcácer do Sal e Miróbriga. A margem sul do Tejo, fazia parte do conventus de Santarém e da civitas de Lisboa. As vicus da região seriam Setúbal e Tróia.

Na História do Império Romano, a Lusitânia e em particular a região dos estuários dos rias Tejo e Sado, são importantes por possuírem a maior concentração de unidades industriais de preparados de peixe de todo o Império 

 

( Condensado de www.costa-azul.rts.pt/romana/romana.htl )

 

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