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Tolerância é
doença
Vera Felicidade de Almeida Campos
Publicado no Boletim do SBEM, janeiro/março
1999, pag.55-62
Semana passada li uma resenha sobre a vacina
contra o câncer. As últimas pesquisas revelam que
o organismo quando submetido à infecções
bacterianas, pode deter um processo cancerigeno, também
ficou claro em estudos laboratoriais, que a proliferação
de tumores cancerígenos resulta de uma tolerância
orgânica ao processo agressivo. Pesquisa-se uma vacina
que acabe com a tolerância, a fim de permitir ao organismo
destruir estas celulas que proliferam.
Tolerância e adaptação
são os objetivos finais da psicologia e biologia ligadas
à tradição dualista do século XIX.
Até 1970, vivíamos quase que exclusivamente neste
referencial. Quando, sob o ponto de vista psicanalítico,
defendia-se a liberação, o desbloqueio, trabalhava-se
com o conceito implícito de homeostase, pressuposto básico
do conceito freudiano de pulsões, libido, instinto e estâncias
psíquicas. O desenvolvimento dos estudos bioquímicos,
o entendimento dos neuro-transmissores, o aperfeiçoamento
do conhecimento endocrinológico têm nos obrigado
à compreensão e globalização conceituais
pois as explicações dualistas e elementaristas
provadamente não funcionam, são pequenas para abranger
as evidências nosogênicas. Já não é
possível pensar em corpo e alma, físico e psíquico
da mesma forma que Descartes. Antônio Damasio (1), neurologista
autor do livro o "Erro de Descartes", diz: "E
os sentimentos não são nem intangíveis nem
ilusórios. Ao contrário da opinião científica
tradicional, são precisamente tão congnitivos como
qualquer outra percepção. São o resultado
de uma curiosa organização fisiológica que
transformou o cérebro no público cativo das atividades
teatrais do corpo. Os sentimentos permitem-nos entrever o organismo
em plena agitação biológica, vislumbrar
alguns mecanismos da própria vida no desempenho das suas
tarefas. Se não fosse a possibilidade de sentir os estados
do corpo, que estão inerentemente destinados a ser dolorosos
ou aprazíveis, não haveria sofrimento ou felicidade,
desejo ou misericórdia, tragédia ou glória
na condição humana."
As palavras mágicas equilíbrio,
adaptação e tolerância não explicam,
pelo contrário, problematizam as soluções
encontradas, pois doença já não é
desequilíbrio, doença é adaptação!
Para a medicina este conceito - doença como adaptação
- pode até ser aceitável, um médico entende
que a toleráncia do organismo ao agente nosogênico
é o início da degradação orgânica,
entretanto para os psicoterapeutas de orientação
psicanalítica a situação é diferente.
Dar novo significado a tolerância é dessacralizante.
Convencidos de que o indivíduo está no mundo, na
sociedade e que esta o reprime, o impede em suas manifestações
instintivas, bloqueando-o eles acham que só resta ao homem
contornar, tolerar, adaptar-se a fim de sobreviver. Sem a tolerância,
sem a adaptação, ele vai ser tomado pelo ódio,
pelo medo, pela doença, ele vai somatizar, porisso não
podem aceitar, entender que tolerância é degradação,
desagregação orgânica, psíquica.
Vida psicológica é vida perceptiva.
Tudo que nos acontece psicologicamente depende de nossa percepção,
de como percebemos. O que é percepção? É
o conhecimento resultante do relacionamento estabelecido através
da visão, audição, olfação,
gustação, tactilidade (2) , das sensações
proprioceptivas, estereoceptivas, cinestésicas, cenestésicas
e criptoestésicas. São exatamente estes contextos
sensoriais (perceptivos) que permitem as categorizações,
as inferências, o conhecimento, o relacionamento com o
outro, comigo e com o mundo. Isto é percepção,
isto é consciência. Sabemos, pelos estudos da Gestalt
Psychology (Wertheimer, Koffka e Koehler) que toda percepção
se dá em termos de Figura/Fundo. A percepção
da Figura depende do Fundo, contexto, mudando o Fundo muda a
figura. É a reversibilidade perceptiva. As figuras de
Necker ilustram esta reversibilidade perceptiva:
Figuras de Necker
Em um sentido amplo, podemos dizer que o corpo,
o organismo é o Fundo possibilitador da estrura perceptiva
do mesmo. Vejamos como a própria percepção
do corpo é estruturada. Tudo que percebemos está
submetido às leis de Figura-Fundo, inclusive a própria
percepção. As percepções tácteis
nos obrigam, por sua configuração, a nos determos
em certos aspectos estruturantes de suas relações
de Figura-Fundo. Focalizemos: eu estou pegando na caneta. A percepção
táctil resultante do relacionamento de minha mão
(meus dedos) com a caneta me faz conhecer, perceber uma superficie
alheia aos meus dedos. Não há categorização.
