SOLID�O Foi de olhos abertos, Em plena luz do dia, Que eu senti solid�o. N�o foi por paix�o, Por sonho ou fantasia. N�o foi por querer. Quando eu vi j� sentia. N�o havia ningu�m e eu at� pensei Que fosse falta de companhia. Mera ilus�o! Os ru�dos cessaram de repente E por mais que eu tentasse O som n�o aparecia. Minha respira��o me agoniava, Meu cora��o batia t�o baixo T�o compassado, que me irritava. Pensei em chorar, talvez adiantasse. Talvez o mundo at� parasse para me consolar. Pensei em gritar, talvez ouvindo a minha voz ressoar, Eu pudesse acordar e ver Que era apenas um sonho. Um sonho sem sentido. N�o gritei, n�o chorei. O medo de n�o obter resposta foi maior, E eu fiquei muito tempo s�. |
SOMBRAS � no domingo que eu me preocupo. Quando eu escuto os sons De uma segunda-feira prematura, Perdidos no fim de tarde. Eu vejo o que fa�o do meu dia. Minhas manh�s sonolentas. Minhas tardes longas. Minhas noites vazias. Pela janela o sol se esconde. Come�a a aparecer um certo tom de escurid�o Que se molda aos olhos e aos sorrisos Das pessoas que passam. � um novo rosto, para um novo dia. Para outros dias. Como se esse novo jeito, fosse mudar a vida. Fosse torn�-la mais s�ria, pela segunda-feira Ou mais agitada por ser sexta-feira. Mas nem com a nova express�o, Pode mudar o cora��o. Tento sorrir. |
SUAVE ALUCINA��O � numa dessas tardes vazias e silenciosas, Escurecidas pelo tempo chuvoso Que eu me sinto mais fr�gil. E essa fragilidade me torna triste. Sinto falta de acreditar em mais alguma coisa. Mesmo naquelas que eu sei verdadeiramente imposs�veis E com as quais j� me conformei. Tenho vontade de dormir mais um pouco, De ficar olhando pela janela antes de sair. Sinto vontade de poder sentir o que n�o consigo. De falar a s�rio quando n�o for preciso. � como se n�o fosse poss�vel Conviver com esse modo arranjado Para bem viver. Como se n�o fosse verdade, Ser por ser, apenas. A tarde morre e a noite chega. Tudo com a tarde se vai. |
VIAGEM Quem pode nessa vida Do outro o caminho escolher? Desejar que o que � bom para n�s Possa a ele parecer. Se � quem amamos, Por mais que possamos sofrer, Cabe ter f�, pedir prote��o. Que ele saiba bem escolher. Que tire algum proveito. Que tudo saia perfeito. Que n�o demore para voltar E que deseje logo, Ao nosso lado ficar. |
FILHO Meu menino est� crescendo. Tem suas pr�prias id�ias, Expressa seus sentimentos, Est� diferente a cada dia. Nos seus olhos vejo Um homem de bom cora��o. Alegre, divertido, Rom�ntico, cheio de emo��o. Desejo-lhe um futuro brilhante. E gostaria muito de poder conceder Em um toque, como m�gica, Tudo o que ele pudesse querer. Como n�o � assim que funciona. Cada um deve seu caminho trilhar Dou a minha prote��o Que sua luz sempre haver� de brilhar. |
TEMPO Tempo a gente n�o mata Simplesmente deixa passar. Quando passa sem se ver, A gente se arrepende Por ter deixado sem nada fazer. Tempo sempre se conta Mesmo sem querer. Se bem aproveitado � bem contado, Se mal passado melhor seria esquecer. Como � inevit�vel Contando a vida levar. Melhor fazer tudo certo. Porque n�o d� para voltar. |
