"7 diretrizes para construir o presente"
"A única coisa que permanece igual em
todos os tempos é a mudança."
Introdução
Os autores agradecem aos colegas
pela repercussão que teve o trabalho que realizaram para o ICVA2000 ("O ARQUITETO E A
ARQUITETURA, NA ATUALIDADE
E NO FUTURO"
"7 diretrizes para construir um amanhã"),
as experiências recolhidas
foram motivo suficiente para nos sentirmos estimulados a aprofundar a busca.
Obrigado por nos permitir
continuar o sonho.
O espaço de reflexão e o
alerta foram feitos, nossa busca de uma base comum, mas que preserve as
particularidades, as diferenças que, na verdade, nos enriquecem, cumpriu suas
metas na velocidade dos nossos tempos. Será que poderemos desenvolver na mesma
velocidade conceitos, consolidar uma base de anseios comuns, e traçar, senão
um caminho, ao menos a direção para um futuro mais digno? Sem dúvida é um
desafio.
Apresentamos aqui uma rota
alternativa, convidamos os colegas à participação, que pode se dar de 3
maneiras: contribuindo (enriquecendo esta carta de posturas que será sempre
aberta), aderindo (ratificando as posições até agora estabelecidas), ou
auxiliando no desenho conjunto deste caminho que trilharemos lado a lado, com a
coragem implícita da vanguarda que é inerente à profissão, e com a consciência
e responsabilidade do designer do nosso habitat de amanhã.
Os visionários da Arquitetura
imaginaram alternativas de soluções para cada época, as cidades cibernéticas
de Nicolas Schöffer, o urbanismo espacial de Yona Friedman, o urbanismo
flutuante de Paul Maymont , a cidade aberta à luz e ao espaço de Walter Jonas,
a busca racionalista e pragmática de Le Corbusier, ou o organicismo de Frank
Lloyd Wright , apenas para nomear alguns dos mestres que realizaram estudos e
propuseram soluções, que em muitos casos nem eram possíveis de realizar nos
tempos que surgiram.
Estes mestres foram superados
pela realidade, não consideraram alguns aspectos imponderáveis, como a
velocidade dos acontecimentos, e a voracidade da ganância humana. Certamente
suas visões de futuro não contemplavam apenas uma pequena parcela de
afortunados...
Hoje a rapidez dos avanços
tecnológicos é tão grande que não nos é possível assimilar toda a informação.
Temos soluções para quase tudo, talvez não existam mais desafios impossíveis
para o homem, a não ser o de manter o foco das reais necessidades da humanidade
e do planeta, ter a clareza do que realmente é preciso fazer, e direcionar o
esforço para o bem comum.
"Fazer mais ético, responsável
e digno o desempenho profissional no futuro" é uma expressão de desejos
emergida de uma realidade massiva que vivemos, realidade que se agrava
velozmente. "Pressionados vamos nos distanciando de nosso objetivo natural:
o de atuar com profissionalismo e contribuir para um mundo melhor".
Hoje temos no planeta 57% asiáticos,
21% europeus, 14% pessoas do hemisfério oeste, tanto norte como sul, e 8%
africanos. Somos 52% mulheres, 48% homens, 30% são brancos, 30% são cristãos,
89% heterossexuais, 6% das pessoas possuem 59% da riqueza de toda a terra, e são
norte-americanos.
De cada 100 pessoas, 80 vivem em
condições sub-humanas, 70 são incapazes de ler, 50 sofrem de subnutrição, 1
tem educação universitária, e 1 pessoa possui computador.
Será que podemos nos orgulhar
do que conseguimos até agora? Este quadro nos recorda que nossa civilização
entra neste terceiro milênio deixando para trás a maioria dos nossos irmãos,
e que o caminho que percorremos no último século é excludente, irresponsável
e injusto.
Estaremos cegos para a
realidade? Embevecidos com o poder da tecnologia, visitamos a lua, vivemos em órbita,
já podemos escapar do planeta, e estamos prestes a nos lançar ao espaço, qual
predadores do infinito, enquanto destruímos o planeta e o habitat da absoluta
maioria. Capazes até de criar novas vidas, maravilhados com o domínio do DNA,
seguimos levando à extinção uma espécie por dia. Como se a possibilidade de
dar um passo adiante redimisse a humanidade do estrago que deixa em seu rastro,
seguimos sem parar para pensar que esta não é necessariamente a única direção.
O que nos obriga a perpetuar esta insana autodestruição? Quanto tempo teremos
até nossa própria extinção? É evidente que caminhamos a passos largos nesta
direção, que não há mais tempo, não podemos deixar para depois, é preciso
mudar de caminho.
Como arquitetos e urbanistas
temos nossa cota de responsabilidade, seja por agir ou não agir , por fazer ou
não fazer, pensar ou não pensar. Precisamos contribuir com novos traçados
para o futuro, que apontem para a vida ao invés da destruição, e que este
caminho seja melhor, mais digno, menos excludente, enfim, que possamos nos
orgulhar durante o percurso.
Oscar Müller Kato - Arquiteto e Urbanista - São Paulo - Brasil - [email protected]