O adeus do amante
Perdoa-me pelas desilusões que te causei.
E agradece-me pelos sonhos que despertei em ti; pois as desilusões não brotam senão antes floresciam os sonhos.
Como no tempo se alternam os dias e as noites, alternam-se na vida os bons e os maus momentos.
E, assim, nada é o que parece ser.
Pois mesmo na tristeza da despedida existe uma oculta alegria, que é a esperança do reencontro. E é no amargor da saudade que se oculta a doçura das lembranças.
Se em todo caso de amor existe alguém que mais ama, a esse será reservado o quinhão maior do sofrimento da separação. E é justo que assim seja, por lhe ter cabido a parcela maior de felicidade.
Parte, se assim o desejas. Pois, na verdade, nada me tomas senão aquilo que me deste.
E, assim, de direito te pertence.
Deixa, apenas, que eu te olhe mais uma vez. Para que a tua imagem se entrone no altar da minha saudade.
Pos não são os teus olhos que pretendo guardar,
- mas a luz do teu olhar.
Assim como não são os teus lábios que pretendo reter.
- mas o sabor dos teus beijos.
E não é do teu corpo que preciso,
- mas do calor do teu amor.
Pois o amor não é como a paixão, que se nutre do que se pode ver,
- mas antes como a religião, que se alimenta do que se pode sentir.
E, acredita, não pedirei para que fiques.
Pois não é o amor que se humilha, mas o egoísmo. E não é a saudade que é insuportável, mas a frustração.
Conforta-me o saber que não nos deixamos por desamor; mas pelo não entendimento do amor.
E, de fato, como poderíamos entender aquele que, dantes, jamais havia andado pelos nossos caminhos?
Assim como a esperança não é mais que o desengano antes do seu nascimento, o desengano é apenas o prólogo de uma nova esperança.
E o nosso conhecimento é a soma das nossas esperanças e dos nossos desenganos.
Sigamos, pois; e, seguindo conservemos as lembranças do que houve entre nós.
Para que, mais sábios e menos egoístas, saibamos reconhecer a face do Amor; e permanecer em sua companhia.
Se voltarmos a encontrá-lo em nossos caminhos.