Machado de Assis, a universalidade do bruxo do Cosme Velho

Adriano Messias de Oliveira (quando estava no 6o per�odo de Jornalismo)

CHAPTER CXXXVI.
Uselessness
                                                                         
But - if I am not greatly mistaken, I have
just written a useless chapter. (1)


Nascido na cidade do Rio de Janeiro em l839, filho de uma lavadeira portuguesa e de um pintor de parede crioulo, o franzino Joaquim Maria Machado de Assis iria romper todas as barreiras de sua �poca. Chegaria mesmo a fundar um dia a Academia Brasileira de Letras e ser eleito seu primeiro presidente. Mas quem passasse por aquele menino mulato do Morro do Livramento que s� concluiria o prim�rio, n�o daria nada por ele.

A inf�ncia e adolesc�ncia de Machado de Assis s�o uma inc�gnita para os bi�grafos. Sua pobreza e a perda precoce dos pais deram-lhe um come�o de vida muito simples, sem interesse para quem quer que fosse. Assim, nenhum registro se fez sobre esta �poca de sua vida. Alguns estudiosos chegam a fazer uma an�lise de personagens infantis e adolescentes da obra machadiana na busca de apreender neles alguma proje��o do escritor. Mas tudo n�o passa de especula��es.

Em qualquer grupo de amigos, ele era sempre o mais magro, o mais baixo e raqu�tico, de fei��o retra�da. O mais �Casmurro� de todos. Em crescendo, o estrabismo e a gagueira foram um estorvo para que Machado se expressasse publicamente. E havia um agravante maior: a epilepsia, que lhe causava achaques em p�blico, tornando-o alvo dos severos preconceitos daquela �poca. Como diz o professor Mauro Rosa, pesquisador da vida e da obra do escritor, �se ele vivesse hoje na m�dia da imagem, com certeza teria problemas para se mostrar.� De fato, foi com  muitas dificuldades que o mesti�o Joaquim saiu do anonimato para imortalizar-se como Machado de Assis.

Freud afirmou que �o artista � ao mesmo tempo um introvertido da neurose�. Com isso o Pai da Psican�lise quis dizer que o artista busca o caminho da realidade por outras formas que n�o as usuais. E Machado n�o foge dessa an�lise: o casamento veio tarde, aos 30 anos, com Carolina Augusta - companheira e inspiradora - e a inibi��o acentuada fez com que ele se fechasse e, nesta introspec��o, rasgasse os v�us que ocultam a verdadeira natureza do homem, mostrando em seus bem-constru�dos romances a alma humana cortada e dissecada. Da�, com certeza, lhe adv�m o t�tulo metaf�rico de �bruxo�. Poucos escritores souberam manipular as palavras e revelar o homem de maneira t�o habilidosa quanto Machado de Assis.


Dif�cil Classifica��o


Uma historiadora italiana, ao escrever um livro sobre a Literatura Brasileira, classificou nossos estilos de �poca em Literatura de Informa��o, Barroco, Neoclassicismo, Romantismo, Realismo, Modernismo e fez um cap�tulo especial entitulado Machado de Assis, mostrando a notoriedade de suas obras. �Essa dificuldade�, acrescenta o professor Mauro Rosa, �� que d� essa geniosidade da obra dele.�

Machado de Assis tem um lado muito contempor�neo, j� que conhecia bem as obras de seu tempo e a produ��o art�stica europ�ia. Por�m, seu lado mais valioso seria o �extempor�neo�. Perguntando ao professor Mauro Rosa se poder�amos considerar Machado de Assis um vanguardista, precursor de escolas art�sticas que s� surgiriam d�cadas mais tarde, como o Surrealismo com Andr� Breton, ele responde afirmativamente. �Machado antecipou princ�pios est�ticos de cem anos. Ele n�o foi s� realista, mas tamb�m pr�-modernista, modernista, p�s-moderno. Machado � universal e atemporal.� E � justamente em sua segunda fase, a realista, que ele exibe mais este aspecto universal, um escritor sem tempo e lugar.

O maior escritor da l�ngua portuguesa - doa a quem doer

Dizem que � a paix�o de nossos patr�cios que lhe conferiu este t�tulo. Os amigos lusitanos discordam: h� muita gente que prefere E�a de Queir�s, contempor�neo de Machado. Com certeza, ambos s�o os maiores prosadores da literatura em l�ngua portuguesa. Contudo, o brasileiro que l� uma obra machadiana identifica-se com os personagens e com o enredo tanto quanto o s�rvio que l� a mesma obra em servo-croata, ou o russo, ou o polon�s, ou o oriental. �Machado de Assis deu conta de construir obras que mostram o homem por dentro. E quando voc� mostra o homem por dentro, n�o importa a nacionalidade, n�o importa a �poca�, comenta Mauro Rosa.

Freud explica

H� dois livros cl�ssicos que abordam a pessoa e as obras de Machado de Assis: Doen�a e Constitui��o de Machado de Assis de Peregrino J�nior e A Psiquiatria de Machado de Assis de Jos� Leme Lopes. Este �ltimo coloca-nos que h� casos de personagens criados em sua literatura que clareiam pontos que os pr�prios pacientes vivos n�o d�o conta de clarear por mecanismos de defesa ou por artificializarem certas quest�es. Nos livros de Machado isso aparece de maneira elucidativa para as ci�ncias do psiquismo humano, o que � um paradoxo, j� que se tratam de personagens �artificiais�. �Ele coloca nossos defeitos ali� - comenta Mauro Rosa. �Outro expoente como ele seria Nelson Rodrigues. Nelson trabalha com a linguagem do inconsciente. Machado de Assis tamb�m, mas sob uma �ptica muito racionalista.� O C�nego ou a Metaf�sica do Estilo, por exemplo,  � um conto machadiano que trabalha com estes conceitos numa �poca em que Freud n�o com contava mais que 30 anos de idade.
s�culo XIX. S�o figuras que permitem uma cartase para a leitora que vive situa��es semelhantes �s delas. �S�o grandes for�as de refer�ncia�, conta-nos Mauro Rosa. Exemplo da sensibilidade intencionalidade de um autor al�m de seu tempo...


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