O contexto, o Fundo estruturante desta percepção
é minha pele, é a base à partir da qual,
por não semelhança (lei da percepção)
discrimino, percebo a superficie alheia (caneta), o outro, na
minha mão.
O fator heterogeneização-homogeneização
(3), e importante para entender as percepções tácteis,
de base. Quando eu pego em meus dedos, eu percebo meu dedo, eu
sou pegada e pegadora, é como se eu pegasse o pegado.
Essa situação de pegar o pegado, segurar o segurado,
estrutura o corpo como referencial, Fundo comum, tanto para o
sujeito como para o objeto. Essa homogeneização
contextual cria uma indiferenciação, é como
se sumisse, o corpo não fosse Figura, e apenas ficassem
os dedos (4) é o destaque, meu corpo vira meus dedos,
os dedos saltam da mão (5). Acontece que os dedos também
são meu corpo, daí que tanto a Figura quanto o
Fundo são meu corpo; o que não acontece quando
seguro o corpo de outrem; meu corpo que segura, Fundo, percebe,
a Figura, o corpo do outro; percebendo meu corpo através
do referencial do outro, percebo meu corpo, meu corpo é
Figura.
Quando pego em mim mesma percebo meu corpo
como Figura enquanto objeto, lugar que estou segurando. Esta
pregnância, este destaque, transforma a parte em todo,
de repente sou a minha mão, o meu braço. As percepções
tácteis conseguem despedaçar, fragmentar, criar
ilhas flutuantes no meu continente corporal. Estes destaques,
entre outras coisas, explicam as não aceitações,
os ditos complexos: a vergonha pela cicatriz, o horror do dedão
do pé - é como se ele não fosse meu, ele
é percebido como destacado de mim. Pela pregnância
do corporal, destaco meu corpo e dele me exilo, tenho um corpo,
não sou o corpo; a base passa a ser uma casa, como tal,
aderente a mim. A base, o corpo como casa, como aderência,
passa a ser uma construção da "mente",
do "espírito"; o que percebemos não está
no corpo, está fora dele, criamos deslocamentos que vão
desde o clássico corpo e alma cartesiano, até considerar
o corpo como uma máscara que me esconde ou a cara que
me denuncia, explicita minha ancestralidade, por exemplo.
A pregnância da percepção
táctil consegue transformar a parte em todo, tanto quanto
o todo em parte. Pela pregnância, totalizamos o parcializado
e parcializamos a totalidade. No primeiro caso temos o destaque,
no segundo a incorporação, como maneira de neutralizar
a pregnância figural do percebido. Ao perceber que alguém
me segura, incorporo, sentindo prazer ou desprazer (nível
de categorização); este segurar incorporado é
neutralizador da totalidade percebida. Não há percepção
do outro que segura, há percepção de ser
segurado. Na incorporação existe parcialização
do todo pelo fato de o outro ser percebido, totalizado através
de aspectos com os quais me relaciono. Exemplo: o contato macio,
tépido que o outro me proporciona, passa a ser percebido
como sinônimo do outro; as pancadas frequentes recebidas
do marido passam a ser sinônimos indicativos dele; quando
se percebe o marido, percebe-se neste referencial.
Nas percepções tácteis,
tanto quanto nas gustativas, o corpo é o estruturador,
é o Fundo destas percepções, à partir
do qual tudo se dá; surgem os casos de destaque, única
maneira do corpo ser percebido como Figura, o que se consegue
ao parcializá-lo, ou os casos de incorporação,
quando o corpo é transformado em incorporador de tudo
que está a minha volta. A pele, o corpo é o limite
entre eu e o outro, entre eu e o mundo; é a fronteira,
o código, o referencial a partir do qual as situações
são traduzidas, o relacionamento é estabelecido.