A RUA Resolvi partir. Peguei as minhas coisas E desci pela rua deserta. Muitas vezes eu havia imaginado Essa minha partida E sempre via a rua chorosa despedir-se de mim. No entanto, ela se mant�m em sil�ncio, Insens�vel. Lembro-me dos momentos que passei na rua. Dancei, menti e amei na rua. Ela, como que inating�vel aos meus sentimentos, Fica quieta. Penso nas suas noites coloridas, a dona da festa. O palco. Ali, sem querer nada, era a parte mais importante do espet�culo. De dia, uma rua confusa, perdida, Usada pelos transeuntes. Sentimental. E agora finge que n�o sente nada ao me ver partir, Ou simplesmente me observa, analisa. Ri! Ri da minha despedida fria na madrugada. Debocha da minha fuga. Mas n�o reage, n�o discute, n�o me faz ficar. |
ASSIM N�O D� Aqui dentro, no meu quarto, Eu tenho tudo para fazer poesia. Uma janela, uma ventania. O trem que faz o �ltimo dos barulhos do dia. Uma porta. Uma porta aberta. Talvez o �nico alerta Para me fazer parar. Parar de sonhar, Parar de brincar, Parar de pensar. Mas sem pensar eu n�o fico. E o que fazer se quando penso me irrito, Implico, imito a cena de um cap�tulo de novela. Um ato de uma cena de teatro, Onde me retrato, refrato meu brilho sem cor. Procuro e n�o encontro uma resposta. E n�o adianta fazer proposta, N�o adianta comprar uma nova aquarela. N�o adianta querer fugir, nem mentir. N�o adianta disser que n�o adianta. |
ANJOS Perguntaram-me, O que s�o anjos? S�o seres m�gicos, puros, perfeitos. Elos de liga��o com o Criador. Cada pessoa tem seu guardi�o. Chamados nos momentos de dificuldade, Est�o sempre prontos a interceder Por quem faz a ora��o. Aparecem do nada, Nas horas de maior precis�o. - Possuem asas ou aur�olas? S�o masculinos ou femininos? Que forma eles t�m? Tem forma de amigo, Telefonam e mandam e-mail E alguns trabalham comigo. Se tamb�m sou anjo? Sim, �s vezes. � receita f�cil e sem pretens�o: Amar, n�o ter pregui�a de ajudar, Agir com alma, com cora��o. |
VIAGEM NO TEMPO Alimento-me de emo��es, De sentimentos, Que a cada momento mudam, transformam-se. Meus pensamentos viajam perdidos no tempo. As imagens passando e transportando-me para outro dia, Outro momento. N�o sei onde estou, n�o sei quem sou. Posso ser qualquer pessoa, viver onde quiser. Ser her�i, ser fada, ser pr�ncipe. Ser mago, ser Deus. � o poder de sonhar, de imaginar. Talvez de recordar. De viver hoje em forma de ontem, de amanh�. De combinar o que passou com o que vir�. |
ANSIEDADE Mil id�ias povoam-me a mente. Versos, poemas, sentimentos. Corro para casa em busca de um peda�o de papel para escrever. Repito as frases sem parar com medo de esquecer tudo o que eu quero dizer. - Pela rua vou analisando cada rosto, cada olhar. As pessoas mesmo em sil�ncio Contam-me hist�rias, alegrias, coisa a lamentar. - As cenas da rua me revelam momentos, Imagens de ontem, da noite, do tempo. Seus cheiros, seus perfumes Trazem saudades, tristezas, Lembram de rosas, de vestidos, de pessoas. Finalmente chego. Mesmo em p� j� come�o a escrever, Vou sentando, largando as coisas que carrego. N�o consigo escrever t�o r�pido quanto consigo pensar. Releio insatisfeito, corrijo, critico. Volto para a rua, para sonhar. |
DESABAFO E ent�o, eu me jogaria Do parapeito de uma janela qualquer. Usando toda a coragem que eu n�o possuo Pelos motivos que eu nem mesmo sei. Morreria em nome dessa mentira suja Que me come, me mastiga. Dessa ironia pura que me acorda todos os dias Com um enorme sorriso no rosto. Faz-me levantar como um boneco de caixa de riso, At�nito, confuso, mas alegre, sem saber por que. Viva! Viva a loucura que me mant�m perdido, Ignorante e burro. A loucura que me move, Me fere e empurra. A doce loucura que me mant�m vivo. Insatisfeito! Mas com a eterna esperan�a De que tudo v� dar certo. |
