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Poemas de Jayro Luna

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 Jayro Luna é um poeta de São Paulo - Brasil. Participou do período da dita Poesia Marginal dos anos 80 publicando alguns fanzines, libretos e plaquettes. Mais recentemente tem se dedicado ao ensino universitário e à publicação de suas obras no círculo editorial.

Poesias

Artigos

Coisas de Amigos

A Obra de Arte Na Época de suas Técnicas de Reprodução (Hipótese Estética).
Para Walter Benjamim e Antero de Quental

Já não sei quanto vale a nova arte
Quando a vejo nas galerias rifadas,
Turva de aspecto, à luz fotografada,
Como chocante pós-tudo encarte...

Sonolento meu olhar se esvai destarte,
Respira fumo e logo embriagada
A artista de alma vasta e agitada
Desfaz-se dos últimos baluartes...

Nossa era irritada e virulenta
Chama à glossolalia experimento,
Verbo ao ruído de fragmentos e caos...

Mas a Arte é no mundo insustentável,
Num céu volátil de ordem fractável...
Tu, sentimento, não és mar, és nau...

Farenheit 451

Fogo! Fire! Queimarão todos os livros!
Ardem nas ruas as odes, albas, liras!
Quando o saber é subversivo, a ira
Louca em trevas lança a alma dos vivos!

O inferno de Dante, o Uivo, a Ilíada!
Bombeiros incendiando uma Odisséia;
A magia dos Tiranos: sua panacéia!
Sopra Adamastor as letras lusíadas!

Cante Menestrel! Pé na estrada, Hippie!
Guarde uma estória ulisseida leitor,
Pois se amanhã calar-te o ditador,

Às ocultas, numa das últimas trips
De segunda, foges para a floresta,
Qual Montag, cante sua canção de gesta
!

Para M...

Imagine, baby, que os olhos possam
conter o céu e o mar! Baby, imagine
também que um sorriso só se define
se contenha brilhos e sons que remoçam
a alma de um poeta... E que um anjo se incline
ao ver a graça na forma de um rosto...
Cujas feições compõem a obra com gosto!
E, baby, ainda peço que imagine
As linhas suaves de um corpo de sereia
E de como a beleza ali se recreia...
Pois enfim, baby, o que então se imprime
Nesse conjunto: olhos, corpo e sorriso
É seu retrato pintado ao meu juízo.

                                               SP, 2/12/2002.

O Prisioneiro

São poucas as horas que tenho
Em meu relógio sem ponteiros,
São poucas as chaves que acionam esta nave,
Parece que a gente nunca consegue, never!
Mas a gente sempre persegue, revolver;
Querendo alcançar reviramos o alcáçar,
É preciso sonhar, certo certeiro preciso!

Tantos problemas, programas, lemas,
Às vezes cansados sentamos à beira do caminho,
Mas a voz viajante dos ventos vis,
Destruidores de ninhos, caranguejoulas,
Trazem-me novo alento, perfume de papoulas!
Poema Psicodélico

Luzes Saturadas de Diodo!
Visão epizoótica!
Hoje irei escrever em branco sobre branco,
Usarei somente o branco,
E beberei apenas bebidas brancas...
O Significado secreto das coisas...
Eu vi os expoentes da minha geração
Destruídos pela loucura!
Um monstro múltiplo de um milhão de olhos
Está escondido em todos os seus elefantes
E numa enorme teia de aranha...
O Céu e suas maravilhas e o Inferno;
Depois desse tempo, no lugar em que vi tantos mistérios,
Fui levado por um turbilhão
E carregado para o Ocidente.
Lá meus olhos perceberam os segredos do céu
E os da terra...
Guiado por teu perfume, ó musa, às paragens mais belas,
Vejo um porto numa ilha preguiçosa, molenga e sem dono...
Um dia na vida tocarei na banda do maestro Pimenta!
Isto não é um poema nem um cachimbo,
É uma gargalhada de safira na ilha de Ceilão,
Um salto no vácuo...
Os raios ultravioletas terminaram sua tarefa:
O primeiro poema branco que, por acaso, será vermelho...
Luzes Saturadas de Diodo!


 
Frankenstein Metamoderno
A Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Brás Cubas, em homenagem à Mary Shelley, e com especial apreço a José Mojica Marins.
"E este abandono...Essa incerteza que me aflige... / Ó Georges Rodenbach! Ó meus Cisnes de Bruges! / Ó Crépuscule de Ephraim Mikhael!" ALCEU WAMOSY.
"Armazenando em sua memória implacável (seu futuro martírio) os fragmentos de um presente jamais apanhável mas que ele ia sedimentando e ia socando quando eles caíam mortos e revirados no passado de cada instante." PEDRO NAVA.
"-Quem sou? Um doudo, uma alma de insensato, / Que Deus maldisse e que Satã devora; / Um corpo moribundo em que se nutre / Uma centelha de pungente fogo" ÁLVARES DE AZEVEDO.
"Mosaico de memórias nele nado, / comendo peixes e recordações, / encerrando em cubículos de espelhos / em que meu rosto não se vê, mas os / dos passados e os do presentes rostos, que emergiram de baixo, do subsolo" JORGE DE LIMA
.

Desventra o ventre donde nasceu,
Se nasce morre nasce morre nasce,
E do aceno o milagre a renascen-
Ça. Não é você, nem sou mais eu.

Vida da minha vida, que eu não vejo,
Tenho medo de mim, de ti, de tudo
[E] resmungando com ar carrancudo,
Em toda... extensão pululam (...) desejos!

Murchem a flor das ilusões da vida!
Me sinto tão longínquo e deslocado,
(...) sem limites, tão despropositado.

Espírito, (...) éter (...), substância fluída.
A terra ao largo, ao longe se lamenta
Sou trezentos, sou trezentos (e) cinquenta1.

Londres, 1993
1 Este poema-frankenstein foi criado com partes de corpus dos seguintes vates: Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Mário Faustino, Torquato Neto, Da Costa e Silva, Casimiro de Abreu, Bernardo Guimarães, Carvalho Júnior, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos, Sousândrade e Mário de Andrade.
 

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