De acordo com a Gestalt Psychology e sua lei
perceptiva de semelhança: "Em condições
iguais, os estímulos mais semelhantes entre si, terão
maior possibilidade de serem agrupados".
Surgem os agrupamentos perceptivos, as inclusões.
O real, tudo que acontece, que se evidencia, começa a
ser percebido nesse referencial: o que é bom, o que é
ruim; neste contextuamento, bom-ruim, o prazer é sinônimo
do que não causa dor, não cria mal-estar; desprazer
é o que é doloroso, desagradável.
Na condição de sobrevivente,
de organismo, o fundamental é ser alimentado, dormir,
saciar a sede e ter satisfeitas suas necessidades sexuais, o
fundamental é sobreviver satisfatoriamente.
As percepções gustativas e tácteis
mapeiam este território, este contexto de sobrevivência,
chegando inclusive à transformar a visão, a audição
e o olfato em seus aliados. Pela olfação somos
salvos de nos envenenar com comida decomposta; pela visão
e audição localizamos nosso alimento. Mantendo-se
na condição de sobrevivente, o ser humano transforma
o outro em comida e seus órgãos sexuais são
as armas, os instrumentos para a caçada, daí advindo
todo o prazer e desprazer de estar vivo. Esta pregnância
do corporal explica a sociedade de consumo: tudo, até
a sexualidade, o próprio corpo, é consumido. O
corpo é a moeda de transação, é o
fetiche, é o descartável (6).
A percepção do corpo, o corpo como Figura pode
ser uma percepção estruturada no contexto do próprio
corpo ou pode ser estruturada em outro contexto que não
o do meu corpo. É o destaque corporal ou a diluição
corporal. O destaque é responsável pela ampliação
dos referenciais corporais, a diluição é
responsável pela integração dos referenciais
corporais.
Totalizamos a parte e nos posicionamos nas
necessidades biológicas ou parcializamos a totalidade,
parcializamos o organismo e descobrimos a possibilidade de ser-com-o-outro-no-mundo.
No contexto corpóreo garantimos nossa
sobrevivência e se não a transcendermos garantimos
a nossa desumanização.
Percepção proprioceptiva é
a percepção do que é próprio do organismo;
percebemos nossa localização no espaço,
nossos músculos e tendões. Percebemos se nosso
estômago está cheio ou vazio, percebemos o funcionamento
de nossos intestinos.
Nas percepções proprioceptivas,
estereoceptivas, cinestésicas e cenestésicas, o
contexto estruturante, o Fundo e a Figura são o meu corpo.
São únicas, presentificadas. É a percepção
do corpo no contexto do presente, daí sentirmos bem-estar/mal-estar.
São instantâneas. Percebo meus músculos,
meus nervos, tendões, o movimento muscular, percebo volume,
densidade. Quando o contexto destas percepções,
o meu corpo, é prolongado em outros referenciais que não
os do meu corpo, surgem os significados, surgem as categorizações.
Destaco o meu corpo e o observo, avalio, instrumentalizo. Esta
descorporificação se constitui no que é
conhecido como somatização. Quando meus músculos
tremem, percebo-os tremendo; caso me posicione, destaque o tremor
e com ele comece a me relacionar, aparecem os prolongamentos
perceptivos tipo: meu corpo está tremendo, é falta
de calcio, é stress, ou meu medo está se exteriorizando,
tenho de escondê-lo etc. Estes posicionamentos passam a
significar. São índices contabilizados enquanto
aceitação ou não aceitação.
Quebrou-se a continuidade. É a descorporificação
ou somatização. O processo de descorporificação
estabelece o pânico, não tenho mais controle sobre
meu corpo: vou desmaiar, etc; meu corpo vai parar, vai explodir,
etc.
É interessante determo-nos no conceito
de somatização e descorporificação.
Somatização é o processo
pelo qual enchemos o corpo de "resíduos emocionais",
transformamos nossas frustrações e mágoas
em tremores, dores, etc. É a colocação dos
problemas no corpo, é como se aumentássemos o nosso
corpo - além de nervos, vísceras, músculos,
também passamos a ter queixas, ódios guardados
- esta é a idéia popular, psicanalista e psicologicamente
corrente; enfim, somatizar é aumentar o corpo, transformando-o
em terreno gerador/armazenador do "psicológico mal
resolvido". O que se imagina que seja causado pela somatização,
o corpo presente, é justamente o oposto. A quantidade
de fenômenos e processos resumidos no termo somatização
cria o corpo ausente. Ao somatizar perdemos o corpo, descorporificamos.