DA JANELA Da janela a vida eu vejo Nesse tempo a minha passa. Analiso cada cena Pelo meio da vidra�a. Cada coisa � um verso, Cada cena um poema. Mas cada dia que passa Cria-se um novo tema. De todas as janelas que vejo Desta minha em que analiso, H� um outro que observa Seguindo sem improviso. E cada coisa que est� na rua Muda sem que pare�a Desde cedo, bem cedo. At� antes que anoite�a Os que olham envelhecem, Mas com muita emo��o Pois � pensando na vida, Que se renova o cora��o. |
VIDA Nessa escola que � a vida Muito eu quero apreender. Para ter mais tempo livre, Se eu tiver que reviver. Fazer muitos amigos. Mil poemas escrever. Te amar eternamente, Ver meu filho crescer. N�o errar, � imposs�vel, Mas que eu saiba perdoar. Refazer caminhos tortos, Prosseguir sem desviar. E quando de outro plano, O que passou analisar, N�o ter arrependimentos, Nada para lamentar. |
NA CIDADE Ing�nuo! Perdido. � sem sentido o meu caminho. Meu cora��o tem saudade, Da pureza e da felicidade que eu sentia. Era pobre, Era triste. Era minha rotina, minha sina, Que agora n�o parece nada vazia. As luzes, refletidas No colorido cinza envidra�ado da cidade Perseguem-me. Fazem m�sica. Dizem em um compasso sem fim. Volta. Volta. N�o posso. N�o h� mais para o que voltar. |
SER Se eu soubesse como � simples o mundo E como � f�cil a vida, Eu n�o seria assim. � claro, eu mudaria. Mas para mim, o que � sem disfarces, Sou eu. O mundo � que tem os mist�rios E s�o eles que d�o a minha vida Um jeito de luta, de vontade. S� o mundo tem os sobressaltos, As repentinas mudan�as. Errado talvez por ingenuidade ou Por uma sabedoria copiada, Penso que sou constante. Quando sorrio, quando choro, Ou caio na insatisfa��o, Apenas mostro uma rea��o �s crises do mundo. � ele que sofre, que ri. Seja isso a mecaniza��o, a submiss�o. Sou submisso � emo��o. A fragilidade � ser o pr�prio mundo. |
A VOLTA DOS BONDES Encontro dos motorneiros. Viajo pelo tempo Olhando fotos Ouvindo hist�rias. Velhos amigos falam Da ��poca dos Bondes�. Saudoso tempo, Cruzando pela cidade, Pouco se falava em viol�ncia, Em crises. A vida passava mais devagar, Para quem hoje olha para tr�s. Seus olhos brilham, Seus rostos se iluminam Enquanto contam sem parar. A sua volta, Os mais jovens olham Ciumentos. E custam a acreditar. Ser� que os bondes N�o podem voltar? |
AMIGO Desde pequeno j� escutamos: Olha ali teu amiguinho! S�o os amigos da escola. Os amigos do pr�dio. Ei amigo! Me d� uma informa��o? Os amigos da rua. Os amigos da faculdade. Os amigos do trabalho. Quem � mais ou menos amigo? Para ser amigo N�o � preciso ter voca��o. Amigo � aquele que est� presente. Que tem carinho, Que quer o bem. Amigo n�o esquece Ajuda quando n�o poderia. Amigo tamb�m critica, tamb�m chateia. Mas n�o � por mal, Porque amigo sabe o que a gente sente, Sabe mesmo antes da gente. |
COISAS PASSAGEIRAS Talvez seja mentira Mas as nuvens pretas de chuva Levam consigo as m�goas do mundo. Junto v�o minhas tristezas Ilus�es infundadas, Sentimentos sem raz�o. Dando assim um toque de vazio, De incompreens�o. Ent�o penso sem juntar id�ias Penso simplesmente No amor discreto de qualquer pessoa. Penso e os versos se confundem, Misturam-se, dando lugar a novas alegrias. Ora tristezas, numa melancolia sem fim. Ora risos puros, mera histeria pra mim. Novas ilus�es. Vejo ent�o que as nuvens pretas N�o foram embora, Simplesmente mudaram de cor. |
