A solidão acompanhada

 

 

 

 

 

 

Eu vos tenho visto.

 

Por trás das janelas das vossas casas, entre as vossas mulheres e os vossos filhos, a cuidar dos vossos afazeres.

 

Entre os vossos amigos, em meio aos sons das vossas festas. Ou entre os vossos colegas, a labutar nas horas do trabalho que vos proporciona a sobrevivência.

 

Eu vos tenho visto, em todos os momentos do dia e da noite, entre pessoas que vos fazem companhia: no lazer, no trabalho e em vossos lares.

 

Sempre, eu vos tenho visto acompanhados. E a tentar esconder a vossa solidão.

 

Embora dificilmente estejais sós, a solidão está em vossos corações, e é a maior causa dos vossos sofrimentos. Porque não sabeis comungar da companhia, apenas a procurais.

 

Como não sabeis comungar pensamentos; apenas vos agarrais às vossas idéias, como se nelas pudessem estar contidas todas as verdades que existem. E não sabeis confiar, mas apenas desejais que confiem em vós.

 

Abris as vossas bocas, para falar; mas não os vossos corações, para que as palavras sejam a expressão dos vossos sentimentos.

 

E, ao buscar a companhia sem a ela vos entregardes, estais mergulhando na pior das solidões; aquela em que não tendes o direito de estar sós.

 

Fugis da solidão de vossos corpos; e a aceitais em vossos corações, onde o tempo se encarrega de firmar as suas raízes. Pois a solidão acompanhada gera a revolta, que ainda mais vos afasta daqueles que estão a vosso lado.

 

Eu vos digo que deveis buscar a aparente solidão. É nela que desfrutareis da vossa própria companhia e ouvireis, na voz do coração, as vossas verdadeiras palavras.

 

Não precisando esconder os vossos defeitos, podereis descobrir como enfrentá-los. E, não precisando exaltar as vossas qualidades, as descobrireis como partes naturais do vosso verdadeiro Eu.

 

Para que o mar se formasse, foi necessária a primeira gota; para que possais verdadeiramente conviver com os outros, precisais aprender a conviver convosco.

 

E, para que possais apreciar a companhia alheia, é necessário que aprecieis a vossa própria companhia.

 

Deveis, por vezes, buscar a solidão aparente, para que vos possais conhecer e entender; este é o caminho para conhecer e entender aqueles que convosco convivem.

 

Buscai a solidão aparente; ela vos ensinará o valor da companhia.

 

E, assim, vos afastará da verdadeira solidão...    

 

 

         

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