Nosso corpo vira um objeto diante de nós, não somos
o corpo, perdemos o corpo. A perda do corpo, é a perda
do contexto, do Fundo estruturador das percepções
proprioceptivas, estereoceptivas, cinestésicas e cenestésicas.
Os processos orgânicos, a movimentação muscular,
a orientação espacial, a dor, as vísceras,
a percepção de calor, de frio, permanecem, só
que são percebidas em outros referenciais que não
os do corpo. O calor, por exemplo, pode ser percebido, no contexto
das definições dos livros sobre doença,
como se fosse característico do início da meningite;
o tremor dos olhos indica que todos vão saber que estou
às vésperas de uma falência etc.
Descorporificados sobrevivemos em busca de
uma capa, uma âncora; procuramos massagens que nos façam
sentir vivos, nos aplicamos em exercícios que nos devolvam
pernas e braços; corremos atrás de meditações
que nos situem, coloquem nossos pés no chão.
A descorporificação é
um processo grave e frequente que só pode ser globalizado
se configurarmos as relações estruturantes do ser-no
mundo. Só o homem consegue esta mágica: descorporificar-se.
O ser humano não exercendo suas possibilidades, ao se
reduzir ao nível de necessidades, contingente, transforma
o corpo em um obstáculo, nele se auto-referenciando. Os
animais jamais transformam o corpo em obstáculo, pois
que é através do mesmo que eles realizam sua necessidade
de sobreviver; não há no animal a dimensão
transcendente, existencial contemplativa, existe apenas o nível
de sobrevivência, tudo para isto converge; o corpo, o organismo,
está estruturado para sobreviver. Nos animais, os prolongamentos
perceptivos (memória, pensamento) são mínimos
em decorrência da estrutura neurológica cerebral.
Não havendo prolongamento perceptivo,
o universo significativo é inexistente. Não há
como não haver prolongamentos perceptivos. A continuidade,
a sucessão se impõe, embora isto às vezes,
se apresente como uma superposição, uma repetição.
Este adensamento perceptivo, cria para o observador
a percepção de repetições automáticas.
A observação das repetições automáticas
de comportamento ensejou uma distorção: o conceito
de instinto, usado principalmente para explicar o comportamento
animal. O comportamento de animais domesticados questionou este
conceito e criou outro absurdo: o da humanização
dos animais. Os animais percebem, pensam, sofrem, mas não
são humanos, não têm a dimensão transcendental.
Quando há prolongamento perceptivo,
há pensamento, há memória, surgem os significados,
a cogitação.
Cultura é construida através
de prolongamentos perceptivos, é a estruturação
de significados, é a ordem sinalizadora do estar-no-mundo.
Os animais pelo adensamento perceptivo de superposição
de momentos únicos, pela não verticalidade da transcendência,
percebem apenas o que está diante deles, sem as implicações
significativas. Quando se percebeu isto como automatismo utilizou-se
o sistema estímulo-resposta (S-R) para explicar o comportamento
animal (7). Quando se traduziu esta reação instantânea
- percepção do presente no contexto do presente
- como instinto, criou-se um fosso entre o homem e o animal,
negou-se ao animal a possibilidade de pensar, de lembrar.
Tanto os behavioristas, quanto os psicanalistas,
tanto a teoria do estímulo-resposta, quanto a do instinto,
foram utilizadas como módulos, como unidades conceituais
a partir das quais se percebeu o humano, tentando resolver a
grande dificuldade: quando o homem é animal, quando o
homem é humano. Não globalizando os níveis
de sobrevivência nem os de existência proliferaram
os maniqueismos valorativos, as tipologias fragmentadoras.
O ser humano, quando apenas age e reage se
desumaniza, transforma-se em um sobrevivente que tem seu corpo
içado pelos prolongamentos de significado. É a
descorporificação, é o corpo como obstáculo,
é o conhecido "minhas pernas não acompanham
minha cabeça", é "o preciso voar mas
não tenho asas", "quero ser invencível
a fim de não ser ameaçado", etc.