BEIJO Procurei uma explica��o Para o beijo. Aquele beijo simples De todo o dia. Um beijo r�pido. Ser� que � por beijar? � de despedida. � de chegada. � beijo que se acostumou? Fechei os olhos Senti teu beijo N�o tem explica��o. Beijo � beijo. � tudo. � conex�o. Juntos nossos l�bios em segundos. Minha alma na tua. Minha vida na tua. Meu amor em paix�o. |
AMOR O amor � onda � revolu��o. Vem em f�ria, em paix�o. Assim como alimenta Confunde e atormenta. Uma hora � certeza. Na outra, � d�vida. � perdi��o. Com o tempo Passa a vida. Vem a calma, Tranq�iliza o cora��o. E os amantes j� mais velhos T�m no romance nova emo��o. |
UMA PORTA Abriu-se na esquina da rua escura Uma porta clara. Clara como a lua pintada de luz Em dia de cheia. Da porta clara saiu uma estrela. Estrela guia da manh�. E por ser noite, n�o ser dia, A estrela da porta clara morreu. Morreu dura na esquina escura. E a estrela de outro dia, Que dura havia morrido, ressuscitou. Nasceu de novo, como eu diria. Nasceu para brincar e zombar Da esquina da rua. Onde a noite agora Por causa da estrela Acabou. |
TRISTEZA Chovia l� fora. E como sempre, as noites de chuva Fazem-me pensar. Devagar elas v�o me deixando triste E meu rosto, como tudo l� fora se umedece. Quando h� chuva l� fora, Tamb�m h� chuva nos meus olhos. N�o que eu n�o goste dela, No come�o ela me acalma Deixa-me tranq�ila, Com os sentimentos abertos a tudo que acontece. Mas essa tranq�ilidade me apassiva, Antep�e-se aos meus movimentos. Ent�o, torno-me alvo de suas m�goas, Objeto dos seus desencantos. Antes de cada uma dessas noites Eu prometo sair, Prometo estar l� fora. Mas elas me enganam Brotam inesperadamente dos dias Fazendo com que eu n�o possa fugir. |
ALEGRIA Por Deus julgo-me aben�oada. Pois qual ser� a maior gra�a. Ter sa�de, paz, n�o conhecer desgra�a. Viver feliz e nunca sentir-me amargurada? Por certo j� senti medo. Tristeza, desassossego. Mas sempre supero tudo. Confesso n�o h� rancores, Nos momentos presentes ou anteriores. Talvez meu pr�mio seja a alegria. E minha miss�o nessa vida � sempre leva-la comigo. E se eu n�o conseguir Por muito longe andar Que eu possa pelo menos ensinar A quem � hoje meu amigo. |
SENTIMENTOS Viver � sentir. Sentimento � emo��o. � magia, luz divina. Para quem v� com o cora��o. Quem vive para sentir Pode sofrer ou chorar, Tudo pode ser muito intenso Mas com certeza alguma li��o H� de tirar. Pois a vida � feita de hist�rias Que s�o registradas na alma. Hist�rias felizes ou tristes Marcas ou cicatrizes. Amores e �dios, Rancores e m�goas. E uma oportunidade �nica De escolher apreender E perdoar. |
O HOMEM QUE MENTE Ele � um homem que mente Vive em seu pr�prio mundo, Conta hist�rias diferentes Com enredos que lhe agradam E deixam os ouvintes contentes. As hist�rias s�o tantas Que ele mesmo se atrapalha, Semeia mentiras feito plantas. Incontrol�vel, as palavras espalha. Mente sobre coisas importantes E sobre coisas banais. Sobre not�cias, sobre trabalho. Mente para ser feliz. Ele n�o sabe porque � assim. Realidade, fantasia, enfim. Ser� por solid�o? Ser� que se perdeu? Ou foi depois, Que seu amor morreu. |