O que faremos com o que fizeram de nós?
(ou de como o indivíduo se descobriu completamente fragmentado)Quanto mais penso, mais percebo que existo.
E essa existência perde sua aura de mistério, de dom sagrado,
a intangibilidade divina é substituída pela concepção do sujeito e do corpo
(ou das idéias concebidas no córtex devido a estímulos elétricos,
em um organismo feito de prótons e elétrons, concebendo teorias acerca de si e do mundo)O estudo dos sinais comportamentais resgata a animalidade do homem e,
se encarada a partir de certa distância, pode ser tranqüilamente explicada como uma reprodução
de qualquer ritual agonístico do repertório de um vertebrado superior.
A humanidade existe enquanto nos enxergamos, nos contextualizamos e,
intencionalmente, distorcemos a realidade a nosso proveito.A biologia me deu competência para perceber a interface homem X animal sob uma ótica evolutiva,
logo, essencialmente simplista.
No entanto, o córtex me permite a recriação do mundo dentro do meu ser e nesse momento me faço complexa.
Até que ponto eu posso distorcer essa realidade implica
no quanto entendo seus mecanismos, sua infra-estrutura e assim,
no posto de detentora desse conhecimento, posso me intitular humana.
As eternas perguntas atormentarão-me enquanto sujeito racional: Quem? Como? Por quê?Para saciar a sede do descobrir Quem Sou, elejo um criador.
Para sanar a curiosidade do Como Sou, me destrincho através da arte e da semiótica,
recuperando simbologias que caracterizam o ser humano desde seu estado primitivo.No entanto, o sujeito se perde nos Porquês do Ser, do Existir.
E tenta, através da ciência e sua pródiga filha, a tecnologia, levantar hipóteses factíveis acerca da existência.E é nesse ponto que o cientista se descobre sozinho.
O religioso tem pai, o artista tem filhos, mas ao cientista restam apenas os ecos de suas teorias irrespondíveis.
E, na angústia advinda da ciência plena, se joga nos braços do divino...Algum dia li que o homem é o lobo do homem.
Há tantos significados nessa frase.
O tormento de uma vida é culpa de ninguém mais além do próprio atormentado.
O quanto nos marcamos, nos ferimos e nos permitimos sofrer por um dado fato é culpa apenas nossa.
O acaso dita as regras do jogo, e cada jogador tem N possibilidades de posicionamento:
a estratégia a ser seguida é uma decisão individual.
"O que fiz com o que fizeram de mim?"
Nada! Ou pior: minha estratégia foi a auto-mutilação moral, física e psicológica,
seguida de um sentimento de auto-compaixão.
Uma solução covarde nesse mundo de multidões...
Gritei por atenção alheia, proclamando a culpa inerente às regras da vida.
A atenção retornada era inócua, vazia e nociva.
Me deixou marcas irreversíveis.
Joguei todo meu romantismo no lixo
e me gabei de um feminismo convicto.
Mas isso se mostrou tão superficial quanto a atenção que conquistei.
Hoje somos apenas eu e meu ego.
Um eu desmotivado e um ego dilacerado.
Valeu a pena?
"O homem é o lobo do homem"
(Jean Jacques Rousseau)
Consigo, num toque de mãos, |
À essa que percebo aproximando a face |
Sua língua exalta o verbo |
O pó que se acumula nas minhas arestas |
Acaso soubesses o que sei |
De areia |
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