O auto-referenciamento, a falta de disponibilidade,
a percepção do outro como limite, desencadeia e
estrutura o processo de descorporificação; basta
lembrar do suor frio, da taquicardia e tremor quando somos contrariados
pela autoridade da qual depende a realização de
nossos desejos; a autoridade é o pai ameaçador
(limite), o marido ciumento, a esposa incompreensiva. Se o outro
é percebido como limite, se não nos aceitamos,
não há disponibilidade e isto é o auto-referenciamento,
é a autofagia que vai comer nosso corpo. Descorporificação
e auto- referenciamento são características da
não aceitação (vivência pontualizada).
Frequentemente vivenciamos a descorporificação
sob a forma de angustia - dor no peito, aperto na garganta, tremores,
dores de cabeça, etc. Quanto mais descorporificados, mais
recorremos a imagens, coberturas.
A não satisfação sexual,
é um processo estabelecedor de descorporificação,
é a amputação. A impotência sexual,
a frigidez, a percepção de sexo como pecado, como
"coisa suja", provocam descorporificação.
A não aceitação da não aceitação
do processo de descorporificação, esta atitude
desesperada e onipotente, é o que se chama de hipocondria.
O hipocondríaco quer controlar, evitar tudo que o faça
perceber que não tem corpo. É como se, o tempo
todo, pensasse: "Viver faz mal à saúde, provoca
doença". O apego aos remédios, a busca das
pílulas (tranquilizantes, anti-depressivos,etc), a ligação
com as drogas, é uma tentativa de colocar pedras, construir
alicerces, muralhas de segurança cujos blocos, tijolos
são os tranquilizantes, os anti-depressivos, as drogas
motivadoras e relaxadoras. A base do desespero é a aquisição
de capas, roupas maravilhosas, trapos protetores a fim de esconder
ossos salientes, já descarnados.
Descorporificados, passamos a nos perceber
como fantasmas e isto nos assusta, advindo daí inúmeros
desequilíbrios e várias tentativas de equilibrar
o perdido. Quando temos de cuidar do corpo, já o perdemos.
Em psicoterapia gestaltista, o processo de
recuperação do corpo, começa quando os sintomas,
os deslocamentos são questionados. A percepção
do processo, a inclusão da pontualização
sintomática, no contexto da não aceitação,
promove a recuperação do corpo. Questionar as necessidades
contingentes, perceber a infinita possibilidade de ser-no-mundo,
dinamiza, quebra os posicionamentos auto-referenciados e estabelece
relacionamentos com o outro, com o mundo, com o próprio
corpo; isto promove integração, recuperação
do corpo. Acontecendo isto e havendo permanência do contexto
de não aceitação, outros problemas surgem,
desaparecem os sintomas e surge a grande cratera, o vazio gerador
da descorporificação.
____________________________________________________
(1) DAMASIO, A. - "Erro de Descartes "
- Ed. Cia das Letras, São Paulo, 1996 - introdução
- pags.15/16
(2) é incrível como a palavra táctil implica
em um conceito unilateral sobre a percepção táctil.
Tato refere-se apenas à pegar e tocar. o tato fica assim
restrito à mão, transformando, no máximo
a pele em uma extensão da mesma. Sabemos que percepção
de vibração, encontro, esbarro, prazer/desprazer
são tácteis; o nome melhor para tato, mais abrangente,
seria percepção de pele, percepções
pelares. A pele é um marco, uma base, daí o nome
para percepção táctil poder ser também
percepção de base.
(3) Campo homogêneo e heterogêneo está sendo
usado no sentido de Kurt Lewin.
(4) Vivência de transe hipnótico, transe místico,
drogas, se caracterizam por este processo.
(5) Nas experiências masturbatórias os próprios
órgãos sexuais são percebidos como se fossem
de outro corpo.
(6) O destacado passa a existir como um clone, uma duplicação
responsável pela manutenção do auto-referenciamento,
da distorção perceptiva, da neurose.
(7) A teoria behaviorista, fundamentada no modelo de estímulo-resposta
de Watson (S-R), no S-O-R de Clark Hull e no desenvolvimento
posterior feito por Skinner (condicionamento operante), teve
como padrões estruturantes de teorizações
o estudo do comportamento dos animais.
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