Freud explica

H� dois livros cl�ssicos que abordam a pessoa e as obras de Machado de Assis: Doen�a e Constitui��o de Machado de Assis de Peregrino J�nior e A Psiquiatria de Machado de Assis de Jos� Leme Lopes. Este �ltimo coloca-nos que h� casos de personagens criados em sua literatura que clareiam pontos que os pr�prios pacientes vivos n�o d�o conta de clarear por mecanismos de defesa ou por artificializarem certas quest�es. Nos livros de Machado isso aparece de maneira elucidativa para as ci�ncias do psiquismo humano, o que � um paradoxo, j� que se tratam de personagens �artificiais�. �Ele coloca nossos defeitos ali� - comenta Mauro Rosa. �Outro expoente como ele seria Nelson Rodrigues. Nelson trabalha com a linguagem do inconsciente. Machado de Assis tamb�m, mas sob uma �ptica muito racionalista.� O C�nego ou a Metaf�sica do Estilo, por exemplo,  � um conto machadiano que trabalha com estes conceitos numa �poca em que Freud n�o com contava mais que 30 anos de idade.

Raz�o e Sensibilidade


Sem d�vida, a obra machadiana � fruto de um processo l�gico . Mauro Rosa descarta a casualidade, a proje��o inconsciente ou a mera intui��o no processo da escrita de Machado. �Seus livros s�o fruto de uma racionaliza��o.�

O Dr. Wilton Cardoso, maior especialista vivo de Machado de Assis, ministrou um curso em Belo Horizonte mostrando a musicalidade presente em Memorial de Aires. Este romance tem a estrutura semelhante � de um concerto cl�ssico. Trio em L� Menor, por sua vez � um conto cuja estrutura baseia-se na sonata cl�ssica, sobretudo as sonatas de Beethoven.

O professor Mauro Rosa, em seu Mestrado na PUC, dissertou sobre o seguinte tema: O Eu e o Outro como lugares ontol�gicos do tr�gico em Mem�rias P�stumas de Br�s Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ele percebeu semelhan�as desta trilogia com trag�dias cl�ssicas ou shakespeareanas.

Machado de Assis traduziu O Corvo de Edgar Allan Poe. O pr�prio Poe analisou esta sua obra em um ensaio denominado A Filosofia da Composi��o, no qual evidencia princ�pios de racionalidade. Sup�e-se que Machado, tendo acesso a tal ensaio, apreendeu de l� certos conte�dos estil�sticos. Ele possu�a uma maneira prior�stica de escrever. Fazia um �esbo�o� para ter uma antevis�o do que escreveria. Era um projetista de textos, trazendo uma perspectiva pr�-concepcional da obra.

A mulheres nos livros de Machado s�o sempre perspicazes, extremamente sensuais e fortes. Podemos lembrar algumas: Sofia, Capitu, Virg�lia, as quais foram ousadas e completamente diferentes das mulheres do Rio no s�culo XIX. S�o figuras que permitem uma cartase para a leitora que vive situa��es semelhantes �s delas. �S�o grandes for�as de refer�ncia�, conta-nos Mauro Rosa. Exemplo da sensibilidade intencionalidade de um autor al�m de seu tempo...

Errata pensante


Apesar de Machado citar em suas obras trechos da B�blia, principalmente do Velho Testamento, utilizando-os em rela��es intertextuais, deve t�-lo feito, segundo hipotetisa Mauro Rosa, para levantar quest�es na �rea religiosa e para fins est�ticos. Ele foi um homem que �com certeza, n�o acreditava na possibilidade da exist�ncia de Deus�. Disse Machado de Assis certa vez que o homem �� uma errata pensante... Cada esta��o da vida � uma edi��o que corrige a anterior, e que ser� corrigida tamb�m, at� a edi��o definitiva, que o editor d� de gra�a aos vermes�.

Um grande

O professor Mauro Rosa faz considera��es muito justas sobre o autor de Quincas Borba. Para ele, Machado de Assis � t�o grande quanto Dostoievski para os russos, Dante para os italianos, Cervantes para os espanh�is ou Shakespeare para os ingleses. �Ele tem o tamanho desses homens todos. Sua literatura tamb�m tem o tamanho das literaturas dos grandes escritores mundiais, pela qualidade e pela extens�o criativa: foram mais de duzentos contos, nove romances, uma infinidade de cr�nicas... Al�m de cr�tico teatral e liter�rio, foi dramaturgo e correspondeu-se com E�a de Queir�s, o qual sempre ouvia os seus conselhos est�ticos...�

Homem de origem humilde, conseguiu fazer de seu potencial criador um monumento que fala a qualquer povo, a qualquer etnia, a qualquer cultura: palavras conjugadas com o f�lego da sabedoria, da criatividade e da raz�o. Este � o Machado de Assis que foi e que ainda � parte importante da alma do povo brasileiro. N�o se disse tudo a seu respeito. Machado � um  universo a descobrir.

As nove caras do doutor da alma

Os romances de Machado de Assis:

Primeira Fase (Romantismo):                           Segunda Fase (Realismo):

Ressurrei��o (1872)                                       Mem�rias P�stumas de Br�s Cubas ( 1881)
A M�o e a Luva (1874)                                  Quincas Borba (1891)
Helena (1876)                                                Dom Casmurro (1900)
Iai� Garcia (1878)                                          Esa� e Jac� (1904)
                                                                    Memorial de Aires (1908) 

(1) A ep�grafe � o cap�tulo 136 de
Mem�rias P�stumas de Br�s Cubas em ingl�s.
continua na pr�xima p�gina
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