Oração da descoberta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Deixai-me, Senhor, ter sempre em mente a certeza da partida, para que saiba gozar cada minuto da estada.

 

E deixai que o meu coração jamais se esqueça de lembrar que chegará o dia da separação, para que eu saiba desfrutar cada minuto da companhia.

 

Pois, quando esta jornada terminar e ao descanso obrigatório me chamardes, não Vos desejo levar as lamentação de quem desperdiçou o seu tempo. E sim a confiança serena de quem buscou as verdades da vida.

 

Que desapareçam, pois, as contrariedades do dia-a-dia, diante da dádiva de existir, amar e ser amado. E possa eu quedar-me extasiado, ante as maravilhas que a cada dia se renovam:

- os alvos cabelos de meus pais

- o sorriso confiante de meus filhos

- o brilho dos olhos da minha amada.

 

Diante dos meus tesouros, Senhor, o que são as coisas que me faltam?

 

E, entretanto, são tantos os que desperdiçam o que possuem, perdidos na angústia do que desejam!

 

Que eu não seja um deles, Senhor!

 

Pois a felicidade é como um sopro de brisa e pode ser detida por um muro de ansiedade. Ou como a luz do sol e pode perder-se entre as nuvens cinzentas do pessimismo cotidiano.

 

Deixai-me acreditar sempre, Senhor!

 

E, para que eu o possa fazer, é necessário ter consciência da pequenez do que aparento ser; e da grandeza do meu verdadeiro Eu.

 

Assim, não me julgarei tão grande a ponto de querer que todo o Universo se curve aos meus desejos; nem tão pequenino que não mereça a Vossa atenção.

 

Não deixeis, Senhor, que as minhas certezas se diluam entre as minhas dúvidas; mas que se modifiquem, a cada nova descoberta.

 

E nem que eu me julgue dono daqueles a quem amo; para que a sua companhia não seja uma morna certeza, mas uma dádiva sempre renovada.

 

Deixai-me sentir que o mundo não me pertence, para que as surpresas agradáveis me deliciem e as desagradáveis não me causem revolta.

 

E não deixeis que a minha poesia naufrague nas poças de amargura; mas delas extraia forças para cantar novas alegrias.

 

Pois é no conceito de morte que descobrimos o valor da vida.

 

E no medo da separação que percebemos a dádiva do amor. 

 

           

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